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Não dá para ser fiel e infiel ao mesmo tempo

NO DISCURSO, FICA MAIS FÁCIL - O aparente "equilíbrio" entre religião e ciência atribuído a Allan Kardec.

O "movimento espírita" tem o grande cacoete de se julgar "equilibrado" com sua contradição. Se julgam rigorosa, inabalável e sinceramente fiéis ao pensamento científico de Allan Kardec e o traem o tempo todo, mantendo as mistificações que descaraterizaram a Doutrina Espírita no Brasil.

Criam todo um malabarismo discursivo, todo um aparato de posturas e ideias que, nos últimos 40 anos, sempre revelava seus "cavaleiros da esperança" na pretensa luta pelo respeito ao pensamento kardeciano.

De repente, surgem páginas "espíritas" condenando a "vaticanização do Espiritismo", criticando as inserções de dogmas e ritos católicos na Doutrina Espírita, enfatizando a missão científica de Allan Kardec, seu projeto pedagógico, suas análises científicas e tudo o mais.

E aí vão fazendo um desfile de cientistas e assuntos de sua natureza, em artigos pretensiosos, em que áreas como Psicologia, Física e Sociologia desfilam nos periódicos "espíritas" com as festejadas citações de Galileu Galilei, Isaac Newton e Albert Einstein, entre outros, que parecem até terem virado figuras "espíritas" de tão mencionadas nesses meios.

Tudo bem que parasse por aí, mas a verdade é que, em dado momento, há a tentação de citar Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, exaltados como figuras "de mais alto valor moral" do Brasil, para não dizer do mundo e do universo, com direito a atribui-los a "discípulos fiéis e indispensáveis" do pensamento e do trabalho de Allan Kardec.

Ficamos indecisos se é para rir ou para chorar. Rir, pelo ridículo de atribuir a Chico Xavier e Divaldo Franco uma fidelidade a Allan Kardec que nunca existiu em suas obras. Chorar, porque infelizmente o vínculo dos dois ao pensador francês, apesar de hipócrita e oportunista, tornou-se tão intenso que não dá para dissociar o pensamento kardeciano do estigma desses dois usurpadores.

Aí está a pior contradição. Os "espíritas" brasileiros se julgam fiéis a Allan Kardec, juram ter por ele um rigor absoluto de respeito e comprometimento com as ideias do francês, mas em dado momento expressam louvores entusiasmados aos dois traidores.

Que críticas eles têm moral de fazer contra a "vaticanização do Espiritismo" se eles justamente idolatram dois supostos médiuns que transformaram a Doutrina Espírita nesse catolicismo informal, sem batina, sem catedrais cobertas de ouro ou órgãos gigantes sendo tocados em missas, mas com todas as crendices, delírios e práticas do mais puro medievalismo católico?

Eles se esquecem, por exemplo, do que Chico Xavier foi capaz de fazer com o falecido Humberto de Campos. O "médium" criou um Humberto de Campos falso, que nada tinha a ver com o original, em pura sacanagem com o que o escritor maranhense fez com o "médium".

Sabe-se que Humberto de Campos ficou meio desconfiado com Parnaso de Além-Túmulo, embora aparentemente admitisse - possivelmente, com certa ironia - semelhanças entre os poemas "espirituais" e os dos autores atribuídos deixados em vida. Ele depois reclamou da concorrência desses poemas "psicografados" com o trabalho dos autores vivos.

Aí Chico Xavier não gostou, e talvez tivesse inventado aquele sonho com Humberto de Campos e resolveu se vingar, lançando livros com o nome de Humberto de Campos carregados de muito apelo religioso, como se Humberto, em vez de ter sido membro da Academia Brasileira de Letras, fosse um padre brasileiro frequentador dos mais altos círculos católicos do Vaticano.

Chico Xavier botou batina em Humberto de Campos e muitos ficam associando as estórias do "padre Humberto" em bobagens literárias como Brasil, Coração do Mundo, Crônicas de Além-Túmulo, Novas Mensagens, Cartas e Crônicas, Lázaro Redivivo, e tantos outros, alguns usando o nome de Irmão X que não passa de paródia de Conselheiro XX, ao falecido autor de O Brasil Anedótico.

O pessoal aceita tudo confortavelmente como se fosse natural Humberto ter se "ordenado padre" assim que foi ao mundo espiritual. E mostra o quanto o hábito de leitura no Brasil é ainda precário, pois as pessoas até passaram a ler mais (embora estejam lendo mais "livros para colorir"), mas estão longe de conceber algum discernimento resultante do que foi lido.

Se o hábito de leitura fosse maior em quantidade e melhor em qualidade, as pessoas ficariam horrorizadas ao ver que o estilo que Humberto de Campos teve em vida nada tem a ver com o de seu suposto espírito em livros lançados por Chico Xavier. E não é apenas pelo simples fato de ter sido um escritor ateu que "virou padre", mas pela forma de descrita, muito diferente.

A obra de Humberto produzida em vida é fluente, descontraída, ao mesmo tempo culta e coloquial, simples e prazerosa de ser lida, e enfatiza temas da cultura popular e referências do seu meio intelectual. Já a do suposto espírito Humberto é pesada, pedante e forçadamente culta, mas grosseiramente rebuscada, e enfatiza temáticas bíblicas e referenciais católicos.

E o pessoal exaltando Chico Xavier ao mesmo tempo que jura fidelidade absoluta a Allan Kardec. Isso é um contrasenso. Pelo menos, os "espíritas" deveriam admitir que acham Kardec chato, que nunca gostaram de suas ideias e que seu negócio é rezadeira e fé, não ciência. Falta sinceridade no "movimento espírita" brasileiro. Daí sua desonestidade.

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