Pular para o conteúdo principal

Existem "Cândidos" e "Cândidos"


Devemos tomar muito cuidado com os contextos de certas homenagens e de outras situações. A recente homenagem dada ao militar João Cândido Felisberto, o "Almirante Negro", personagem da Revolta da Chibata de 1893, o maior protesto contra o presidente Floriano Peixoto, o "Marechal de Ferro", ao ser incluído no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, é um episódio à parte que não pode ser creditado ao mesmo contexto que outro "Cândido", o suposto médium Francisco Cândido Xavier, quando foi (desmerecidamente) incluído no mesmo "livro de aço".

João Cândido, sobrevivente do motim e que faleceu idoso em 1969, liderou uma revolta denunciando más condições dos marinheiros. Entre as condições degradantes, estava a punição, através do uso da chibata, para punir marinheiros acusados de indisciplina ou algum delito. O movimento, em que pese algumas conquistas (o fim da punição pela chibata e a anistia a uma parte dos revoltosos), foi duramente reprimido, com vários manifestantes presos e levados a fazer trabalhos forçados.

A proposta de incluir o "Almirante Negro" no "livro de aço" partiu do deputado federal petista Lindbergh Farias. O senador, também petista, Paulo Paim, acatou a iniciativa e permitiu a inclusão. Já a Marinha do Brasil enviou comunicado protestando contra a inclusão de João entre os "heróis da Pátria", admitindo que a mesma instituição militar cometeu erros naquela época, assim como setores da República brasileira e autoridades envolvidas, mas não vê sentido em fazer "exaltação aos revoltosos".

BANCADA DO BOI EXALTANDO CHICO XAVIER, QUE TRABALHOU PARA OS "CORONÉIS" DO GADO ZEBU

Um deputado federal da Bancada do Boi (latifúndio e agronegócio) de Uberaba, Franco Cartafina, do PP, partido que por sinal anda paquerando a filiação de Jair Bolsonaro, solicitou a inclusão de Chico Xavier no supracitado "livro de aço".

As alegações foram feitas sem um pingo de fundamentação, sempre com ideias vagas de "trabalho da caridade", com uma narrativa ligeira de forte apelo emocional, mas desprovida de qualquer embasamento e provas.

A relatora da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, a petista Erika Kokay, passou pano num pedido sem fundamentação e, tomada pela fascinação obsessiva que a imagem de Chico Xavier traz aos brasileiros, aceitou a inclusão, fazendo com que o Livro de Heróis e Heroínas da Pátria fosse contaminado pela inclusão de tamanha figura deplorável do charlatão "espírita".

É até curioso que Erika Kokay escreva tanto no Twitter falando mal de Jair Bolsonaro, mas consentiu que um "Bolsonaro do bem" fosse considerado "herói da Pátria", através de uma "caridade" que de fato nunca existiu, mas é definida por ações de baixa eficiência social como oferta de donativos, além da deplorável produção de supostas "cartas mediúnicas", mais falsas que uma nota de R$ 3 e provocadoras de sentimentos tóxicos dos mais diversos, mais perturbando que auxiliando a memória dos mortos.

Chico Xavier, aliás, foi um grande colaborador dos "coronéis" do gado zebu de Uberaba, que é um dos maiores redutos bolsonaristas de Minas Gerais. Ele fiscalizava o gado, feliz de ver que os bois, em vez de reclamarem da vida, só mugiam, e isso no auge da ditadura militar. É assustador que o "médium", através do "modo fada-madrinha" que hoje prevalece no imaginário popular, ainda seja visto como "progressista" por esquerdistas tão tolos, que precisam prestar atenção em textos como o nosso, que mostram provas do reacionarismo do "bondoso médium", pelas próprias palavras dele.

Lembremos que o Livro de Heróis e Heroínas da Pátria não tem perfil ideológico determinado. Ele se conduz a uma contraditória situação, na qual uns acham que heróis da Pátria são nomes como Paulo Freire, Leonel Brizola, Zuzu Angel e João Cândido, e outros acham que Chico Xavier, Duque de Caxias, Coronel Brilhante Ustra e até Doca Street mereçam tal atribuição. Nem todos esses citados estão no "livro de aço", mas o imaginário de uns e outros brasileiros aponta para essa divisão do conceito de "heroísmo", que para uns se dá aos humanistas, para outros se dá ou deseja dar a quem é desumano. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente

Falsas psicografias de roqueiros: Cazuza

Hoje faz 25 anos que Cazuza faleceu. O ex-vocalista do Barão Vermelho, ícone do Rock Brasil e da MPB verdadeira em geral (não aquela "verdadeira MPB" que lota plateias com facilidade, aparece no Domingão do Faustão e toca nas horrendas FMs "populares" da vida), deixou uma trajetória marcada pela personalidade boêmia e pela poesia simples e fortemente expressiva. E, é claro, como o "espiritismo" é marcado por supostos médiuns que nada têm de intermediários, porque se tornam os centros das atenções e os mais famosos deles, como Chico Xavier e Divaldo Franco, tentaram compensar a mediunidade irregular tentando se passar por pretensos pensadores, eventualmente tentando tirar uma casquinha com os finados do além. E aí, volta e meia os "médiuns" que se acham "donos dos mortos" vêm com mensagens atribuídas a este ou aquele famoso que, por suas irregularidades em relação à natureza pessoal de cada falecido, eles tentam dar uma de bonzinh

Chico Xavier, que abençoou João de Deus, fez assédio moral a Humberto de Campos Filho

HUMBERTO DE CAMPOS FILHO SOFREU ASSÉDIO MORAL DE CHICO XAVIER PARA TENTAR ABAFAR NOVOS PROCESSOS JUDICIAIS. Dizem que nunca Uberaba ficou tão próxima de Abadiânia, embora fossem situadas em Estados diferentes. Na verdade, as duas cidades são relativamente próximas, diferindo apenas na distância que requer cerca de seis horas e meia de viagem. Mas, com o escândalo de João Teixeira de Faria, o João de Deus, até parece que as duas cidades se tornaram vizinhas. Isso porque o "médium" Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, em que pese a sua reputação oficial de "espírito de luz" e pretenso símbolo de amor e bondade humanas, consentiu, ao abençoar João de Deus, com sua trajetória irregular e seus crimes. Se realmente fosse o sábio e o intuitivo que tanto dizem ser, Chico Xavier teria se prevenido e iniciado uma desconfiança em torno de João de Deus, até pressentindo seu caráter leviano. Mas Chico nada o fez e permitiu que se abrisse o c

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi

O grande medo de Chico Xavier em ver Lula governando o país

Um bom aviso a ser dado para os esquerdistas que insistem em adorar Francisco Cândido Xavier é que o "médium" teve um enorme pavor em ver Luís Inácio Lula da Silva presidindo o Brasil. É sabido que o "médium" apoiou o rival Fernando Collor de Mello e o recebeu em sua casa. A declaração foi dada por Carlos Baccelli, em citação no artigo do jurista Liberato Póvoas ,  e surpreende a todos ao ver o "médium" adotando uma postura que parecia típica nas declarações da atriz Regina Duarte. Mas quem não se prende à imagem mitificada e fantasiosa do "médium", vigente nos últimos 40 anos com alegações de suposto progressismo e ecumenismo, verá que isso é uma dolorosa verdade. Chico Xavier foi uma das figuras mais conservadoras que existiu no país. Das mais radicais, é bom lembrar muito bem. E isso nenhum pensamento desejoso pode relativizar ou negar tal hipótese, porque tal forma de pensar sempre se sustentará com ideias vagas e devaneios bastante agr

Caso João de Deus é apenas a ponta do iceberg de escândalos ainda piores

A FAMIGLIA "ESPÍRITA" UNIDA. Hoje o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, se entregou à polícia de Goiás, a pedido do Ministério Público local e da Polícia Civil. Ele é acusado de assediar sexualmente mais de 300 mulheres e de ocultar um patrimônio financeiro que o faz um dos homens mais ricos do Estado. João nega as acusações de assédio, mas provas indicam que eles ocorreram desde 1983. Embora os adeptos do "espiritismo" brasileiro façam o possível para minimizar o caso, ele é, certamente, a ponta do iceberg de escândalos ainda piores que podem acontecer, que farão, entre outras coisas, descobrir as fraudes em torno de atividades supostamente mediúnicas, que, embora com fortes indícios de irregularidades, são oficialmente legitimadas por parecerem "agradáveis" e "edificantes" para o leitor brasileiro médio. O caso João de Deus é apenas o começo, embora ele não tenha sido o único escândalo. Outro

Carlos Baccelli era obsediado? Faz parte do vale-tudo do "espiritismo" brasileiro

Um episódio que fez o "médium" Carlos Bacelli (ou Carlos Baccelli) se tornar quase uma persona non grata  de setores do "movimento espírita" foi uma fase em que ele, parceiro de Francisco Cândido Xavier na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estava sendo tomado de um processo obsessivo no qual o obrigou a cancelar a referida parceria com o beato medieval de Pedro Leopoldo. Vamos reproduzir aqui um trecho sobre esse rompimento, do blog Questão Espírita , de autoria de Jorge Rizzini, que conta com pontos bastante incoerentes - como acusar Baccelli de trazer ideias contrárias a Allan Kardec, como se Chico Xavier não tivesse feito isso - , mas que, de certa forma, explicam um pouco do porquê desse rompimento: Li com a maior atenção os disparates contidos nas mais recentes obras do médium Carlos A. Bacelli. Os textos, da primeira à última página, são mais uma prova de que ele está com os parafusos mentais desatarraxados. Continua vítima de um processo obsessi

Chico Xavier e Divaldo Franco NÃO têm importância alguma para o Espiritismo

O desespero reina nas redes sociais, e o apego aos "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco chega aos níveis de doenças psicológicas graves. Tanto que as pessoas acabam investindo na hipocrisia para manter a crença nos dois deturpadores da causa espírita em níveis que consideram ser "em bons termos". Há várias alegações dos seguidores de Chico Xavier e Divaldo Franco que podemos enumerar, pelo menos as principais delas: 1) Que eles são admirados por "não-espíritas", uma tentativa de evitar algum sectarismo; 2) Que os seguidores admitem que os "médiuns" erram, mas que eles "são importantes" para a divulgação do Espiritismo; 3) Que os seguidores consideram que os "médiuns" são "cheios de imperfeições, mas pelo menos viveram para ajudar o próximo". A emotividade tóxica que representa a adoração a esses supostos médiuns, que em suas práticas simplesmente rasgaram O Livro dos Médiuns  sem um pingo de es

Nomear Alexandre de Moraes ministro do STF será uma CATÁSTROFE

Diante do falecimento recente, em um acidente aéreo na sexta-feira chuvosa em Parati, litoral Sul fluminense, do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, criou-se uma situação delicada para a Operação Lava Jato, que teve seus trabalhos interrompidos com a morte repentina de seu relator. É um incidente que cria um consenso entre esquerdistas e direitistas na constatação de que seus trabalhos foram comprometidos e tarefas como a homologação das delações premiadas da Odebrecht e a investigação das irregularidades da campanha eleitoral de 2014 da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer terão que ser adiadas. Já se discute quem vai ser o sucessor de Teori Zavascki, seja como ministro do STF ou como relator da Lava Jato. As duas funções podem não ser desempenhadas pela mesma pessoa. Tomados de paixonite midiática crônica, os midiotas que veem Rede Globo e Globo News e leem Veja, Época e Isto É torciam para colocar o juiz Sérgio Moro em uma das duas funções vagas, a de ministro