Pular para o conteúdo principal

A batalha criptografada das confusões de Chico Xavier


O "médium" Francisco Cândido Xavier, vulgo Chico Xavier, nunca foi um sujeito de trajetória limpa e marcada por coerência, e nem por façanhas de cunho humanista e ativista que apenas tenham causado oposição de setores reacionários da nossa sociedade. Devemos ver as coisas com discernimento e vamos dar os exemplos de como Chico Xavier se envolveu em confusões para criar a bomba semiótica do vitimismo.

Vamos pensar em três personalidades consideradas humanistas às quais Chico Xavier tenta ser associado ou comparado: o famoso ativista da Judeia, Jesus de Nazaré, o codificador do Espiritismo, Allan Kardec, e a hoje Santa Dulce dos Pobres, a freira baiana Irmã Dulce.

Jesus de Nazaré, ou popularmente Jesus Cristo - alcunha obtida na cerimônia de batismo dada pelo seu primo João Batista - , sempre teve sua trajetória marcada por uma atuação coerente de transmitir palavras esclarecedoras a todos aqueles que visitava em suas casas. Jesus era um andarilho e suas pregações nem sempre tinham um caráter religioso, tendo feito duras críticas aos sacerdotes da época, os fariseus e os saduceus, ambos considerados também escribas.

Eles eram os falsos sábios da época. É constrangedor que, hoje, Jesus esteja associado justamente às formas modernas dos antigos vendilhões do templo (seitas evangélicas neopentecostais) e dos antigos escribas fariseus e saduceus (os "médiuns espíritas"), claramente considerados usurpadores da fé religiosa, manipuladores das emoções humanas etc.

Jesus não teve incidentes marcados pela confusão. Os incidentes negativos são resultantes da tirania do Império Romano e das queixas que os fariseus e saduceus faziam do "mau propagandista" que causava o esvaziamento das sinagogas. Jesus não foi condenado por "ser bonzinho", mas porque suas ideias e sua militância, andando de casa em casa e passando estadia em alguma delas, iam contra os interesses do poder político e religioso da época.

Allan Kardec foi outro que teve uma trajetória bastante coerente, até elegante. Ele pode ter causado controvérsias, mas não confusões. Ele foi um professor exemplar e um estudioso em Educação, disípulo de Pestalozzi, matemático, tradutor de livros - ele havia traduzido as ideias do Magnetismo de Franz Anton Mesmer para o francês - e, como Codificador do Espiritismo, foi sempre alguém marcado pela preocupação com o rigor da lógica e com a honestidade do Conhecimento.

Suas polêmicas agiam no âmbito das ideias. Kardec as explicava pacientemente, principalmente nos artigos feitos para a Revista Espírita, que ele mesmo editava sozinho. Ele pagava as viagens com o próprio dinheiro, e elas eram feitas para realização de conferências, para explicar suas descobertas, ou para pesquisas, mesmo no controverso caso das irmãs Fox, nos EUA. Mas Kardec nunca se envolveu em confusões ou incidentes incômodos que teriam sua influência direta nem indireta.

Irmã Dulce, nascida Maria Rita Lopes Pontes, também não se envolveu em confusões. Era uma freira de temperamento enérgico, mas não autoritário, e a baiana não pode ser confundida com o que foi a albanesa Madre Teresa de Calcutá, acusada de tratar de forma desumana seus assistidos. Em sua vida, Irmã Dulce lutou para criar um hospital público, uma escola pública e uma série de iniciativas, cobrando das autoridades apoio financeiro a tais iniciativas.

Devemos nos lembrar que os "médiuns" brasileiros, tão associados a uma "caridade transformadora" (pura propaganda enganosa), nunca usaram uma vírgula para cobrar das autoridades auxílio financeiro para projetos assistenciais "espíritas". Quando falavam para as elites, os "médiuns" sempre agiam elogiando, louvando, agradando e agradecendo às elites abusivas do poder econômico. Contrário a eles, Dulce cobrava apoio financeiro com a coragem perseverante dos verdadeiros cristãos.

Irmã Dulce nunca se envolveu em confusões, e mesmo quando ela apelava para políticos conservadores lhe ajudarem com financiamentos, ela não o fez visando vínculo ideológico, muito diferente de uma Madre Teresa de Calcutá viajando em jatinhos particulares de magnatas e tiranos.

E o que pensar de Chico Xavier? Este se envolveu em confusões. E isso vem desde o começo, com o "clássico" da literatura fake, Parnaso de Além-Túmulo, de 1932, um estranho livro com o apelo sensacionalista de reunir diferentes autores de diferentes procedências num só volume, que aliás sofreu reparações editoriais estranhas e sucessivas. Só esse livro causou muita confusão, pelo apelo pitoresco que representou, e isso já seria suficiente para desqualificar Chico Xavier.

Mas ele se envolveu em outras confusões: o caso Humberto de Campos, as fraudes de materialização (e, mais tarde, o caso Otília Diogo), as denúncias do sobrinho Amauri Xavier (e sua morte suspeita de ter sido "queima de arquivo"), a defesa da ditadura militar etc. E os inúmeros plágios, que ele fez mas não sozinho (tinha uma equipe editorial da FEB para auxiliá-lo e professores de literatura que atuavam como consultores literários).

Tudo isso é um fartíssimo repertório de confusões. Tem gente que pensa que Chico Xavier agia como um "menininho ingênuo", tratado como "bobo" nos piores incidentes e por isso qualquer acusação contra ele seria "cruel demais". Grande engano. As confusões apresentam provas de que ele teve atuação responsável, sim, por tais incidentes, e que com isso não pode ser visto como "vítima", por ter sido cúmplice e até autor ou co-autor de tais incidentes.

Daí o Brasil, marcado pela desinformação coletiva, pela burrice dominante - que chega ao ponto de dar, ao ato de ignorância, uma "virtude subliminar" - , aceitar a falsa ideia de que Chico Xavier foi vítima de maus incidentes. Não se faz um "coitado" com circunstâncias assim.

É uma grande batalha criptografada. Explorar as confusões criadas por Chico Xavier e mudar o foco, dando a ele um coitadismo necessário para forçar a comoção pública, e transformar um arrivista marcado por livros fake em um dublê de ativista social, "símbolo da paz, da caridade e do amor". Tudo isso às custas de uma infinidade de "bombas semióticas" que, por virem de Chico Xavier, muitos evitam considerá-las "explosivas".

Só mesmo um Brasil que relativiza e gourmetiza a sordidez humana, através do "jeitinho brasileiro" e de desculpas como "gente como a gente", de forma a permitir ações desonestas e injustas conforme a conveniência de cada situação, e por isso define a trajetória de Chico Xavier como "honesta e sem confusões", através de uma narrativa muito bem construída para encaixar os mitos de "semi-deus" ou de "homem simples", conforme o gosto do freguês.

A realidade, no entanto, comprova que ele foi, sim, um causador de muita confusão, mas admite-se que mais confusos são seus seguidores, sejam os mais sectários beatos, sejam os mais distanciados isentões. E quem está confuso acha que a coerência só se expressa no terreno promíscuo da confusão, por ser a realidade "limpa" demais para seus olhares enlameados.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a...

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente ...

"Mediunidade" de Chico Xavier não passou de alucinação

  Uma matéria da revista Realidade, de novembro de 1971, dedicada a Francisco Cândido Xavier, mostrava inúmeros pontos duvidosos de sua trajetória "mediúnica", incluindo um trote feito pelo repórter José Hamilton Ribeiro - o mesmo que, ultimamente, faz matérias para o Globo Rural, da Rede Globo - , incluindo uma idosa doente, mas ainda viva, que havia sido dada como "morta" (ela só morreu depois da suposta psicografia e, nem por isso, seu espírito se apressou a mandar mensagem) e um fictício espírito de um paulista. Embora a matéria passasse pano nos projetos assistencialistas de Chico Xavier e alegasse que sua presença era tão agradável que "ninguém queria largar ele", uma menção "positiva" do perigoso processo do "bombardeio de amor" ( love bombing ), a matéria punha em xeque a "mediunidade" dele, e aqui mostramos um texto que enfatiza um exame médico que constatou que esse dom era falso. Os chiquistas alegaram que outros ex...

Chico Xavier e Divaldo Franco NÃO têm importância alguma para o Espiritismo

O desespero reina nas redes sociais, e o apego aos "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco chega aos níveis de doenças psicológicas graves. Tanto que as pessoas acabam investindo na hipocrisia para manter a crença nos dois deturpadores da causa espírita em níveis que consideram ser "em bons termos". Há várias alegações dos seguidores de Chico Xavier e Divaldo Franco que podemos enumerar, pelo menos as principais delas: 1) Que eles são admirados por "não-espíritas", uma tentativa de evitar algum sectarismo; 2) Que os seguidores admitem que os "médiuns" erram, mas que eles "são importantes" para a divulgação do Espiritismo; 3) Que os seguidores consideram que os "médiuns" são "cheios de imperfeições, mas pelo menos viveram para ajudar o próximo". A emotividade tóxica que representa a adoração a esses supostos médiuns, que em suas práticas simplesmente rasgaram O Livro dos Médiuns  sem um pingo de es...

Carlos Baccelli era obsediado? Faz parte do vale-tudo do "espiritismo" brasileiro

Um episódio que fez o "médium" Carlos Bacelli (ou Carlos Baccelli) se tornar quase uma persona non grata  de setores do "movimento espírita" foi uma fase em que ele, parceiro de Francisco Cândido Xavier na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estava sendo tomado de um processo obsessivo no qual o obrigou a cancelar a referida parceria com o beato medieval de Pedro Leopoldo. Vamos reproduzir aqui um trecho sobre esse rompimento, do blog Questão Espírita , de autoria de Jorge Rizzini, que conta com pontos bastante incoerentes - como acusar Baccelli de trazer ideias contrárias a Allan Kardec, como se Chico Xavier não tivesse feito isso - , mas que, de certa forma, explicam um pouco do porquê desse rompimento: Li com a maior atenção os disparates contidos nas mais recentes obras do médium Carlos A. Bacelli. Os textos, da primeira à última página, são mais uma prova de que ele está com os parafusos mentais desatarraxados. Continua vítima de um processo obsessi...

Chico Xavier cometeu erros graves, entre os quais lançar livros

PIOR É QUE ESSES LIVROS JÁ SÃO COLETÂNEAS QUE CANIBALIZARAM OS TERRÍVEIS 418 LIVROS ATRIBUÍDOS A FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER. Chico Xavier causou um sério prejuízo para o Brasil. Sob todos os aspectos. Usurpou a Doutrina Espírita da qual não tinha o menor interesse em estudar e acabou se tornando o "dono" do sistema de ideias lançado por Allan Kardec. Sob o pretexto de ajudar as famílias, se aproveitou das tragédias vividas por elas e, além de criar de sua mente mensagens falsamente atribuídas aos jovens mortos, ainda expôs os familiares à ostentação de seus dramas e tristezas, transformando a dor familiar em sensacionalismo. Tudo o que Chico Xavier fez e que o pessoal acha o suprassumo da caridade plena é, na verdade, um monte de atitudes irresponsáveis que somente um país confuso como o Brasil define como "elevadas" e "puras". Uma das piores atitudes de Chico Xavier foi lançar livros. Foram 418 livros fora outros que, após a morte do anti-médium m...

Falsas psicografias de roqueiros: Raul Seixas

Vivo, Raul Seixas era discriminado pelo mercado e pela sociedade moralista. Morto, é glorificado pelos mesmos que o discriminaram. Tantos oportunistas se cercaram diante da imagem do roqueiro morto e fingiram que sempre gostaram dele, usando-o em causa própria. Em relação ao legado que Raul Seixas deixou, vemos "sertanejos" e axézeiros, além de "pop-roqueiros" de quinta categoria, voltando-se para o cadáver do cantor baiano como urubus voando em cima de carniças. Todo mundo tirando uma casquinha, usurpando, em causa própria, o prestígio e a credibilidade de Raulzito. No "espiritismo" não seria diferente. Um suposto médium, Nelson Moraes, foi construir uma "psicografia" de Raul Seixas usando o pseudônimo de Zílio, no caso de haver algum problema na Justiça, através de uma imagem estereotipada do roqueiro. Assim, Nelson Moraes, juntando sua formação religiosista, um "espiritismo" que sabemos é mais católico do que espírita, baseo...

Propagandista de Chico Xavier, família Marinho está na lista de mais ricos do país

Delícia promover a reputação supostamente inabalável de um deturpador da Doutrina Espírita como Francisco Cândido Xavier. As Organizações Globo (Rede Globo, O Globo, Época, Globo News) é propriedade dos irmãos Marinho, que estão no grupo seleto dos oito brasileiros mais ricos do mundo. Numa lista que inclui nada menos do que três sócios da Ambev, uma das maiores empresas fabricantes de cerveja no Brasil, os irmãos João Roberto, José Roberto e Roberto Irineu, filhos do "lendário" Roberto Marinho, somam, juntos, cerca de R$ 41,8 bilhões, cerca de um sétimo da fortuna total dos oito maiores bilionários do Brasil: R$ 285,8 bilhões. Sabe-se que a Rede Globo foi a maior propagandista de Chico Xavier e outros deturpadores da Doutrina Espírita no Brasil. As Organizações Globo superaram a antiga animosidade em relação ao anti-médium e resolveram reinventar seu mito religioso, baseado no que o inglês Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá. Para entender esta histór...

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi...

Dr. Bezerra de Menezes foi um político do PMDB do seu tempo

O "espiritismo" vive de fantasia, de mitificação e mistificação. E isso faz com que seus personagens sejam vistos mais como mitos do que como humanos. Criam-se até contos de fadas, relatos surreais, narrativas fabulosas e tudo. Realidade, que é bom, nada tem. É isso que faz com que figuras como o médico, militar e político Adolfo Bezerra de Menezes seja visto como um mito, como um personagem de contos de fadas. A biografia que o dr. Bezerra tem oficialmente é parcial e cheia de fantasia, da qual é difícil traçar um perfil mais realista e objetivo sobre sua pessoa. Não há informações realistas e suas atividades são romantizadas. Quase tudo em Bezerra de Menezes é fantasia, conto de fadas. Ele não era humano, mas um anjinho que se fez homem e se transformou no Papai Noel que dava presentinhos para os pobres. Um Papai Noel para o ano inteiro, não somente para o Natal. Difícil encontrar na Internet um perfil de Adolfo Bezerra de Menezes que fosse dotado de realismo, most...