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No "espiritismo" brasileiro, o mundo espiritual é descrito no "achômetro"


Uma das grandes falhas, e podemos garantir, das mais graves, relacionadas ao "movimento espírita" brasileiro, é o total desconhecimento da verdadeira natureza da vida espiritual, apesar de toda a roupagem e verniz "científico" que cerca essa amalucada doutrina.

Embora seja uma doutrina que se declare fundamentada nos conhecimentos científicos de Allan Kardec, o "espiritismo" brasileiro sempre expressou sua preferência aos dogmas católicos, se limitando a desenvolver um suposto cientificismo confuso, alucinógeno, místico e pedante.

A doutrina brasileira não aprecia qualquer tipo de estudo relacionado à vida espiritual, à comunicação com os mortos e a resolver mistérios correspondentes à reencarnação. Existem, paralelamente ao seu carnaval doutrinário, estudos realmente sérios sobre a realidade espírita, mas eles são poucos e muito pouco valorizados.

Em compensação, cientistas e conhecimentos científicos se limitam a desfilar entre artigos confusos e cheios de erros e contradições publicados em todo o país em periódicos "espíritas" e em inúmeras palestras da mesma natureza, difundidos até mesmo por supostos especialistas.

Na maioria esmagadora dos casos, a vida espiritual é compreendida através do "achômetro", e o que se viu foi apenas uma tentativa de "organizar" e "padronizar" esse "achômetro", dentro de um modelo de fantasias e compreensões ideológicas que pareça "unificado" e que esteja de acordo com o religiosismo da Federação "Espírita" Brasileira.

É tudo na base da suposição, sem qualquer estudo que comprovasse se realmente há cidades espirituais ou se podemos identificar com precisão quem havíamos sido em outras encarnações, não bastasse o lado supérfluo ou, no pior dos casos, perigoso, de conhecermos nossas encarnações passadas, atitude que dá margem a vaidades e vergonhas profundas e potencialmente danosas.

Numa primeira instância, obras de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco se tornaram guias desse rol de fantasias, de um padrão supostamente "racional" de uma construção da realidade espiritual em narrativas que misturam dramalhões novelescos, ficção científica e panfletarismo religioso.

Há um modelo de "cidade espiritual", composto de um grande edifício, um hospital com aspectos de shopping center, diante de uma grande praça e um enorme campo do qual pessoas parecem ter um comportamento bovino e soam como se fossem uma versão angelical dos zumbis de filmes de terror.

Há os espíritos "socorristas", de temperamento frio e paternal, que dão o paradigma um tanto moralista de "evolução espiritual", num aspecto sobre-humano e que assemelha, na melhor das hipóteses, nos médicos de hospitais particulares.

A vida espiritual também segue um paradigma igrejista, e o que recebemos de mensagens supostamente espirituais correspondem a uma campanha panfletária de apelos fraternais, de devoções religiosas, de sentimentalismos piegas e uma pregação monocórdica de um moralismo sacramental.

Para piorar, a confusa e igrejista "realidade espiritual", construída a partir da ignorância que os "espíritas" têm de como se dá a vida após a morte, acaba se impondo à realidade concreta e lógica que conhecemos e vivemos, como se a ficção quisesse ser mais realista que a realidade.

Chegam mesmo a dizer que a realidade terrena que conhecemos é apenas "cópia" da "realidade espiritual" sem pé e sem cabeça que os "espíritas" são orientados a trabalhar, cheia de aspectos surreais que acobertam todas as dúvidas e dilemas, tratando o incerto e duvidoso como se fosse "certo" e "cientificamente" comprovado.

Para uma religião que reclama um espaço seu para a manutenção de visões fantasiosas e virgens de questionamentos e investigações lógicas, não há como admitir veracidade de uma visão de "vida espiritual" que não passa de um padrão de devaneios e crendices que eles tentam desenvolver entre si.

O aspecto de "disciplina" e organização ideológica não impede que exageros sejam cometidos, principalmente se observarmos que o "espiritismo" brasileiro se inspira nas ideias do francês Jean-Baptiste Roustaing, cuja visão de Jesus "fluídico" (ou seja, um Jesus "fantasmagórico" materializado) já é considerada controversa mesmo dentro dos meios "espíritas" brasileiros.

Já existem até mesmo narrativas eróticas do "mundo espiritual", não bastasse o misto de feiras livres, floriculturas e lanchonetes que Nosso Lar já trouxe para o imaginário espiritólico. Sem falar das lorotas de Chico Xavier sobre a existência de bichinhos fofinhos no mundo espiritual, como se soubéssemos da existência de oncinhas pintadas, zebrinhas listradas, coelhinhos peludos etc no além-túmulo.

Tudo acaba se transformando num carnaval de crendices, as quais geraram até mesmo um "serviço" de passes em animaizinhos, na mais singela das hipóteses, e na presunção de pioneirismo científico do fictício André Luiz, na mais complexa das hipóteses.

Tudo feito sem qualquer compromisso com a razão, permitindo que os absurdos sejam relativizados em torno da fé "espírita" e o que não tem lógica é confundido com o que "não pode ainda ser explicado", mesmo quando já existam provas racionais contra tais absurdos.

Mas aí os "espíritas", arrogantemente, reagem contra essas provas racionais contra suas alucinações como "sub-produto das paixões terrenas", uma grande desculpa para que o "espiritismo" brasileiro faça o que bem entender com as fantasias que vão contra a lógica e a realidade.

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