A "casa espírita" está caindo. A ação dos "místicos" e adeptos de Jean-Baptiste Roustaing, que vestiram, durante quatro décadas, a capa do "kardecismo autêntico" que se tornou a "fase dúbia" do "movimento espírita", aquela que bajulava o legado espírita original mas praticava o igrejismo mais medieval, mostrou a que veio com posturas reacionárias ditas pelo "médium" baiano Divaldo Pereira Franco.
No "congresso espírita" de Goiás, no último dia 13 de fevereiro, durante uma entrevista coletiva com Haroldo Dutra Dias e a plateia, Divaldo Franco deixou de lado aquele tom melífluo de suas palestras e mostrou o charlatão que era, revelando seu lado ranzinza que estava oculto nas suas poses forçadamente sorridentes e mansas.
Divaldo, que estava perto de ser a unanimidade absoluta pela ilusão e pela fábrica de consenso que se plantou ao redor de sua pessoa, passou a fazer comentários grosseiros, admitindo, em certo momento, fazer uma blasfêmia, algo que seu "protocolo cristão" não permitiria, em tese.
Divaldo disparou comentários homofóbicos duros, exaltou o duvidoso juiz paranaense Sérgio Moro e fez sua bajulação a Allan Kardec, afinal Divaldo, grande deturpador do Espiritismo, pensa que é dono de Allan Kardec, achando que pode fazer o que quiser com o pedagogo francês.
Nos últimos anos, Divaldo Franco tomou posturas extremamente reacionárias. Vejamos elas:
1) Em dezembro de 2016, após o encerramento de um "congresso espírita" na Espanha, Divaldo, em sua entrevista, acusou, no seu juízo de valor, os refugiados do Oriente Médio, que enfrentavam tragédias e dramas para migrarem para a Europa, em busca de alguma dignidade e vida em paz, de terem sido em encarnações longínquas colonizadores sanguinários.
O juízo de valor é feito ao arrepio da Ciência Espírita e vai contra o princípio do perdão. Divaldo ainda disse isso com ar de mansuetude, o que agrava ainda mais seu dedo acusador. E, como "pacifista", ele, ao dizer isso, não aceitava que os refugiados do Oriente Médio fossem para o continente europeu em busca de uma vida de paz, achando que deveriam "pagar pelo que (supostamente) fizeram à humanidade".
2) Em 2017, Divaldo deu várias entrevistas elogiando a Operação Lava Jato, definindo toda a equipe envolvida, incluindo o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o juiz Sérgio Moro, os procuradores da força-tarefa Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima e até mesmo os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Vítor Laus), como "missionários da Ordem do Bem".
Segundo Divaldo, esses membros, na verdade artífices do golpismo jurídico e da "ditadura de toga" que assola o país, seriam intuídos pelo "Plano Superior Divino" para "combater a corrupção e a injustiça social". Exaltando Sérgio Moro, Divaldo, que muitos pensavam ser "progressista", estaria, na verdade, defendendo também a condenação criminal do ex-presidente Lula, um dos políticos que mais praticaram a caridade no Brasil, promovendo inclusão social e progresso econômico.
3) Divaldo, em outubro de 2017, ofereceu a edição paulista do evento Você e a Paz, terceira realizada em São Paulo, para homenagear o prefeito da cidade, João Dória Jr.. A essas alturas, o prefake, como é conhecido o prefeito - conhecido ex-apresentador de TV que recebia personalidades das classes ricas - , sofria uma grave crise de reputação, denunciado por dar maus tratos a moradores de rua, usuários de crack e pedestres, além de péssima administração municipal, na ironia dele ser considerado "o gestor de São Paulo".
Para piorar, o terrível composto alimentar, uma "farinata" com valor nutricional duvidoso e procedência desconhecida (vinda de restos de comida de várias origens), contra a qual havia acusações de ter matado vários internos numa instituição em Jarinu, no interior paulista, foi oficialmente lançada no evento comandado por Divaldo, que apareceu em algumas fotos ao lado de João Dória Jr., que claramente afirmou ter lançado a "ração humana" no Você e a Paz.
Tentou-se fazer uma armação para blindar Divaldo Franco. As reportagens sobre a "farinata" misturaram fotos do evento Você e a Paz com a entrevista coletiva com o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, chegando a dar a falsa impressão de que o Você e a Paz era um evento da Arquidiocese de São Paulo.
Isso vai contra a natureza do evento. O Você e a Paz - que comprova o culto à personalidade que se faz em torno de Divaldo Franco - sempre foi associado à imagem do "médium" baiano, que sempre se sobrepunha ao próprio evento, sendo a principal atração de cada edição. Mesmo acolhendo outras religiões, Divaldo se colocava como o centro de todas elas, como se nem o Espiritismo pudesse participar sem o vínculo de imagem de Divaldo, que se colocava como se fosse o "Deus Sol" do Você e a Paz.
Só faltou Divaldo Franco, um entusiasta da farsa esotérica (e contrária aos ensinamentos espíritas) chamada "crianças-índigo", definir como tais os reacionários "minifestantes" do Movimento Brasil Livre, como Kim Kataguiri, Renan Santos, Pedro D'Eyrot (também membro do funkeiro Bonde do Rolê) e Fernando Holiday, ou, na melhor das hipóteses, e como "criança-cristal" o apresentador de TV e empresário Luciano Huck, que recentemente desistiu de sonhar com a República.
REACIONARISMO E ALERTAS
Antes de reproduzirmos todo o depoimento de Divaldo Franco, cabe relembrar que sua farsa como pretenso filantropo, suposto pacifista e duvidoso representante da Doutrina Espírita foi prevenida por espíritas sérios, Carlos Imbassahy e José Herculano Pires.
Enquanto Imbassahy alertava sobre a farsa dos "kardecistas autênticos", que agora se define como "fase dúbia do movimento espírita" (bajular Kardec e praticar igrejismo), Herculano Pires, em carta a um amigo depois divulgada ao público, manifestava sua preocupação com a ascensão do "médium" baiano, que Herculano reprovava como orador e filantropo.
Vamos primeiro a Imbassahy, cujo alerta remete ao fato de que Divaldo Franco, mesmo sendo de formação roustanguista, vende uma falsa imagem de "autêntico discípulo de Allan Kardec", a ponto de muitos acreditarem ser possível recuperar as bases kardecianas com Chico Xavier e Divaldo.
"Existe um grupo de espíritas que se autodenomina de “autênticos kardecistas” e que se esmera num ferrenho combate à Federação Espírita Brasileira e ao roustainguismo, centrados no detalhe absolutamente desprezível do corpo fluídico de Jesus.
No dizer de Krishnamurti de Carvalho Dias, esse é o “boi de piranha” que possibilita a entrada de conceitos contrários à grande contribuição kardecista, que é a imortalidade, a lei da evolução, progressiva e contínua.
Entretanto, esse grupo “autêntico”, curiosamente, aceita o aspecto religioso do Espiritismo e de certa forma a CRISTOLATRIA roustainguista ao apoiar-se nas teses de Emmanuel sobre a evolução em linha reta e o papel de “governador” do planeta atribuído ao Cristo, quando nada disso pode ser autenticamente encontrado no pensamento genuíno de Kardec.
Enfim, os combates margeiam o político e o imaginário, pois esses tais de “espíritas autênticos” continuam acreditando que Kardec foi apenas o codificador e não o fundador do Espiritismo.
E ainda continuam atrás do mito cristão do salvador e do mito judaico do messias.
Não aprenderam a lição histórica da evolução geral e do sentido progressista de Kardec. Apegam-se ao aspecto místico da revelação sobrenatural, na chefia mítica de Jesus Cristo, como “o Espírito da Verdade” e daí por diante".
Seguimos agora com o comentário contundente de Herculano Pires sobre Divaldo Franco, em texto que só choca profundamente quem está acostumado com a imagem melíflua que durante muito tempo se associou a esse tendencioso "médium", que nunca psicografou coisa alguma (as mensagens "psicográficas" possuem rigorosamente o estilo pessoal do "médium", em especial as que levam o nome de Joana de Ângelis). O "caso Nancy" se refere à criadora original da farsa as "crianças-índigo", a vidente estadunidense Nancy Ann Tappe.
"Muito antes do “estouro” com o Chico eu já havia sido advertido espiritualmente a respeito do médium baiano. Durante meses evitei encontrar-me com ele, pois é sempre desagradável constatar uma situação mediúnica nessas condições. Quando me encontrei, tudo se confirmou. Não tenho, pois, nenhuma prevenção pessoal, nada particular contra ele. O que tenho é zelo, é prudência, é necessidade de por-me em guarda e evitar que os outros se entreguem de olhos fechados às manobras que infelizmente se desenvolvem através da palavra ilusória desse rapaz. Espero em Deus que ele (agora roustainguista confesso e novo ídolo da FEB) ainda encontre o seu momento de despertar, antes que esta encarnação se finde.
Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".
Agora, com os argumentos apresentados, encerramos o texto apresentando todo o depoimento de Divaldo Franco no "congresso espírita" de Goiânia, registrado em 13 de fevereiro de 2018. Nota-se que o tom melífluo deu lugar a um comentário duramente reacionário, que se revela explícito e foi dito em lúcida sinceridade.
Portanto, Divaldo não agiu manipulado por alguém, tendo dado suas opiniões por consciência própria. Antes do depoimento, uma voz, possivelmente a do mediador, comparou a polêmica pergunta de um espectador sobre a ideologia de gênero, riu e citou a palavra "Pinga-Fogo", em alusão ao programa da TV Tupi no qual Chico Xavier expôs opiniões bastante reacionárias, defendendo a ditadura militar e espinafrando os movimentos camponeses, operários e sem-teto.
Uma observação. Se Chico, naquele programa de 1971, esculhambou João Goulart por causa da tendencia esquerdizante, Divaldo esculhambou o cenário político dos últimos dez anos por ver neles um "marxismo disfarçado" (Divaldo odeia o marxismo, vale lembrar). Vamos então ao depoimento completo:
DEPOIMENTO DE DIVALDO PEREIRA FRANCO SOBRE IDEOLOGIA DE GÊNERO E SÉRGIO MORO
Congresso Espírita (sic) de Goiás, 13 de fevereiro de 2018, em Goiânia
Fernando, 18 - O que dizer sobre a ideologia de gênero?
Eu diria em frase muito breve, que é um momento de alucinação psicológica da sociedade. (Aplausos) Em uma entrevista que recomendamos, Iraci Campos, do Centro Espírita (sic) Joana de Ângelis, na Barra da Tijuca, entrevistou um nosso aluno a esse respeito, e as respostas como as perguntas, muito bem elaboradas, propiciaram a Haroldo (Dutra Dias) a abordar a questão no ponto de vista legal, moral, espírita e social. Vale a pena, portanto, procurar na Internet, esse encontro de Iraci Campos com Haroldo Dutra. Haroldo disse em síntese, eu peço licença a ele, que se trata de um momento muito grave da cultura social da Terra, e que é naturalmente algo que deveremos examinar em profundidade, mesmo porque nós vamos olhar a criança, graças à sua anatomia, como sendo o tipo ideal. E a criança, nesse período, não tem discernimento sobre o sexo. A tese é profundamente comunista. E ela foi lançada por Marx sob outras condições, que a melhor maneira de submeter um povo não é escravizá-lo economicamente, era escravizá-lo moralmente. Como nós vemos, através de vários recursos que vêm sido aplicado no Brasil nos últimos nove anos, dez, em que o poder central tem feito todo o esforço para tornar-se o padrão de uma sociedade em plena miséria, econômica e moral, porque os exemplos de algumas dessas personalidades são tão aviltante e tão agressivo (sic) que se constítuíram legais, e, porém, nunca morais. Todas essas manifestações que estamos vendo graças à República de Curitiba, cujo presidente é o dr. Moro (aplausos), e deve ser o desnudar da hipocrisia e da criminalidade. Aliás, o Evangelho recomenda que não deveremos provocar escândalo, e o nosso venerando juiz não provocou escândalo, atendeu a uma denúncia muito singela e no entanto levantou o véu que ocultava crimes hediondos, profundos, desvio de dinheiro que poderia acabar no Brasil com a tuberculose, com as enfermidades que vêm atacando recentemente, poderia educar toda a população e dar-lhe o que nossa Constituição exige, trabalho, repouso, dignidade, cidadania. Mas determinados comportamentos de alguns do passado muito próximo estabeleceram o marxismo disfarçado e a corrupção sob qualquer aspecto como princípio ético. A teoria de gênero é para criar, na criança, no futuro cidadão, a ausência de qualquer princípio moral. Uma criança não sabe discernir, somente tem curiosidade. No mesmo banheiro, um menino e uma menina irão olhar-se biologicamente, sorrir e perguntar o de que se tratava aquele aparelho genésico, que é desconhecido. Então nós defendemos repudiar de imediato e apelar para aqueles em quem nós votamos e somos responsáveis e gritar para eles que somos contra, totalmente contra, essa imoralidade ímpar. (aplausos) Vão me perdoar uma blasfêmia, agora, para adultos. Os espíritas somos muito omissos. No nome falso e na capa da humildade, achamos que tudo está bem, mas nem tudo está bem. É necessário que nós tenhamos vós. O apóstolo Paulo jamais silenciou ante o crime e a imoralidade, e Jesus, muito menos. Ele deu a César o que era de César, mas não deixou de dar a Deus o que é de Deus. Muitas aberrações nós silenciamos. Afinal, disfarçadamente, vivemos numa república democrática, e os nossos representantes lá chegaram pelo nosso voto. Já está na hora de acabar de votar por uma alpercata japonesa, já está na hora de deixar de votar por causa do emprego que vai dar ao nosso filho, pensarmos na comunidade, numa comunidade justa não faltará emprego para todos, uma sociedade justa, de homens de bem, de mulheres dignas, naturalmente estabelecerá as leis de justiça e de equidade, então nós evitaremos essas aberrações, o aborto provocado, esse crime hediondo, que está sendo tentado tornar-se legal, por mais que seja legal, nunca será moral. Nós somos contra quem aborta por essa ou aquela razão, falamos, em tese, matar é crime, seja qual for a aparente justificativa. E agora, com a tese de gênero, estamos indiferentes e, de momento para outro pela madrugada, os nossos dignos representantes adotam. Falávamos ontem a respeito de cartilhas do Ministério da Educação, depravadas, para corromper as crianças, e que as escolas estão demovendo ao Ministério. Que Ministério da Educação é esse, que estabelece fatos (aplausos) de uma indignidade muito grande. Os pais devem vigiar os livros dos seus filhos, e naturalmente recusarem. Nós temos o direito de recusar. Nós temos o dever de recusar. Vítor Hugo hoje, já nos falava há mais de 150 anos, "o grande pecado é a omissão". E Kardec nos falou que não era nobre apenas o fazer o mal, porque não fazer o bem é um crime muito grande. Então precisamos ser mais audaciosos, espíritas, definidos, termos opinião. A Doutrina nos ensina e, para os jovens, eu direi que há uma ética: liberdade. O sexo é livre. Livre-se (?). Mas ele não tem a liberdade de indignificar a sociedade. Poderemos, sim, exercer o sexo, é uma função do corpo e também da alma, mas com respeito e com a presença do amor. Portanto, à teoria de gênero, 'jamais'".
Comentários
Postar um comentário