Em tese, o bolsonarismo é o extremo oposto das religiões. O bolsonarismo é motivado pelo ódio, é vingativo, prega o rearmamento do cidadão comum, é golpista e prega a violência e o golpe contra as instituições. Enquanto isso, a imagem da religiosidade está sempre associada, supostamente, ao altruísmo, ao amor, ao auxílio aos oprimidos, à defesa da paz e do diálogo.
Mas não é bem assim. Descontando exceções honrosas, de religiões e crenças dedicadas, mesmo nos seus limites institucionais, ao altruísmo, e correntes progressistas da Igreja Católica (Teologia da Libertação) e da Igreja Batista, além de religiões populares como a maior parte do Islamismo e as de origem africana, a maioria das religiões prega um conservadorismo sombrio, que vai contra a imagem de "bondade" e "amor' a que estão teoricamente associadas.
O portal UOL noticiou que 16 entidades religiosas possuem dívidas que, segundo levantamento da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), correspondem a 80% de todas as dívidas religiosas. A lista dessas instituições que, somadas, devem R$ 1,6 milhão em impostos, inclui os manhados evangélicos neopentecostais, algumas instituições católicas e até islâmicas, igrejas de fachada e uma instituição "espírita".
A instituição "espírita" citada na lista é o Instituto "Espírita" Nosso Lar, de São José do Rio Preto, cidade do interior paulista cujo principal "médium" é o também médico Woyne Figner Sacchetin, acusado de se apropriar do nome de Alberto Santos Dumont para fazer juízo de valor no livro O Voo da Esperança, acusando as vítimas de um acidente com um avião da TAM de terem sido "cidadãos com sede de vingança" que supostamente teriam vivido na Gália no Século II.
Sacchetin foi processado por danos morais, por isso. E devemos lembrar, no entanto, que Francisco Cândido Xavier, ele mesmo, o "bondoso Chico Xavier" tão adorado por milhares de pessoas, também fez coisa pior, acusando pessoas mais pobres de também terem sido "gauleses vingativos" do século II, usando o nome de Humberto de Campos, mal disfarçado pelo codinome Irmão X, para esse que é uma das maiores atrocidades que o "maior médium do Brasil" e "herói da Pátria" fez em sua trajetória sombria.
O agravante, em Chico Xavier, não custa lembrar, é que, diferente de Woyne, que acusou pessoas de elite - que tiveram grana para contratar advogados para processar o suposto médium - , o "iluminado homem" acusou pessoas humildes, jogando uma pá de cal à tão alardeada imagem de "médium humilde" que faz milhares e milhares de brasileiros dormirem tranquilos, prontos para brigar com os fatos na manhã seguinte.
LISTA PUBLICADA NO PORTAL DO UOL NOTÍCIAS. O GRIFO É NOSSO.
FEB E IGREJA UNIVERSAL NÃO ESTÃO NA LISTA
O que devemos considerar, na lista das 16 maiores endividadas, entre as instituições religiosas, é que a relação não menciona a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, que sinaliza romper com o bolsonarismo, e a Federação "Espírita" Brasileira, suspeita de enriquecimento abusivo através do apoio e das alianças a cenários políticos conservadores.
As maiores seitas neopentecostais citadas na lista são a Igreja Internacional da Graça de Deus, de Romildo Ribeiro Soares, o R. R. Soares, a Igreja Mundial do Poder de Deus, de Waldomiro Santiago, e a Assembleia de Deus, cujo um dos filiados, o ex-deputado Eduardo Cunha (um dos mentores do golpe político de 2016), era responsável por um portal religioso chamado "Jesus.Com".
A Federação "Espírita" Brasileira sempre gozou de uma situação econômica nababesca, embora a instituição promova uma falsa imagem de "humilde", "modesta" e "altruísta", alegando, sem oferecer provas nem fundamentação, que dedica "a maior parte do dinheiro arrecadado para os pobres".
Não há comprovantes dessa missão, até porque, se houvesse, ela teria melhorado o Brasil, e a realidade é que estamos em situação pior. Além disso, as únicas "provas" apresentadas são de festas filantrópicas de caráter marqueteiro onde são distribuídos donativos comprados pelos "fiéis espíritas" para uma pequena parcela de pobres "especialmente convidados" para a ocasião.
Enquanto isso, nota-se que há complacência exagerada em relação a Chico Xavier, cujos aspectos negativos de sua trajetória recebem passagem de pano de muita gente complacente. Existe a aberrante situação de que Chico Xavier é o único indivíduo que não pode ser contestado mesmo à luz da realidade dos fatos ou de provas robustas de suas irregularidades, gozando do privilégio constrangedor de ser protegido por uma narrativa fantasiosa que trata o "médium" como se fosse uma fada-madrinha ou uma princesa de contos de fadas.
Note-se que também não é mencionada, na lista das 16 instituições, a Mansão do Caminho de Divaldo Franco e nem a Cidade da Luz de José Medrado, ambas situadas em Salvador (que, na lista, cita a filial baiana da Assembleia de Deus). Divaldo Franco é declarado apoiador de Jair Bolsonaro, o qual definiu como "esperança para o Brasil", enquanto José Medrado, que se declara "apolítico", é afeito a práticas tipicamente bolsonaristas como fazer, em suas palestras, piadas ofensivas contra sogras, gordinhos em geral e louras falsas.
Boa parte das instituições "espíritas" podem ter suas dividas, mas elas são menores que os R$ 20 milhões atribuídos como valores mínimos das dívidas das 16 instituições. Mas a verdade é que o "espiritismo" brasileiro é uma espécie de "tucanato religioso", pela blindagem que recebe da sociedade de tal forma que a FEB possui direito a instalações nas feiras de livros do país e a literatura fake de Chico Xavier é legitimada pelo mercado literário considerado "sério".
Por isso o "movimento espírita" parece gozar de uma imunidade e de vantagens sociais ilimitadas de maneira que as suspeitas contra suas atividades e procedimentos - principalmente quando envolvem a pessoa de Chico Xavier - são reduzidas por um máximo de complacência possível, mesmo que seja para lançar mão de teses acadêmicas completamente idiotas, como um Ronaldo Terra dizer que o "médium" apoiou a ditadura militar porque ele "era santo". Que vida boa é ser "médium".
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