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Contenha sua fúria vingativa: também morre quem atira



Não é porque uma figura reacionária e saudosista da ditadura militar, como Jair Bolsonaro, tornou-se presidente da República eleito que seus adeptos vão fazer tudo o que quiserem. Exaltar um brutamontes como o coronel Brilhante Ustra, sair atirando contra esquerdistas à noite ou mesmo no período diurno ou ficar falando de mares se partindo ao meio na pedagogia da Escola Sem Partido.

Tudo bem que o Partido dos Trabalhadores sucumbiu ao inferno astral, que Paulo Freire está desmoralizado para muitas pessoas, que as conquistas trabalhistas são consideradas "abusivas" por muita gente, que as estatais precisam ser privatizadas. Se uma parcela da sociedade pensa assim, tudo bem, mas ela não pode posar de "dona da verdade" impondo coisas aberrantemente direitistas. Tem que se maneirar, até porque o lema é "Brasil, acima de tudo" e não "Bolsonaro acima de tudo".

Quanto à revisão do estatuto do desarmamento, devemos avisar às pessoas que acham o máximo ficarem assassinando pessoas por discordâncias ínfimas que isso pode trazer pressões e traumas emocionais, para quem cometeu homicídio, que podem levar a tragédias prematuras como doenças como infarto e câncer e desastres automobilísticos.

Há uma canção do grupo O Rappa, que é versão do sucesso de Jimi Hendrix, "Hey Joe", na verdade composição de um desconhecido cantor de blues, Billy Roberts. Há uma relação irônica entre o verso mais impactuante da versão brasileira, "Também morre quem atira", e a temática da letra original, já que Billy Roberts escreveu a letra imaginando uma carta a um hipotético feminicida.

E isso é ilustrativo, porque, entre os assassinos idosos que já estão nos últimos dias de vida, temos dois conhecidos feminicidas, Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street, e Antônio Marcos Pimenta Neves, que são octogenários e apresentam indícios de câncer em estágio maligno, embora a imprensa nunca abra o jogo a respeito disso. Inventou-se até fake news dizendo que Doca Street está "muito ativo nas redes sociais", quando não há sequer contexto para um sujeito desses, que talvez quisesse repousar, encarasse notícias desagradáveis a ele na Internet.

Parece estranho falar que eles poderão morrer a qualquer tempo, ainda mais quando a sociedade conservadora acusa tal presságio de "expressão de ódio e rancor". Não, não é. Até os fãs de Doca Street, por exemplo, se preparam para sua morte. Conforme noticiou a revista Manchete, em janeiro de 1977, amigos de Doca Street estavam aflitos por sua saúde, por ele estar fumando muito. É surreal que hoje se venda uma imagem "saudável" dele, com tanto estrago feito ao seu organismo, e isso vindo de uma sociedade que prefere odiar as mulheres que são mortas por seus cônjuges.

Aos amigos de Doca, sentimos muitíssimo por tão incômoda realidade. É a vida, é o organismo do empresário, que teve muita sorte de não ter morrido aos 50, 55 anos de tanto cigarro e cocaína que consumiu no seu auge como playboy da alta sociedade. E ele fumou os mesmos cigarros de muita gente famosa dos anos 70 que já morreu. Com menos danos à saúde, Burt Reynolds já nos deixou há poucos meses.

O medo de ver feminicidas idosos e doentes morrerem revela esse misto de arrogância, imprudência e medo da sociedade reacionária que se acha portadora de poderes especiais. E a turma que quer ter a liberdade de atirar em alguém durante uma pequena discussão acha que os outros é que tem que morrer cedo, mas os assassinos "do bem" não. E estes, no entanto, são os que mais sofrem pressões emocionais pesadas que os podem levar a morrerem de infarto ou acidente de carro ou moto.

Tirar a vida de outra pessoa não é um desabafo no qual a pessoa faz e depois fica tranquila. É um ato que causa danos até ao seu criminoso, porque ele cria, em outras pessoas, danos sociais irreversíveis, e o homicida faz isso com a consciência de que isso é errado e não deveria ser feito. E, uma vez feito, o homicida contrai para si pressões sociais profundas que massacram seu organismo sem que ele perceba ou, quando percebe, sem que ele se esforce para evitar sofrer as tensões que o ameaçam.

Vejamos um caso hipotético de um rico empresário de 52 anos, que aos 34 matou sua esposa, na época com 28 anos. Condenado à prisão em regime aberto, ele num dado momento passeia na Avenida Paulista e, de repente, um rádio toca uma música que era a favorita da ex-mulher e vítima. Lembrando desses momentos, ele sofre um infarto fulminante, diante dos sentimentos confusos de amor e ódio que voltam à tona, e, caindo no meio da rua, morre na hora.

SÓ FEMINICIDAS TÊM EXPECTATIVA DE VIDA DE ATÉ 75% DA ESTIMATIVA MÉDIA DOS BRASILEIROS COMUNS

Situações assim não tiveram registro na imprensa, assim como não se registra mortes de feminicidas mesmo numa imprensa capaz de noticiar falecimentos de gandulas de futebol de várzea quando estes sofrem infarto ou mal súbito. Mas sabemos que os homicidas, ironicamente, também não estão livres de sua tragédia, e num país como o Brasil, dificilmente eles chegam em pé aos 90 anos, além de envelhecerem prematuramente e "carregarem" uma doença grave ao longo dos anos.

Só entre os feminicidas da alta sociedade, que se supõe gozarem de "boa saúde" e "boa aparência", há registros de homens de cerca de 54 anos que parecem ter dez anos a mais, e de homens de apenas 62 anos que parecem ter vinte a mais. Há também a estranheza dos feminicidas partulharem tanto a imprensa para evitar noticiar algo desagradável sobre eles, o que pode também ser um indício de uma eventual consciência de sua fragilidade, de seu risco de morrer de infarto, por exemplo.

Homicidas, não só os feminicidas, mas os sociopatas, psicopatas, pistoleiros, jagunços, mandantes (que mandam outros matarem por eles) e outros que mostram uma degradação do organismo por causa das pressões psicológicas consequentes do homicídio, ocorridas antes, durante e depois dos atos.

Antes do ato homicida, uma pessoa já consome muita adrenalina e muita carga de ódio que envenena o coração, só com o planejamento de ato tão infeliz. Ao realizar o ato, seu organismo é violentamente abalado pela prática de um ato inconveniente, que produz prejuízos irreparáveis. Depois do ato, o homicida carrega em toda a sua vida as pressões emocionais das mais conflitivas, de si e do resto da sociedade, que são tão intensas que lhe fazem envelhecer rapidamente e contrair doenças graves.

Em tempos de convulsões sociais nas redes sociais, a situação do homicida é até pior. Nesse clima de ódio que motivou a vitória de Bolsonaro, é irônico que os "justiceiros" do feminicídio ou da pistolagem ou de outros atos homicidas também se torna um jurado de morte, através das ameaças escritas até mesmo em fóruns de mensagens na grande imprensa.

Os homicidas, por conta disso, possuem baixa expectativa de vida, mesmo os mais ricos e aparentemente saudáveis. Nem a arrogância de certos valentões lhes livra de tal sina, uma vez que arrogância não cura câncer e risadas, neste caso, não lhes livram sequer da dor de um infarto. E, no volante, o nervosismo e a distração por muitos pensamentos podem fazê-los sofrer desastres automobilísticos de consequências fatais.

Até grupos de extermínio, por usarem automóveis velhos e mal conservados, correm mais risco de morrerem em acidentes de carro. Não há um registro disso, o que pode ser explicado pelo fato deles percorrerem ruas vazias à madrugada e não fugirem para muito longe. Mas o risco é altíssimo e real, ainda mais por causa de veículos sem um pingo de manutenção.

Imaginemos um exemplo. Um grupo de extermínio se envolveu no assassinato de um líder sindical, num começo de manhã. Pistoleiros atiraram e, pronto, embarcaram na geringonça de seus 25 anos de vida útil que é seu automóvel e fogem em disparada pelas ruas curvas de um subúrbio. Só que, numa esquina, um caminhoneiro faz marcha-a-ré com seu veículo e cria barreira, mas o freio do automóvel dos pistoleiros falha e o carro bate com o caminhão, matando todos os ocupantes.

Um levantamento extra-oficial, com base em situações potenciais vividas pelos homicidas após seus atos e em virtual impunidade, trouxe dados que podem fazer inferir sobre a expectativa de vida de cada tipo de assassino. Vejamos:

PISTOLEIRO A SERVIÇO DO LATIFÚNDIO - 44 anos.
PISTOLEIRO A SERVIÇO DO JOGO DO BICHO (SUBÚRBIO) - 45 anos.
MILICIANO OU MEMBRO DE GRUPO DE JUSTICEIROS - 50 anos.
SOCIOPATA OU PSICOPATA - 60 anos.
ASSASSINO EM SÉRIE - 65 anos.
FEMINICIDA POBRE - 45 anos.
FEMINICIDA DE CLASSE MÉDIA OU RICO - 56 anos.
MANDANTE DE ASSASSINATO COMETIDO POR OUTREM - 60 anos.

Os males mais comuns envolvendo homicidas são assim enumerados, não necessariamente na ordem de predominância, pois faltam dados oficiais para tanto:

CÂNCER
INFARTO
SUICÍDIO
ACIDENTE DE TRÂNSITO
MAL SÚBITO
HOMICÍDIO

Sobre este último aspecto, os homicidas se descuidam de que podem, também, serem assassinados. No caso de um feminicida, por exemplo, o risco de ser morto num latrocínio é irônico: o feminicida mata a mulher quando ele está armado e ela, desarmada. Eventualmente, o feminicida que é rendido por um ladrão está desarmado, mas mesmo quando ele está armado ele não tem tempo de sacar sua arma do bolso, pois já levou, antes, um tiro fatal dado pelo assaltante.

Esse assunto realmente é muito pesado para se falar, mas é um alerta para os aventureiros dos "novos tempos" que sonham em ter um revólver na mão e uma vingança na cabeça. Em muitos casos, o caçador vira caça e o ódio traz energias pesadas para quem dele se serve para resolver os problemas a bala (ou, em outros casos, a faca, veneno ou estrangulamento).

Daí um grande conselho a esses furiosos de plantão: ou eles desistem de tirar a vida de outrem, ou então comecem a fazer seus testamentos porque, pelas condições psicológicas que eles produzirão, os homicidas não viverão muito. Também morre quem atira (ou esfola, esfaqueia, bate, envenena etc).

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