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Falsas psicografias de roqueiros: Cazuza


Hoje faz 25 anos que Cazuza faleceu. O ex-vocalista do Barão Vermelho, ícone do Rock Brasil e da MPB verdadeira em geral (não aquela "verdadeira MPB" que lota plateias com facilidade, aparece no Domingão do Faustão e toca nas horrendas FMs "populares" da vida), deixou uma trajetória marcada pela personalidade boêmia e pela poesia simples e fortemente expressiva.

E, é claro, como o "espiritismo" é marcado por supostos médiuns que nada têm de intermediários, porque se tornam os centros das atenções e os mais famosos deles, como Chico Xavier e Divaldo Franco, tentaram compensar a mediunidade irregular tentando se passar por pretensos pensadores, eventualmente tentando tirar uma casquinha com os finados do além.

E aí, volta e meia os "médiuns" que se acham "donos dos mortos" vêm com mensagens atribuídas a este ou aquele famoso que, por suas irregularidades em relação à natureza pessoal de cada falecido, eles tentam dar uma de bonzinhos enchendo de conteúdo religioso.

E Cazuza tornou-se vítima do Robson Pinheiro, o "médium best-seller" da vez, depois dos Gasparetto e de Chico Xavier, que trabalhou a imagem do roqueiro como se ele tivesse sido um dos daqueles abobalhados cantores canastrões do brega jovem que apareciam no Qual é a Música do SBT.

O livro Faz Parte do Meu Show foi lançado em 2004 e, atribuído a autoria espiritual não a Cazuza, mas ao "parceiro" de Robson, Ângelo Inácio, tenta rechear o conteúdo religioso dessas pretensas psicografias com muita gente famosa, incluindo Carlos Drummond de Andrade, Chacrinha, Clara Nunes e Elis Regina, entre outros.

A sinopse da tendenciosa obra é a seguinte: o suposto Cazuza, depois de desencarnar, vai para o mundo espiritual, numa cidade descrita nos mesmos moldes de Nosso Lar de Chico Xavier. Fica triste, aprende as "lições" de sua vida exagerada, e resolve mudar de perspectiva, conhecendo os "desígnios de Deus" e as "boas-novas do Cristo".

Ele recebe assistência espiritual, e se recupera e, então, é levado para uma gravação do Cassino do Chacrinha do além, que mostrava vários cantores brasileiros já falecidos. Elis Regina, Clara Nunes, etc etc. E aí Chacrinha convida Cazuza a dar continuidade à sua atividade musical, agora produzindo letras e melodias de mensagens "fraternais". Tudo "lindo".

E aí Cazuza, não o roqueiro que viveu entre nós, mas o personagem que Robson Pinheiro e seu amiguinho (imaginário) Àngelo Inácio, sobrevoa a Terra e visita, como espírito, lugares agradáveis e desagradáveis relacionados à sua vida, incluindo o Arpoador, praia frequentada pelo cantor e onde era inicialmente realizado o Circo Voador, onde Cazuza chegou a participar num evento teatral.

Com toda essa trajetória, e mais algumas explicações pedantes sobre sexo na vida espiritual - que fariam Allan Kardec tapar a cara com uma das mãos, de tão envergonhado - , o livro encerra sempre com aquelas "maravilhosas" lições "espiritualistas", cheias de palavras "lindas". Há até uma mensagem atribuída a Ângelo Inácio tentando "explicar" o livro:

"O autor das palavras preferiu não se identificar diretamente; todavia em seus apontamentos, fica a sua marca. Quanto a mim, fui convidado tão-somente a auxliar o intérprete destas experiências com meu jeito escritor e repórter dos dois lados da vida. Sei que este trabalho causará polêmicas, discussões e rebeldia. Afinal, de uma forma ou de outra, todos somos rebeldes, exagerados... aprendizes. Talvez, mesmo, apenas simples aprendizes do grande artista cósmico: Deus. E, como principiantes, ao compor a música de nossas experiências, erramos, gritamos, ou choramos. Exageramos nas atitudes e nos punimos ao realizar o próprio julgamento, no tribunal de nossas consciências. Até o momento em que descobrimos que, com nossa arte, por mais singela, é possível participar da orquestra divina, do show da vida".

Anos antes desse livro, Robson Pinheiro já havia forjado uma mensagem "inédita" atribuída ao espírito de Cazuza, para o livro Canção da Esperança, lançado em 1995. O livro narra a suposta vida espiritual do presumido autor, Franklim (com "m" no final, mesmo), depois que desencarnou vítima da AIDS.

Na nona edição do livro, mais recente, de 2010, o livro é acrescido de textos novos escritos por Robson Pinheiro usando o nome dele ou usando o nome de Cazuza e botando na conta do seu espírito. Além disso, há um prefácio atribuído a Adolfo Bezerra de Menezes, o ex-presidente da FEB, trazida por Chico Xavier.

Um outro suposto médium, através de suposta mensagem de Cássia Eller, descreveu que "ela" teria visto o roqueiro Cazuza transformado em enfermeiro de uma colônia espiritual. E, com certeza, garoto-propaganda do religiosismo exagerado do "espiritismo" brasileiro.

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