Os "espíritas" são estranhos. Eles afirmam, otimistas, que o Brasil inicia um processo de "regeneração", que a humanidade, "mesmo com alguns conflitos", está caminhando para um tempo de "prosperidade e fraternidade" e que as "boas notícias" escapam da fúria comercial dos noticiários de televisão.
É certo que nossa grande mídia é mercenária, reacionária, glamouriza a violência, como se dela fizesse apologia e promove o "mundo cão" como se fosse uma mercadoria de consumo, para a diversão e o entretenimento dos espectadores. Mas também não é por isso que vamos aceitar o otimismo de contos de fadas do "movimento espírita", que vivem em outras ilusões.
Há dois dias um grupo de mais de 800 pessoas invadiu a Câmara dos Deputados, de maneira grotesca. Destas, 50 entraram no local e as demais ficaram fora. Quebraram vidros, agrediram pessoas, entraram no plenário durante a votação de um tal "pacote anti-corrupção" bolado por uns direitistas do Paraná. Exaltaram o nome do juiz Sérgio Moro, pediam a presença de um general e desejavam a volta da ditadura militar.
A confusão foi notícia em todo o país. Mesmo os parlamentares mais conservadores acharam isso uma desordem, uma baderna, e os invasores chegaram a ser detidos, mas depois foram liberados. Houve todo um discurso de defesa da prisão dos "manifestantes", com multa por depredação de patrimônio público e defesa de um ato inconstitucional como a volta da ditadura.
De fato, há um equívoco sobre essa lembrança da inconstitucionalidade, porque o próprio presidente da Câmara, o carioca Rodrigo Maia, do DEM, é do grupo de Michel Temer, que propõe cancelar os direitos sociais com a PEC dos Gastos Públicos e as reformas trabalhista e previdenciária, desfazendo de muitas conquistas trazidas pela Constituição de 1988,
Mas outro aspecto a considerar é que essa invasão se deu porque a própria grande mídia e toda a sociedade conservadora consistiram com a campanha de ódio e vingança que havia nas redes sociais e era estimulada por um seleto número de comentaristas políticos, como os da revista Veja, da Rede Globo e da Globo News e da rádio Jovem Pan, entre outros.
Esse rancor fez voltar aquele ridículo sentimento anti-comunista de psicopatas aloprados, que parecem sentir alergia da cor vermelha (devem odiar comer tomate). Voltaram surtos de racismo, de machismo homicida, de neofascismo e até parece que expressar preconceitos sociais cruéis virou uma atitude "socialmente aceitável".
O surto ultraconservador que tomou conta do país, essa maré de mofo que atinge sobretudo o Sul e Sudeste brasileiros, embora encontre focos em outros cantos do nosso país, permite que preconceitos absurdos e atitudes antissociais eclodissem como vulcões adormecidos, até porque, desde 1990, esses movimentos nunca haviam sido extirpados, mas deixados num canto, até esperar o momento certo para reagir.
Isso contraria, e muito, as perspectivas otimistas do "movimento espírita". Mas, também, a doutrina da desonestidade, que diz ser fiel a Allan Kardec mas o trai sempre, Eles falavam que, desde 2012 a Terra se preparava para um período de fraternidade e evolução moral, com o combate às injustiças e a decadência dos surtos reacionários.
O que ocorreu foi o contrário. Uma onda reacionária que mais seria típica dos anos 1930 voltou à tona na humanidade. Os "espíritas" costumam se sair desses imprevistos usando a mirabolante manobra das desculpas.
Contradizendo sua "inabalável força", os "espíritas" sempre dizem que imprevistos negativos surgem pela "influência de irmãozinhos pouco esclarecidos", eufemismo dado para espíritos inferiores. Uma "força" que é inabalável mas é abalada, que é inatingível e é atingida, que permanece forte mas é fraquejada a todo momento. O que querem os "espíritas", afinal?
Não somos idiotas para acreditar nessa lorota, que nos tratamentos espirituais que viram celeiros de azar para seus pacientes, os assistentes "espíritas" argumentam que tais terapias "dão certo" justamente nos infortúnios, por causa de "certos irmãos que ficam incomodados". A força que nunca fraqueja mas que fraqueja cai em contradição, e sabemos que tratamentos espirituais que trazem desgraça e azar nunca dão certo, dão errado, fracassam.
O Brasil não virou nem vai virar Coração do Mundo. Também não precisamos disso. Precisamos de justiça social e qualidade de vida. Não queremos o holofote do mundo, e por isso pouco nos importa a supremacia de uma religião ou de um movimento direitista. Ficamos imaginando, no caso dos invasores neofascistas, o que se espera no país em breve. Com certeza, tempos mais sombrios.
É até perigosa a perspectiva de supremacia de uma nação ou religião. Mesmo com todo o papo de "fraternidade e amor", não devemos nos iludir com esse papo de "coração do mundo e pátria do Evangelho" porque a doce retórica pode representar uma prática sombria e sanguinária, como se viu no antigo Catolicismo da Idade Média, que praticou atrocidades usando o papo fácil da "união entre irmãos" e "comunhão no Cristo".
Talvez a invasão seja vista apenas como um "ato exagerado" e "precipitado". Em todo caso, tivemos Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, defendendo a ditadura militar. Recentemente, Robson Pinheiro tenta associar seu anti-petismo doentio à "espiritualidade superior". Isso tudo deixaria Allan Kardec profundamente envergonhado.
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