Às vezes, o anedotário popular ou a habilidade pessoal de uns poucos humoristas revelam verdades que o chamado senso comum se recusa a admitir sob qualquer hipótese. E o episódio do ex-presidente Michel Temer escrevendo o "discurso conciliador" de um Jair Bolsonaro recuando de seus surtos golpistas revela algo que as pessoas não aceitavam sequer cogitar como possível.
As paródias que circulam na Internet, entre charges (como a de Renato Aroeira, acima), memes e piadinhas, sugerem que Jair Bolsonaro "psicografou" Michel Temer, o que mostra uma série de bombas semióticas que acabam revelando algo verídico, porém desagradável à maioria dos brasileiros: que Jair Bolsonaro é Chico Xavier e Chico Xavier é Jair Bolsonaro. Vejamos dois aspectos subliminares:
1) Jair Bolsonaro fez alguns ajustes no texto produzido por Michel Temer, o que lembra muito o empenho de Chico Xavier e dos dirigentes da Federação "Espírita" Brasileira de emendar as supostas psicografias - esquema que seria denunciado por Amauri Xavier e que seria revelado pela historiadora Ana Lorym Soares se ela não passasse pano nesta prática - , em ambos os casos para tornar a mensagem a ser divulgada "mais viável" para o público leitor;
2) A doutrina de Chico Xavier já apresentava pontos comuns com o governo Michel Temer, cuja reforma trabalhista foi feita, mesmo sem saber, com base em ideias e conceitos de trabalho servil que o "médium" havia defendido ardentemente em toda a obra doutrinária. Até os custos advocatícios, espécie de "multa" para o empregado que perder a ação judicial contra o patrão, lembra muito o caso Humberto de Campos, cuja viúva Catarina Vergolino de Campos foi obrigada a pagar custos advocatícios por ela não ter conseguido vencer a ação judicial contra o "médium", considerada "improcedente" pela Justiça seletiva brasileira.
Numa época em que o "espiritismo" brasileiro finalmente tirou sua máscara e se revelou a religião ultraconservadora que sempre foi - destruindo de vez o mito de "fada-madrinha" que envolvia Chico Xavier e similares - , apoiando abertamente Jair Bolsonaro, mais até do que as seitas neopentecostais, as pessoas ficam assustadas com tamanha revelação, sustentada por argumentos lógicos e pelas ideias retrógradas de moralismo punitivista que saltam aos olhos.
Perdidas numa narrativa dócil e numa "visão de fachada" do "movimento espírita" - que de forma enganosa vendia uma falsa imagem progressista e moderna, parecendo um falso genérico da Teologia da Libertação - , as pessoas estão em estado de choque diante das comparações certeiras entre Chico Xavier e Jair Bolsonaro, se esquecendo que ambos tiveram uma mesma maneira de se ascender pessoalmente.
Não custa repetir que Chico Xavier, apesar da imagem "santificada" que faz ele ter muito cartaz nas redes sociais (que, reduto de fake news, exerce afinidade de sintonias, conforme a Lei de Atração, com um pioneiro de livros fake, supostas psicografias que sempre falham nos aspectos pessoais dos autores mortos alegados), causou graves escândalos quando lançou Parnaso de Além-Túmulo e a série que carregava nos créditos o nome de "Humberto de Campos".
Os incidentes são muito parecidos e a repercussão, negativa porém resultante na complacência da Justiça, também se identifica muito com o que Jair Bolsonaro causou com seu plano de atentado terrorista em 1987. Tanto Chico Xavier quanto Jair Bolsonaro também foram acusados de sofrerem sérios problemas mentais.
As afinidades são tão surpreendentes que Chico Xavier e Jair Bolsonaro tiveram quase a mesma idade quando a Justiça passou pano nos dois casos: o "médium" com 34 anos e o "capitão", com 33. Astrologicamente, os dois também destoam dos aspectos rebeldes e modernos do signo de Áries, estando mais próximos de nativos que desviam dessa natureza para adotar um padrão ideológico mais retrógrado e antiquado.
Até mesmo os lemas do Brasil são parecidos, pois o lema "Brail, Acima de Tudo, Deus Acima de Todos" é rigorosamente a adaptação para os padrões rasteiros das redes sociais no nosso país do lema "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho".
Os apelos de Chico Xavier para que os oprimidos e sofredores extremos "nunca reclamassem da vida nem criticassem quem quer que seja" se encaixa muito com o conservadorismo extremo de Jair Bolsonaro, que também compartilha com os valores de trabalho servil realizados pelo governo Temer e defendidos com ardor pelo "médium".
Essas ideias ultraconservadoras de Chico Xavier, presentes em todos os seus mais de 400 livros, chocam apenas aqueles que se limitam a apreciar os memes do "médium" publicados nas redes sociais, onde apenas frases agradáveis são publicadas, embora boa parte delas deixe saltar, de uma forma ou de outra, essas ideias tão retrógradas.
Mas tudo isso é explícito e mostra o quanto Chico Xavier nada tem do "líder futurista, moderno e progressista" que a maioria dos brasileiros, de maneira tão piegas quanto idiota, acreditou durante muitos anos e insiste em continuar acreditando. Assim como Madre Teresa de Calcutá, o "progressismo altruísta" de Chico Xavier é falso, sendo apenas uma narrativa cheia de falhas, superficial e de apelo meramente emocional, mas que em termos lógicos não encontra respaldo na realidade.
As pessoas deveriam parar de ver Chico Xavier e Jair Bolsonaro como opostos. Os dois apenas se "diferem" no que se refere à obra O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde), de Robert Louis Stevenson, quando o simpático médico alterna momentos como um monstro ameaçador. Jair Bolsonaro faz o papel de Chico Xavier quando é simpático e conversa com os seus pares. E Chico Xavier virava Jair Bolsonaro quando esculhambava as esquerdas ou ridicularizava a desconfiança que os amigos de outro Jair, o Jair Presente, sentiam com as pretensas psicografias.
Afinal, trata-se de um religiosismo medieval, fundamentado na Teologia do Sofrimento e cuja ideia de "caridade" se limita exclusivamente a ações paliativas, que quase nunca ajudam o próximo e só promovem a imagem pessoal de "benfeitores" que, em si, nem praticam a filantropia glorificada nas suas pessoas, porque quem realmente contribui com donativos são os pobres mortais que com tola inocência endeusa essas filantropos de mãos fechadas e braços cruzados diante da pobreza do outro.
Defendendo a Teologia do Sofrimento, Chico Xavier e Madre Teresa - erroneamente cultuada pelas esquerdas que se esquecem que a "santa" era reacionária, amiga de ditadores e condecorada por um Ronald Reagan que patrocinava banhos de sangue que dizimaram inocentes na América Central nos anos 1980 - aliás deveriam ser considerados pessoas contrárias à qualquer tipo de solidariedade e amor ao próximo, uma vez que pediam para os oprimidos, em vez de combater sua desgraça, a suportá-las por longos e longos tempos.
E aí vemos o quanto o humorismo nas redes sociais, que pode não ser tão combativo quando se imagina, pelo menos sabe revelar, eventualmente, a verdade dos fatos, quando vemos que, ao descrever Jair Bolsonaro como um "médium", na verdade fez o pressidente fazer o papel de Chico Xavier. E isso cinquenta anos depois de Chico Xavier fazer o papel de Jair Bolsonaro, no programa Pinga-Fogo da TV Tupi. No fundo, Chico Xavier e Jair Bolsonaro são essencialmente a mesma coisa.
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