Não é bom endeusar os "médiuns espíritas" pela suposta caridade, a qual não existem provas consistentes nem precisas. É até engraçado que os seguidores de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco exigem "bases científicas" para tudo (leia-se discurso complicado e análises das mais intrincadas), mas aceitam qualquer boato feito em torno da suposta caridade dos "médiuns".
Paciência, é o país em que a suposta corrupção dos políticos do Partido dos Trabalhadores é feita sem provas. Seja contra o ex-presidente Lula, seja a favor de Chico Xavier e Divaldo Franco, aceita-se qualquer fofoca.
Infelizmente, a "caridade" é um escudo para os "médiuns" e vira um pretenso atenuante para seus graves erros. Chico e Divaldo deturparam perversamente o legado espírita original, e isso não se deve porque eles "se empolgaram demais com suas origens católicas". Eles fizeram tudo de propósito e personificam a traição da Doutrina Espírita prevenida pelo próprio pedagogo francês Allan Kardec.
Usa-se a "filantropia" no "espiritismo" brasileiro tanto para abafar denúncias de irregularidades mediúnicas e desvios doutrinários quanto para promover superfaturamento pedindo ao Estado verbas públicas no valor acima do necessário.
O discurso da "caridade espírita" faz com que até os céticos aliviem os questionamentos aos "médiuns espíritas", a ponto de, se possível, aceitar até psicografias fake - ou melhor, "pseudografias" - se a renda das mesmas se destinar ao "pão dos pobres". Falsidade em prol do bem, dá para acreditar?
Mas esse discurso é construído, e quem ajudou muito nessa narrativa que faz até ateus dormirem tranquilos - pelo menos os "ateus Graças a Deus" que sonham ter como ringtones nos seus smartphones canções como "Obrigado, Senhor" de Roberto Carlos e "Faz um Milagre em Mim" de Régis Danese - é a Rede Globo de Televisão.
As pessoas acabam se comportando como idiotas. A imagem de "caridosos" atribuída aos "médiuns espíritas", sobretudo Chico Xavier e Divaldo Franco, não é mais do que aquela concepção espetacularizada de "filantropia" trazida pelos programas de televisão.
A "filantropia" de Chico Xavier é na verdade um simulacro de ativismo social baseado em paradigmas que, primeiro, se popularizaram pela TV Tupi e depois se consagraram pela Globo. É aquela "bondade de novela", dentro da uma concepção paternalista que não fere os interesses abusivos das elites. E, se observarmos bem, essa "caridade" tem mais problemas do que méritos.
Primeiro. O caso recente de Luciano Huck nos ensina como foi construída a "imagem caridosa" de Chico Xavier e Divaldo Franco. A memória curta dos brasileiros se acostuma a qualquer aberração ou farsa, mas Chico e Divaldo também foram beneficiados por um discurso e um arremedo de ativismo social que hoje é personificado pelo empresário e apresentador do Caldeirão do Huck.
Segundo. Há uma série de problemas, seriíssimos, que se devem levar em conta para que as pessoas não fiquem com esse mimimi de falar que "os médiuns deturpam, sim, mas pelo menos trabalham pela caridade", algo que é feito com informações muito vagas, motivado pela emoção cega e apenas divulgado por peças publicitárias ou eventos festivos especiais, que nada mostram de definitivo dessa "caridade". Vejamos estes problemas.
1) OS RESULTADOS SÃO MUITO MAIS PÍFIOS E MEDÍOCRES DO QUE SE PENSA
A "caridade espírita" nunca trouxe resultados expressivos de melhorias sociais. Isso porque o Brasil nunca atingiu padrões elevados de progresso social pelas políticas em geral, e muito menos pela "caridade" dos "espíritas". Pelo contrário, a idolatria aos "médiuns" é em doses estratosféricas e, mesmo assim, a situação do Brasil só piora a cada ano, salvo durante os governos do PT, onde se tentou resolver concretamente os problemas sociais.
Não adianta dizer que os "médiuns" fazem pouco porque recebem poucos recursos. Grande engano. Afinal, eles são tão paparicados pela alta sociedade, recebem prêmios e tantos benefícios, seus livros vendem como água, são verdadeiras celebridades midiáticas, que os ricos e poderosos adorariam patrocinar com generosas verbas. Afinal, para as elites, mais vale a caridade religiosa do que enfrentar rebeliões e passeatas populares. Paternalismo controla mais as massas populares.
Só que isso, aparentemente, não ocorre ou não provoca efeito. Há muita contradição e vários pontos duvidosos dessa "caridade" de "médiuns" tão queridos e tão premiados, santificados por coisa nenhuma. Os resultados sociais são sempre baixos, e comemora-se demais por quase nada, servindo a "caridade" apenas como desculpa para se aceitar os abusos dos "médiuns espíritas".
2) A AJUDA NÃO VÊM DOS "MÉDIUNS" NEM DAS INSTITUIÇÕES "ESPÍRITAS", MAS DE TERCEIROS
O dado alarmante que poucos percebem é que, com observação mais apurada, se verá que os "médiuns espíritas" NÃO praticam a "caridade" que se atribui a eles. Os "médiuns" são apenas distribuidores da "caridade" dos outros, o que não é mérito algum. Não há como santificar alguém que se promove com a filantropia dos outros.
Nas instituições "espíritas", o que se vê é que a "caridade", tão festejada e oficialmente associada aos "médiuns", é feita pelos frequentadores. São eles que arrumam donativos, compram cestas básicas, usam seu próprio dinheiro para essas aquisições ou para depositar dinheiro nas instituições. Em muitos casos, nem têm tanto dinheiro assim, mas sacrificam seu orçamento para tais aquisições ou doações.
Aliás, é até uma coisa feia as pessoas ficarem exaltando a "caridade" dos "médiuns" porque, em verdade, eles não fazem coisa alguma. O que eles fazem é comercializar palavrinhas dóceis em palestras e livros, e se promovem com a caridade dos outros. São os outros que fazem, feito formigas trabalhadoras, toda a aparente caridade dos "médiuns", enquanto estes se pavoneiam para o Brasil e o mundo promovendo idolatria barata e fanatismo religioso não assumido.
3) A "CARIDADE" SERVE MAIS PARA A PROMOÇÃO PESSOAL DOS "MÉDIUNS"
O que as instituições "espíritas" fazem não é a Assistência Social que tanto alardeiam. A Assistência Social é aquela caridade que transforma, que "cura a doença" da pobreza. O que os "espíritas" fazem é Assistencialismo, caridade de resultados superficiais, fracos ou pontuais, que apenas "alivia a dor" da pobreza, sem "curá-la".
Usemos um exemplo. A Assistência Social adquire uma casa própria, um apartamento para cada morador ou família de moradores de rua. O Assistencialismo arruma cobertores ou recolhe os moradores de rua para um alojamento coletivo.
Muita gente vai fazer ginástica mental e usar de toda a acrobacia de argumentos e falácias para dizer que a "caridade espírita" é "transformadora". Mas a gente não vê resultados. Os anúncios de beneficiados são vagos e, quando se entrevistam aqueles que receberam benefícios, se vê que são muito poucas pessoas.
É realmente como na suposta corrupção de Lula. Não há provas. A "caridade espírita", no sentido inverso do juízo de valor da sociedade, também não. Em ambos os casos, tudo é aceito pelo "achismo", pelo disse-me-disse, e aí entra um aspecto estranho: a defesa dessa "caridade" é medida pelo prestígio religioso dos "médiuns espíritas".
E aí é que está a chave do problema. A "caridade espírita" serve mais para a promoção pessoal dos "médiuns", que até vivem o culto à personalidade nessas instituições, embora ninguém assuma essa prática infeliz.
As pessoas brigam nas redes sociais por causa de uma "caridade" cujo foco não é a ajuda aos necessitados. Estes são só um detalhe. O que está em jogo é o prestígio do "médium" e os defensores de Chico Xavier e Divaldo Franco deixam claro isso. Para eles, pouco importa se os necessitados foram beneficiados ou não, o que importa é que o valor da "caridade" se mede pelo prestígio dos "médiuns espíritas". Triste.
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