
O "ESPIRITISMO" BRASILEIRO, ATRAVÉS DE CHICO XAVIER, SE BASEIA NA APOLOGIA DO SOFRIMENTO HUMANO.
Existe, no sítio da Carta Capital, uma coluna chamada "Diálogos da Fé". Vá entender um conhecido veículo da mídia esquerdista apelar para a fé religiosa, quando é tradição que o pensamento esquerdista, através do marxismo, fosse desprovido de religião, pelo menos, já que o marxismo é originalmente ateu.
São coisas surreais de um ideário esquerdista que é colonizado pelo pensamento de direita, principalmente quando cultua funkeiros e "médiuns espíritas", ambos mais parecendo criaturas vindas de algum núcleo popular das novelas das 21 horas da Rede Globo e, em ambos os casos, patrocinados e apoiados abertamente por um Luciano Huck hostilizado pelas esquerdas. Vá entender as esquerdas que odeiam Luciano Huck mas adoram tudo que ele adora.
Em todo caso, deixemos nos compreender, diante dessa avalanche de absurdos nos quais o Brasil está submerso. Se chegou-se ao ponto de acreditar que um feminicida que fumou demais e usou cocaína no passado virou influencer aos 81 anos (esquecemos a figura do ghost writer), então somos capazes de acreditar em qualquer coisa, até coelho botando ovos de chocolate que geram carrinhos de plástico como seus filhos. Até parte de quem não se diz terraplanista tem seus terraplanismos...
Então a coluna Diálogos da Fé consiste num rodízio entre afro-religiosos, católicos, evangélicos e "espíritas". Descontando estes últimos, os demais, dogmas à parte, apresentam textos de profunda consistência e humanismo, o que não é o caso do Franklin Félix, o "espírita" em questão, que endeusa o "médium" Francisco Cândido Xavier, subestimando seu direitismo com apetite bolsonarista, mais radical até do que Divaldo Franco e Carlos Vereza.
Pois, ao consultar a coluna Diálogos da Fé, desta vez com o texto católico "Estamos diante de um 'mercado da fé'", do teólogo Waldir Augusti, surpreendemos com alguns aspectos de sua análise que soam como um puxão de orelha a Franklin Félix e todos aqueles que ainda acreditam na "filantropia" padrão Luciano Huck de Chico Xavier.
A queixa de Augusti quanto aos "pastores, gurus e guias espirituais" é espantosa, se lembrarmos que Chico Xavier era propagandista do sofrimento humano, dentro dos valores medievais da Teologia do Sofrimento, que os "espíritas" não citam pelo nome, mas defendem por suas ideias obscurantistas.
Vejamos em alguns trechos selecionados pelo nosso amigo Professor Caviar, que podem ser encaixados na trajetória de Chico Xavier, que tanto amaldiçoava quem reclamava muito da vida quando apelava para os oprimidos suportarem as piores desgraças em silêncio, orando calados pelo "socorro de Deus".
"Dias atrás, dialogando com alguns amigos, nos vimos falando sobre os atuais acontecimentos sócio-político-religiosos com os quais estamos sendo brindados. Vemo-nos envoltos por uma discórdia odiosa disseminada entre as pessoas por homens e mulheres inescrupulosos que se dão ao direito de brincar com a fé e a esperança dos menos favorecidos, convencendo-os de que profetas e arautos do Senhor estão em seu meio trazendo a “verdade” que deve ser seguida sem pestanejar".
O "ódio espírita" inexiste no discurso, mas as alegações de "resgates morais" mostram que o "espiritismo" brasileiro, tão "misericordioso", também tem seus "desgraçados", aos quais se justifica o prejuízo alheio através de uma forma "racional" de dizer que fulano "fez para pagar o que devia": os "reajustes espirituais", os quais, sem fundamentação, fazem atribuir a um indivíduo uma suposta encarnação antiga, ao arrepio da Ciência Espírita.
Dito isso, vemos como Chico Xavier agiu inescrupulosamente para brincar com a fé e a esperança dos menos favorecidos, se autoproclamando "profeta" e "arauto do Senhor", com a "verdade" em suas mãos, embora os "espíritas", dissimulados, se recusem sempre de considerar, eles e o "médium", como "donos da verdade", ainda que haja o esforço hercúleo para imporem tal condição.
Note-se o quanto constrangedor é ver gente pobre formando grandes filas para perder tempo com a pretensa consolação de Chico Xavier, com cenas humilhantes de ver os miseráveis submissos, tristonhos, aconselhados pelo "médium" a se conformar com o sofrimento e induzidos a beijar sua mão, como quem beija um sacerdote fariseu, apenas por uns meros conselhos paliativos e uns poucos donativos recebidos.
"Servindo-se de uma retórica -até certo ponto-, aprimorada e repleta de argumentos capazes de mexer com o emocional de muitos, tornam-se “pastores, gurus, guias espirituais” capazes de movê-los em distintas direções, desde que lhes atenda em seus objetivos, não se importando com o mal que estão causando. O medo, a imposição de regras desumanas, a chantagem emocional, a inclusão de “amuletos e objetos mágicos” por eles apresentados e vendidos como “milagrosos”, aliados a apresentações de “testemunhos” arranjados e repletos de encenações muito bem ensaiadas, são agregados à suas pregações e completam a pintura de um triste quadro social-religioso".
As ameaças dos "espíritas" de que a pessoa que reclamar da vida "afastará as boas energias" é ilustrativa, assim como prêmios que podem não incluir "amuletos e objetos mágicos", tidos como "milagrosos", mas oferecem como recompensa uma suposta cidade espiritual, Nosso Lar, com prédios imponentes, lindos bosques e crianças, cachorrinhos, gatinhos e coelhinhos correndo pela relva (?!), tudo para impor e forçar a aceitação do sofrimento, ou a superação desse sofrimento com sacrifícios acima dos limites suportáveis.
E com que emoções secretas não sentem os "espíritas" diante do sofrimento alheio e até das tragédias coletivas - definidas, ao arrepio da Ciência Espírita, como "resgates coletivos" - , como uma certa satisfação em se envaidecerem como pretensos mensageiros e falsos consoladores, quando no fundo não se importam com o mal alheio, presos em seus confortos solipsistas.
"Não bastasse, tais “pastores, gurus e guias espirituais”, munidos de informações cuidadosamente estudadas, aliam-se a líderes políticos ainda mais inescrupulosos e ávidos pelo poder, formando um séquito desprovido de qualquer honra ou caráter, nos âmbitos religioso, político ou social. As dificuldades enfrentadas cotidianamente por milhares de seres humanos, que por imposição de uma sociedade excludente e injusta, veem-se obrigados a viver em condições miseráveis de habitação, saúde, educação e segurança dentre outros. São homens e mulheres apontados e vistos meramente como números em uma contagem estatística fria e desumana".
Embora muita gente se desespere ao associar o "espiritismo" brasileiro ao bolsonarismo, achando isso "um absurdo", e reajam com lágrimas ou ranger de dentes a associação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro (que, juntos, são o Dr. Jekyll e Mr. Hyde do arrivismo brasileiro), o apoio do "bondoso médium" à ditadura militar, só por ter rendido condecoração pela Escola Superior de Guerra, deve ser levado bastante a sério, diante da constatação, dolorosa para muitos, mas realista: Chico Xavier COLABOROU com a ditadura militar.
A insensibilidade com o sofrimento humano faz com que Chico Xavier subtraia de si uns belos pontos de sua "indiscutível caridade" porque, como ele sempre dizia para as pessoas aceitarem o pior sofrimento, até mesmo com alegria, isso significa que o "médium" se recusava terminantemente a ajudar milhares de pessoas. Ou seja, de que adianta ajudar pouco e precariamente uma meia-dúzia de infelizes, se uma grande massa de outros infelizes era mantida à deriva, sob risco de tragédias maiores?
"Outrossim, são aqueles que insistem em impor às pessoas que aceitem sua condição de miserabilidade como vontade de Deus para suas vidas e que as mazelas vividas no cotidiano, são frutos do “pecado” por elas cometidos. Implica dizer, que o simples fato de não aceitarem passivamente a miséria, a dor e a fome a que foram condenados, os exclui da graça de Deus e como castigo, devem “purgar”".
Chico Xavier está nesse clube dos que "insistem em impor às pessoas que aceitem sua condição de miserabilidade como vontade de Deus". Ele atribui a essa miserabilidade os "erros das próprias pessoas" ("pecado") ou os tais "reajustes espirituais".
Em sua obra, independente de que nome se enfeite como suposta autoria espiritual, Chico Xavier demonizava as pessoas queixosas, assim como aquelas que não aceitavam passivamente a miséria, a dor e a fome a que foram condenados - fora outros infortúnios de natureza humana - , alegando que essas pessoas "não atraem as energias de Deus" para a suposta salvação.
"Servindo-se da argumentação de que o que “importa é a salvação da alma”, sentem-se à vontade para -com suas pregações-, conduzir aos mais humildes a um estado de letargia capaz de lhes transformar em objetos de fácil manipulação".
Isso se demonstra com a humilhante postura dos pobres e miseráveis, que em fila se submetem a Chico Xavier, que claramente expressa um semblante de soberba ao adquirir um protagonismo desmedido em relação ao assistencialismo fajuto que garante a adoração pelas pessoas da Terra. É chocante ver pobres tão submissos em passos lentos, submissos como carneirinhos, beijando a mão de Chico Xavier, um pretenso humilde que não conseguiu esconder seu poderio de ídolo religioso, sustentado pelas verbas generosas da Federação "Espírita" Brasileira.
Que traves não cegam os olhos dos "espíritas", num país em que se costuma supervalorizar o argueiro dos olhos alheios? Por sorte, nosso Brasil ainda é pouco esclarecido das traves que cegam os olhos de oportunistas que ainda são vistos como pretensas unanimidades, porque seu discurso amigo e seu tendencioso acolhimento a uma causa nobre trazem a ilusão do "bom amigo" que protege alguém que se prepara a apunhalar seus apoiadores pelas costas, num momento oportuno.
E se Chico Xavier morreu num dia de "felicidade humana", uma medíocre e suspeita vitória num torneio de futebol em 2002, isso tudo tem a ver. O jogo sujo de João Havelange e Ricardo Teixeira, que fez a medíocre Seleção Brasileira de Futebol da "família Scolari" - cujo treinador, anos depois, elogiou até a ditadura de Augusto Pinochet - , tem tudo a ver com Chico Xavier tendo apoiado a ditadura militar e morrido apoiando Aécio Neves, o "menino dos sonhos" do "bondoso médium".
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