Enquanto na Colômbia houve uma homenagem durante o horário que seria o jogo entre o Atlético Nacional, daquele país, e o brasileiro Chapecoense - jogo cancelado pelas vidas ceifadas no acidente do time catarinense - , repetida também no estácio Arena Condá, do referido time, em Chapecó, reacionários se preocupam com a punição que haverá contra abuso de juízes e procuradores.
O Brasil é surreal e está cada vez mais confuso desde que a chamada plutocracia retomou o poder e busca recuperar seus privilégios abusivos. Anteontem houve uma repressão policial contra manifestantes que protestavam contra a PEC dos Gastos Públicos. Ironicamente, ocorria um "modesto" coquetel promovido pela Câmara dos Deputados.
Esses protestos eram muito mais justos do que o panelaço que perturbou a vizinhança ontem à noite. Isso porque os protestos contra a PEC dos Gastos Públicos, ou PEC do Teto, de números 241, até ser aprovado na Câmara, e 55, até ser aprovado no Senado, são contra uma medida tenebrosa que sufocará o orçamento público quanto mais era necessário ampliar investimentos.
A gente observa hospitais funcionando mal, com tetos - ao pé da letra, no sentido dos prédios e casas - rachados, com ferrugem e goteiras, lâmpadas pifadas, médicos sobrecarregados e corredores cheios de gente, com pacientes morrendo deitados no chão ou no banco de espera, ou então os dramas da falta de professores, banheiros sem papel higiênico nem detergente, bebedouros inutilizados acumulando poeira e aposentados pedindo dinheiro emprestado para comprar remédios.
Isso já era resultado do descaso público, que com a PEC dos Gastos Públicos será autorizado a fazer, ou melhor, a deixar de fazer o que sempre deixou de fazer: investir em setores públicos. A PEC do Teto praticamente instituciona e legaliza o desvio de dinheiro público para os rentistas, banqueiros e para os próprios políticos, sempre os mesmos ricaços que acumulavam fortunas em cima do sofrimento humano.
É certo que existem vândalos em manifestações pacíficas. Mas é ilustrativo que a polícia sempre se preocupa em reprimir manifestações que não são aceitas pelas elites, enquanto a trágica invasão de neofascistas no Congresso Nacional, semanas atrás, resultou em poucos detidos para darem depoimentos e depois serem liberados, como se fossem apenas crianças travessas.
Aquilo não era travessura. E também não era, como divulgou parte da mídia reacionária - como a rede de rádios Jovem Pan - , um grupo de pessoas "que perderam a paciência com a corrupção e a impunidade". Era, sim, um perigosíssimo movimento que pode trazer ao poder um tirano dos mais ameaçadores, tão personalista e prepotente que é capaz até de eliminar aqueles que o levaram ao poder.
A coisa é séria e o pessoal sai brincando. Aí vem o pacote anticorrupção que, com todas as imperfeições, pelo menos define punição para abuso de juízes e procuradores, e vem uma campanha de panelaços que surpreendeu quem não estava fazendo plantão nas páginas reaças das redes sociais.
De repente as pessoas passaram a defender a prepotência de juízes, promotores e procuradores, como se eles estivessem acima da lei. É ilustrativo isso ocorrer quando um ex-promotor de Atibaia, acusado de feminicídio e tendo feito parte da lista de procurados da Interpol, seja entregue à mais aberrante impunidade, num país ainda furiosamente machista como o Brasil.
SÉRGIO MORO E DELTAN DALLAGNOL - QUANDO JUÍZES E PROCURADORES SE ACHAM ACIMA DAS LEIS.
De repente vemos uma moral seletiva, e juízes, promotores e procuradores, ou ministros do Supremo Tribunal Federal, podem agir acima da lei, da mesma forma que uma Rede Globo se julga acima de qualquer opinião pessoal, se impondo como um império midiático dotado de plenos poderes e cercado de uma mídia reacionária solidária, como Folha, Jovem Pan, Estadão, Abril etc.
É uma situação terrível e, juntando a invasão fascista no Congresso Nacional com os panelaços combinados pelo Movimento Brasil Livre, observa-se um terrível cenário de ações reacionárias, uma ilusão de que a plutocracia, o "topo da pirâmide", é um paraíso de lucidez, sensatez e coerência, e por isso se permite que "heróis" da catarse coletiva, como o juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, sejam considerados "acima do bem e do mal".
Pessoas já não conseguem mais perceber a imparcialidade das coisas. Combinam libertinagem e autoritarismo num país em que "cultura popular" é aquela que explora o ridículo das classes populares e faz apologia à pobreza, à ignorância e aos valores mais abjetos, e a Justiça está sendo tomada cada vez mais do ranço ideológico e da condenação desigual de acusados.
Nas redes sociais, há gente que se acha na liberdade de despejar comentários racistas, homofóbicos e machistas ou praticar cyberbullying. Pessoas "tarimbadas" como o diretor teatral Cláudio Botelho, o jornalista e biógrafo Guilherme Fiúza e o empresário e publicitário Nizan Guanaes despejaram comentários que revelam preconceitos antipopulares, coisa que não se imaginaria partir de gente com tais reputações.
Muitas pessoas realmente sérias falam que o Brasil está institucionalmente vulnerável. Entidades antes dotadas de inabalável superioridade, como Ministério Público e o Poder Judiciário, estão se corrompendo de maneira chocante, manipulando investigações, leis e sentenças ao sabor das circunstâncias e conveniências.
E isso diante de um clima de catarse coletiva de pessoas desejando o fechamento do Congresso Nacional, a intervenção de algum aventureiro político para governar a República, a privatização de tudo, a desnacionalização da economia, o fim da democracia.
É o velho moralismo doentio de 1964 que, de forma mais radical, quer voltar a vigorar na sociedade, aumentando injustiças e confundindo moralidade com repressão, acreditando na superioridade da economia privada, esquecendo que ela comete as piores roubalheiras. Gente que acredita que privatizando empresas públicas, desnacionalizando a economia brasileira e cortando investimentos para setores públicos irão melhorar o país. Isso já não é ingenuidade, é imbecilidade!
Só que reivindicar tais retrocessos em nome da "recuperação do país" só levará a crises ainda piores, que atingirão justamente aqueles que mais defendem o golpismo. Os fascistas pagarão um preço muito caro a eles mesmos se caso assumirem o poder.
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