
Diante dos questionamentos diversos que envolvem o deturpado "espiritismo" brasileiro, surgem engraçadinhos, dentro da horda de "isentões espíritas" - aqueles que sempre puxam para trás nas discussões e reivindicam a posse da palavra final para tudo - , que se acham "de esquerda" e cultuam o "médium" Francisco Cândido Xavier.
Eles não incluem os jornalistas, blogueiros e youtubers sérios, que, sendo progressistas de verdade, no entanto têm a boa-fé de apreciar Chico Xavier, com base na narrativa adocicada que blinda o "médium" desde o final dos anos 1970. Estes podem estar agindo por ingenuidade e sendo deixados levar pelos apelos aparentemente belos da religiosidade.
O que mencionamos são alguns jornalistas e blogueiros de menor expressão e mensageiros em fóruns de Internet ou nas redes sociais que impõem convicções dentro de alegações de suposta imparcialidade e pretensa objetividade. Acham que, com base em apelos supostamente agradáveis que envolvem Chico Xavier, ele não poderia ser um reacionário, apesar dele ter sido um reacionário de carteirinha, que faria qualquer bolsomínion gritar "U-huuuu!!".
A realidade mostra, com base nas ideias e depoimentos de Chico Xavier, que ele sempre foi um reacionário. Ele sempre foi um direitista, e isso pode ser facilmente confirmado pelos livros que ele publicou, com ideias análogas à pauta ultraconservadora, como a defesa do trabalho exaustivo (um dos ítens da reforma trabalhista), da Escola Sem Partido e da conformação com o sofrimento.
O grande problema é que a "patrulha canina" de Chico Xavier, cheia de malabarismos discursivos, vem com muito pensamento desejoso e tentam creditar o discurso explícito, que demonstra o caráter ultraconservador do "médium", como pretensas metáforas, para inventar uma inconcebível "visão progressista" por trás de enunciados bastante conservadores.
Essas pessoas, pela forma imperativa com que expressam seus pontos de vista, estufando os peitos ao demonstrar teses que só eles imaginam serem imparciais, tentam ficar com a palavra final nas discussões. Puxam o debate para trás, indo na contramão da divergência que enriqueceria o debate, porque sua divergência sempre é feita para subtrair as discussões, e não somar a elas com novos fatos e ideias.
Um exemplo disso é a deturpação do Espiritismo, uma ameaça que a obra de Allan Kardec muito preveniu e que teve como "amostra grátis" o trabalho sujo de Jean-Baptiste Roustaing. A "façanha" roustanguiana ganhou adaptação, no Brasil, pela ação da FEB e se tornou definitiva com os livros de Chico Xavier, verdadeiros receituários roustanguistas que frequentemente ofendem o legado doutrinário original trazido pela obra kardeciana.
No entanto, a "patrulha canina" vai na contramão das recomendações da obra kardeciana, de que é preciso combater a deturpação com rigor. Em vez disso, os "isentões" tentam fazer um malabarismo retórico, no qual dizem "respeitar e reconhecer como válida a obra espírita original", mas já começam reclamando da "overdose de ciência" e dos "exageros da lógica" que "não permitem as liberdades da religiosidade brasileira".
Em muitos casos, eles falam que o Espiritismo francês só tem validade naquele país e o que a deturpação brasileira - que eles não reconhecem como tal (é típico se dizer que "acho muito exagero falar que o Espiritismo no Brasil é deturpado. Tem seus erros doutrinários, sim, mas dizer que é deturpação é um equívoco") - é que é bem sucedida e "vantajosa".
Vivemos uma época em que o senso crítico é criminalizado e sofre a patrulha de supostos "isentões" que são meros "cães de guarda" do que é estabelecido. Se é a música que faz sucesso, eles xingam de "preconceituoso" quem contesta sua validade. Se é uma medida política arbitrária, mas supostamente arrojada - como a abominável pintura padronizada nos ônibus que ainda persiste em cidades como Niterói, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis - , não se pode questionar porque "é frescura e ignorância técnica (?!)".
BOLSOMÍNIONS
No Espiritismo, a presença desses patrulheiros também é constante, e eles blindam sobretudo Chico Xavier. E uma coisa que se observa é que, embora eles quase sempre se recusam a se considerar bolsonaristas, sobretudo pela imagem supostamente pacifista de Chico Xavier (como se seus seguidores também não fossem odiosos nem vingativos, apesar do episódio de Amaury Xavier, que revelou o rancor explosivo dos chiquistas), eles adotam uma conduta comparável à dos "bolsomínions", os adeptos de Jair Bolsonaro.
"É inadmissível que alguém que admire Chico Xavier possa apoiar Jair Bolsonaro, um sujeito que cultua a violência e a intolerância, porque nosso querido médium sempre foi um paladino da paz e do amor ao próximo. Me recuso a compartilhar dessa opção política infeliz e por isso voto no PT", é uma resposta típica desses "chiquistas de esquerda".
Mas, paremos para pensar, além do fato de que Chico Xavier também apresentava momentos ranzinzas - o juízo de valor contra as vítimas do incêndio em um circo de Niterói, acusadas levianamente de terem sido "romanos sanguinários", e o comentário ríspido contra amigos de Jair Presente, desconfiados com as "psicografias" - e seus defensores apresentam explosões de ódio e rancor, mesmo dissimuladas numa aparente mansuetude, a ponto de inspirarem a fazer até ameaças de morte, os chiquistas "progressistas" têm uma conduta semelhante à dos bolsomíons:
1) Seus comentários são muito nervosos e adotam uma raiva chorosa típica dos bolsomínions mais dramáticos;
2) Vivem se justificando à toa, à semelhança dos bolsomínions de primeira hora, antes de Jair Bolsonaro bancar o "favorito das pesquisas";
3) São tomados de mera emoção, sem trazer uma justificativa que expresse uma real objetividade da situação.
Além disso, vamos parar mais uma vez para refletir o que são as ideias de Chico Xavier, que são de um conservadorismo que, de tão extremo, era bastante doentio, sem falar do medo, aos níveis semelhantes de uma bolsonarista Regina Duarte, que o "médium" sentia só de imaginar a chance do Partido dos Trabalhadores governar o Brasil.
O que defendia Chico Xavier? Simples. Chico Xavier sempre defendeu, em livros e depoimentos ou mesmo em declarações supostamente atribuídas a autores mortos (truque para tornar as opiniões de Xavier "menos pessoais"):
1) Ele defendia que os infortunados aguentassem o sofrimento em silêncio, conformados com sua desgraça ou se sacrificando acima dos limites para superá-las. Ideias assim eram defendidas abertamente pela ditadura militar;
2) Ele defendia o trabalho exaustivo, um dos ítens da "reforma trabalhista", e sempre apelava para a pessoa, mesmo cansada, continuar trabalhando, pedindo para ela continuar em prece, algo que aliás é difícil porque a pessoa exausta não terá capacidade de dividir sua atenção mental entre uma oração a Deus e a execução de uma tarefa muito difícil;
3) Ele defendia a Escola Sem Partido, acreditando na Educação apenas como um mero processo de ensinar, de forma pragmática, a leitura, a escrita, o trabalho e a religião, sem apelar para o "tóxico do intelectualismo", que era o que o "médium" definiu, de maneira pejorativa, o debate aprofundado.
4) O "médium" defendia também a "cura gay". Apesar dos trejeitos "efeminados", Chico Xavier era homofóbico. Ele pedia para "respeitarmos os homossexuais", mas atribuiu o homossexualismo a uma "confusão mental" da pessoa encarnada, e o "médium" propunha que, "à luz do Cristianismo", educasse a pessoa a "aceitar as condições biológicas de gênero determinadas pela reencarnação".
O próprio Chico Xavier foi capaz de dizer, com uma convicção que desafia qualquer pensamento desejoso que tente relativizar ou desmentir, essa declaração em defesa da ditadura militar, num programa de grande audiência e cujo vídeo se propagou na posteridade, acessível até hoje. Eis o que ele disse no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971:
"Temos que convir, que os militares, em 3l de março de 1964, só deram o golpe para tomar o Poder Federal, atendendo a um apelo veemente, dramático, das famílias católicas brasileiras, tendo à frente os cardeais e os bispos. E, na verdade, com justa razão, ou melhor, com grande dose de patriotismo, porque o governo do Presidente João Goulart, de tendência francamente esquerdista, deixou instalar-se aqui no Brasil um verdadeiro caos, não só nos campos, onde as ligas camponesas, desrespeitando o direito sagrado da propriedade, invadiam e tomavam à força as fazendas do interior. Da mesma forma os “sem teto”, apoderavam-se das casas e edifícios desocupados, como, infelizmente, ainda se faz hoje em dia, e ali ficavam, por tempo indeterminado. Faziam isto dirigidos e orientados pelos comunistas, que, tomando como exemplo a União Soviética e o Regime Cubano de Fidel Castro, queriam também criar aqui em nossa pátria a República do Proletariado, formada pelos trabalhadores dos campos e das cidades.
Diga-se, a bem da justiça, que os militares só recorreram à violência, ao AI-5 em represália aos atos de violência dos opositores do regime democrático capitalista, que viviam provocando atos de vandalismo, sequestros de embaixadores e mortes de inocentes".
Chico, que além disso pedia para "orássemos em favor dos militares, que estavam fazendo do Brasil um 'reino de amor'", disse toda essa declaração em nível hoje considerado bolsonarista, com uma firmeza e convicção que não dá para questionar, sendo impossível supor que o "médium" mineiro "agiu por impulso do momento", "sofreu obsessão espiritual", "fez para agradar os governantes da época" ou "agiu por pura ingenuidade". Chico sabia do risco e defendeu a ditadura militar como um direitista convicto, queiram ou não queiram seus seguidores.
Diante desses detalhes, se um seguidor de Chico Xavier se recusa a se assumir bolsonarista, ele acaba se tornando bolsonarista do mesmo jeito, pelas ideias ultraconservadoras defendidas pelo "médium". Tudo isso por causa de uma evidente analogia de conteúdo. Além disso, a reação de desespero e nervosismo que envolvem muitos chiquistas indica também que eles acabam se comportando iguaizinhos aos bolsonaristas.
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