CHICO XAVIER NO PROGRAMA GLOBO REPÓRTER, DA REDE GLOBO, EM 1978: DITADURA E PODER MIDIÁTICO CRIARAM O MITO DO "MÉDIUM FADA-MADRINHA" PARA ABAFAR ANTIGAS DENÚNCIAS E ESCÂNDALOS.
Quando se faz críticas ao portal Cinegnose, de Wilson Roberto Vieira Ferreira, quanto à sua complacência em relação ao mito de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier feito "fada-madrinha" para o mundo adulto e, em tese, real, estamos fazendo críticas construtivas.
Levamos em conta que o paradigma da "espiritualidade" em que se insere o suposto médium, marcado por trajetórias negativas postas debaixo do tapete - das quais a morte suspeita do sobrinho Amauri Xavier é um caso arrepiante - é a nova tônica religiosa dentro do processo do Grande Reset Global, que não precisará mais do estereótipo do "neopentecostal zangado", pastores com trajes de motoristas de ônibus cobrando dinheiro do povo pobre.
A "espiritualidade" se insere no processo de nova manipulação, que o chamado senso comum ignora por completo, mesmo seus críticos mais esforçados. O mito de Chico Xavier se encaixará, se é que já não se encaixou, no mito de identitarismo pragmático, de suposto fraternalismo social e geográfico, de derrubada das fronteiras entre a vida terrena e o "outro lado" ("mundo espiritual" ou realidade virtual?), que têm em Mark Zuckerberg, Elon Musk e companhia seus maiores ideólogos.
Mesmo quem possui algum esclarecimento é desavisado. O erro do portal Cinegnose é que ele mesmo menciona processos perversos de manipulação de sentido - como "bombardeio de amor", por exemplo - que estão associados a Chico Xavier, que sobrevive hoje num mito adocicado que, em que pese sua trajetória ser mais antiga, foi trabalhado, na forma que conhecemos, a partir de meados dos anos 1970.
Lembremos que a imagem "bondosa" e "admirável" que Chico Xavier goza atualmente foi uma construção ideológica importada do método que Malcolm Muggeridge trabalhou para promover, como pretenso símbolo de bondade humana, o obscurantismo moral e religioso de Madre Teresa de Calcutá, outra figura ranzinza e reacionária igual ao "médium" mineiro, ambos retrabalhados para formar um paradigma conservador de "amor ao próximo", associado a uma filantropia que nem de longe ameaça as estruturas reais das desigualdades sociais, apenas minimizando, na aparência, aspectos mais drásticos.
As pessoas, infantilizadas - lembremos que a infantilização mental é mais perigosa nos adultos do que nas crianças, porque estas, mediante uma boa conversa, podem mudar suas convicções, enquanto aqueles são capazes de promover carnificinas para defender suas fantasias cegas - , têm muito medo de ver algum questionamento pôr em xeque a confortável imagem do "bondoso médium" de Uberaba.
E isso cria uma neurose que deixa os próprios chiquistas - independente de serem sectários ou não, "espíritas" ou não ou mesmo os chamados "ateus graças a Deus", quem dá alguma consideração a Chico Xavier é, no mínimo, um chiquista funcional - tomados de muita confusão mental e dissociação preocupante de ideias, reagindo com ódio, medo e até desequilíbrio mental ao menor questionamento, mesmo quando ele está de acordo com a Lógica e a Razão.
"FÓRMULAS HIPNÓTICAS" DE CHICO XAVIER
Como alguém que diagnostica um crime mas absolve o criminoso, Cinegnose passa pano em Chico Xavier, mencionado no portal de duas formas: como um pretenso "cientista sobrenatural", através do livro Nosso Lar (romance não-assumidamente fictício), ou como um "polêmico profeta", como no caso da "data-limite", o que cria uma situação surreal de um religioso antiquado e medieval, visualmente cafona e com ideias ultraconservadoras, ser considerado "dono do nosso futuro".
Em várias ocasiões, Cinegnose questiona até mesmo o risco das novas tecnologias do Grande Reset Global derrubarem as fronteiras entre o real e o virtual - e, no caso, entre matéria e espírito conforme conhecemos em nossa limitada compreensão - , a ponto de propor hologramas de pessoas vivas para participação de reuniões de negócios, rompendo com os paradigmas tradicionais de localidade e presença física.
Numa época em que se combate ou se pretende combater as fake news, a intelectualidade "séria" passa pano em Chico Xavier de tal forma que nem mesmo o fato da produção "industrial" de 400 livros "mediúnicos" ser condenada pela Codificação - O Livro dos Médiuns sempre recomendava cautela quanto a "médiuns" e "espíritos" escrevinhadores - não impede que a Federação "Espírita" Brasileira tenha cadeira cativa nas maiores feiras de livros, exerça um forte lobby literário e inspira com que os meios cultos sucumbam à constrangedora iniciativa de apreciar as frases do "bondoso médium".
Chico Xavier é um paiol de bombas semióticas dos mais perigosos, e sua figura arrivista, com uma trajetória que, merecidamente, causava justa revolta e indignação nos meios literários, a ponto do jornalista investigativo Attila Paes Barreto escrever o seminal, porém raríssimo, livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, de 1944, deveria ser investigada e não "apreciada com carinho".
Só mesmo um país burro, com uma classe média ignorante, atrasada e viciada no seu viralatismo cultural, para passar pano em qualquer ponto negativo de Chico Xavier. No âmbito literário, isso ocorreu de tal forma que o poderosíssimo lobby da rica e poderosa FEB forçou as obras originais do escritor Humberto de Campos serem mantidas fora de catálogo, para evitar leituras comparativas que desqualificassem as supostas psicografias (apelidadas pejorativamente de psicografakes).
O portal Cinegnose, em seu texto recente, "'Orçamento Secreto' e controle total de espectro: quando a esquerda emula lavajatismo", mostra o quanto não há necessidade do professor Vieira Ferreira fazer o papel de "esquerda namastê" diante de Chico Xavier.
Citando o sociólogo Herbert Marcuse, no livro A Ideologia da Sociedade Industrial no capítulo "O Fechamento do Universo de Locução", o "humilde blogueiro" do Cinegnose descreve as chamadas "fórmulas hipnóticas" que são produzidas por blocos de pensamento que criam uma "locução fechada" (isto é, impassível de questionamentos) que fixa nas mentes das pessoas.
A idolatria do "bondoso médium" se sustenta a partir de paradigmas que nem são realistas nem factuais assim, mas construídos por discursos vagos de forte caráter emocional - como um vídeo no YouTube que colocou a palavra "amor" como um "sobrenome do meio" de Chico Xavier - ou como atitudes de fachada, como as doações de donativos, geralmente uma caridade fajuta que só faz sentido em situações de guerra, mas que servem para produzir os aplausos acima da conta em favor do "médium".
São fórmulas hipnóticas que despejam jargões do tipo "Chico Xavier ajudou muita gente", "Chico Xavier transformou vidas (sic)", "Chico Xavier só viveu pelo próximo", "Chico Xavier é puro amor", respaldando um mito de caridade tão fajuto e tendencioso quanto ao de Luciano Huck (assumidamente seguidor do "médium" e, como este, mito filantrópico, também foi "inventado" pela Rede Globo).
Dessa suposta caridade, não existem provas nem fundamentos, mas as pessoas, histericamente, defendem tudo isso como "verdade absoluta", reagindo com fúria desmedida - e, em tese, inimaginável a devotos religiosos dessa natureza - e mostrando a triste ideia de que "em favor de Chico Xavier, se dispensam provas e fundamentos; contra Chico Xavier, se exigem tais condições". E o problema é que, quando são apresentadas provas contra Chico Xavier, seus seguidores e simpatizantes as recusam, escravos da cegueira emocional das paixões religiosas destinadas ao "médium".
Vieira Ferreira mencionou aspectos importantes das "fórmulas hipnóticas" que criariam "efeitos mágicos": projeção de imagens que transmitem unidades irresistíveis, blocos de pensamento pré-fabricados, harmonia de contradições.
Tudo isso é observado no mito de Chico Xavier. Primeiro, a projeção de imagens de "suavidade" e "amorosidade" que garantem a unidade simbólica de irresistível dominação emotiva, até de simpatizantes mais "distanciados", e que permite forjar um aparato de "beleza" associado a um "médium" de aparência repugnante, personalidade reacionária e aliado dos opressores, mas visto de forma persistente como "símbolo de humildade, generosidade, consolação, compaixão e altruísmo".
Segundo, os blocos de pensamentos pré-fabricados, repetidos pelos chiquistas (mesmo os "funcionais") pelo piloto automático: "Chico Xavier ajudou muita gente", "Chico Xavier só viveu pelo próximo", "Chico Xavier é bondade infinita", "Chico Xavier é o Cristo redivivo" etc. Tudo isso sem fundamento, mas com carga emocional suficientemente forte para dominar aqueles que, tendo algum grau de esclarecimento, não têm forças mentais suficientes para resistir ao "canto de sereia" de Chico Xavier.
Terceiro, a harmonia de contradições. Em Chico Xavier, elas são muitas, não bastasse as próprias frases do "médium" nunca passarem de jogos de contradições, entre "fraqueza" e "força", "silêncio" e "voz", "ignorância" e "sabedoria", "hoje" e "amanhã".
Tendo sido o maior deturpador da causa espírita, superando até mesmo Jean-Baptiste Roustaing nas concessões igrejistas, Chico Xavier é erroneamente tido como "o médium que ajudou a divulgar a Doutrina Espírita", mesmo quando algumas de suas práticas, como o uso de nomes ilustres em pretensas psicografias (a partir de Parnaso de Além-Túmulo, de 1932), a linguagem empolada e a determinação de datas precisas para acontecimentos futuros ("data-limite") sejam práticas condenadas severamente e de forma explícita pela obra O Livro dos Médiuns.
A cegueira emotiva das pessoas de classe média, que vivem uma dependência psicológica pelo mito de Chico Xavier - de forma que, quando criticadas, apenas se calam e se omitem, mas nunca abrem mão de tão perigoso apego ao "bondoso médium" - , é muito preocupante, e o "médium" é um paiol de bombas semióticas tão perigoso e até mortal (vide a maldição que o "médium" representa nas mortes prematuras de filhos de muitos de seus devotos), mas ninguém tem a coragem de mexer e desconstruir, mesmo diante do fedor suspeito do cadáver do jovem Amauri Xavier.
E isso se dará até o momento em que esse paiol causar uma explosão e o Brasil ir para os ares, sobrando apenas o memorial de Chico Xavier que, na pós-distopia, deve ser destinado às moscas, baratas e tardígrados.
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