Pessoas que, felizes, acendem seu cigarrinho, pedem isqueiro emprestado do amigo ou até do jornaleiro e vão tirar onda "fumando com os dedos", caprichando na pose ao andar nas ruas ou esbanjando arrogância jogando o cigarro gasto no chão na hora de entrar num ônibus ou num prédio, podem parar para pensar no prejuízo que estão causando para si e para outrem.
Um estudo da Organização Mundial de Saúde e do Instituto Nacional de Câncer dos EUA, sobre o tabagismo no mundo inteiro, mostra que o tabagismo custa para a economia do mundo inteiro um gasto anual de US$ 1 trilhão (cerca de R$ 3,2 trilhões, no câmbio atual), referentes a problemas de saúde e perda de produtividade.
A quantia supera até mesmo a arrecadação global com os impostos sobre o fumo, que a OMS estimou em cerca de US$ 269 milhões no biênio 2013-2014. Se dividirmos em proporções iguais do valor estimado no biênio, teríamos R$ 134,5 milhões, um valor ínfimo.
O estudo aponta ainda para a tragédia que deve vir por aí. Segundo a pesquisa da OMS, o número de mortes associadas ao tabaco pode aumentar de 6 milhões para 8 milhões até 2030, não bastasse a estimativa atual ser altíssima e bastante preocupante.
O estudo é avaliado por mais de 70 especialistas. Não se tratam de internautas enfezados que fazem "mimimi" contra desafetos só porque eles fumam. São cientistas que avaliam os efeitos do fumo no organismo e ainda relacionam o tema a efeitos produzidos no cotidiano das pessoas e na economia de cada país.
No Brasil, o fumo é constante em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Embora sejam, em tese, cidades "modernas" e "desenvolvidas", elas sofrem profunda decadência social, em certos casos com um provincianismo que antes se imaginava exclusivos de cidades do Norte e Nordeste (regiões que, em contrapartida, começam a superar essa triste qualidade), elas se enquadram no perfil de cidades de baixa renda devido ao fato de ser esse país o Brasil.
Sabe-se que, desde 2013, o Brasil vive uma crise econômica em função dos efeitos da crise do capitalismo mundial. E que, desde maio de 2016, a crise se agravou mais ainda, principalmente pela ascensão ao poder de um grupo político que despreza completamente qualquer intenção de beneficiar a sociedade, adotando um projeto político e econômico que só favorece os mais ricos, inclusive banqueiros e rentistas em geral.
A maioria dos óbitos referentes ao fumo envolverão países como o Brasil. E muitos desses óbitos pelo efeito do cigarro ocorrem com maior intensidade entre os 40 e 60 anos de idade. No Rio de Janeiro, o hábito do tabagismo é mais preocupante pela alienação em que se encontram a maior parte dos fluminenses.
Antes considerado Estado referência para o país, o Rio de Janeiro sofre uma decadência vertiginosa e vergonhosa, pelos inúmeros retrocessos ocorridos pelos jogos de interesses diversos. Do crime organizado ao cyberbullying nas redes sociais, passando pelo fisiologismo político do PMDB local e por ser um reduto da mídia hegemônica e retrógrada - é sede da Rede Globo e do jornal O Globo - e por ter na cidade do Rio de Janeiro uma das capitais mais conservadoras do país.
Essa decadência sofre vista grossa pelos próprios fluminenses, que não aceitam o fim dos "anos dourados" que pensam ainda estarem vivendo nos dias de hoje. Alternando uma despreocupação bovina com os retrocessos, problemas que lhes causam mais risos do que aflição, e uma irritação diante dos alertas dados por outras pessoas, os fluminenses - sobretudo os cariocas, da capital - permitem que os retrocessos se avancem e, contraditoriamente, sejam ignorados ou apoiados.
Antes Estado associado à resistência cultural e política, o Rio de Janeiro aceita fenômenos como o falso feminismo das "siliconadas" (Solange Gomes e Mulher Melão vivem no Estado), a pintura padronizada nos ônibus (que prejudica o ir e vir dos cariocas, que precisam redobrar a atenção para não embarcar no ônibus errado), e já estão trocando a boa cultura musical associada ao Rio (sobretudo MPB e rock alternativo) pelo mais rasteiro popularesco brega, como "funk" e "sertanejo".
A decadência do Estado do Rio de Janeiro é algo que os noticiários, mesmo quando admitem alguma gravidade, subestimam. O que se chega à imprensa é apenas algo que está mais escancarado, que é a crise política, econômica e policial. Uma polícia despreparada ou irresponsável que mata inocentes e não consegue conter a ação dos verdadeiros criminosos é apenas um dos piores aspectos que se vê no Rio de Janeiro.
Nota-se a decadência de tudo. Nas redes sociais, a maioria dos manifestos de reacionarismo ideológico e segregações sociais está em internautas residentes no Grande Rio, Machistas, racistas, tarados (que acabam fazendo o sucesso das musas siliconadas), defensores da decadência cultural, puxa-sacos de autoridades e famosos da grande mídia, fanáticos religiosos (como neopentecostais e "espíritas") e fanáticos por futebol, além de elitistas e privatistas radicais.
É o Estado que elege gente do nível da família Bolsonaro, de extrema-direita. O Estado do Rio de Janeiro viu boa parte dos cariocas elegerem Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha para a Câmara dos Deputados, em quantidade impressionante de votos. Os dois se envolveram em encrencas políticas da maior gravidade, mas só Cunha, por não estar completamente entrosado com as conveniências do jogo político, perdeu o cargo e está preso por corrupção.
É nesse contexto decadente que, nas ruas do Grande Rio, seja na Zona Sul, seja na Baixada Fluminense e seja nas ruas movimentadas de Niterói e São Gonçalo, há gente fumando como se fizesse uma das melhores coisas do mundo. Não se trata só de hábito, pois em muitos casos se observa a arrogância exibicionista dos fumantes, com sua pose de descaso, seu semblante um tanto agressivo e casmurro e seus passeios com cigarro na mão, como se "fumassem com os dedos".
Essas pessoas pensam que não sofrerão graves doenças. Mas a realidade mostra, a exemplo de vários famosos que viviam no Rio de Janeiro, como atores e jornalistas de TV, mortos, em muitos casos, no começo dos 60 anos, por causa de um "currículo" tabagista impressionante. Essas pessoas morrem - e não estamos citando os fumantes inveterados que morrem antes - e os fluminenses nem sabem por que morreram tão de repente. A desinformação também é outro aspecto do Rio decadente.
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