O governo do Estado do Rio de Janeiro, no seu controverso e quase nunca agradável esforço de resolver o déficit financeiro, pelo menos tem uma promessa levemente positiva. A decisão de aumentar os impostos de cigarros, o que fará aumentar os preços desse terrível produto, espécie de "chupeta" de adulto.
Nunca se viu tantos fumantes na região metropolitana do Rio de Janeiro. Seja na Zona Norte ou Zona Sul ou Zona Oeste, seja na Baixada Fluminense, em São Gonçalo ou Niterói. Chega-se a ver pelo menos três fumantes num quarteirão, e todos se achando. Tinha moça conversando naturalmente para a amiga que foi comprar um cigarro na esquina e por aí vai a conversa.
É assustador ver quanta gente fuma no Grande Rio. A gente espera alguma evolução em nossa humanidade e o que se vê são retrocessos. Não é conversa de esquerdista frustrado, não, até porque é mais fácil ver esquerdista frustrado nos "coxinhas" que fizeram passeatas "contra a corrupção" mas hoje estão felizes porque o Ali Baba e os Quarenta, ou melhor, Michel Temer e sua "equipe de notáveis", está no poder.
De repente, as pessoas se tornaram sado-masoquistas. Viraram racistas, machistas, elitistas, homofóbicos e assumiram outras intolerâncias sociais como se achassem com o direito e a liberdade para tanto. São sádicos para ofender os outros, acreditando na impunidade. Mas ficam felizes quando os donos da Rede Globo acumulam fortunas estratosféricas e as riquezas brasileiras serão vendidas para empresas estrangeiras. São masoquistas na defesa dos privilégios dos ricos.
E o Rio de Janeiro, cidade considerada a mais poluída do Brasil, tem um verão insuportável e contrastante cujos dias começam com um calor insuportável que dá a impressão de ser uma sauna ao ar livre, e terminam com uma trovoada de assustar qualquer um que está no caminho de volta para casa.
E os cariocas, além do restante dos fluminenses, insistem em viver no paraíso. Observa-se as pessoas com uma felicidade além da conta, ao mesmo tempo uma felicidade arrogante e imprudente, mesmo quando o Estado do Rio de Janeiro mergulha numa decadência bastante trágica, que não é apenas financeira, política ou de segurança. É uma crise generalizada, de valores, já que o Estado do Rio de Janeiro mergulhou no provincianismo desde os anos 90 que lhe trouxe efeitos danosos.
Nesse Estado provinciano se observa pessoas fumando sem parar, sem perceber o quanto ingerem. Cigarros têm em sua composição substâncias venenosas, existentes em fumaças de automóveis e em venenos de ratos. A imprudência com que vivem os fluminenses é preocupante, e mais preocupante é sua despreocupação com tudo, porque o vício do pessoal do RJ é rir dos próprios problemas, como se eles fossem pequenos e fáceis de encarar.
Nos bate-papos cotidianos, poucos percebem o quanto as notícias de mortes de amigos são comuns. "Quê? O Fulano? Morreu aos 42 anos, de coração? Cara moço ainda, semana passada ele parecia firme e forte", "A Sicrana morreu? 38 anos? Ela ainda estava bem de aparência, não sabia que ela tinha câncer de mama", "O Beltrano morreu? 54 anos? Só? Parecia ter 80!", são os comentários que se ouvem por aí.
As pessoas até se esquecem, mas é o pessoal que saiu fumando muito, achando que a fonte da felicidade está nesse incômodo objeto de formato fálico e que solta uma fumaça desagradável. Mas a arrogância dos fumantes está no fato de que uma parcela deles gosta de "fumar com os dedos", andando quarteirões inteiros sem dar uma tragada.
Isso poderia ser um esforço danado para as pessoas parassem de fumar. Imagine alguém que caminha quatro quarteirões na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, ou vai do Arpoador ao Posto Seis na praia do mesmo bairro, sem tragar um cigarro. Se ele pode fazer isso, pode parar de fumar de uma vez.
Mas não. O que se vê é o pessoal se achando, pensando naquela ideia já obsoleta de que o cigarro é objeto de ascensão pessoal das pessoas. Como o pessoal do Rio de Janeiro anda muito retrógrado, parecendo viver em 1974 - até seus ídolos musicais são nomes pop de 40 anos atrás e até uma rede de supermercados faz uma campanha com gente com visual "anos 70" - , tanto faz consumir cigarros como se fosse "uma das melhores coisas da vida".
E para piorar a grande mídia, talvez pelo lobby publicitário das indústrias do fumo - será que também tem a "bancada do tabaco" no Congresso Nacional? - , tenta agora dizer que o "açúcar é o novo tabaco", como se a criminalização do açúcar pelas "patrulhas da boa saúde" atenuasse a má reputação do cigarro. Daqui a pouco vão dizer que o tabaco é o "novo açúcar".
Espera-se que as taxas de impostos para os cigarros sejam altas e haja também políticas de inibição ao comércio clandestino. Temos que fazer reduzir o número de fumantes no Rio de Janeiro porque boa parte da poluição que ocorre é por culpa deles. O Rio de Janeiro está decaindo pelo apego a tantas coisas ruins que faz os fluminenses se tornarem retrógrados, iludidos com um glamour local que não existe mais.
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