Pular para o conteúdo principal

Precisamos falar sobre morte de assassinos e outros paradigmas



Já que o presidente Jair Bolsonaro praticamente liberou o porte de armas, porque a população reaça e ensandecida não quer esperar a regulamentação, bastando um rumor para permitir que elas saiam atirando por aí por um menor surto psicótico, temos, por outro lado, que ensinar as pessoas a verdade inevitável: também morre quem atira (ou quem envenena, esfaqueia etc).

Assassinos costumam descuidar da saúde e, além do mais, sofrem pressões emocionais tão violentas pela natureza do crime cometido. A expectativa de vida de alguém que tira a vida de outrem não é mais do que 80% da idade estimada a um brasileiro comum. Se um homicida vive 80 anos, é como se um brasileiro comum vivesse 100.

Quando falamos que era absurdo o feminicida Doca Street estar, em 2015, "muito ativo nas redes sociais", é porque sabemos que ele, pela sua natureza pessoal, de alguém que, no passado, usou cocaína, fumou muito e se embriagou eventualmente, aos 80 anos não estava com energias físicas nem psicológicas para enfrentar haters na Internet. Se enfrentar haters é difícil para um jovem como Whindersson Nunes, que se deprimiu com isso, quanto mais para o assassino de Ângela Diniz!

Quem está "muito ativo nas redes sociais" são seu assessor e seus familiares. Ocorre com todo empresário, mesmo aquele que está mais saudável. Assessores o representam nas redes sociais. Pela natureza da idade avançada, do zelo pessoal elitista e do desejo de se aposentar, velhos empresários não irão encerrar sua carreira profissional para voltarem a ser moleques pilotando o computador. Ainda mais quando eles têm mais de 80 anos, são de outros hábitos, outros hobbies.

Quanto à tragédia dos assassinos, o medo que a sociedade ultraconservadora tem dessa realidade mostra uma mistura de sentimentos confusos. Eles incluem instintos que sugerem, simbolicamente, uma espécie de "alpinismo moral" (esperar que homicidas odiosos se tornem "pessoas legais" na velhice), a ilusão da "antropofagia biológica" (quando se imagina que, matando alguém, o assassino soma para si o tempo de vida que teria sua vítima) ou o medo de que, morto, o assassino irá assombrar os brasileiros.

Além do mais, é insólito ver que, mesmo com a amplitude da informação, as pessoas queiram restringi-la e, no caso das tragédias humanas, há uma preocupação em transformar as listas de obituários no Brasil em "listas fofas", como se fosse uma lista do Prêmio Nobel.

A revolta de muitas pessoas quando se fala que assassinos produzem sua tragédia - só para citar o lema "também morre quem atira" (da versão de "Hey Joe", cuja letra original é um recado a um feninicida chamado Joe), lançado por Marcelo Yuka, nada impede que um feminicida como Marcelo Bauer (que matou a namorada em 1987 e fugiu do Brasil), hoje muito velho e barrigudo para um cinquentão dos dias atuais, morra da mesma forma que o ex-Rappa - é, portanto, surreal.

A imprensa não noticia mortes de feminicidas nem de pistoleiros, mas noticia falecimento de gandula de futebol de várzea quando sofre mal súbito ou é atingido por um relâmpago. O surrealismo desse medo de ver assassinos morrerem é tão absurdo que subverte-se a Natureza e se atribuem males como AVC, infarto, mal-súbito e derrame como próprios de gente mais tranquila como figurantes de novela, árbitros de futebol de salão, roqueiros veteranos e atores veteranos de seriado teen.

Nunca imaginamos que feminicidas sofrem pressões emocionais tão violentas, mesmo depois de 20 anos do crime cometido. Não percebemos que pistoleiros se alimentam mal e também sofrem pressões emocionais muito graves, não conseguem dormir tranquilos por causa das mortes que produzem. Sociopatas que matam os outros porque se enfureceram não ficam zen porque cometeram um crime.

Nunca imaginamos que, de um grupo de envolvidos de assassinato - cita-se de Leon Eliachar a Chico Mendes, por exemplo - , alguém já pode ter falecido passado algumas décadas. No passado, sabemos que, dos três envolvidos no assassinato de Aída Curi (morta ao ser atirada de um prédio em Copacabana, em 1958), só resta vivo, provavelmente, um dos dois rapazes, pois outro, menor de idade, foi assassinado vinte anos depois e o porteiro, pela idade dele, presume-se já ter morrido no ostracismo.

Mas isso é no passado, quando se podia noticiar a morte de um feminicida, Leopoldo Heitor, sem causar chiliques na sociedade moralista atual. Hoje estima-se que 20% dos assassinos que cometeram crimes entre 1970 e 2010 já estão mortos. Mas ninguém noticia. Alguém, por exemplo, tem coragem de noticiar qual dos rapazes que mataram uma jovem modelo na rodovia dos Imigrantes, em 1993, já está falecido?

Assim como suicidar não é diversão (como pensam os "espíritas" mais moralistas), assassinar não é um desabafo. É um ato de egoísmo levado às últimas consequências, que causam danos irreparáveis e, de uma forma ou de outra, pesa na consciência de quem cometeu.

Embora a indústria de fake news tente vender Doca Street como "o mais novo astro das redes sociais" ou que uma revista mineira tenha, em sua edição de 2015, mostrado o empreiteiro Roberto Lobato - conforme nos lembraram mensagens por e-mail - , que matou a esposa em 1970, em uma recente aparição entre os "empresários da construção pesada", eles também carregam a tragédia sobre si mesmos. Assim como Pimenta Neves, que o portal IG já "vazou" informação de que está gravemente doente.

A sociedade brasileira parece viver ainda entre 1974 e 1979, tanto que elegeu Jair Bolsonaro na esperança de ter um novo "Ernesto Geisel" no poder. As elites estão tão retrógradas que, no país em que se fala até em "terraplanismo", acreditamos que homicidas não podem morrer cedo, quando a Natureza, a realidade biológica, mostra que são eles os que mais têm risco de terem morte prematura, pela combinação de pressões emocionais e descuidos à saúde.

Procuramos soluções que fizeram sentido há 45 anos, mas que não fazem mais sentido hoje. Até mesmo se recorre ao deturpador do Espiritismo, Francisco Cândido Xavier, o popular Chico Xavier, como um pretenso símbolo de "paz e fraternidade", quando sabemos que o plagiador de obras literárias e que tentou legitimar fraudes de materialização - erros gravíssimos que são erroneamente vistos como "molecagens do passado" - nada tem dessa "figura luminosa" que se plantou na mídia.

As pessoas querem que o Brasil venda suas riquezas naturais, privatize, se preciso, até o ar que respiramos, se preserve a mediocridade sócio-cultural de cantores canastrões que fazem sucesso entre o grande público, mulheres que vivem só de mostrar os glúteos e supostos jornalistas transformando a criminalidade em espetáculo circense, e lutam para que tudo se mantenha como está, nessa estabilidade forçada da banalização do erro que está destruindo nosso país.

Enquanto se criam zonas de conforto nessa lixeira social em que erros graves são consentidos em nome do prestígio social de quem os pratica, enquanto nos apegamos a homicidas, políticos corruptos de direita, artistas medíocres e subcelebridades, o Brasil se transforma no inferno astral da dignidade e da competência, se tornando um terreno fértil para a estupidez e o maucaratismo. E ainda recorremos a um produtor de literatura fake para promover a "paz entre irmãos"...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente

Chico Xavier, que abençoou João de Deus, fez assédio moral a Humberto de Campos Filho

HUMBERTO DE CAMPOS FILHO SOFREU ASSÉDIO MORAL DE CHICO XAVIER PARA TENTAR ABAFAR NOVOS PROCESSOS JUDICIAIS. Dizem que nunca Uberaba ficou tão próxima de Abadiânia, embora fossem situadas em Estados diferentes. Na verdade, as duas cidades são relativamente próximas, diferindo apenas na distância que requer cerca de seis horas e meia de viagem. Mas, com o escândalo de João Teixeira de Faria, o João de Deus, até parece que as duas cidades se tornaram vizinhas. Isso porque o "médium" Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, em que pese a sua reputação oficial de "espírito de luz" e pretenso símbolo de amor e bondade humanas, consentiu, ao abençoar João de Deus, com sua trajetória irregular e seus crimes. Se realmente fosse o sábio e o intuitivo que tanto dizem ser, Chico Xavier teria se prevenido e iniciado uma desconfiança em torno de João de Deus, até pressentindo seu caráter leviano. Mas Chico nada o fez e permitiu que se abrisse o c

Falsas psicografias de roqueiros: Cazuza

Hoje faz 25 anos que Cazuza faleceu. O ex-vocalista do Barão Vermelho, ícone do Rock Brasil e da MPB verdadeira em geral (não aquela "verdadeira MPB" que lota plateias com facilidade, aparece no Domingão do Faustão e toca nas horrendas FMs "populares" da vida), deixou uma trajetória marcada pela personalidade boêmia e pela poesia simples e fortemente expressiva. E, é claro, como o "espiritismo" é marcado por supostos médiuns que nada têm de intermediários, porque se tornam os centros das atenções e os mais famosos deles, como Chico Xavier e Divaldo Franco, tentaram compensar a mediunidade irregular tentando se passar por pretensos pensadores, eventualmente tentando tirar uma casquinha com os finados do além. E aí, volta e meia os "médiuns" que se acham "donos dos mortos" vêm com mensagens atribuídas a este ou aquele famoso que, por suas irregularidades em relação à natureza pessoal de cada falecido, eles tentam dar uma de bonzinh

O grande medo de Chico Xavier em ver Lula governando o país

Um bom aviso a ser dado para os esquerdistas que insistem em adorar Francisco Cândido Xavier é que o "médium" teve um enorme pavor em ver Luís Inácio Lula da Silva presidindo o Brasil. É sabido que o "médium" apoiou o rival Fernando Collor de Mello e o recebeu em sua casa. A declaração foi dada por Carlos Baccelli, em citação no artigo do jurista Liberato Póvoas ,  e surpreende a todos ao ver o "médium" adotando uma postura que parecia típica nas declarações da atriz Regina Duarte. Mas quem não se prende à imagem mitificada e fantasiosa do "médium", vigente nos últimos 40 anos com alegações de suposto progressismo e ecumenismo, verá que isso é uma dolorosa verdade. Chico Xavier foi uma das figuras mais conservadoras que existiu no país. Das mais radicais, é bom lembrar muito bem. E isso nenhum pensamento desejoso pode relativizar ou negar tal hipótese, porque tal forma de pensar sempre se sustentará com ideias vagas e devaneios bastante agr

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi

Caso João de Deus é apenas a ponta do iceberg de escândalos ainda piores

A FAMIGLIA "ESPÍRITA" UNIDA. Hoje o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, se entregou à polícia de Goiás, a pedido do Ministério Público local e da Polícia Civil. Ele é acusado de assediar sexualmente mais de 300 mulheres e de ocultar um patrimônio financeiro que o faz um dos homens mais ricos do Estado. João nega as acusações de assédio, mas provas indicam que eles ocorreram desde 1983. Embora os adeptos do "espiritismo" brasileiro façam o possível para minimizar o caso, ele é, certamente, a ponta do iceberg de escândalos ainda piores que podem acontecer, que farão, entre outras coisas, descobrir as fraudes em torno de atividades supostamente mediúnicas, que, embora com fortes indícios de irregularidades, são oficialmente legitimadas por parecerem "agradáveis" e "edificantes" para o leitor brasileiro médio. O caso João de Deus é apenas o começo, embora ele não tenha sido o único escândalo. Outro

Carlos Baccelli era obsediado? Faz parte do vale-tudo do "espiritismo" brasileiro

Um episódio que fez o "médium" Carlos Bacelli (ou Carlos Baccelli) se tornar quase uma persona non grata  de setores do "movimento espírita" foi uma fase em que ele, parceiro de Francisco Cândido Xavier na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estava sendo tomado de um processo obsessivo no qual o obrigou a cancelar a referida parceria com o beato medieval de Pedro Leopoldo. Vamos reproduzir aqui um trecho sobre esse rompimento, do blog Questão Espírita , de autoria de Jorge Rizzini, que conta com pontos bastante incoerentes - como acusar Baccelli de trazer ideias contrárias a Allan Kardec, como se Chico Xavier não tivesse feito isso - , mas que, de certa forma, explicam um pouco do porquê desse rompimento: Li com a maior atenção os disparates contidos nas mais recentes obras do médium Carlos A. Bacelli. Os textos, da primeira à última página, são mais uma prova de que ele está com os parafusos mentais desatarraxados. Continua vítima de um processo obsessi

Se Chico Xavier fosse progressista, não haveria a ascensão de Jair Bolsonaro

É um dever questionarmos, até com certa severidade, o mito de Francisco Cândido Xavier. Questionar sem ódio, mas também sem medo, sem relativismos e sem complacências, com o rigor de quem não mede palavras para identificar erros, quando estes são muito graves. Vale lembrar que esse apelo de questionar rigorosamente Chico Xavier não vem de evangélico alucinado nem de qualquer moleque intolerante da Internet - até porque o dito "espiritismo" brasileiro é uma das religiões não só toleradas no país, mas também blindadas pelas classes dominantes que adoram essa "filantropia de fachada" que traz mais adoração ao "médium" do que resultados sociais concretos - , mas da própria obra espírita original. É só ler Erasto, que recomendava rigor no repúdio e no combate aos deturpadores dos ensinamentos espíritas. E mais: ele lembrava que eventualmente os maus espíritos (ou, no contexto brasileiro, os maus médiuns) trazem "coisas boas" (as ditas "mens

Chico Xavier e Divaldo Franco NÃO têm importância alguma para o Espiritismo

O desespero reina nas redes sociais, e o apego aos "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco chega aos níveis de doenças psicológicas graves. Tanto que as pessoas acabam investindo na hipocrisia para manter a crença nos dois deturpadores da causa espírita em níveis que consideram ser "em bons termos". Há várias alegações dos seguidores de Chico Xavier e Divaldo Franco que podemos enumerar, pelo menos as principais delas: 1) Que eles são admirados por "não-espíritas", uma tentativa de evitar algum sectarismo; 2) Que os seguidores admitem que os "médiuns" erram, mas que eles "são importantes" para a divulgação do Espiritismo; 3) Que os seguidores consideram que os "médiuns" são "cheios de imperfeições, mas pelo menos viveram para ajudar o próximo". A emotividade tóxica que representa a adoração a esses supostos médiuns, que em suas práticas simplesmente rasgaram O Livro dos Médiuns  sem um pingo de es