
A prisão de Fabrício Queiroz e, dias antes, de Sara Geromini, que adotava o pseudônimo Sara Winter, pode representar a agonia do bolsonarismo, entre aspas, no sentido das pessoas físicas que operam esse fenômeno político. Mas se fala que as raízes do bolsonarismo já existem há mais de 15 anos e as milícias digitais eram algo que se observava nos tempos do Orkut e até antes dele.
As investigações em torno das fake news do "gabinete do ódio", que resultaram na investigação que não se limita a Sara Geromini, mas se estende a outros nomes como Allan dos Santos (responsável pelo blog Terça Livre), Bernardo Küster, Carla Zambelli, Bia Kicis, Paulo Kogos e o que vier de "odiosos" das redes sociais, atingindo até mesmo o empresário Luciano Hang e o dublê de filósofo Olavo de Carvalho, também se ampliam para o "escritório do crime", com Queiroz integrado às milícias, em parte suspeitas pelo assassinato da vereadora Marielle Franco.
Isso é o fim de um projeto da direita brasileira, estabelecido em 2016? Não e nem de longe isso pode ser cogitado. As forças neoconservadoras vieram para ficar e elas apenas precisam adotar um verniz "mais isento", do tipo "nem de direita nem de esquerda". A grande imprensa e o Poder Judiciário passaram a desempenhar um trabalho "mais técnico", até para mostrar serviço e arrumar protagonismo, o que iludiu bastante setores das esquerdas.
Não, amigos. Não se trata de cumprimento de "data-limite" alguma nem de inauguração de "Pátria do Evangelho" de coisa alguma. São apenas mudanças no xadrez político habitual, quando jogos de interesses começam a variar conforme as circunstâncias.
Com a prisão do Queiroz e a cobertura do Jornal Nacional sobre o fato, as esquerdas se iludiram achando que a Rede Globo "se esquerdizou", se esquecendo que ela foi propagandista do golpe político de 2016, liderou uma campanha difamatória contra Lula e Dilma Rousseff, e criou as condições mentais para que Jair Bolsonaro fosse eleito.
De vez em quando, setores das esquerdas ficam deslumbrados com armadilhas montadas pela centro-direita. O "funk", com seu cordão umbilical ligado à Globo e, recentemente, ao Luciano Huck - que, junto com Otávio Frias Filho, montaram a propaganda "social" de um mero ritmo dançante de qualidade duvidosa - , sempre vende uma falsa imagem libertária para os esquerdistas.
Foi Valesca Popozuda, ao comentar a prisão de Queiroz, soltar uma piada de que as mulheres vestiram rosa na quarta-feira teriam ou não de vestir laranja na quinta-feira, que não tinha a menor graça por sua banalidade, foi compartilhada por muitas esquerdistas nas redes sociais, menos pelo teor da ironia, mais pela visibilidade de quem escreveu.
São essas esquerdas cirandeiras que dominam as narrativas e são elas que acabam corroborando com os delirantes rótulos dos bolsonaristas. Chamando a edição do Jornal Nacional de "histórica", as esquerdas reforçam a tese mentirosa dos bolsonaristas de que a Globo virou "comunista", como se seus donos não fossem sonegadores fiscais, anti-petistas de carteirinha e definidos pela revista Forbes como os brasileiros mais ricos.
"ESPÍRITAS DE ESQUERDA": JUNTOS COM LUCIANO HUCK?
As esquerdas também corroboram com os "presentes de grego" que a centro-direita oferece para as forças progressistas cultuarem, sem prestar atenção no viés conservador de certos ícones. O suposto médium "espírita", Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, é o exemplo mais típico. Hoje se revela o direitismo do "médium", bem mais radical do que gente como Carlos Vereza, hoje em dia, mas as esquerdas reagem apenas com silêncio e omissão, como se estivessem dizendo, a contragosto, "vocês pensem o que quiserem (do "médium)".
O problema é que o direitismo de Chico Xavier não é questão de opinião. São fatos que confirmam. Ele esculhambou os movimentos sociais de esquerda para uma audiência de multidões, de milhares de pessoas!
E Chico Xavier pediu para os brasileiros orarem em favor dos militares (pelo contexto, se incluiu até mesmo o sanguinário coronel Brilhante Ustra) e foi condecorado pela Escola Superior de Guerra, que não daria sequer um pirulito (o doce, não a farda militar) como prêmio se não fosse para quem tivesse colaborado com a manutenção da ditadura militar.
E para quem acha que o (subestimado) direitismo de Chico Xavier nunca teve efeito doutrinário, é bom se decepcionar e chorar pelos cantos. Afinal, já divulgamos provas do direitismo do "médium" com suas próprias palavras e não dá para ficar relativizando aqui e ali, porque isso coloca os "isentos" e até os "esquerdistas" no nível das argumentações fajutas de um Allan dos Santos, de um Caio Coppolla.
Os "espíritas de esquerda", aliás, com toda a bajulação barata que fazem com tudo que é esquerdista, macaqueando os movimentos progressistas até em lives onde expressam todo o seu pedantismo - com um "esquerdismo" tão convicto quanto as ideias "humanistas" de Luciano Huck - , não conseguem se desvencilhar do mesmo modus operandi do movimento #EstamosJuntos, que a centro-direita criou para cooptar as esquerdas e usá-las como trampolim para a volta do PSDB e aliados ao poder.
É inútil pular feito criança revoltada dizendo que "Bolsonaro é o ódio, o Espiritismo é amor!", se compartilha de um igrejismo "espírita" que, com todo o verniz de "amor e bondade infinitos", segue ideias conservadoras não muito diferentes das de Bolsonaro, e cultuam Chico Xavier que se ascendeu de forma não muito diferente de Jair Bolsonaro.
De que adianta falar mal de Fernando Henrique Cardoso, tratá-lo como um bicho papão, por causa de ideias de desmonte de direitos trabalhistas, culminada pelos governos pós-golpe de 2016 para cá, se a obra doutrinária de Chico Xavier defende o trabalho exaustivo, a submissão ao patronato, à renúncia de encargos trabalhistas, esta sob a desculpa do "desapego à matéria". Chico Xavier deveria ser considerado co-autor da Lei 13.467 de julho de 2017, que instituiu a "reforma trabalhista".
E de que adianta os "espíritas de esquerda" falarem mal de Luciano Huck, se sua ação "assistencial" não é diferente da "caridade admirável" de Chico Xavier, que nada trouxe de transformador para a vida dos mais necessitados, que sempre foram mantidos na sua inferioridade social, apenas tendo aliviadas, e, ainda assim, de forma precária, as "dores da miséria", sem que houvesse uma mínima chance de cura para a pobreza. A "caridade" de Chico Xavier ajudou mais a ele mesmo do que aos pobres, a exemplo de Luciano Huck hoje.
Portanto, vemos esse cenário, em que, agora, os golpistas de 2016 se passam por "progressistas", de Luciano Huck ao MBL. Mas também temos funkeiros e "médiuns espíritas" que, integrantes de um imaginário de centro-direita, associado a uma forma paternalista de abordar o povo pobre, sempre foram cortejados pelas esquerdas como se fossem uma simbologia progressista.
Não é de hoje que as esquerdas caem nas armadilhas da centro-direita, que deve apostar num bolsonarismo sem Bolsonaro, mas dentro de um reacionarismo politicamente correto que apenas acoberta o pior dos pontos de vista conservadores. As esquerdas apenas servirão de trampolim para o bom-mocismo daqueles que derrubaram um governo progressista e que, salvo exceções, agora choram lágimas de crocodilo pelo leite esquerdista derramado.
E, no caso do "espiritismo" brasileiro, veremos os constrangedores "espíritas de esquerda" defendendo o igrejismo roustanguista fantasiado de "bases kardecianas" enquanto endeusam, como símbolo de suposta caridade, Chico Xavier, um sujeito que sempre foi reacionário, apoiava a ditadura militar e fazia uma "caridade" ao mesmo tempo fajuta e oportunista igualzinho Luciano Huck. Loucura, loucura, loucura.
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