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As bombas semióticas na hipotética comédia "O caipira da Boa Nova"



(Mais um texto dedicado aos leitores do Cinegnose)

Vamos imaginar um roteiro de uma comédia hipotética, à-la manière do grupo inglês Monty Python, chamada O Caipira da Boa Nova, cujo título em inglês poderia ser The Gospel's Dude. É a história de um caipira que produziu um livro fake e, com o tempo, tornou-se uma unanimidade religiosa.

No enredo, temos a história de Frank Shane, um sujeito de origem pobre que nasceu numa cidade interiorana, Peter Leopold. Na sua infância, ele perdeu sua mãe, Mary, que ele julgava ter a beleza de Ava Gardner, mas tinha uma aparência feiosa, como o filho. Muito saudoso, Frank conversava com ela, e frequentemente visitava seu jazigo no cemitério.

Ele era um poeta razoável. Frank publicou no periódico Young Ladies Magazine poemas ingênuos, um deles intitulado apenas "For My Baby", de conteúdo romântico. Os poemas não tinham um conteúdo excepcional, mas pareciam razoavelmente palatáveis. Mas foram suficientes para chamar a atenção de um dirigente religioso, Tony Winter.

Tony era presidente da National Spiritualist Federation, e queria ver sua instituição crescer. A simples pregação de ideais fraternos era insuficiente para atrair a atenção da sociedade, que via no órgão uma imitação fajuta da Igreja Católica. Nem mesmo a arquitetura de suas instalações, variando entre sobrados do século XIX e construções dos anos 1920, conseguia despertar o interesse das pessoas.

Pois Tony via em Frank uma possibilidade de ganhar muito dinheiro. Frank era caipira, poderia ser transformado em líder numa questão de habilidade. Bastava apenas a execução de um engenhoso e longo plano, bastante arriscado, que começa, então, a ser feito com a elaboração de uma obra ambiciosa: um livro que reunisse obras inéditas dos mais diversos escritores mortos.

"Mas isso é ridículo", disse Frank, na sua suave inocência. "Não, não é. Nós escrevemos juntos, eu tenho um pessoal para ajudar você em qualquer coisa, e aí criamos obras dos mais diversos gêneros, e isso irá impressionar a sociedade. Vai vender como pipoca em porta de cinema", garantiu Tony.

A obra, sugeriu Tony, teve como título sugerido Parnassus After Death. "Um título menos polêmico. Vivemos as expressões modernistas, no mundo inteiro. Eu não poderia botar como título, por exemplo, Expressionists from Heaven, que era o título que me veio primeiro à mente, porque creio que os estudiosos em Expressionismo iriam cair no malho. Daí eu escolhi um título ligado ao Parnasianismo, que está fora de moda e anda menos patrulhado", disse Tony.

"Eu leio muito, mas não sou conhecedor desses estilos", disse Frank. "Ótimo, um ignorante que apenas lê livros e que promoveremos como sábio!", exultou-se Tony. "Mas eu só tenho o primário completo. Não sei se farei bem esse papel", disse Frank. "Oh, Tony, vai, sim, vai, sim, vamos explorar as maiores contradições, criar um discurso tipo Yin e Yang, você será o Mestre da Humanidade, vai ser um longo trabalho, mas vai", disse Tony.

No entanto, Tony impôs uma condição. "Diga que não tem ideia do que está escrevendo. E vamos combinar uma coisa. Vamos criar um código, Amigos Espirituais, para quando estivermos fazendo decisões em conjunto. Quando estabelecermos os rumos de nosso plano, diga 'Ouvimos nossos Amigos Espirituais' e ninguém reclamará. Nossos atos secretos a gente não vai mostrar, é claro, mas a execução do nosso plano se dará, lembre-se muito bem, por influência dos Amigos Espirituais, combinado?, disse Tony.

"C-combinado", disse Frank, hesitante. "Você sabe fazer sonetos?", perguntou Tony. E Frank respondeu: "Sim, adoro fazer sonetos". "Pois a maioria dos poemas será de sonetos, mas não serão exclusivamente eles. Para cada punhado de sonetos, a gente bota um poema diferente, uma prosa também, e aí a gente diversifica o conteúdo".

LIVRO POÉTICO

E aí os dois foram elaborar o livro Parnassus After Death. Sob a ajuda de consultores literários e uma equipe de redatores, os dois resolveram imitar os estilos de vários autores: Emily Dickinson, Walt Whitman, D. H. Lawrence, um suposto Goethe em inglês, John Keats, Lord Byron, Edgar Allan Poe, Jane Austen e até Oscar Wilde e William Shakespeare. O livro anunciava-se como a última palavra em literatura moderna, com mensagens trazidas diretamente do mundo espiritual.

A obra causou um estardalhaço. As pessoas correram atrás do livro feito loucas. Uma dona-de-casa dizia a outra: "Vejam! Jane Austen lançando uma nova mensagem, inédita mesmo, não é material velho guardado!". Um senhor entrava numa barbearia e gritava: "Gente! Oscar Wilde voltou com uma nova mensagem! E ele menciona a Crise de 1929, ocorrida depois de sua morte!".

A crítica literária reagiu com desconfiança. "Pastiche grosseiro", "Poemas malfeitos", "Poemas e prosas sem pé nem cabeça", disseram vários. Oscar Barber, jornalista e crítico literário, apontou até uma confusão: "Meu xará Oscar Wilde reaparecendo sob o estilo de Lord Byron, vejam só!". E Emily Dickinson aparece sem o seu estilo, mais parecendo aqueles poemas rasteiros do jovem Frank, que disse ter recebido tais poemas e prosas ditos espirituais.

Melvin Talcott, outro crítico literário, apontava também para um Walt Whitman abaixo do medíocre. Vejam só esses versos: "The silent suffer / Has the voice of Wisdom / So quiet, he talks so stronger / With the voice of God". "Tão primários, às vezes sem rima, em outras apenas mal rimados!", revoltou-se o crítico.

Apenas alguns críticos apontavam leves semelhanças. Mort Liberatus, conhecido escritor infantis, apontou em Parnassus After Death, disse que a obra mostra semelhanças entre os estilos literários diversos. "Shakespeare lembra muito aquela carga dramática de suas peças trágicas. Otelo reaparece com toda sua dramaticidade". Ele também viu semelhanças em obras creditadas a Jane Austen e Oscar Wilde.

Diante dessa polêmica, Frank teve que dar um chá de sumiço. Por dois anos, Frank e Tony pesquisavam estilos literários, porque a controvérsia ficou pesada, depois que um escritor e crítico literário, Herb Fields, fez uma ironia com o livro de Frank. "Os poetas e prosistas de Frank parecem muito com os que viveram entre nós. Mas um conselho ao jovem Frankie: menino, não siga adiante com tais obras, porque os escritores vivos precisam de seu ganha-pão".

"Fiquei irritado com isso", disse Frank a Tony. "Eu queria um elogio e o cara veio com essa, 'menino, não continue lançando obras assim'. Tony, eu não gostei do que ele escreveu, soou como uma gozação". "Calma, Frank", disse Tony, que seguiu: "Creio que o tempo atuará por nós".

USO DO NOME DE FALECIDO ESCRITOR

Eis que Herb Fields adoece gravemente e, tentando tratamento médico, não resiste ao agravamento de sua doença e morre prematuramente. Lendo a notícia do óbito, Tony diz a Frank: "Bingo! Ele está sob nossas mãos. Sabe o que estou pensando?".

Frank, arrepiado, não responde. Tony segue. "Vamos usar o nome dele. Vamos jogar ele a uma série de experiências. Ele vai virar nosso repórter. O que acha?", perguntou. Eis que Frank responde: "Talvez seja uma boa ideia, mas não sei... Será que o pessoal vai reagir?". "Calma. Se reagir, a gente faz uma manobra e tudo fica a nosso favor. Tenho contatos com bons advogados. Um deles já está ligado à National Spiritualist Federation", assegurou Tony.

E aí Frank escreveu uma carta para um outro dirigente da NSF, inventando um suposto sonho: "Eu estava caminhando por um calçadão em Nova York, estava uma grande multidão andando de um lado para outro, alguns no mesmo sentido que eu, outros em sentido oposto. No sentido oposto, de repente veio Herb Fields, que parou e, muito simpático e gentil, me cumprimentou. Ele disse, 'Você é o garoto que publicou aquele livro? Com prazer, sou Herb Fields, e agora seremos parceiros em novas obras".

Isso ocorreu depois de três anos de hiato do livro poético, e pouco depois de lançar um livro atribuído à mãe de Frank: Mommy Talks, que incluiu uma insólita narrativa da viagem à Marte que, em verdade, misturou imitação do estilo de Jules Verne com pesquisas em citações de livros do astrônomo Percival Lowell, mencionadas em enciclopédias mais acessíveis.

E aí, veio o livro Infinitive Words, o primeiro de uma série. Além de outros títulos, destaca-se a obra Gospel of the Future, que garante que o Evangelho será a Constituição mundial, superando todas as leis humanas.

A obra causou séria revolta dos meios intelectuais. Melvin Talcott: "Um grande acinte literário". Oscar Barber: "O estilo é um grande pastiche, escrita pesada, com grandes vícios de linguagem. Não creio que Herb Fields iria escrever coisas como 'Clama Maria que ouçamos seu testemunho do filho Cristo Jesus'. Soa muito forçado, sem a leveza culta das palavras que deslizavam na pena do saudoso escritor".

Art Barrett, jornalista investigativo, já escrevia vários artigos na imprensa denunciando as fraudes e estava preparando o livro Frank Shane: O Enigma Revelado à Luz do Dia, enquanto tentava esclarecer um amigo de Herb Fields, Garrison Gable, que a obra supostamente espiritual era uma farsa. Gable havia chorado de comoção e, em sua impressão inicial, chegou a acreditar que era mesmo Herb Fields que havia voltado em uma obra espiritual.

Art Barrett enfrentava discussões acaloradas de um irritado parceiro de Tony Winter, Silver Casper, também representante da NSF que tentava argumentar que os estilos dos escritores podem mudar com a morte, embora visse na obra de Herb Fields e no livro Parnassus After Death semelhanças com os estilos dos escritores trabalhados em vida.

Diante disso, Tony arruma a Frank uma viagem para os dois, para a distante cidade Little Overland. Tony encontra um casarão abandonado e Frank pergunta: "Vamos morar nessa espelunca?". "Calma, Frank", disse Tony, "Nós vamos jogar uns pobres e doentes ali e você só vai visitar, monitorar e fazer palestras ali". "Mas como assim?", disse Frank.

"É a tática do Assistencialismo, você apenas empresta seu nome ao lugar. Outras pessoas fazem tudo, cozinham, realizam cuidados médicos, tutelam crianças, você só monitora de vez em quando, como um coordenador", disse Tony. "Mas eu não sei fazer isso", disse Frank. "Eu lhe ensino", disse Tony, "Isso vai lhe salvar a pele pelo resto da vida. Fazendo isso, você será intocável. Se um juiz ou delegado se aproximarem de você, é para pedir conselhos ou dar um abraço".

Os herdeiros de Herb Fields, sua viúva, Kate Fields e os filhos, Herb Fields Jr., Harry Fields e Mary-Anne Fields, decidiram contratar um advogado, Milton Arloe, e processar Frank Shane e a NSF, na pessoa de Tony Winter.

A petição, no entanto, foi melindrosa: pediu-se para que a Justiça averiguasse as obras de Frank Shane e, se elas eram autênticas, que Kate e os filhos recebessem suas cotas em direitos autorais, mas, se elas forem uma fraude, Frank e Tony teriam que indenizá-los por apropriação indébita do nome de um falecido.

"Estamos ferrados. E agora?", disse Frank a Tony.  Frank Shane já estava divulgando o primeiro livro de um nome fictício, Lou Andrews, que prometeu divulgar o que seria "realmente" o mundo espiritual, ainda que, em verdade, se tratasse de uma cidade fictícia, num arremedo de ficção científica, chamado Sweet Home Over the Earth.

"Calma, vamos contornar a situação. Vamos sentar e vamos escrever uma mensagem. Eu começo e você segue adiante, e eu vou acrescentando mais alguns pontos", disse Tony. "Você vai continuar fazendo tudo que fez, apenas vamos dar um jeito aqui e ali", garantiu Tony a Frank, que se sentiu tranquilizado.

Veio o julgamento e o advogado Michael Temple, ligado à NSF, defendeu Tony e Frank. A mensagem escrita por estes foi depois publicada, sob o crédito de Herb Fields, que deu a estranha advertência: "Meus familiares perguntam se eu sou mesmo autor dessas mensagens? Que questão desprezível exploram, usando o exército das palavras e o desnecessário recurso dos juízes! Esquecem que coisas sublimes são feitas pelo anonimato, posto que a questão de patente literária é desprovida de qualquer importância, diante de mensagens de conteúdo cristão".

A mensagem contém muitos trechos que lembram o pensamento pessoal de Frank. Mesmo assim, a mensagem funcionou e um juiz suplente, John Fred Roswell, declarou a ação improcedente, e cobrou de Kate Fields o pagamento de custas advocatícias. Ela e os filhos ficaram indignados, e resolveram recorrer da sentença judicial.

O empate jurídico foi vantajoso a Tony e Frank, e este pôde continuar publicando livros creditados a Herb Fields, desse que lhe arrumassem um pseudônimo, Humble Messenger, para ser oficialmente usado, enquanto Herb continuava levando o crédito dentro das instituições ligadas direta ou indiretamente à NSF.

BOMBARDEIO DE AMOR

Num belo dia, Kate Fields faleceu por grave doença. Anos depois, sabendo disso, Tony sugeriu a Frank convidar Herb Fields Jr. para um evento que juntasse palestra religiosa, visita à instituição assistencialista em Little Overland, onde Frank já atuava em sua instituição Soul Prayers Group, e uma excursão igualmente assistencialista.

"Ele é um cara cético. Ele vai me processar, vai vir com um advogado e dar voz de prisão", disse Frank, assustado. "Calma. Ouvi falar que Herb Fields Jr. estava interessado em nossa religião. Você só tem que praticar aquelas táticas que lhe ensinei naquele hiato entre Parnassus After Death e Mommy Talks, entendeu? Aquela tática complexa do love bombing, você já consegue praticar?", disse Tony.

Frank respondeu: "Bom, eu treinei hipnotismo e essa estratégia aí, o love bombing. Isso sei bem. O hipnotismo até consigo fazer, fiz um olhar intenso numa entrevista a um jornal, assim que lancei Mommy Talks, e pareceu assustador. Mas o love bombing, eu não sei se vou conseguir". "Tente", disse apenas Tony, e Frank consentiu sem dar palavras.

No fatídico dia, Herb Fields Jr. chegou ao local. Sentando-se numa das cadeiras do auditório, ele viu que uma música clássica de belas melodias estava servindo de fundo musical. Perfumes de flores foram exalados no ambiente. Um clima de serenidade parecia ter entre os frequentadores do local. Membros do Soul Prayers Group estavam sentados, e a senhora que integrava a equipe anunciava a presença de Frank Shane, como palestrante final.

Sabe-se que Frank Shane havia escolhido um falecido padre, o medieval Jeffrey Noble, que viveu no século XII, como seu mentor espiritual, e o Soul Prayers Group havia iniciado a reunião com um texto, "Trabalhe mais e confie em Deus": "Quando o trabalho é intenso, a tarefa é difícil, a recompensa é escassa e as horas passam sem que a atividade se encerre, mesmo assim continue trabalhando, mesmo sob o apagar das luzes, confiando sempre em Deus que dará prêmio futuro ao bom tarefeiro".

Apesar do tom severo das mensagens, as pessoas, sem aplaudir para não causar barulho, sorriam discretamente. E eis que Frank Shane fazia sua palestra, à maneira dos sermões católicos, e assim que encerrou a palestra, também não houve aplausos. A mediadora da reunião apenas disse: "Que bom nos alimentarmos com essas palavras sábias do irmão Frank, que nos revigoram e guiam nossas vidas, conforme os ensinamentos do Nosso Senhor Jesus Cristo. Agora, vamos em paz, para nossos lares, aproveitando as lições vivificantes do Evangelho trazidas por nosso Frank".

"É hora do bombardeio de amor", pensou Frank, consigo. Ele já estava alegre, e, por sorte, ele usava óculos escuros, por conta de uma doença que cegou um dos olhos, e não poderia ser encarado olho por olho para não ser considerado mentiroso. Ele já estava calmo e alegre, e foi fácil simular uma amorosidade plena dentro de um fundo musical orquestrado cujas melodias fizeram os frequentadores serem emocionalmente envolvidos.

Frank logo simulou uma afetividade plena a Herb Jr., executando o bombardeio de amor. Abraçando a vítima, Frank teve que forjar um calor humano intenso, que provocou, em Herb Fields Jr., uma choradeira intensa e copiosa. Herb tremia de tanto chorar. Aproveitando disso, Frank usou um falsete, acreditando ser do pai de Herb - Frank supôs uma voz típica do escritor, que nunca viu pessoalmente nem o ouviu pelo rádio, com base na sua aparência - , e fez uma mensagem afetuosa, em tom bastante paternal.

Herb Jr. chorou mais ainda e ficou desnorteado. "Será a voz de meu pai? Que tom estranho, forte, intenso, que mensagem muito forte, íntima, consoladora! De repente não era o abraço do médium, era o abraço de meu pai, isso me parece familiar", pensou, consigo, Herb Fields Jr., despindo do anterior ceticismo.

SOBRINHO

Pouco depois, um sobrinho de Frank Shane, Elmer Shane, que estava sendo preparado para ser o sucessor do tio, a ponto de já escrever os primeiros capítulos da ambiciosa obra, supostamente mediúnica, creditada a Homero e intitulada Homer's New Odyssey to Humanity's Future, resolveu fazer uma denúncia, na parte final dessa comédia dramática surreal.

Segundo Elmer, ele era pressionado para escrever mensagens atribuídas a autores mortos, e se sentiu atormentado por isso. "Tudo o que escrevi veio da minha imaginação, assim como foi o do meu tio, que não contesto como figura humana, muito simpático e gentil comigo, mas como paranormal ele se envolveu em fraudes intensas".

A revelação causou um escândalo. A NSF resolveu reagir, criando uma campanha difamatória contra Elmer, o "obsediado" manipulado por inimigos do trabalho benevolente de Frank Shane. Elmer recebia ameaças de morte, e foi jogado a um sanatório mantido pela NSF, onde chegou a sofrer agressões. Depois de um tempo, Elmer saiu do sanatório.

Em seguida, Elmer foi assediado por um suposto amigo, que, aproveitando dos rumores de que o sobrinho de Frank era um alcoólatra - ele, de fato, bebia além da conta, mas há exageros nesses relatos - , convidou-o para tomar uma pinga e conversar. O falso amigo, aproveitando que Elmer estava à vontade e distraído, jogou veneno na bebida dele assim que este pediu licença para ir ao banheiro.

Ingerindo, ao voltar ao local, a bebida, Elmer sentiu-se um mal estar depois que deixou o encontro. Sofreu uma hepatite tóxica, e teve que ser socorrido em casa, enquanto familiares chamavam o médico. Em dado momento, Elmer teve que ser internado. Em poucos dias, Elmer morreu, com 28 anos de idade.

Tony Winter publicou uma nota dizendo-se "transtornado com a morte do rapaz" e disse que ele morreu "pelas naturais consequências de seu alcoolismo", embora tivesse o jovem falecido mais cedo do que a média dos alcoólatras compulsivos, que geralmente morrem com 30 ou 40 e poucos anos.

Em todo caso, o episódio foi abafado e Frank Shane, que também manifestou pesar pela perda do sobrinho, seguiu adiante, buscando as conveniências para crescer como ídolo religioso e virar pretensa unanimidade. Tentou se associar com uma ilusionista, Rose Louise, depois desmascarada por seus truques circenses, em fraudes de materialização.

"SANTIFICAÇÃO"

As conveniências tentaram livrar Frank Shane de cumplicidade e inventou-se que ele foi enganado pela falsa médium. Frank, em seguida, defendeu o governo do reacionário Richard Nixon num programa de TV de grande audiência, e se absteve em silêncio

No final da comédia, vemos Frank Shane transformado em mensageiro consolador, falando coisas como "o silêncio é a voz que chega a Deus". E aí, a comédia dramática se encerra com Frank pensando consigo mesmo: "Nossa, eu inventei falsos livros espirituais, escrevi da própria mente tudo aquilo, e as circunstâncias me transformaram num santo homem".

Num amistoso de futebol americano, no qual a seleção dos Estados Unidos da América enfrentou os concorrentes do Canadá, que perderam por 3 a 1, o idoso Frank Shane faleceu, de doença da velhice, poucos anos depois que afirmou que "morreria num dia de muita felicidade para o povo". Ao morrer, uma senhora que trabalhava no Soul Prayers Group, vinda da residência dela, entrou na instituição gritando "Frank foi para o Céu! Ele agora está sentado ao lado de Deus Pai Todo-Poderoso!", aviso do qual recebeu gritos de "Aleluia" e "Graças a Deus".

A comédia, aparentemente, se encerra com a narração em off dizendo: "Frank Shane foi um sujeito humilde que acolheu os sábios do além e, mesmo ignorante, tornou-se sábio pelo seu exemplo de dedicação aos mais necessitados, pela sua mensagem de paz, amor e consolação. Ele agora está no reino dos puros, encerrando-se sua missão de luz e fraternidade". A câmera focaliza cenas de pessoas chorando, de olhos fechados e mãos estendidas, em prece.

Enquanto o travelling da câmera sobre mostrando multidões comovidas de mãos dadas louvando Frank Shane, enquanto se mescla a imagem de Frank Shane idoso, com boné e óculos escuros, dando um sorriso simpático, as duas imagens se apagam num fade out com fundo preto, para entrar a ficha técnica enquanto se segue o tema orquestral de melodias dóceis.

No entanto, depois de se encerrar a ficha técnica, uma paisagem só com céu e um "chão" de nuvens mostra Frank Shane num ambiente vazio, sem gente em volta, encontrando apenas um balcão com um funcionário indiferente fazendo o jogo das palavras cruzadas.

Frank pergunta: "Ué? Cadê o povo? Cadê Jesus Cristo? Cadê Deus?". E o funcionário responde: "Você passou a vida toda se promovendo com obras fake. A santidade que você produziu valeu apenas para os limites da Terra. Aqui não há segredo, e o que você sempre foi era apenas um autor de literatura fake que se autopromoveu pela pretensa caridade. Paixões religiosas são apenas paixões, e todas as recompensas que você ganhou ficaram na Terra".

CONCLUSÃO

Com as muitas diferenças de contexto, narrativa e detalhes, essa comédia dramática surreal mostra o quanto nós, brasileiros, imitamos o surrealismo cinematográfico em nossas percepções pretensamente realistas, sobretudo no que se diz a um ídolo religioso e pretenso "médium espírita". E imaginar que a vida de Chico Xavier daria uma comédia do tipo Monty Python...

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