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Prisão de Eduardo Cunha e o país imprevisível


O Rio de Janeiro teve que desfazer um de seus estragos. Permitiu a decadência política do deputado Eduardo Cunha, artífice do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, comandante das votações de 17 de Abril, mentor intelectual do governo de Michel Temer.

Feito o trabalho, porém, Eduardo Cunha, até pelo robusto histórico de corrupção em mais de duas décadas de carreira pública, pôde ser descartado e seu ocaso político, embora feito com demora bastante suspeita, o fez ser afastado da presidência da Câmara dos Deputados, ser cassado do mandato parlamentar e, depois, ser preso.

Nesse momento de jogadas políticas, a crise do Brasil só tende a se agravar. Do contrário dos "admiráveis espíritas", que chegaram a definir as histéricas (não é erro de digitação) passeatas anti-Dilma como "despertar da humanidade" e "início da regeneração", dizem com tamanha convicção, apesar de tais manifestações serem movidas por um ódio doentio.

O país está imprevisível, com um sistema de Justiça - Poder Judiciário e Ministério Público - marcado pela incompreensão real das leis ou seu eventual uso visando interesses espúrios, geralmente favorecendo os anseios do PSDB para voltar ao poder e vender as riquezas do Brasil para os estrangeiros.

Se temos uma Justiça pouco confiável e corrupta, diante da ignorância popular que considera o juiz Sérgio Moro um herói, quando sua atuação, como juiz, é bastante irregular, não dá para considerarmos que vivemos um período de regeneração, diante de um Brasil à deriva sob risco de uma grande catástrofe institucional, diante da balança quebrada da nossa Justiça.

Mas também vivemos um período de muita incompreensão, ignorância, desinformação e, sobretudo, muita teimosia. Os "revoltados" que começaram fazendo cyberbullying e trolagem nas redes sociais passaram a ir para a rua pedir o "Fora PT" e pressionar a opinião pública para substituirmos o governo de Dilma Rousseff pelo já desastrado governo de Michel Temer.

Além disso, temos uma religião bastante corrompida, o "espiritismo", cujos compromissos com o legado de Allan Kardec não passam de conveniências formais e desculpa para botar o igrejismo medieval debaixo do tapete, que também é afeito a posturas bastante reacionárias.

O exemplo de Francisco Cândido Xavier é ilustrativo. O tão adorado Chico Xavier, que os incautos chegam a definir como "progressista", defendeu o golpe de 1964 e continuou defendendo a ditadura militar mesmo na pior fase, pedindo para orarmos pelas Forças Armadas porque elas estavam "construindo o reino de amor" do Brasil futuro. Com o sangue de inocentes mortos e jogados na vala?

Chico Xavier, que apoiou Fernando Collor em 1989, teria apoiado o "Fora Dilma". Isso condiz com a postura de um de seus seguidores, Robson Pinheiro, que veio com barbaridades literárias que pelo jeito são uma série literária: O Partido - Projeto Criminoso de Poder e A Quadrilha - O Foro de São Paulo. "Foro de São Paulo" foi o nome de um encontro de partidos esquerdistas internacionais organizado pelo Partido dos Trabalhadores.

Robson Pinheiro, sob a suposta colaboração do "espírito" Ângelo Inácio, tenta, com sua série de romances "mediúnicos" de altíssimo teor reacionário - já estão chamando as obras de "psicografia-coxinha" ou "Revoltados do Além-Túmulo" - , tenta insinuar que os governos progressistas da América Latina, voltados à justiça social e ao atendimento dos interesses das classes populares, teriam sido um projeto de "inteligências malignas".

É aquela neurose que vemos na revista Veja, que trata o ex-presidente Lula como a "personificação do mal". A Veja, que chegou a comparar um livro medíocre do ex-editor Mário Sabino (do terrível site O Antagonista) à obra de Machado de Assis, poderia ter recomendado o livro de Robson Pinheiro, um sujeito que deveria pensar duas vezes antes de inventar supostas psicofonias de Getúlio Vargas e Tancredo Neves.

Vargas teria apoiado Lula e Dilma. Ele veria nos dois a continuação de seu trabalho e o político gaúcho se suicidou em 1954 porque foi pressionado pela direita política, por tensões e crimes políticos já conhecidos na nossa História. E Tancredo provavelmente teria se decepcionado com o neto Aécio Neves, que se tornou apenas um cafajeste político e corrupto até a medula.

E O PAPEL DE EDUARDO CUNHA NA "REGENERAÇÃO"?

Como os "espíritas", sobretudo o "iluminado" Robson Pinheiro, que jura defender a "busca do conhecimento", embora não nos esqueçamos de outros - Juliano Pozati, Geraldo Lemos Neto e até Divaldo Franco - poderiam definir o papel do truculento deputado Eduardo Cunha na "regeneração" do Brasil e do mundo?

Teria sido, sob essa ótica igrejista-medieval do "movimento espírita", o hoje ex-deputado, cassado, preso e definitivamente sem chance de estar na sucessão hierárquica da Presidência da República, um colaborador de "espíritos benfeitores" para a promoção da paz entre os brasileiros?

Eduardo Cunha então teria sido, sob esse ponto de vista, um "agente" de "espíritos de luz"? Se isso fosse verdade, que sintonia os "benfeitores espirituais" teriam diante de uma figura arrogante e cheia de ideias retrógradas, além de um apetite voraz pela corrupção, a ponto de ameaçar seus colaboradores se eles não obedecerem as exigências do hoje ex-deputado.

Mas o "espiritismo" e o "iluminado" Robson Pinheiro tem outras incoerências. Como explicar a tese da "regeneração" e da influência de "benfeitores espirituais" a manifestantes movidos pelo ódio, uns baixando as calças nas ruas e mostrando seus traseiros nojentos, outros pedindo intervenção militar (eufemismo para golpe), outros exibindo suásticas nazistas e até uma senhora segurando tranquila um cartaz com o nome "Por que não mataram todos em 64"?

E como explicar essa "regeneração", esse "clamor" por um país "mais solidário e irmão", com tamanha raiva, e quando um dos principais grupos manifestantes desses eventos reacionários se chama Revoltados On Line? Logo o "espiritismo", que diz condenar o ódio e a revolta!

E como podemos esperar uma posição nobre do Brasil, comandando o "concerto das nações", se o projeto político que está aí, com o retrógrado Michel Temer, propõe uma atrocidade chamada PEC 241, a PEC da Morte (não seria PEC da Desencarnação? Mas aí os "espíritas" ficariam mansinhos e alegres), que propõe cortes de gastos públicos, deixando o Brasil mais pobre e impedido de investir nas melhorias da Saúde, Educação e Assistência Social, entre outros âmbitos públicos.

Que Brasil será este que irá "liderar o mundo" com sua "lição de fraternidade", se ele voltará, até de forma ainda mais radical, a se tornar um país inexpressivo e serviçal aos EUA, sobretudo depois de vender o pré-sal e privatizar a Petrobras, empobrecendo seu povo e castrando todo tipo de progresso social?

Mais uma vez os "espíritas" foram pegos em calças curtas. Sem poder explicar os rumos políticos desastrosos de hoje, eles se limitam a pedir para os sofredores aceitarem desgraças, abrirem mão das "paixões" (eufemismo para necessidades humanas) e sorrirem felizes diante do prejuízo, sentindo misericórdia dos algozes etc. É uma forma de apoiar Michel Temer, PEC 241 e tudo, sem abrir o jogo, mas apostando num país mais conservador, bem mais apropriado para os "espíritas".

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