
Elogiado pelo "movimento espírita" e, em declarações pessoais, por Divaldo Franco e João Teixeira de Faria, o João de Deus - provavelmente, Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) também teria elogiado - , o ex-juiz e hoje ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, foi desmascarado ontem no escândalo das fraudes da Operação Lava Jato.
Moro também era considerado um símbolo da luta "contra a corrupção", que motivou as elites brasileiras a realizar estranhas passeatas - patrocinadas por diversas empresas, como se descobriu depois - vestindo as camisas da corrupta Confederação Brasileira de Futebol (CBF), as "camisas verde-amarelas da Seleção". O "movimento espírita" chegou a atribuir a essas passeatas - a "marcha" dos "coxinhas" ou "manifestoches" - como começo da Regeneração da Humanidade.
O jornalista estadunidense Glenn Greenwald, radicado no Brasil, recebeu de uma fonte anônima um farto material que inclui documentos, correspondências, chats e áudios, entre outros, com informações comprometedoras sobretudo para Sérgio Moro. O material inclui conversas que ele teve com o procurador Deltan Dallagnol, com indícios de que Moro lhe teria orientado em ações ilícitas da Lava Jato.
Uma dessas orientações envolve todo o processo de evitar que o Partido dos Trabalhadores volte ao poder. No diálogo, Moro e Dallagnol manifestaram preocupação profunda com a possibilidade do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, autorizar, em 2018, a realização de entrevistas ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, preso sob acusação, montada sem o menor fundamento, de ter sido suposto proprietário de um apartamento triplex no Guarujá, litoral paulista.
Segundo uma das conversas, o próprio Dallagnol disse para Moro que tinha dúvidas sobre a veracidade dessa acusação, o que dá indícios de que uma armação havia sido feita para motivar a prisão de Lula. Consta-se que medidas similares estavam sendo feitas, envolvendo um sítio em Atibaia e a sede do Instituto Lula.
Uma série de informações virá à tona, sendo um escândalo pior do que o escândalo sexual envolvendo o jogador Neymar. O próprio STF já sugere que as denúncias podem anular as decisões tomadas por Moro na Operação Lava Jato e podem fazê-lo renunciar ao cargo de ministro da Justiça.
Moro já é considerado um juiz tendencioso e medíocre. Mas sua escolha para julgar Lula foi estratégica para a atuação dos seus opositores, mesmo se tratando de um juiz de Curitiba, fora da jurisdição (área envolvida num caso jurídico) de sua competência, pois Lula tem como jurisdição o Estado de São Paulo.
Além disso, Moro também é conhecido por julgar, de maneira tendenciosa, o escândalo do Banestado (Banco do Estado do Paraná), antigo banco estadual envolvido em esquema de corrupção que envolveu políticos do PSDB e executivos da grande mídia (como Globo, Folha e Abril). Moro só puniu políticos de baixa expressão no PSDB e inocentou os demais acusados, apesar das provas contra eles. O julgamento do caso foi em 2003, embora o esquema tivesse ocorrido em 1996.
CHICO XAVIER SE ENVOLVEU EM ESCÂNDALOS GRAVÍSSIMOS
O "movimento espírita" deve saber, mas se empenha em abafar, que Chico Xavier teve em seu histórico escândalos gravíssimos, que revelam a sua desonestidade mediúnica e o apoio a pessoas de ação fraudulenta, o que confirma que o "bondoso médium" era um anti-kardeciano explícito, pois o próprio Kardec publicou, de uma resposta espiritual (possivelmente o Espírito de Verdade), em O Livro dos Médiuns, capítulo 20 - Influência Moral dos Médiuns:
"9. Qual seria o médium que poderíamos considerar perfeito?
— Perfeito? É pena, mas bem sabes que não há perfeição sobre a Terra. Se não fosse assim, não estarias nela. Digamos antes bom médium, e já é muito, pois são raros. O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes".
Admitir, como se faz hoje em dia, que o "médium" Chico Xavier era "imperfeito" e que "errou muitas vezes" não resolve a situação, só piora. Afinal, Chico não apresentava condições de "bom médium", pois denúncias graves de fraudes, com colaboração cúmplice de outros, eram fartas e cheias de provas.
Em outra mensagem recebida de espírito, Kardec publicou o seguinte: "Aquele que vê claramente e tropeça é mais censurável que o cego que cai na valeta". Esse é um alerta sobre os "médiuns imperfeitos" que ainda mantém sua margem de idolatria e fanatismo - agora disfarçada pela "admiração saudável a pessoas simples e imperfeitas" - , como se tivessem o direito de "cair e levantar" quando quisessem, porque haveria sempre quem "lhes ajudasse".
Os escândalos de Chico Xavier - cujo projeto de "Pátria do Evangelho" foi anunciado pelo "Correio Espírita" na mesma época de ascensão do bolsonarismo - não foram poucos nem acidentais. Vejamos:
1) PARNASO DE ALÉM-TÚMULO - Num Brasil completamente desinformado de assuntos de paranormalidade, é estranho que um livro que prometa mostrar a suposta reunião de poetas e escritores falecidos, de Brasil e de Portugal, numa mesma antologia poética, apresente obras escritas do "além". Como se não bastasse, a obra apresentou evidentes e grosseiras irregularidades de estilo e o livro sofreu estranhos reparos editoriais (cinco em 23 anos), algo deplorável para uma obra que se diz "enviada por benfeitores espirituais".
2) CASO HUMBERTO DE CAMPOS - O mistério de como Chico Xavier "não recebeu" as mensagens espirituais de Machado de Assis e preferiu Humberto de Campos apresenta suspeitas. Há indícios de revanchismo contra uma resenha que Humberto escreveu no Diário Carioca e que desagradou Chico. Além disso, as "psicografias" que levavam o nome do autor maranhense apresentam fortes disparidades quanto ao estilo que o escritor havia deixado em vida. O caso custou um processo judicial em 1944, que terminou em impunidade a Chico Xavier.
3) FALSAS MATERIALIZAÇÕES - Na década de 1950, Chico Xavier se envolveu numa prática fraudulenta já realizada previamente pela FEB. As falsas materializações envolviam truques diversos, como modelos encapuzados em trajes brancos com fotos recortadas de personalidades mortas (os "cabeças de papel"), supostos médiuns usando gazes e algodões forjando "ectoplasmas" e maquetes com fotos recortadas e com voz de locutor (encarnado) em off. Chico também participou de farras de suposta psicofonia, tão grosseiras porque não passavam de falsetes.
4) CASO OTÍLIA DIOGO - Chico Xavier foi "advertido" por um locutor em off que falava pela maquete do "espírito Emmanuel" para largar a materialização e se concentrar nas "mensagens em livros". Apesar disso, Chico continuou com a brincadeira, mesmo sendo um "marmanjão" de 44 (em 1954) a 55 anos (em 1965), período entre a advertência do suposto espírito de seu mentor e a revelação do escândalo de Otília Diogo. Chegaram a dizer que Chico Xavier foi enganado por Otília, mas, depois, fotos de Nedyr Mendes da Rocha, por acidente, mostravam o "médium" alegre e participativo demais para ser enganado pela farsante, sugerindo entusiasmada cumplicidade.
5) SUSPEITAS DE "QUEIMA DE ARQUIVO" - O sobrinho de Chico, Amauri Xavier, denunciou as falcatruas do tio e ameaçava fazer novas denúncias quando foi alvo de campanha difamatória do "meio espírita". Manchete preveniu dizendo que Amauri recebia ameaças de morte por envenenamento desse meio e sua morte prematura traz indício de que essas ameaças se concretizaram. O escândalo foi abafado pela FEB e o caso, juridicamente prescrito, tem difíceis chances de receber nova investigação, mas mancha de sangue a trajetória do "espiritismo" brasileiro e do próprio Chico Xavier.
6) LEITURA FRIA NAS "CARTAS MEDIÚNICAS" - Numa época em que se diz que Chico Xavier "errou muito, mas aprendeu" e "prometia recuperar as bases doutrinárias do Espiritismo original", ele não só intensificou seu igrejismo de raiz roustanguista (embora o "médium" sempre manifestou medo de assumir a influência de J. B. Roustaing, explícita em sua obra) como continuou praticando fraudes na "psicografia", agora direcionada a mortos comuns, mas produzida a partir da "leitura fria", interpretação subliminar de depoimentos dos familiares dos falecidos, com base em reações emotivas ou ideias soltas que sugerem informações ocultas.
Esses são os principais escândalos que envolveram Chico Xavier e que o colocam em situação bastante incômoda, porque contraria a própria natureza de figuras humanistas merecidas de admiração, porque estas, por imperfeitas que fossem, não se envolveriam em escândalos, ainda mais que, no caso do "médium", ele mesmo se responsabilizou em produzi-los. As trajetórias de Jesus e Kardec eram elegantes de tão íntegras, contrariando o arrivismo mal-disfarçado de Chico Xavier.
SÉRGIO MORO E CHICO XAVIER: UNIDOS PARA DERROTAR LULA
Sérgio Moro era o juiz que se empenhou em tirar o Partido dos Trabalhadores do Governo Federal e provocar a prisão do ex-presidente Lula, em ações diretas e indiretas, incluindo uma campanha da mídia hegemônica contra Lula e a então presidenta Dilma Rousseff.
Nessa campanha, os "espíritas", embora no discurso manifestem "profunda consideração e respeito ao ex-presidente Lula", confundindo as esquerdas de que isso era apoio ao petista, eles diziam que "o então presidente havia desviado dos ensinamentos do Cristo e usado a máquina estatal para ações de cupidez e egoísmo materialista".
Os "espíritas" chegaram a creditar Sérgio Moro como "enviado de plêiades espirituais" e as manifestações do "Fora Dilma", como "despertar da juventude para a necessidade de recuperação e renovação moral da Humanidade".Daí a atribuição de que março de 2016 era a "regeneração da humanidade" e que agosto de 2017 (ascensão midiática de Jair Bolsonaro) era a "inauguração da Pátria do Evangelho".
Mas o próprio Chico Xavier foi usado para derrotar Lula, um ativista sócio-político que se ascendeu nos anos 1970, causando incômodo para a ditadura militar. O então sindicalista foi preso em 1980 e a ditadura militar lutou para permanecer no poder, apelando para a grande mídia para produzir um ídolo religioso para anestesiar a população e evitar sua revolta contra o regime ditatorial, que tantas vidas ceifou no seu período.
Foi aí que a mídia que apoiava a ditadura apostou em Chico Xavier, um sujeito claramente ultraconservador, que havia defendido abertamente os generais e, com muito gosto e sem o menor escrúpulo, foi ser homenageado por aqueles que mandavam exterminar tantos inocentes. Chico foi moldado no mesmo método que o inglês Malcolm Muggeridge fez para Madre Teresa de Calcutá (outra megera), adotado no Brasil pelo jornalismo e pela dramaturgia da Rede Globo de Televisão.
O discurso ecumênico enganou setores das esquerdas, mas a ideia é transformar Chico Xavier num pretenso santo, promovendo a histeria coletiva e o fanatismo da fé religiosa, que serviram como cortina de fumaça para desviar a indignação popular com a ditadura.
Além do mais, as "cartas mediúnicas" tiveram a função subliminar de fazer as pessoas se conformarem com as mortes violentas, usando a falácia de que pessoas que morreram cedo, tiveram seu caminho interrompido e, no fundo, se aborreceram com isso, estão "felizes no além-túmulo". E isso fazia com que as pessoas tivessem o mesmo sentimento com as vítimas da repressão militar, sugerindo assim uma "felicidade com a morte alheia", pela ideia de que os mortos "estão num mundo melhor", uma "vida espiritual" feita sob o capricho das paixões terrenas.
Dessa maneira, a vida presente não pode concorrer com a "vida espiritual" da imaginação materialista dos "espíritas", que atribuem a luta pela qualidade de vida só "no outro lado", porque a encarnação presente só pode ser um processo de "pagamento de dívidas" morais, encarando situações adversas que podem se acumular e crescer sem controle por parte de sua vítima, à qual só resta "rezar a Deus e em silêncio" para aguentar tamanhos infortúnios.
Daí que a figura de Lula, como seria a de Paulo Freire, João Goulart etc, soam incômodas para os "espíritas", que apenas exaltaram Getúlio Vargas por uma débil formalidade, embora, sabemos, tenha partido mais de Lourival Fontes e Filinto Muller, no Estado Novo, a blindagem do "movimento espírita".
O "espiritismo" brasileiro, apesar de hoje tentar renegar a herança de Jean-Baptiste Roustaing, manteve inteira a sua abordagem punitivista da reencarnação, descontando apenas os "criptógamos carnudos". Essa ideia é oculta nos interiores da prática "espírita" e presente em publicações mais "iniciadas". Mas, para os leigos, essa dura visão, demasiado austera, não é claramente exposta, tendo inclusive criado uma fachada "progressista" para enganar o público "de fora".
O discurso em prol de Chico Xavier "evoluiu" para uma retórica "ecumênica", "despolitizada" e "acima de ideologias", de forma que sua imagem, ao mesmo tempo adocicada e idealizada - distante da imagem do idoso ranzinza que defendia a ditadura e o Catolicismo no Pinga Fogo da TV Tupi - , fosse apreciada também por indivíduos ateus e esquerdistas. Era ilustrativo que, até pouco tempo atrás, esquerdistas defendessem Chico Xavier com o mesmo tom histérico dos bolsonaristas!
Com isso, percebemos o quanto vai se desnudando o caráter ultraconservador do "espiritismo" brasileiro, manifesto por suas raízes igrejistas e apresentado por provas consistentes mas que em nenhum momento são assumidos de verdade pelos seus membros. Até porque eles precisam vestir a máscara do progressismo e esconder seus surtos debaixo do tapete. Daí a recusa dos "espíritas" em assumir o bolsonarismo que apoiam e em alegar que o apoio ao golpe de 2016 foi um "engano". Os fatos mostram que, no entanto, nunca houve engano em tais posturas.
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