Pular para o conteúdo principal

Brasil vive uma estranha (e perigosa) onda de positividade tóxica


O Brasil está num momento bastante arriscado. Com tudo que sofremos desde o golpe político de 2016 e sob o tenebroso governo de Jair Bolsonaro, uma boa parcela da sociedade sempre quis dar a impressão de que "está tudo bem" e que "basta sorrir e ter esperança de um Brasil melhor".

Tantas convulsões sociais, tantos homicídios (e, em particular, feminicídios), tantos retrocessos trabalhistas, tanta degradação na cultura brasileira, tantos retrocessos políticos! Tantos moradores de rua se multiplicam nas cidades do nosso país! Tivemos, por duas vezes, ameaças de golpes de Bolsonaro que, por muito pouco, não aconteceram. E, por pouco, bolsonaristas não fazem massacre em plenas ruas no Sete de Setembro contra a "gentalha comunista" que pode ser qualquer um de nós.

Com uma catástrofe em andamento no Brasil, as pessoas ainda insistem em dar largos sorrisos e acreditar que está tudo bem? Até as novas músicas, como as de Anavitória, Melim e Letrux, mais parecem trilhas sonoras de vídeos de gatinhos e cachorrinhos no Instagram! A imbecilidade da "pisadinha", do "funk" e da "sofrência sertaneja" apontam que não estamos num cenário musicalmente bom, mas a mídia tenta afirmar o contrário, achando que essas porcarias são grande coisa.

O que vivemos é uma onda de positividade tóxica, de gente que vive na ilusão de que "é só acreditar que tudo vai melhorar que as coisas vão melhorar mesmo". Assim, sem lutar por isso, sem buscar resolver os problemas. Apenas se deve ser feliz à força, e chega-se a convidar os oprimidos a se sentir felizes sem motivo, pedindo para que, em vez de gemer de dor, se fale "graças a Deus!". Isso quando não se fala do apelo hipócrita de que "é só aceitar a dor que a dor passa".

As esquerdas brasileiras também se contaminaram com essa positividade tóxica e acham que Lula já está predestinado como o próximo presidente da República. Ninguém faz passeatas de verdade para derrubar o bolsonarismo e converso com gente lúcida de esquerda que fica preocupada com esse triunfalismo arrogante, que despreza o adversário de tal forma que, se um candidato da terceira via tossir, as esquerdas já inventam que ele caiu doente e, por isso, está derrotado nas urnas.

"As esquerdas estão preocupando. Elas estão comemorando uma vitória que não têm, ficam crendo em especulações. Pensam que o caminho está traçado para elas e para Lula, mas ninguém se mobiliza, porque todo muito acha que está tudo bem e o Brasil vai mal. Cara, o que mais me aflige é que as esquerdas sofrem um alto risco de levar uma surra nas urnas, diante dessa ilusão do clima de 'já ganhou'", falou um amigo aqui no Rio de Janeiro.

E mais grave ainda é que o "espiritismo" brasileiro, mesmo se aproximando de Jair Bolsonaro, vai querer cooptar até as esquerdas para o clima de positividade tóxica, que condiz muito com essa religião medieval.

A inclusão de Francisco Cândido Xavier na lista de "heróis da Pátria" - um título que o "médium" em nenhum momento mereceu, até porque ele fugiu como um covarde de Pedro Leopoldo após o escândalo de Amauri Xavier (morto de maneira suspeita) - abriu um perigosíssimo precedente para um monte de homenagens a serem dadas para o farsante religioso, um dos maiores charlatães do Brasil, alimentando a emotividade tóxica que os chiquistas têm e que podem se agravar cada vez mais.

Ano que vem se fará 20 anos do falecimento de Chico Xavier e é terrível que novas homenagens apareçam para um sujeito que tem até uma morte suspeita nas costas e apoiou a ditadura militar com um apetite comparável ao de bolsonaristas mais obsessivos. 

E o mais grave é que até as esquerdas, que costumam combater as fake news, insistem de vez em quando em cortejar Chico Xavier, que foi pioneiro dos livros fake, cujos "autores espirituais" nem de longe representam o que haviam sido em vida. E logo Chico Xavier, um dos maiores pregadores da positividade tóxica, pois pedia aos oprimidos suportarem suas desgraças em silêncio, para que eles não atrapalhem a felicidade (tóxica) dos outros.

Vivemos um período mais perigoso da História do Brasil. Fala-se de uma catástrofe política em andamento. No momento, o temível vulcão de Cumbre Vieja, em La Palma, Ilhas Canárias espanholas, está em erupção, não sabendo se ela se agravará ou não. Segundo cientistas, se ocorrer uma explosão, há um risco de se formar um tsunami que irá arrasar uma parte do território brasileiro, com efeitos mais danosos entre os litorais do Pará e Pernambuco.

Como é que as pessoas se comportam como estão no bosque e vivem num eterno contos de fadas? Mesmo dizendo que a vida "não é um mar de rosas", insistem em tratá-la como tal, uma vez que dizer e praticar nem sempre andam juntos, palavras podem dissimular atos. 

Essa suposta felicidade, diante de problemas graves no nosso país, deve ser por causa de excesso de religião, de redes sociais, de muita fantasia, que se refere até mesmo à literatura, quando ficções medievais, dramas juvenis e as auto-ajudas de sempre (com a literatura "espírita", mesmo a de Chico Xavier, incluída nesse lodo), têm preferência em relação a livros realmente voltados ao Saber.

Ver que até na leitura as pessoas preferem financiar mansões de autores medíocres de bestsellers do que comprar obras de autores mais talentosos que precisam pagar suas contas, isso é coisa de chorar, não de sorrir. E ver que nossa sociedade "com mania de ser feliz" pede aos sofredores para sorrir sem motivo, isso é deprimente. A onda de positividade tóxica ainda vai atirar o Brasil no precipício.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente

Falsas psicografias de roqueiros: Cazuza

Hoje faz 25 anos que Cazuza faleceu. O ex-vocalista do Barão Vermelho, ícone do Rock Brasil e da MPB verdadeira em geral (não aquela "verdadeira MPB" que lota plateias com facilidade, aparece no Domingão do Faustão e toca nas horrendas FMs "populares" da vida), deixou uma trajetória marcada pela personalidade boêmia e pela poesia simples e fortemente expressiva. E, é claro, como o "espiritismo" é marcado por supostos médiuns que nada têm de intermediários, porque se tornam os centros das atenções e os mais famosos deles, como Chico Xavier e Divaldo Franco, tentaram compensar a mediunidade irregular tentando se passar por pretensos pensadores, eventualmente tentando tirar uma casquinha com os finados do além. E aí, volta e meia os "médiuns" que se acham "donos dos mortos" vêm com mensagens atribuídas a este ou aquele famoso que, por suas irregularidades em relação à natureza pessoal de cada falecido, eles tentam dar uma de bonzinh

Chico Xavier, que abençoou João de Deus, fez assédio moral a Humberto de Campos Filho

HUMBERTO DE CAMPOS FILHO SOFREU ASSÉDIO MORAL DE CHICO XAVIER PARA TENTAR ABAFAR NOVOS PROCESSOS JUDICIAIS. Dizem que nunca Uberaba ficou tão próxima de Abadiânia, embora fossem situadas em Estados diferentes. Na verdade, as duas cidades são relativamente próximas, diferindo apenas na distância que requer cerca de seis horas e meia de viagem. Mas, com o escândalo de João Teixeira de Faria, o João de Deus, até parece que as duas cidades se tornaram vizinhas. Isso porque o "médium" Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, em que pese a sua reputação oficial de "espírito de luz" e pretenso símbolo de amor e bondade humanas, consentiu, ao abençoar João de Deus, com sua trajetória irregular e seus crimes. Se realmente fosse o sábio e o intuitivo que tanto dizem ser, Chico Xavier teria se prevenido e iniciado uma desconfiança em torno de João de Deus, até pressentindo seu caráter leviano. Mas Chico nada o fez e permitiu que se abrisse o c

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi

O grande medo de Chico Xavier em ver Lula governando o país

Um bom aviso a ser dado para os esquerdistas que insistem em adorar Francisco Cândido Xavier é que o "médium" teve um enorme pavor em ver Luís Inácio Lula da Silva presidindo o Brasil. É sabido que o "médium" apoiou o rival Fernando Collor de Mello e o recebeu em sua casa. A declaração foi dada por Carlos Baccelli, em citação no artigo do jurista Liberato Póvoas ,  e surpreende a todos ao ver o "médium" adotando uma postura que parecia típica nas declarações da atriz Regina Duarte. Mas quem não se prende à imagem mitificada e fantasiosa do "médium", vigente nos últimos 40 anos com alegações de suposto progressismo e ecumenismo, verá que isso é uma dolorosa verdade. Chico Xavier foi uma das figuras mais conservadoras que existiu no país. Das mais radicais, é bom lembrar muito bem. E isso nenhum pensamento desejoso pode relativizar ou negar tal hipótese, porque tal forma de pensar sempre se sustentará com ideias vagas e devaneios bastante agr

Caso João de Deus é apenas a ponta do iceberg de escândalos ainda piores

A FAMIGLIA "ESPÍRITA" UNIDA. Hoje o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, se entregou à polícia de Goiás, a pedido do Ministério Público local e da Polícia Civil. Ele é acusado de assediar sexualmente mais de 300 mulheres e de ocultar um patrimônio financeiro que o faz um dos homens mais ricos do Estado. João nega as acusações de assédio, mas provas indicam que eles ocorreram desde 1983. Embora os adeptos do "espiritismo" brasileiro façam o possível para minimizar o caso, ele é, certamente, a ponta do iceberg de escândalos ainda piores que podem acontecer, que farão, entre outras coisas, descobrir as fraudes em torno de atividades supostamente mediúnicas, que, embora com fortes indícios de irregularidades, são oficialmente legitimadas por parecerem "agradáveis" e "edificantes" para o leitor brasileiro médio. O caso João de Deus é apenas o começo, embora ele não tenha sido o único escândalo. Outro

Carlos Baccelli era obsediado? Faz parte do vale-tudo do "espiritismo" brasileiro

Um episódio que fez o "médium" Carlos Bacelli (ou Carlos Baccelli) se tornar quase uma persona non grata  de setores do "movimento espírita" foi uma fase em que ele, parceiro de Francisco Cândido Xavier na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estava sendo tomado de um processo obsessivo no qual o obrigou a cancelar a referida parceria com o beato medieval de Pedro Leopoldo. Vamos reproduzir aqui um trecho sobre esse rompimento, do blog Questão Espírita , de autoria de Jorge Rizzini, que conta com pontos bastante incoerentes - como acusar Baccelli de trazer ideias contrárias a Allan Kardec, como se Chico Xavier não tivesse feito isso - , mas que, de certa forma, explicam um pouco do porquê desse rompimento: Li com a maior atenção os disparates contidos nas mais recentes obras do médium Carlos A. Bacelli. Os textos, da primeira à última página, são mais uma prova de que ele está com os parafusos mentais desatarraxados. Continua vítima de um processo obsessi

Chico Xavier e Divaldo Franco NÃO têm importância alguma para o Espiritismo

O desespero reina nas redes sociais, e o apego aos "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco chega aos níveis de doenças psicológicas graves. Tanto que as pessoas acabam investindo na hipocrisia para manter a crença nos dois deturpadores da causa espírita em níveis que consideram ser "em bons termos". Há várias alegações dos seguidores de Chico Xavier e Divaldo Franco que podemos enumerar, pelo menos as principais delas: 1) Que eles são admirados por "não-espíritas", uma tentativa de evitar algum sectarismo; 2) Que os seguidores admitem que os "médiuns" erram, mas que eles "são importantes" para a divulgação do Espiritismo; 3) Que os seguidores consideram que os "médiuns" são "cheios de imperfeições, mas pelo menos viveram para ajudar o próximo". A emotividade tóxica que representa a adoração a esses supostos médiuns, que em suas práticas simplesmente rasgaram O Livro dos Médiuns  sem um pingo de es

Se Chico Xavier fosse progressista, não haveria a ascensão de Jair Bolsonaro

É um dever questionarmos, até com certa severidade, o mito de Francisco Cândido Xavier. Questionar sem ódio, mas também sem medo, sem relativismos e sem complacências, com o rigor de quem não mede palavras para identificar erros, quando estes são muito graves. Vale lembrar que esse apelo de questionar rigorosamente Chico Xavier não vem de evangélico alucinado nem de qualquer moleque intolerante da Internet - até porque o dito "espiritismo" brasileiro é uma das religiões não só toleradas no país, mas também blindadas pelas classes dominantes que adoram essa "filantropia de fachada" que traz mais adoração ao "médium" do que resultados sociais concretos - , mas da própria obra espírita original. É só ler Erasto, que recomendava rigor no repúdio e no combate aos deturpadores dos ensinamentos espíritas. E mais: ele lembrava que eventualmente os maus espíritos (ou, no contexto brasileiro, os maus médiuns) trazem "coisas boas" (as ditas "mens