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Roll Over Roustaing


Hoje é dia de brincar de roqueiro e ir fantasiado de rebelde no Rock In Rio. Funciona mais ou menos como o Carnaval de Salvador, só que, em vez de você vestir um abadá com o bloco de sua escolha e ir atrás do trio elétrico pular e aparecer nas câmeras da TV Bahia para dar um alô para o papai e a mamãe, você usa uma camiseta preta, vai ver um roqueirão no palco e botar língua para fora para as câmeras da Rede Globo, e, claro, mandando um alô para o papai e a mamãe.

Hora de fazer o papel caricatural que a televisão faz ao público roqueiro. Um pouco de sinal de demônio aqui, uma língua para fora e um air guitar, tudo brincando de ser rebelde doidão. É a natureza do negócio, bancar o roqueiro idiota e amalucado que existe nas mentes dos grandes executivos que ditam o que deve ser o gosto do povo daqui e dali.

Tudo virou uma Disneylândia, e o Rock In Rio que pouco tem de rock vai espalhar para os quatro ventos a visão estereotipada do roqueiro, um roqueiro de fachada, sem estado de espírito, um roqueiro submisso que nem ovelhinha mimada cuja única mobilização social é feita empurrada por campanhas "sociais" impostas pelo poder político e midiático.

Querer ser um rebelde quando vai junto com o resto do rebanho para doar sangue para o Lar Dona Maricotinha, sem saber para que isso serve e só porque a Prefeitura do Rio de Janeiro e a Rede Globo falaram, é dose para leão.

Mas os roqueiros são tão carneirinhos hoje em dia que o que se espera deles é que eles torrem o dinheiro que quase não têm - eles só tem o Bilhete Único para o itinerário de volta, mas ele perde a validade no meio do caminho (antes do ônibus "troncal" chegar ao terminal a tempo de alcançar um "alimentador" superlotado) - por um lanche caro espetacularmente vendido pela rede de fast food.

Só que o espetacular combo vendido pelas lanchonetes mediante uma ilustração tentadora no cartaz exibido nesses lugares, na verdade, não passa de enganação para atrair uma juventude sem senso crítico, que aceita até lanche qualquer nota, desde que "de grife".

O "hamburgão" é um pão murcho e dormido com um catchup com mais química que molho de tomate, carne sintética pior do que hambúrguer de cera e salada ressecada e cheia de agrotóxicos. A batata frita é um monte de gravetos de madeira com sal e sabor de óleo vencido. O refrigerante é um xarope de qualquer sabor artificial (geralmente cola, laranja ou guaraná) bastante aguado.

Se um lanche extremamente ruim como esse é servido para jovens que o devoram como se fosse o lanche oferecido no Paraíso, então o roqueiro pode ser rebelde na pose, nos gestos, nas gírias, na roupa, mas mentalmente pessoas assim mais parecem um bando de submissos infantilizados que fazem o jogo do "sistema".

O rock é trabalhado pela mídia como se fosse uma Disneylândia. Os roqueiros são uns patetas botando a língua para fora e brincando de serem guitarristas tocando vento. Tudo consumismo, espetáculo, pose, pessoas que não entendem o espírito da coisa - tínhamos que falar em "espírito", aqui - passam a fingir que "sempre foram roqueiros desde o nascimento".

Tem gente que, nas mídias sociais, passa o ano inteiro defendendo grupos horríveis de "forró eletrônico", duplas tenebrosas de "sertanejo universitário", astros asquerosos de "funk" e ídolos moribundos da axé-music mas que quando chega eventos como o Rock In Rio, ainda se ofende quando outros lhe dizem que ele não é roqueiro de carteirinha.

O festival começará no dia 18 e não há uma lembrança sequer de um dos roqueiros mais conhecidos, o guitarrista Jimi Hendrix - do qual os roqueiros de fachada fogem como se fosse um fantasma maligno, mas fingem que são seus fãs mais dedicados - , que faleceu nesta data há 45 anos.

O pessoal está ocupado com coisas "mais importantes", como o System of a Down (espécie de One Direction do metal), ou se alguém vai fazer um "tributo aos Mamonas Assassinas" em algum palco alternativo do festival.

E, evidentemente, eles têm até uma Rádio Disney para chamar de sua, uma tal de Rádio Cidade, rádio carioca que nunca foi com a cara do rock e dos roqueiros mas que, de uns vinte anos para cá, tenta nos convencer que é a "rádio do rock de verdade" sem ter um histórico nem uma equipe realmente ligada ao rock de verdade. Lá o pessoal entende tanto de rock quanto David Brazil entende de física nuclear.

Aquela rádio ali - descrevemos a frequência de 102,9 mhz e o endereço http://www.radiocidade.fm para os roqueiros de verdade evitarem qualquer tropeçada nessas sintonias - é 100% igual à Rádio Disney, pois roqueiro lá só existe o toca-CD. Tira o toca-CD das instalações da emissora e não vai sobrar sequer alguém chamado Roque para contar a história. E olha que não parece que exista algum Roque na equipe da Cidade. Roque mesmo está rolando no Programa Sílvio Santos.

Mas a Rádio Cidade disse que "veio para ficar" e, como aqui é um blogue kardeciano, ela já lançou o grande jogo Rock Staing, já que a Cidade traduz para o rock os ensinamentos de Jean-Baptiste Roustaing. Para a rádio, Elvis Presley não passou de um espectro materializado por Hollywood, enquanto os roqueiros que fizerem xixi na cama vão reencarnar como vermes "sertanejos" ou parasitas funkeiros.

Se Allan Kardec tentou ser simpático com Roustaing, mas deu as suas críticas diretas, o jornalista Luiz Antônio Mello, que com muito trabalho criou a Fluminense FM - que era rádio com perfil rock, não uma emissora pop com toca-CD roqueiro - , tentou ser simpático com a Cidade (até tentou trabalhar lá, mais para atender as gentilezas dos antigos patrões da antiga JB AM), mas depois fez críticas às rádios que tocam rock mas contratam animados "gostosões" para a locução.

Numa primeira ouvida, a Rádio Cidade parece agradar, como nas primeiras páginas de Os Quatro Evangelhos, embora a irritante fala dos locutores animadaços - membros de uma equipe sem qualquer especialização em rock que só produz o repertório musical previamente indicado pelas gravadoras - arranhe os ouvidos tal como os delírios devocionais de Roustaing.

Só que, no segundo dia, a programação começa a cansar e, no terceiro dia, os computadores, celulares e aparelhos de rádio já se tornaram bodes expiatórios da péssima programação dos 102,9 mhz, pois tem gente que atira seus celulares do alto de seus prédios achando que eles têm culpa por aquela programação "só de sucessos" e seus locutores engraçadinhos da Cidade.

A Rádio Cidade fala do "rock de verdade" como os chiquistas - que traduziram o pensamento de Roustaing com o tempero bem mineiro de Chico Xavier - falam em "espiritismo de verdade". A Cidade fala mal dos "emos" e do "rock colorido" tal como os "espíritas" falam mal dos "vaticanos espíritas". Mas a Cidade corteja um CPM 22 e exalta os Mamonas Assassinas, e o "espiritismo" exalta Divaldo Franco e Chico Xavier.

A Cidade é apenas um canal de todo esse maquinário imbecilizante que deturpa e degrada um gênero cultural. Como se faz com as periferias que há muito se tornaram escravas da idiotização do "funk". Ou o "sertanejo" que deturpou gravemente a música caipira. Ou tantas e tantas deturpações, a produzir estereótipos sem qualquer relação real com a realidade.

Os roqueiros vão bancar os Patetas ouvindo a Rádio Disney disfarçada de roqueira que é a Rádio Cidade. Posarão de fãs de Iron Maiden e AC/DC sem saber a diferença sonora entre um e outro. Se acharão roqueiros convictos sem saber distinguir um solo de guitarra e a risada de uma hiena. E assim mais estereótipos são produzidos para transformar pessoas em meros rebanhos consumistas.

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