Se você é rico, pode começar a mudar sua rotina. Mude o horário de suas festas noturnas para mais cedo, evitando o fim de noite e a madrugada. Acerte com o porteiro do prédio uma rápida abertura da garagem de seu condomínio e não faça manobras hesitantes, tipo marcha-a-ré ou curvas, sob pena de não ser rendido por um ladrão em tocaia.
A "convulsão social" é uma realidade e as elites têm que tomar muito cuidado. Como o projeto de desmonte de direitos sociais está sendo bastante radical, as classes populares, entregues à desgraça, começarão a reagir com violência.
Nos últimos dias, dois indícios disso já ocorreram. Um invasor foi detido tentando entrar na casa do presidente Michel Temer, em São Paulo. Depois da aprovação da PEC dos Gastos Públicos, ontem, manifestantes atacaram a sede da FIESP, patrocinadora dos protestos anti-Dilma que abriram caminho para o atual governo.
As elites têm que tomar cuidado até com dinheiro. Terão que abrir mão de seus bens, escolher entre vender metade de sua coleção de vasos e perder metade de seus filhos vítimas de assaltos. Terão que reduzir suas fortunas exorbitantes e não esconder o dinheiro em contas secretas e declarar apenas parte dela no Imposto de Renda.
A cada vez mais os membros da plutocracia estão vulneráveis. Decidem tudo à revelia do povo e, com isso, assumem o ônus desse prejuízo social. Elas querem o paraíso só para elas, com um descomunal apetite de retomar os privilégios, até de forma mais radical do que antes, e não querem se achar vulneráveis.
A coisa está tão enlouquecida que existem movimentos fascistas que se acham na liberdade de invadir páginas na Internet, assim como existem grupos que despejam comentários racistas, machistas e calúnias de todo tipo. Enquanto isso, a sociedade que se enfurecia com o PT, mas que hoje aceita até fedor de caminhão de lixo passando perto de um piquenique, acha natural haver casos de cyberbullying na Internet e, em certos casos, até aderem a essa "gostosa brincadeira".
Houve exemplos de pessoas antes dotadas de reputação admirável, como o diretor teatral Cláudio Botelho e o publicitário Nizan Guanaes, despejando preconceitos sociais gravíssimos, expressando um reacionarismo sem limites.
Alguma coisa tem que ser feita, um freio para os impulsos de setores conservadores e privilegiados da sociedade com medo de perderem os benefícios de antes. Esses setores se demonstram serem antiquados, decadentes e, por isso, sua retomada doentia de poder pode representar um preço muito caro.
As "convulsões sociais" representam o conflito entre o "novo" e o "velho", entre os novos agentes sociais reclamando de direitos e garantias que chegaram a conquistar parcialmente mas correm o risco de perdê-los em quase tudo, e os velhos privilegiados que nem perderam muitos privilégios mas querem não só reconquistá-los como querem muito mais, até além do que precisam e merecem.
O Brasil caminha para uma situação caótica e as crises não são feitas para carioca ficar rindo com copo de cerveja na mão. A situação é gravíssima e é o Estado do Rio de Janeiro que anda pagando mais caro pelas decadências sociais orquestradas pela plutocracia, a partir de campanhas que variam da fúria cyberbully às propagandas e noticiários de televisão.
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