
O chamado idiota de esquerda acha que o suposto médium Francisco Cândido Xavier é "progressista" porque apresenta uma simbologia relacionada, em tese, à esperança, à bondade, à simplicidade e ao humanismo, quando se sabe que tudo isso é lorota para vender livros mistificadores, arremedos de auto-ajuda que encheram e enchem os cofres dos dirigentes "espíritas".
Errado. Primeiro, porque as pessoas desconhecem que os sentidos de "caridade" e "fraternidade" podem ser dervirtuados, como a palavra "democracia". A "caridade" em Chico Xavier se limita a ações paliativas, que não rompem com o sistema de desigualdades que temos, mantendo os pobres em posição submissa e não comprometendo os privilégios dos mais ricos. A desculpa, segundo o "médium", é que "Deus irá resolver um dia" sobre os abusos da "turma mais privilegiada".
Segundo, porque se as pessoas lerem com muita atenção as ideias de Chico Xavier, em livros e depoimentos, simplesmente cairão da cadeira, identificando nas mesmas um obscurantismo assustador. São ideias que sempre apelaram para aceitação de desgraças, ainda que extremas, e fazem apologia ao trabalho exaustivo, à humilhação recebida e às perdas traumatizantes.
São ideias que nada têm de progressistas. E se os chiquistas se irritam com essa constatação, eles deveriam olhar para si mesmos, antes de acionar o pensamento desejoso e cair em reclamações vergonhosamente contraditórias.
Geralmente, quando os adeptos da Teologia do Sofrimento no "espiritismo" brasileiro, inclusive o próprio "médium", são alvos de críticas por suas ideias explicitamente expressas, que chegam ao ponto de apelar para a pessoa "ficar feliz com a própria desgraça", se contradizem dizendo que foram "mal compreendidos" e alegam que aquilo que, na véspera, definiram como um recado claro e explícito, era uma "simples metáfora".
Os "espíritas" caem em contradição diante desse moralismo severo que, num dia, dizem ser explícito, mas em outro dizem que é "mera força de expressão". Num dia dizem para "amar o sofrimento como uma pessoa amada". No outro, desdizem a si mesmos, dizendo que "não é assim que quiseram dizer", chegando a alegar que "ninguém veio aqui para sofrer" e que o que eles defendem é "apenas o aprendizado e a encaração dos desafios".
Isso é muito ruim. Hoje os "espíritas" estão se gabando muito em "cometer erros". Tornou-se comum um "espírita" dizer "eu sou o que mais erro na vida", como um orgulho às avessas, como uma carteirada invertida. A suposta "consciência do erro" é, na verdade, um artifício para evitar sofrer as consequências, é como alguém que precisa admitir que é cobrado para fugir do pagamento da dívida.
CHICO XAVIER ERA DIREITISTA
Infelizmente, setores das esquerdas, incluindo o próprio Partido dos Trabalhadores, acaba acolhendo Chico Xavier como "símbolo de paz, caridade e fraternidade". Caem na falácia de uma narrativa muito bem construída no período da ditadura militar, sob o apoio da Rede Globo, e que foi feita justamente para servir de "cortina de fumaça" para a crise do governo dos generais.
Sim, isso mesmo. O mito de Chico Xavier que hoje se conhece é uma armação da ditadura militar. As "cartas mediúnicas", entre outras atrocidades (como explorar de forma sensacionalista as tragédias familiares), serviam para uma tática bastante traiçoeira e sutil, através do exemplo das "tragédias com os entes queridos".
A ideia de Chico Xavier, um direitista apoiador da ditadura militar - está provado com as palavras do próprio "médium" - , era de que, se as pessoas comuns, ao morrerem muito cedo, "estão bem" no suposto mundo espiritual (a vida espiritual existe, mas o que se propaga no Brasil são especulações fantasiosas feitas ao arrepio total da Ciência Espírita), as vítimas da repressão militar estariam, então, em situação "melhor ainda".
Vamos explicar. Digamos que o Joãozinho Engraxate, um hipotético trabalhador de 25 anos, morreu atropelado por um automóvel dirigido por um bêbado. Chico Xavier é notificado por terceiros e entra em contato com a família do rapaz, extraindo leitura fria e bolando o "roteiro" para a "psicografia". Aí ele escreve, de sua própria mente, a suposta mensagem do rapaz, com "Queria mamãe etc", a carta faz o maior sucesso na mídia popularesca e os familiares, iludidos, comemoram histericamente.
A ideia, portanto, é de linguagem. Se o Joãozinho Engraxate está supostamente "bem no outro lado", isso significa que, por exemplo, o jornalista Vladimir Herzog e o deputado Rubens Paiva, duas vítimas da ditadura militar, estão "em melhor situação", pois estão na "verdadeira vida" e, portanto, foi "válida" a interrupção de seus caminhos vitais, o que faz da repressão militar um ato "acertado".
Outra coisa que se deve lembrar é que Chico Xavier teve seu mito reciclado e ampliado pela ditadura militar e pela chamada mídia venal com o objetivo de fazer dele um paradigma de "ativismo social" dentro de valores rigorosamente conservadores. A ideia era justamente usá-lo como "cortina de fumaça" para evitar a ascensão de autênticos ativistas como, justamente, o então sindicalista Lula.
As esquerdas se iludem achando que falar da vida espiritual é "sempre bom", mesmo quando a morte prematura atinge várias pessoas. Chega-se a comemorar as mortes prematuras de pessoas boas, que foram forçadas a interromper uma trajetória que dificilmente será igual na próxima encarnação.
O amaldiçoamento da vida terrena, através do moralismo punitivista dos "espíritas", deveria chamar a atenção das esquerdas, que não podem, neste caso, se iludir com o aparato das "belas palavras", justamente quando sabemos que os esquerdistas são capazes de desconstruir até piadas de programas humorísticos da TV.
"ESPÍRITAS" APOIARAM SÉRGIO MORO, "FORA DILMA" E "REFORMAS"
Neste dia de hoje, em que o ex-presidente Lula completa um ano de prisão, pela acusação infundada relacionada ao triplex do Guarujá, temos que lembrar aos esquerdistas que o "espiritismo de direita" não é uma novidade e que sempre foi a orientação oficial da Federação "Espírita" Brasileira, que sempre primou por um igrejismo essencialmente conservador.
A desculpa da "vida futura" foi uma pegadinha para os esquerdistas, que ignoraram que esse é uma espécie de "Brasil: Ame-o ou Deixe-o" dos "espíritas". Ou seja, se você vive no Brasil, estará sujeito a uma vida de pesados infortúnios, desgraças sem controle e humilhações que esmagam a alma. A única maneira é aguentar tudo isso de maneira resignada ou obter sacrifícios acima dos limites suportáveis para superar essa situação.
Isso não é progressista, porque descreve a "vida futura" como um ambiente de bonança e prosperidade, enquanto a encarnação presente é uma avalanche de desgraças e infortúnios. Até aí nada demais, se não fosse pelo seguinte problema: a "vida futura" é, simbolicamente, um "terreno de fora", como, na visão ditatorial, são o exílio e a morte.
Essa narrativa - cujo agravante é a visão de "mundo espiritual" e "reencarnação" feitas pelos "espíritas" brasileiros sem o menor fundamento científico - tem muito a ver com o "Brasil, Ame-o ou Deixe-o", na qual o sofredor "tem a escolha" de decidir entre suportar desgraças extremas e esperar que "a mão de Deus lhe socorra no momento certo (sic)" ou apelar para o suicídio, considerado "crime hediondo" pela mente lunática dos "espíritas".
O "espiritismo" brasileiro revelou sua verdadeira face em 2016, embora Chico Xavier tivesse mostrado seu reacionarismo explícito (e permanente até o fim da vida) num programa de grande audiência da TV Tupi, o Pinga Fogo, em 1971.
O "movimento espírita" apoiou Sérgio Moro como se ele fosse "enviado de espíritos superiores" (apesar de, tempos depois, Moro, hoje ministro de Jair Bolsonaro, se tornar um lobbista da indústria de armamentos e cigarros) no "combate à corrupção". Desta forma, também apoiou os protestos do "Fora Dilma" como se fossem "o início da regeneração da humanidade", tratando grupos como Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua e até o Revoltados On Line (!) como as prometidas "crianças-índigo" que vieram para "transformar o Brasil".
Isso tudo foi feito de maneira explícita. Mas, de uma forma não tão explícita, o "movimento espírita" também apoiou a "reforma trabalhista", com seus conhecidos apelos para aceitar o trabalho exaustivo, porque "o que importa na vida é servir". A "livre negociação de patrões e empregados", a chamada "prevalência do negociado sobre o legislado", também é celebrada pelos "espíritas" pelo pretexto da "fraternidade" e do "cumprimento das leis de Deus".
Há também a redução salarial, usada como pretexto para "abdicar do materialismo" e a hoje pendente "reforma da Previdência", à qual os brasileiros terão a "chance de receber aposentadoria" após a morte, a depender da quantidade de anos de contribuição.
Se destrincharmos as ideias de Chico Xavier e seus seguidores, veremos que elas decepcionariam, e muitíssimo, aqueles que esperavam ver algum progressismo nas mesmas. Verão que são ideias extremamente conservadoras, reacionárias, obscurantistas, e que seguem o legado tanto de Jean-Baptiste Roustaing quanto do jesuitismo medieval do qual pertenceu Emmanuel, o Padre Manuel da Nóbrega do período colonial. É necessário que as esquerdas abram mão de certas ilusões, pois através delas os progressistas perderam protagonismo e Lula foi para a cadeia.
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