
Bombas semióticas surgem aqui e ali e o pessoal fica maravilhado com os inúmeros cavalos de Troia que aparecem, sem perceber armadilhas que surgem aqui e ali. O pessoal que elegeu um projeto autoritário de Jair Bolsonaro pelo aparato do voto livre e elege como "rádio rock" uma emissora pop com o nome banal de Rádio Cidade só podia ter as percepções bastante atrofiadas.
Mas isso vem desde que um sujeito chamado Francisco Cândido Xavier, com suspeitas de ter sido esquizofrênico e com provas de vergonhosas e preocupantes deturpações ao Espiritismo, foi acolhido como pretenso ativista, sábio e filantropo, enganando e iludindo até ateus e esquerdistas.
O próprio Chico Xavier é um paiol de bombas semióticas que nenhum semiólogo tem coragem de desvendar, e isso é ruim porque as pessoas ultimamente estão feitas prisioneiras de suas zonas de conforto, com paradigmas tortos da vida humana que vem desde 40 ou 45 anos atrás.
Se Jair Bolsonaro foi favorito na campanha presidencial, a Rádio Cidade tem que ser "rádio rock", mulheres-objetos são "feministas" e os ônibus padronizados não podem acabar em São Paulo e Curitiba, por mais que isso aumente a corrupção no setor (já houve denúncia de empresa fantasma na licitação paulistana), e, além disso, feminicidas não podem morrer (ou, quando morrem, ninguém pode noticiar), então o Brasil está completamente ensandecido.
Talvez um pouco de Semiótica, no sentido de uma análise de discurso para verificar armadilhas retóricas diversas, possa minimizar essa confusão de percepções, sair um pouco da cegueira de nossas paixões pessoais, que permite, pela orgia do pensamento desejoso, a manipulação da realidade segundo nossas convicções e não pela lógica dos fatos.
Sendo o paraíso da pós-verdade, o Brasil nunca consegue sair desse horizonte nebuloso de percepções tortas, arrogantemente defendidas pelas convicções que muita gente desinformada, mas com habilidade de criar um discurso pseudo-intelectual para "justificar" o injustificável, tenta manter com uma certa persistência raivosa.
Temos "donos da verdade" aqui e ali defendendo tais convicções e se irritando facilmente porque seus argumentos estão sendo muito frágeis. E é por isso que, de adeptos da Rádio Cidade aos seguidores de Chico Xavier, essas pessoas são passíveis de muito ódio e rancor. São pessoas cujo perfil se encaixa aos que elegeram Jair Bolsonaro, sem dar uma motivação consistente para essa opção eleitoral.
O Brasil não cresce porque tais pessoas adoram puxar o tapete. São "patriotas" que querem que o Brasil se livre de suas próprias riquezas, vendendo-as para grandes corporações estrangeiras. São pessoas intelectualmente abaixo do medíocre, mas que insistem em usar argumentos "intelectuais", com "referências bibliográficas" e tudo, para defender desesperadamente suas convicções.

Num país em que Olavo de Carvalho é considerado "filósofo", faz sentido. Muitos brasileiros, seduzidos pelo discurso da "banalização do erro", que os faz se resignar com a avalanche de erros humanos a ponto de dizer que errar é "ser gente como a gente", temos, por essa razão (quer dizer, por essa falta de razão), a banalização da ignorância, o "orgulho de ser burro", a obsessão em "não querer saber" e aceitar tudo como está.
Não buscamos coerência para coisa alguma. Ninguém protesta de verdade contra Jair Bolsonaro. Quando há um questionamento, muitos preferem amaldiçoar o senso crítico de alguém e até a fazer campanhas de difamação na Internet e até nas ruas. Pessoas estúpidas na Internet, quando são contestadas, soltam o ridículo refrão do "KKKKKKKK" ou, arrogantes, apelam para o mecanismo psicológico da "projeção", que é atribuir ao outro o defeito que o próprio ofensor possui.
Dessa forma, quando pessoas vão na Internet para cobrar um pouco de coerência e bom senso, questionando as armadilhas do "estabelecido", os internautas mais idiotizados usam essa "projeção" para dizer coisas como "xi... lá vem aquele chato com seu velho discurso...", "esse cara tomou Rivotril mas ainda está muito alterado" (na verdade, foi o próprio idiota que se entupiu de Rivotril antes de escrever esse "sábio" comentário).
A idiotização permite essa banalização de erro e, sob a desculpa de "admitir o erro", se erra demais e se tem muito medo de sofrer as consequências. Afinal, se "todo mundo erra, ninguém é condenado". E isso faz do Brasil uma bagunça, uma Disneylândia dos arrivistas, um Eldorado dos covardes, uma Harvard dos canastrões.
No "espiritismo" brasileiro, a onda dos erros banalizados chegou aos seus círculos, e aí os tais "médiuns imperfeitos" continuam sendo alvos de muita idolatria - uma idolatria cafajeste, porque é muito mal disfarçada - , e a atitude hipócrita de bajular Allan Kardec, mas praticar o igrejismo herdado de J. B. Roustaing movimenta esse carnaval da falsidade a que se reduziu, no Brasil, a Doutrina dos Espíritos.
Mas se a moralidade brasileira está muito confusa, a ponto de muitos tremerem de medo ao saber que feminicidas também morrem, preferindo acreditar que velhos feminicidas moribundos de oitenta e poucos anos se tornem youtubers e astros do Instagram em vez de se despedirem de nós pelo natural perecimento físico (que apodrece mais rápido do que se pensa, porque tais assassinos também causam maus tratos à sua saúde), temos que nos preocupar.
É um moralismo sem moral, dos quais os direitos humanos dão lugar a "humanos direitos", relativizam a gravidade do erro e da violência quando seu praticante possui algum prestígio social, e as pessoas são movidas por uma catarse que diviniza "médiuns imperfeitos", exalta rádios pop que "só tocam rock" e atribuem pretenso feminismo às mulheres-frutas.
As pessoas não sabem o que querem na vida. E é por isso que tantos fenômenos tortos ocorrem no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro. Uma aberração chamada "funk carioca", um ritmo musical sem músicos nem arranjadores, que sempre vetou a um pobre da periferia tocar um instrumento, ainda que um violão ou gaita, mas que se impõe como "vanguarda", só pode ter surgido num Rio de Janeiro cujo glamour foi deixado para trás.
Em terra de cego, quem tem um olho é rei. E o Rio de Janeiro da Rádio Cidade, de Eduardo Cunha, das mulheres-frutas, de Jair Bolsonaro, das milícias e do "funk" acabou alimentando a idolatria ao mineiro deturpador do Espiritismo, Chico Xavier, devolvendo a Minas Gerais um totem que desperta a fascinação obsessiva de seus seguidores, orgulhosos de "não querer saber" coisa alguma. Chico Xavier é o Contrassenso em pessoa.
Comentários
Postar um comentário