Nos últimos tempos, o "espiritismo" brasileiro, aquele popularizado por Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, mostrou sua verdadeira face. Conservador, reacionário, defensor do sofrimento alheio, praticante de caridade de baixos resultados e difusor de um igrejismo medieval.
As forças progressistas brasileiras se iludiram demais com a embalagem "moderna", "modesta" e "generosa" do "movimento espírita" e viram em Chico Xavier e Divaldo Franco a "personificação" da generosidade, sem saber que isso nunca passou de um duvidoso e discutível mito plantado pelos meios de comunicação.
O Brasil nunca saiu para valer de sua condição de país miserável e desigual e, quando houve políticos que tentaram fazer alguma coisa, de Getúlio Vargas a Dilma Rousseff, passando por João Goulart e Lula, as elites reagiram com fúria, banindo os governantes do poder ou, no caso de Lula, fazendo campanha difamatória durante seus governos e se esforçando para tirá-lo da campanha eleitoral deste ano.
Isso mostra o quanto a "caridade" dos "médiuns espíritas", endeusada até a medula, nunca passou de conversa para boi dormir. Uma suposta filantropia que nunca trouxe uma emancipação social de verdade, uma caridade até "correta" (pelo menos à primeira vista), mas de resultados sociais muito aquém do que muito se define como "transformadores", por isso é até ofensivo endeusar os "médiuns espíritas" por uma "caridade" que nunca deixou o Brasil sair da mesma miséria.
O golpe político dos últimos dois anos revelou muita sordidez e uma instabilidade social provocada pela ditadura militar que não foi devidamente resolvida. Criou-se um Brasil kafkiano no qual se tem mais medo de ver homicidas ricos morrerem de repente (Doca Street e Pimenta Neves, hoje, apresentam indícios de doenças graves como câncer e podem estar à beira do túmulo) do que ver figuras admiráveis viverem pouco.
A sociedade brasileira sucumbiu a um surto moralista muito grande, que se tornou explícito na década de 1990, mas se intensificou nos últimos dois anos. E foi isso que fez o Brasil sucumbir a esse triste quadro político e social, no qual, só no Rio de Janeiro (que sofre uma decadência vertiginosa por seus próprios defeitos contraídos nos últimos 25 anos) há uma boa parcela de cidadãos defendendo um truculento Jair Bolsonaro como presidente do Brasil.
E quem imaginava que o "movimento espírita" não estava nessa, se enganou completamente. Embora o "espiritismo" brasileiro tenha mostrado, no passado, posições bastante reacionárias, como a participação da FEB na Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, que pediu o golpe militar em 1964, e a defesa de Chico Xavier à ditadura militar num programa de TV de grande audiência, os esquerdistas ainda tinham uma complacência surreal com o "movimento espírita".
Essa complacência era comparável a um rapaz da escola, considerado feio e esquisito, que acredita que a moça mais bonita da escola, só por ter lhe dado um bom dia com frieza e formalidade, acha que ela está apaixonada por ele, quando ela, na verdade, o despreza e o rejeita.
Só recentemente, quando Divaldo Franco manifestou abertamente apoio a Sérgio Moro e repúdio à ideologia de gênero, durante um evento "espírita", que as esquerdas deixaram aquela sensação do loser apaixonado pela cheerleader, iludido com as formalidades de cheerleaders do "movimento espírita" aparentemente simpáticas com as causas progressistas.
SINTONIA COM O GOLPE POLÍTICO DE 2016
O "movimento espírita" disse a que veio, quando elogiou os protagonistas do golpe político de 2016. Elogiou a Operação Lava Jato, a pretexto do "combate à corrupção". Elogiou as manifestações do "Fora Dilma", a pretexto de "prenunciar a regeneração da humanidade".
Só faltou dizer que o Movimento Brasil Livre e similares são as "crianças-índigos" ou "cristais" (talvez aqui atribuindo aos filhos de Jair Bolsonaro) que vieram para lutar pelo "coração do mundo" e "pátria do Evangelho" atribuídos ao Brasil.
Desde então, multiplicaram os textos "espíritas" aqui e ali implorando para os sofredores aceitarem o sofrimento. "Ame o sofrimento como uma mulher", "abra mão de tudo que for necessário", "aceite as desgraças em silêncio, sem reclamar", e até um duvidoso "combata o inimigo em si mesmo" que parece uma incitação acidental ao mesmo ato reprovado pelos "espíritas", o suicídio.
Todos esses apelos são uma senha para os retrocessos trazidos por Michel Temer, a quem os "espíritas" chegaram a "pedir preces para ele governar em favor do próximo": reforma trabalhista, reforma da Previdência Social, congelamento dos gastos públicos etc. Atualmente a reforma da Previdência Social está emperrada, por falta de apoio parlamentar.
Depois, o que víamos são "espíritas" saindo do armário. O latifundiário goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, considerado o "médium dos famosos" (recebeu até Oprah Winfrey), rasgou a máscara de "amigo de Lula" que a mídia de direita plantou e assumiu seu direitismo quando disse que gostaria que Sérgio Moro fosse presidente do Brasil. Sabe-se que Moro é famoso algoz de Lula, conforme a mídia independente tanto nos alerta.
Aí vemos surgirem comparações de Chico Xavier com Aécio Neves e Luciano Huck. Vemos o ator Carlos Vereza, que interpretou o dr. Adolfo Bezerra de Menezes no cinema, se tornar ainda mais reacionário, apoiando Temer e Bolsonaro e manifestando neurótica homofobia. Vemos muitos e muitos exemplos de como os "espíritas" estão sintonizados com o golpismo de 2016, de uma maneira ainda mais explícita que as seitas neopentecostais (como a Igreja Universal do Reino de Deus).
FAUSTO SILVA FALOU MAL DE DILMA ROUSSEFF E RONALDO FENÔMENO, QUE APOIOU AÉCIO NEVES EM 2014, PARTICIPOU DAS PASSEATAS PELO "FORA DILMA".
Na foto do alto, vemos Divaldo Franco recebido por Fausto Silva, apresentador do Domingão do Faustão. Ao lado, vemos também João de Deus recebendo Ronaldo Fenômeno, que o visitou com sua namorada Celina Locks, que definiu o "médium" e sua Casa Dom Inácio de Loyola como "luz indescritível".
Divaldo Franco passou os últimos momentos expressando reacionarismo: homenageou João Dória Jr., apoiou a "farinata", exaltou todos os envolvidos da Operação Lava Jato, sobretudo Sérgio Moro, condenou o marxismo e a ideologia de gênero e reafirmou uma das bandeiras do "movimento espírita" mais contrárias às esquerdas, o aborto.
Divaldo e João receberam dois "ativistas" do "Fora Dilma": Faustão foi conhecido por fazer comentários contra Dilma Rousseff no seu programa, e Ronaldo Fenômeno, antes conhecido como Ronaldinho antes de surgir o colega e amigo Ronaldinho Gaúcho (que declarou apoio a Bolsonaro), apoiou Aécio Neves em 2014 e participou das passeatas organizadas pelo MBL e parceiros.
Apesar disso, os "espíritas" igrejeiros tentam desmentir que sejam reacionários. Dizem que "acolhem todas as ideologias", até mesmo "os ditadores da América Latina", que seriam "acolhidos como verdadeiros irmãos". Só que "ditador" é um rótulo, bastante discutível, para governantes de esquerda que investem em educação pública, saúde pública, reforma agrária e subsídios à pequena agricultura familiar.
É até estranho. Ditador é aquele que ajuda o próximo e promove inclusão social? Filantropo é aquele que mantém pobres em cativeiro, sustentados de forma mediana e dominados pela catequização religiosa? O "espiritismo" brasileiro quer usar a "caridade" como seu suposto triunfo e como tentativa de calar as vozes contra os "médiuns", como se isso justificasse a deturpação e a traição aos ensinamentos espíritas originais.
Pois avisamos que, se os "espíritas" acham que podem deturpar e saírem imunes pela desculpa da "caridade", é bom deixar claro que Allan Kardec, que criou o termo "fora da caridade não há salvação", é a maior vítima das traições feitas pelo "movimento espírita" brasileiro.
A traição à Doutrina Espírita original, feita pelo suor do trabalho e do próprio dinheiro de Allan Kardec, não tem preço que possa ser pago pela suposta caridade do "movimento espírita" e seus festejados "médiuns" que fazem turismo desviando o dinheiro da filantropia ou sob patrocínio de grandes empresários.
Deturpar o Espiritismo original com ideias igrejeiras inspiradas no Catolicismo jesuíta é um ato deplorável que nenhum aparato de caridade pode atenuar. Afinal, a deturpação desmoraliza Kardec, que foi uma figura progressista em seu tempo, e não é a ideologia de gênero que é a "imoralidade ímpar" do Brasil. Imoralidade ímpar, mesmo, são as trajetórias arrivistas de Divaldo Franco, Chico Xavier e seus pares nesse "movimento espírita" igrejeiro, medieval e ultraconservador.
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