Pular para o conteúdo principal

"Espíritas" não conseguiram conter ascensão do fascismo



O "espiritismo" brasileiro se diz aflito. Palestras, doutrinárias e publicações se voltam para o tema do "ódio" e das "convulsões sociais" e alegam "muita preocupação" com os rumos de uma sociedade em guerra, devido à chamada polarização social.

Embora pareçam tristonhos e aflitos com esse quadro, dizendo rogar a Deus e orar muito para que o Brasil "retome o caminho para a paz", sabemos que, por baixo dos panos, o "espiritismo" brasileiro contribuiu, sim, para a construção do imaginário que agora apela para botar Jair Bolsonaro, ícone do fascismo, para governar o Brasil, logo na época da tal "data-limite" sonhada por Francisco Cândido Xavier, 2019.

O ódio anti-petista que contagia a grande imprensa, o Poder Judiciário, o Ministério Público, boa parte do empresariado, várias subcelebridades querendo recuperar o antigo sucesso, faz com que Jair Bolsonaro seja um fenômeno fake de uma parcela da população que lê muito fake news.

As pesquisas eleitorais são compradas, de forma que ocorra uma estranha matemática na qual Jair Bolsonaro não cai nas pesquisas mesmo ensinando crianças a fazer gestos de dar tiro em alguém, e mesmo o isento e progressista Vox Populi sofre um jabaculê que se atribui ao lobby composto pelo economista Paulo Guedes, virtual ministro da Fazenda de Bolsonaro, e empresas solidárias como Centauro, Havan e, principalmente Riachuelo.

O "jabaculê" que ocorre nas pesquisas eleitorais é tal que Paulo Guedes "compra" as porcentagens que, em circunstâncias naturais, repousariam tranquilas em Geraldo Alckmin, Marina Silva e Ciro Gomes. O exército de internautas reacionários, os "pobres de direita" (que na juventude só se divertiam com jogos eletrônicos violentos) e subcelebridades também ajudam a anabolizar Jair Bolsonaro, beneficiado por esse doping eleitoral.

Até um jornalista reacionário como Josias de Souza admite que o sucesso de Bolsonaro desafia a lógica, porque o candidato de um partido de aluguel, o inexpressivo PSL, com apenas oito segundos de propaganda e cuja campanha só realizou porcaria, continua sendo um "favorito sem causa", um candidato sem um projeto positivo para o país.

Machista, racista, homofógico, elitista e cujo projeto político inclui a precarização do trabalho - uma forma menos escandalosa de definir a neo-escravidão - , a privatização (e desnacionalização) das empresas públicas e a venda de nossas riquezas para as corporações estrangeiras, Jair Bolsonaro nunca iria estar sequer além de 5% nas pesquisas.

Só que temos uma sub-realidade brasileira, na verdade uma ficção supervalorizada nas redes sociais, que quer se impor à realidade. Fake news que tentam repercutir e se impor mais do que as notícias verdadeiras (e isso quando a grande imprensa também tem seus momentos de dar notícias falsas, como Veja e Rede Globo). Há a ação de algoritmos e de diferentes "robôs" montados por uma minoria de internautas, que também se envolvem com a multiplicação de fakes.

Isso provoca uma multiplicação artificial de visibilidade e repercussão em tudo que se atribuir a Jair Bolsonaro, sobretudo mentiras que o fazem um pastiche de "humanista" e um clone de políticos neoliberais com um mínimo de respeito constitucional. Parece ridículo, mas Bolsonaro quer se projetar e vencer com um programa de governo clone de Geraldo Alckmin.

E OS ESPÍRITAS?

O "espiritismo" brasileiro, oficialmente, adota postura neutra e só recomenda aos eleitores "pensar nos candidatos comprometidos com a fraternidade e a paz". No entanto, se observarmos o conteúdo moral desse "espiritismo à brasileira" que há muito se desviou dos ensinamentos de Allan Kardec, por mais que o bajulem até a medula, sabemos qual o "partido" que os "espíritas" escolheram.

Ultimamente, circula na Internet que os "espíritas" estão mais próximos de Jair Bolsonaro. Há até mesmo interpretações de supostas profecias de Chico Xavier que atribuem o "salvador da Pátria" ao candidato do PSL. Embora não seja Jair exatamente o "cavaleiro da esperança" de supostas previsões, há, inegavelmente, afinidade ideológica entre Chico Xavier e Jair Bolsonaro.

Isso assusta muito, mas a moral "espírita" sempre foi ultraconservadora, desde que a FEB optou pelo roustanguismo, em detrimento dos ensinamentos espíritas originais. O "espiritismo" brasileiro sempre deu preferência a conceitos trazidos pelo Catolicismo jesuíta que vigorou no Brasil durante o período colonial e que era originário de Portugal da Idade Média.

Através de Chico Xavier, o maior ídolo dos "espíritas" e até de parte dos ditos "leigos" a essa religião, o "espiritismo" brasileiro concebeu ideias profundamente conservadoras. Embora o pensamento desejo que idealiza Chico Xavier ao sabor das fantasias de qualquer um o defina como um pretenso progressista, suas ideias são do mais profundo obscurantismo, elas apenas eram difundidas de maneira dócil e que parecesse simpática ao leitor comum.

Em toda sua obra, Chico Xavier, um devoto da Teologia do Sofrimento, corrente do Catolicismo medieval, dizia para os oprimidos aceitarem as suas desgraças calados e sem reclamar, esperando as forças divinas socorrerem, talvez na velhice ou em outra encarnação. A recomendação é amarga e cruel, mas Chico chegava a citar fenômenos da Natureza, como tempestades e o curso dos rios, para suavizar os tenebrosos conselhos.

Para quem sofre, é de muito mau gosto alguém dizer coisas como "Enquanto você reclama da vida, o rio segue seu curso e os passarinhos cantam alegremente nos galhos das árvores". Só quem está numa posição confortável, mesmo de classe média, é que acha lindo falar que as pessoas deveriam aceitar suas desgraças e deixar sua agonia rolar enquanto vê passarinhos ou, talvez, violetas na janela, só para citar uma obra dessa religião.

A moral do "espiritismo" brasileiro, que pede aos oprimidos aguentarem suas desgraças enquanto perdoam os opressores pelos seus abusos, mostra o que está por trás desse "pacifismo" de palavras que os "espíritas" tanto defendem.

Esse "pacifismo" é apenas uma conformação com as desigualdades sociais, dentro de limites considerados controláveis e resolúveis apenas pela caridade paliativa, o Assistencialismo. Os "espíritas" alegam que fazem Assistência Social, mas a verdade é que sua prática remete mais ao Assistencialismo, pelos baixos resultados obtidos, pelo cartaz exagerado dos "benfeitores" e pelo fato de não ameaçar os privilégios das classes dominantes.

A ideia é manter as injustiças sociais em termos socialmente "equilibrados", de forma que a religião aproveite a miséria para realizar medidas paliativas, a título de propaganda. Por isso, o "espiritismo" brasileiro é uma religião conservadora, que não deveria receber a simpatia das esquerdas, pois a religião recomenda quase tudo que as esquerdas praticam em seus cotidianos.

E é por isso que o moralismo "espírita", sendo extremamente conservador, não conseguiu conter a ascensão do fascismo, uma vez que sua receita de aceitar desgraças propiciou os privilégios e o poder dos opressores, enquanto os oprimidos eram aconselhados a ficarem impotentes diante da reação a qualquer problema e se limitassem a orar, calados, para Deus os socorrer não se sabe quando.

Agora não adianta chorarem, "espíritas". O "espiritismo" brasileiro criou as condições para a expansão das fake news e dos robôs da Internet a partir da literatura fake de Chico Xavier. E, ao promover um moralismo retrógrado, criou as condições ideológicas que abriram caminho para o bolsonarismo. Este é o preço caríssimo de tanta deturpação doutrinária feita durante décadas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente

Chico Xavier, que abençoou João de Deus, fez assédio moral a Humberto de Campos Filho

HUMBERTO DE CAMPOS FILHO SOFREU ASSÉDIO MORAL DE CHICO XAVIER PARA TENTAR ABAFAR NOVOS PROCESSOS JUDICIAIS. Dizem que nunca Uberaba ficou tão próxima de Abadiânia, embora fossem situadas em Estados diferentes. Na verdade, as duas cidades são relativamente próximas, diferindo apenas na distância que requer cerca de seis horas e meia de viagem. Mas, com o escândalo de João Teixeira de Faria, o João de Deus, até parece que as duas cidades se tornaram vizinhas. Isso porque o "médium" Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, em que pese a sua reputação oficial de "espírito de luz" e pretenso símbolo de amor e bondade humanas, consentiu, ao abençoar João de Deus, com sua trajetória irregular e seus crimes. Se realmente fosse o sábio e o intuitivo que tanto dizem ser, Chico Xavier teria se prevenido e iniciado uma desconfiança em torno de João de Deus, até pressentindo seu caráter leviano. Mas Chico nada o fez e permitiu que se abrisse o c

O grande medo de Chico Xavier em ver Lula governando o país

Um bom aviso a ser dado para os esquerdistas que insistem em adorar Francisco Cândido Xavier é que o "médium" teve um enorme pavor em ver Luís Inácio Lula da Silva presidindo o Brasil. É sabido que o "médium" apoiou o rival Fernando Collor de Mello e o recebeu em sua casa. A declaração foi dada por Carlos Baccelli, em citação no artigo do jurista Liberato Póvoas ,  e surpreende a todos ao ver o "médium" adotando uma postura que parecia típica nas declarações da atriz Regina Duarte. Mas quem não se prende à imagem mitificada e fantasiosa do "médium", vigente nos últimos 40 anos com alegações de suposto progressismo e ecumenismo, verá que isso é uma dolorosa verdade. Chico Xavier foi uma das figuras mais conservadoras que existiu no país. Das mais radicais, é bom lembrar muito bem. E isso nenhum pensamento desejoso pode relativizar ou negar tal hipótese, porque tal forma de pensar sempre se sustentará com ideias vagas e devaneios bastante agr

Falsas psicografias de roqueiros: Cazuza

Hoje faz 25 anos que Cazuza faleceu. O ex-vocalista do Barão Vermelho, ícone do Rock Brasil e da MPB verdadeira em geral (não aquela "verdadeira MPB" que lota plateias com facilidade, aparece no Domingão do Faustão e toca nas horrendas FMs "populares" da vida), deixou uma trajetória marcada pela personalidade boêmia e pela poesia simples e fortemente expressiva. E, é claro, como o "espiritismo" é marcado por supostos médiuns que nada têm de intermediários, porque se tornam os centros das atenções e os mais famosos deles, como Chico Xavier e Divaldo Franco, tentaram compensar a mediunidade irregular tentando se passar por pretensos pensadores, eventualmente tentando tirar uma casquinha com os finados do além. E aí, volta e meia os "médiuns" que se acham "donos dos mortos" vêm com mensagens atribuídas a este ou aquele famoso que, por suas irregularidades em relação à natureza pessoal de cada falecido, eles tentam dar uma de bonzinh

Se Chico Xavier fosse progressista, não haveria a ascensão de Jair Bolsonaro

É um dever questionarmos, até com certa severidade, o mito de Francisco Cândido Xavier. Questionar sem ódio, mas também sem medo, sem relativismos e sem complacências, com o rigor de quem não mede palavras para identificar erros, quando estes são muito graves. Vale lembrar que esse apelo de questionar rigorosamente Chico Xavier não vem de evangélico alucinado nem de qualquer moleque intolerante da Internet - até porque o dito "espiritismo" brasileiro é uma das religiões não só toleradas no país, mas também blindadas pelas classes dominantes que adoram essa "filantropia de fachada" que traz mais adoração ao "médium" do que resultados sociais concretos - , mas da própria obra espírita original. É só ler Erasto, que recomendava rigor no repúdio e no combate aos deturpadores dos ensinamentos espíritas. E mais: ele lembrava que eventualmente os maus espíritos (ou, no contexto brasileiro, os maus médiuns) trazem "coisas boas" (as ditas "mens

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi

Caso João de Deus é apenas a ponta do iceberg de escândalos ainda piores

A FAMIGLIA "ESPÍRITA" UNIDA. Hoje o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, se entregou à polícia de Goiás, a pedido do Ministério Público local e da Polícia Civil. Ele é acusado de assediar sexualmente mais de 300 mulheres e de ocultar um patrimônio financeiro que o faz um dos homens mais ricos do Estado. João nega as acusações de assédio, mas provas indicam que eles ocorreram desde 1983. Embora os adeptos do "espiritismo" brasileiro façam o possível para minimizar o caso, ele é, certamente, a ponta do iceberg de escândalos ainda piores que podem acontecer, que farão, entre outras coisas, descobrir as fraudes em torno de atividades supostamente mediúnicas, que, embora com fortes indícios de irregularidades, são oficialmente legitimadas por parecerem "agradáveis" e "edificantes" para o leitor brasileiro médio. O caso João de Deus é apenas o começo, embora ele não tenha sido o único escândalo. Outro

Chico Xavier e Divaldo Franco NÃO têm importância alguma para o Espiritismo

O desespero reina nas redes sociais, e o apego aos "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco chega aos níveis de doenças psicológicas graves. Tanto que as pessoas acabam investindo na hipocrisia para manter a crença nos dois deturpadores da causa espírita em níveis que consideram ser "em bons termos". Há várias alegações dos seguidores de Chico Xavier e Divaldo Franco que podemos enumerar, pelo menos as principais delas: 1) Que eles são admirados por "não-espíritas", uma tentativa de evitar algum sectarismo; 2) Que os seguidores admitem que os "médiuns" erram, mas que eles "são importantes" para a divulgação do Espiritismo; 3) Que os seguidores consideram que os "médiuns" são "cheios de imperfeições, mas pelo menos viveram para ajudar o próximo". A emotividade tóxica que representa a adoração a esses supostos médiuns, que em suas práticas simplesmente rasgaram O Livro dos Médiuns  sem um pingo de es

Carlos Baccelli era obsediado? Faz parte do vale-tudo do "espiritismo" brasileiro

Um episódio que fez o "médium" Carlos Bacelli (ou Carlos Baccelli) se tornar quase uma persona non grata  de setores do "movimento espírita" foi uma fase em que ele, parceiro de Francisco Cândido Xavier na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estava sendo tomado de um processo obsessivo no qual o obrigou a cancelar a referida parceria com o beato medieval de Pedro Leopoldo. Vamos reproduzir aqui um trecho sobre esse rompimento, do blog Questão Espírita , de autoria de Jorge Rizzini, que conta com pontos bastante incoerentes - como acusar Baccelli de trazer ideias contrárias a Allan Kardec, como se Chico Xavier não tivesse feito isso - , mas que, de certa forma, explicam um pouco do porquê desse rompimento: Li com a maior atenção os disparates contidos nas mais recentes obras do médium Carlos A. Bacelli. Os textos, da primeira à última página, são mais uma prova de que ele está com os parafusos mentais desatarraxados. Continua vítima de um processo obsessi