AS ESQUERDAS AINDA INSISTEM EM IGNORAR O DIREITISMO EXPLÍCITO E RADICAL DE CHICO XAVIER. "PENSEM COMO QUEREM", PREFEREM DIZER, ATRAVÉS DO SILÊNCIO E DA OMISSÃO.
As bombas semióticas que as esquerdas "namastê" e as esquerdas "nem tão namastê assim" ignoram da trajetória de Chico Xavier, fazem prevalecer narrativas positivas cujos aspectos negativos são jogados na lixeira da "dúvida", dentro de um pseudo-cartesianismo preguiçoso que só serve para evitar investigar mitos feitos para anestesiar nossos instintos.
A Verdade não toca em Chico Xavier, nem que um sem-número de argumentos lógicos e provas documentais se acumulem para desfazer o mito que reina nas zonas de conforto emocionais de muitos brasileiros. Daí que o silêncio da imprensa, só para dizer que faz alguma coisa contra supostos médiuns, prefere chutar um "cachorro morto" como João de Deus, já defenestrado pelo "movimento espírita", do que desqualificar um Chico Xavier que, mesmo falecido há quase duas décadas, continua um "cachorro grande" a serviço de interesses religiosos estratégicos.
Há muita gente de direita dentro das esquerdas, muitos infiltrados que continuam, calados, como "inimigos internos" das forças progressistas. Gente que não desembarca ainda do esquerdismo, que amacia seu discurso, evitando o máximo de explosões de raiva, e sempre que pode manifesta seu "profundo e sincero carinho" por Lula e Dilma Rousseff, até chorando lágrimas de crocodilo pelas injustiças que os vitimaram.
E é isso que faz com que as esquerdas, de vez em quando, abracem pautas direitistas, e isso se dá nem tanto pela "imparcialidade" e pelo "universalismo" de certas propostas e fenômenos e muito menos para "furar bolhas sociais" ou "combater a polarização", mas para desqualificar a essência do esquerdismo e empoderar a mídia hegemônica que defende essas pautas acolhidas "de fora" por esquerdistas deslumbrados.
Entre essas pautas está a glorificação, por setores das esquerdas, da figura, precursora dos "médiuns de direita", de Francisco Cândido Xavier, apesar de provas robustas de que ele era um reacionário convicto. Houve gente que definiu o "médium" como "marxista" só porque falava num "Brasil melhor" e passava a mão nas cabeças de crianças negras e pobres.
Na verdade, a principal bomba semiótica jogada nas esquerdas para glorificar Chico Xavier, com risíveis relativizações que dão a falsa impressão de que "o médium apoiou a ditadura sem apoiá-la de fato", com justificativas sem pé nem cabeça como a tal "estratégia pessoal de escapar da repressão", que não possuem a menor sustentação lógica.
Afinal, Chico Xavier nunca foi alvo de repressão militar. A própria Federação "Espírita" Brasileira expurgava "espíritas comunistas" e os expulsava da instituição, sob o consentimento do "bondoso médium", que se declarava "entristecido" com o "desvio de caminho dos amados irmãos". No entanto, nunca houve um único empenho de "investigar o médium" por parte das Forças Armadas.
Pelo contrário, o que houve foi a iniciativa da Escola Superior de Guerra em não só dar prêmios a Chico Xavier, como oferecer seus aposentos para as palestras do "bom homem". a ESG era chata em dar homenagens, não iria gastar dinheiro com prêmios, homenagens e realização de palestras para quem não fosse colaborador do regime. Se a ESG concedeu espaço e prêmios a Chico Xavier, o "médium" colaborou com a ditadura. Afinal, vivia-se a radicalização do regime, na época.
À maneira do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não vê evidência de crimes de Jair Bolsonaro, as esquerdas não veem direitismo em Chico Xavier, cujo ultraconservadorismo era mais radical do que se observa hoje em integrantes do "movimento espírita" como Divaldo Franco, Carlos Vereza e Carlos Baccelli.
A postura das esquerdas é adotar um sentimento de omissão cúmplice, um "segredo de máfia", desses que ocultam a Verdade quando ela vai contra interesses em jogo. A ideia esnobe manifesta pelo silêncio é que "as pessoas que pensem o que quiserem", como se fatos verídicos fossem meras "especulações opinativas". Só que não. O direitismo de Chico Xavier é um fato, uma realidade desagradável que seus seguidores e simpatizantes jogam para debaixo do tapete.
O mais grave é que o direitismo de Chico Xavier teve efeito doutrinário em seus mais de 400 livros, desde a tenra juventude ao final da vida. Toda a obra se fundamenta na apologia do sofrimento humano, nos moldes do Catolicismo medieval na sua mais radical concepção, a Teologia do Sofrimento. Apesar de explícito, esse dado nunca é admitido pelo "movimento espírita" nem pelos seus seguidores nem sequer pelos simpatizantes mais "distanciados".
Em sua trajetória, Chico Xavier uniu, numa só pessoa, aspectos que equivalem ao reacionarismo de Jair Bolsonaro (exceto no que se diz ao armamento das pessoas comuns), a esperteza de Aécio Neves e o "altruísmo de resultados" de Luciano Huck. Todos esses aspectos foram antecipados no suposto médium, que se tornou a principal ferramenta da "guerra híbrida" aplicada no Brasil.
Chico Xavier é uma "carta na manga" das classes dominantes para propor um suposto pacifismo, uma espécie de "paz sem voz" que, da forma como é expressa no discurso, soa agradável a todos. É como uma cicuta que envenena, mas tem o gosto muito delicioso. E a "chicuta" costuma ser servida para "isentões" e setores desavisados das esquerdas, como uma mensagem de "consolação e fraternidade".
TENTATIVA DE CALAR AS ESQUERDAS
A ideia de deixar Chico Xavier "de molho" para relançá-lo como suposto ativista, aliciando as esquerdas seja na véspera do golpe político de 2016, seja na proximidade da premeditada e fraudulenta vitória de Jair Bolsonaro em 2018, é um meio de seduzir as massas na iminência de algum perigo.
Nas redes sociais, quando vieram notícias como uma erupção vulcânica e o estouro da pandemia de Covid-19, entre outros fatos trágicos, os "robôs" do Twitter foram logo despejando as palavras-chave "data-limite" e "Chico Xavier" para os trend topics da plataforma digital.
Como um "pai" das fake news, pioneiro nos livros fake atribuídos a nomes como Humberto de Campos, Augusto dos Anjos, Auta de Souza e até Du Bocage, o "médium" Chico Xavier é um paiol de bombas semióticas que mesmo semiólogos de esquerda críticos de outras esquerdas têm muito medo de desvendar. Que o Brasil se exploda com o "bombardeio de amor" de Chico Xavier que destrói o país mais do que a explosão de dois prédios em Beirute, no Líbano, ocorrida em 04 de agosto de 2020.
As esquerdas se silenciam diante do canto de sereia de Chico Xavier. Damares Alves disse certa vez que, aos nove anos, viu Jesus Cristo aparecer numa goiabeira. Gente muito mais adulta deseja ver o rosto de Chico Xavier aparecendo no brotar de uma flor e, o que é mais preocupante, muita gente considerada progressista cai nessa perigosa tentação.
Enquanto isso, aspectos negativos da trajetória de Chico Xavier são "engavetados" e nenhuma alma vivente investiga. Quem deveria investigar corre para a zona de conforto da ignorância e da omissão, com um silêncio que quer dizer "Eu não sei e nem quero saber".
O próprio Chico Xavier defendia o silêncio. O "médium" reprovava o senso crítico, detestava ver gente reclamando ou se queixando de alguma coisa, e isso podia ser tanto um brinquedo com defeito ou uma redução salarial.
A ideia de oferecer Chico Xavier para o apreço das esquerdas segue o mesmo caminho que outras pautas da direita cultural, como o "funk". Primeiro se trabalha a adesão pelo público da mídia convencional, tipo Globo, Folha e SBT. Depois se inicia o proselitismo nas esquerdas, dentro daquela simbologia de "amor ao próximo" que, apenas na superfície, coincide, em tese, com as agendas sociais progressistas.
E como é que se recorre a Chico Xavier a cada perigo existente no Brasil? Simples, como um equivalente brasileiro da Madre Teresa de Calcutá - também alvo de complacência de setores das esquerdas, indiferentes ao reacionarismo da "boa velhinha" - , que simboliza um suposto ativismo social que não incomoda as classes dominantes, Chico Xavier sempre foi visto, a partir dos anos 1970, como uma cortina de fumaça para qualquer crise política, social ou institucional grave.
Tendo sido apoiador convicto da ditadura militar, hoje revelado como um colaborador certeiro do regime dos generais, Chico Xavier, depois do impacto do Pinga Fogo e de sua campanha pró-ditadura, decidiu operar como uma versão vintage de Luciano Huck, com um assistencialismo tão fajuto e de baixos resultados sociais.
O silêncio das esquerdas, criminosamente cúmplice, ao ignorar, com a convicção de um Rodrigo Maia, o direitismo radical de Chico Xavier, traz o preço futuro de ver o nome do "bondoso médium" acionado diante de alguma ocorrência grave, talvez diante de uma ameaça de Luciano Huck, possível rival de Jair Bolsonaro em 2022, seja deixado para trás por algum esquerdista emergente.
Será sempre a mesma campanha que, inicialmente, circulará na mídia hegemônica, agora a partir da Folha de São Paulo, a nova trincheira de Chico Xavier, depois que a Globo passou a denunciar "médiuns" e até revelar o apoio que o "homem-amor" deu para João de Deus. E, como a Folha tem maior penetração em setores das esquerdas, a campanha terá fácil absorção pelas esquerdas desprevenidas, como em 2016 e 2018.
A omissão dos esquerdistas, que desconhecem que Chico Xavier defendia, em sua obra doutrinária e seus depoimentos, pautas bastante hostis tanto às classes trabalhadoras quanto às causas identitárias, fará mais uma vez elas caírem nas mesmas armadilhas, na medida em que as esquerdas mantenham padrões viciados de percepção.
E é esse o perigo. Que Chico Xavier seja acolhido e endeusado pela sociedade conservadora, ou mesmo por "isentões" que se dizem "nem de direita nem de esquerda" (ideia que, nos anos 1980, também se atribuiu ao "médium", através de seus defensores, preocupados em dar um caráter "apolítico" a CX), isso é bastante compreensível.
O problema está no silêncio e na omissão das esquerdas, supostamente por ignorância dos fatos sombrios em relação à trajetória de Chico Xavier. A perigosa adesão ao "bondoso médium" pelas esquerdas significa assinar embaixo de propostas sociais, trabalhistas e morais que as próprias esquerdas repudiam, dando assim poder à sociedade conservadora, como se deu em 2016.
As esquerdas deveriam romper com Chico Xavier e elas mesmas iniciarem um jornalismo investigativo sobre os aspectos sombrios que vão desde o pioneirismo nas obras fake até a defesa apaixonada da ditadura militar. Há vários outros aspectos negativos, e cabe as esquerdas se monstrarem como Ulisses modernos, se prendendo nos mastros de suas odisseias para não caírem no canto de sereia do "bondoso médium" a "ressurgir" com sua cabeça "emergindo" do brotar de uma flor.
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