Pular para o conteúdo principal

Chico Xavier, o perigoso pé-frio para as forças progressistas



Recentemente, o jornalista Ricardo Kotscho, colunista do portal R7 e figura de esquerda, escreveu um texto manifestando "muitas saudades" por Francisco Cândido Xavier. Recorrendo a um estranho texto chamado "O Silêncio" - lembremos que Chico Xavier defendia que os oprimidos aguentassem calados as adversidades da vida, uma pauta reacionária, embora tida como "progressista" por conta de palavras bonitinhas - , Kotscho acabou atraindo o azar para si.

A Record, responsável pelo portal R7 e propriedade do "bispo" da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, adotou, depois, uma postura simpática a Jair Bolsonaro. A Record, do contrário que o "movimento espírita", chegou a ser aliada, ainda que condicional, dos dois governos do ex-presidente Lula, mas passou para a oposição no segundo governo da presidenta Dilma Rousseff, defendendo o impeachment.

Com isso, Ricardo Kotscho foi demitido do portal, e passou a contribuir para outras fontes. E isso é só o caso recente de como a figura de Chico Xavier é um "pé-frio" para as forças progressistas e para os movimentos de esquerda brasileiros e seus indivíduos associados.

Chico, na verdade, era um católico ortodoxo que foi adotado como "líder" de um "espiritismo" catolicizado (em moldes medievais) e uma figura ultraconservadora que chegava a definir o raciocínio questionador aprofundado como "tóxico do intelectualismo". Seu conservadorismo convicto, que desafia o pensamento desejoso de seus seguidores, é confirmado em declarações no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971.

Em outras situações, Chico Xavier - que, em 1989, apoiou Fernando Collor na campanha de segundo-turno para a Presidência da República, contra o Lula e, em 2002, no fim da vida, sinalizou simpatia pelo PSDB - também trouxe mau agouro, sendo o caso histórico envolvendo o então presidente Juscelino Kubitschek.

JK era amigo de Chico Xavier e deu toda a consideração ao "movimento espírita". Declarou a Federação "Espírita" Brasileira uma "entidade de utilidade pública", em 1960. Mas, apesar de toda a generosidade, Juscelino acumulou uma série de infortúnios, que culminaram com sua morte em 1976:

1) Juscelino não conseguiu eleger o candidato que apoiava, o mesmo marechal Henrique Lott que realizou, em 1955, um golpe tramado para impedir a posse do presidente eleito. Na campanha presidencial de 1960, venceu um populista conservador, Jânio Quadros.

2) Juscelino, preocupado com o envolvimento de seu ex-vice João Goulart, então governando a República, com brizolistas, defendeu o golpe militar de 1964 acreditando ser uma solução provisória que depois abriria caminho para as eleições presidenciais de 1965. O então senador goiano (Juscelino havia mudado seu domicílio eleitoral) viu a ditadura se efetivar e nunca mais pôde se candidatar a presidente da República, pois a campanha de 1965 foi cancelada.

3) Em demonstração de perdão ao agressivo rival Carlos Lacerda (que seria seu concorrente principal em 1965), Juscelino estabeleceu diálogo com ele e, juntos, planejaram um movimento de redemocratização do país, a Frente Ampla, em 1966. João Goulart apoiou de longe, estando ele entre a Argentina e o Uruguai, no exílio. O movimento, no entanto, foi abortado pela ditadura militar, que declarou sua ilegalidade.

4) Nem a campanha para ser imortal da Academia Brasileira de Letras - que já teve como membro, no passado, Humberto de Campos, maior vítima dos livros fake de Chico Xavier - fez Juscelino Kubitschek ter sorte. Um lobby movido pela ditadura militar impediu que o ex-presidente, autor de livro de memórias e amigo do membro da ABL, Josué Montello, conquistasse um assento na casa, que hoje abriga o medíocre Merval Pereira, colunista de O Globo.

5) Juscelino Kubitschek morreu num estranho acidente de carro que se revelou um atentado contra sua pessoa. Seu chofer também morreu no desastre, ocorrido na Via Dutra, em agosto de 1976. Até hoje forças conservadoras tentam evitar que a tese de atentado se torne oficial, pressionando para prevalecer a hipótese de um "acidente comum".

O mau agouro também contaminou a filha biológica, Márcia Kubitschek (JK teve outra filha, adotiva, Maristela, viva até hoje), que morreu prematuramente de câncer, aos 56 anos. Contaminou o vice, João Goulart, morto depois de, aparentemente, fazer uma consulta médica, e Carlos Lacerda, por motivo similar. O mau agouro se ampliou até contra o ator José Wilker, morto por um súbito infarto em 2014. Wilker interpretou Kubitschek numa minissérie da Rede Globo de Televisão.

Outro mau agouro, independente do caso Kubitschek, ocorreu com a presidenta Dilma Rousseff. Foi ela receber, das mãos da FEB, um exemplar do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (que as esquerdas, ingenuamente, creditam como profecia da volta do PT ao poder), que ela sofreu, anos depois, pesados infortúnios, não podendo conter os processos que a tiraram do segundo mandato presidencial. Recentemente, Dilma também não se elegeu senadora, apesar do aparente favoritismo nas pesquisas.

As esquerdas se iludem com Chico Xavier, por causa da imagem construída em favor dele, fantasiosa e sonhadora, associada a crianças pobres, paisagens floridas, desenhos de coraçõezinhos e cenários celestiais. Um discurso bem construído, porém falso, porque Chico nunca trouxe mensagens belas, sendo elas apenas recados moralistas conservadores disfarçados de palavras bonitas. É isso que faz com que Chico Xavier se torne um grande pé-frio, quando apoiado pelas forças progressistas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a

Falsas psicografias de roqueiros: Cazuza

Hoje faz 25 anos que Cazuza faleceu. O ex-vocalista do Barão Vermelho, ícone do Rock Brasil e da MPB verdadeira em geral (não aquela "verdadeira MPB" que lota plateias com facilidade, aparece no Domingão do Faustão e toca nas horrendas FMs "populares" da vida), deixou uma trajetória marcada pela personalidade boêmia e pela poesia simples e fortemente expressiva. E, é claro, como o "espiritismo" é marcado por supostos médiuns que nada têm de intermediários, porque se tornam os centros das atenções e os mais famosos deles, como Chico Xavier e Divaldo Franco, tentaram compensar a mediunidade irregular tentando se passar por pretensos pensadores, eventualmente tentando tirar uma casquinha com os finados do além. E aí, volta e meia os "médiuns" que se acham "donos dos mortos" vêm com mensagens atribuídas a este ou aquele famoso que, por suas irregularidades em relação à natureza pessoal de cada falecido, eles tentam dar uma de bonzinh

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente

"Mediunidade" de Chico Xavier não passou de alucinação

  Uma matéria da revista Realidade, de novembro de 1971, dedicada a Francisco Cândido Xavier, mostrava inúmeros pontos duvidosos de sua trajetória "mediúnica", incluindo um trote feito pelo repórter José Hamilton Ribeiro - o mesmo que, ultimamente, faz matérias para o Globo Rural, da Rede Globo - , incluindo uma idosa doente, mas ainda viva, que havia sido dada como "morta" (ela só morreu depois da suposta psicografia e, nem por isso, seu espírito se apressou a mandar mensagem) e um fictício espírito de um paulista. Embora a matéria passasse pano nos projetos assistencialistas de Chico Xavier e alegasse que sua presença era tão agradável que "ninguém queria largar ele", uma menção "positiva" do perigoso processo do "bombardeio de amor" ( love bombing ), a matéria punha em xeque a "mediunidade" dele, e aqui mostramos um texto que enfatiza um exame médico que constatou que esse dom era falso. Os chiquistas alegaram que outros ex

O grande medo de Chico Xavier em ver Lula governando o país

Um bom aviso a ser dado para os esquerdistas que insistem em adorar Francisco Cândido Xavier é que o "médium" teve um enorme pavor em ver Luís Inácio Lula da Silva presidindo o Brasil. É sabido que o "médium" apoiou o rival Fernando Collor de Mello e o recebeu em sua casa. A declaração foi dada por Carlos Baccelli, em citação no artigo do jurista Liberato Póvoas ,  e surpreende a todos ao ver o "médium" adotando uma postura que parecia típica nas declarações da atriz Regina Duarte. Mas quem não se prende à imagem mitificada e fantasiosa do "médium", vigente nos últimos 40 anos com alegações de suposto progressismo e ecumenismo, verá que isso é uma dolorosa verdade. Chico Xavier foi uma das figuras mais conservadoras que existiu no país. Das mais radicais, é bom lembrar muito bem. E isso nenhum pensamento desejoso pode relativizar ou negar tal hipótese, porque tal forma de pensar sempre se sustentará com ideias vagas e devaneios bastante agr

Carlos Baccelli era obsediado? Faz parte do vale-tudo do "espiritismo" brasileiro

Um episódio que fez o "médium" Carlos Bacelli (ou Carlos Baccelli) se tornar quase uma persona non grata  de setores do "movimento espírita" foi uma fase em que ele, parceiro de Francisco Cândido Xavier na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estava sendo tomado de um processo obsessivo no qual o obrigou a cancelar a referida parceria com o beato medieval de Pedro Leopoldo. Vamos reproduzir aqui um trecho sobre esse rompimento, do blog Questão Espírita , de autoria de Jorge Rizzini, que conta com pontos bastante incoerentes - como acusar Baccelli de trazer ideias contrárias a Allan Kardec, como se Chico Xavier não tivesse feito isso - , mas que, de certa forma, explicam um pouco do porquê desse rompimento: Li com a maior atenção os disparates contidos nas mais recentes obras do médium Carlos A. Bacelli. Os textos, da primeira à última página, são mais uma prova de que ele está com os parafusos mentais desatarraxados. Continua vítima de um processo obsessi

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi

As falsas psicografias

Infelizmente, ninguém conhece o que é mediunidade no Brasil. Para piorar, as pessoas aceitam esse desconhecimento, achando que tudo é verídico porque é misterioso, uma coisa inversa e radicalmente oposta ao que se ocorre na vida cotidiana. Isso é grave, porque, no "espiritismo" feito no Brasil, aceita-se tudo sem verificar. E quando se pede para verificar, há quem finja cumprir os mais rígidos procedimentos para garantir veracidade das supostas mensagens espirituais. Não se exige Inmetro, nem qualquer outro recurso de controle e verificação, e um caso típico da credulidade das pessoas corresponde às chamadas cartas "psicografadas", verdadeiros embustes que só fazem explorar e expor ao público as tristezas que as famílias poderiam viver na privacidade e sob assistência de pessoas com menor interesse oportunista possível. O que se observa é que são pessoas escrevendo, com velocidade "industrial", mensagens apócrifas que têm a mesma caligrafia. São m

Caso João de Deus é apenas a ponta do iceberg de escândalos ainda piores

A FAMIGLIA "ESPÍRITA" UNIDA. Hoje o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, se entregou à polícia de Goiás, a pedido do Ministério Público local e da Polícia Civil. Ele é acusado de assediar sexualmente mais de 300 mulheres e de ocultar um patrimônio financeiro que o faz um dos homens mais ricos do Estado. João nega as acusações de assédio, mas provas indicam que eles ocorreram desde 1983. Embora os adeptos do "espiritismo" brasileiro façam o possível para minimizar o caso, ele é, certamente, a ponta do iceberg de escândalos ainda piores que podem acontecer, que farão, entre outras coisas, descobrir as fraudes em torno de atividades supostamente mediúnicas, que, embora com fortes indícios de irregularidades, são oficialmente legitimadas por parecerem "agradáveis" e "edificantes" para o leitor brasileiro médio. O caso João de Deus é apenas o começo, embora ele não tenha sido o único escândalo. Outro

Chico Xavier causou confusão mental em muitos brasileiros

OS DOIS ARRIVISTAS. Por que muitos brasileiros são estupidamente reacionários? Por que há uma forte resignação para aceitar as mortes de grandes gênios da Ciência e das Artes, mas há um medo extremo de ver um feminicida morrer? Por que vários brasileiros passaram a defender o fim de seus próprios direitos? Por que as convicções pessoais prevalecem sobre a busca pela lógica dos fatos? O Brasil tornou-se um país louco, ensandecido, preso em fantasias e delírios moralistas, vulnerável a paixões religiosas e apegado a padrões hierárquicos que nem sempre são funcionais ou eficientes. O país sul-americano virou chacota do resto do mundo, não necessariamente porque o Primeiro Mundo ou outros países não vivem problemas de extrema gravidade, como o terrorismo e a ascensão da extrema-direita, mas porque os brasileiros permitem que ocorram retrocessos de maneira mais servil. Temos sérios problemas que vão desde saber o que realmente queremos para nossa Política e Economia até nossos apego