Nunca se mentiu tanto no "movimento espírita", quando à alegada fidelidade a Allan Kardec. Nas últimas quatro décadas, época estimada para o agravamento da crise do roustanguismo, os "espíritas" passaram a adotar uma postura dúbia, bastante badalada e festejada entre eles.
Esta postura consiste em alegar, na teoria, fidelidade absoluta e o mais rigoroso respeito à obra, à trajetória e ao pensamento de Allan Kardec. Na prática, porém, as coisas são feitas para contrariar, o máximo possível, a tudo o que o pedagogo francês escreveu, disse e analisou.
A fidelidade é traída de imediato quando ídolos como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco são exaltados. Eles lançaram ideias e procedimentos que contrariam severamente o pensamento de Kardec, da maneira mais vergonhosa possível.
Para piorar, um exército de pretensos heróis do "espiritismo" vieram também engrossar o refrão da tão cantada em alto e bom som "fidelidade a Allan Kardec". Cantada, mas nunca praticada. E aparecem sempre como "salvadores da pátria" a defender a suposta fidelidade com discursos dos mais mirabolantes.
Desde 1975 é assim. De Rino Curti a Orson Peter Carrara, de Carlos Baccelli a Alamar Régis Carvalho, todos se aproveitando de que muitas pessoas são tratadas como idiotas para lançar sua postura falsamente fidedigna ao pensamento kardeciano, enquanto se divertem (ou divertiram, no caso dos já falecidos) com mistificações e outros conceitos que deturpam a Doutrina Espírita.
Isso é bastante vergonhoso. Mas, o que é pior, bastante frequente, constante, insistente e, se depender desses traquinas da boa-fé espírita, permanente. E todos posando de "bondosos" só porque dissimulam a traição doutrinária com arremedos de filantropia.
É preciso denunciar essas e outras pessoas que cometem deslizes graves em relação ao pensamento de Allan Kardec, inserindo igrejismo, moralismo conservador, esoterismo e outros enxertos alheios ao cientificismo original do professor francês, que fazem a tão prometida "coerência espírita" no Brasil não ser mais do que uma conversa para boi dormir.
Sao coisas como "crianças-índigo" defendidas por Divaldo Franco, a apologia do sofrimento e a ideologia do silêncio defendidas por Chico Xavier, fora aspectos como a pretensão de fazer profecia e a adoção de ritos católicos nos "centros espíritas", em que o debate dá lugar ao religiosismo mais rasteiro e mais conservador.
Isso sem falar do faz-de-conta da suposta mediunidade, que não passa de verdadeiras molecagens causadas por supostos médiuns, cujo conhecimento de vida espiritual e práticas mediúnicas não vai além do superficial, não tendo concentração suficiente para o devido contato com os espíritos do além.
Tudo isso vai contra o pensamento original de Allan Kardec, mas os praticantes das deturpações "espíritas" tentam a todo custo fazer crer que agem em completo respeito à Doutrina Espírita. E, quando não conseguem argumentar, ficam posando de "bonzinhos" e dizendo que seu maior foco é "a caridade e o amor ao próximo".
Vão mentir o tempo todo, através dessas contradições, como já o fazem e pretendem repetir, como se fosse num disco de vinil riscado que faz a agulha pular nos mesmos sulcos. E não se pode aceitar essa farsa, porque até a "bondade" é usada para permitir que se desobedeça levianamente as diretrizes da Doutrina Espírita.
Deve-se perder o medo de denunciar essas práticas, de não temer a "doce" intimidação da reputação gloriosa dos astros do "movimento espírita". Não se deve temer a contestação de totens consagrados, porque quem fez graves erros deve ser denunciado, pouco importa sua popularidade e prestígio.
Por outro lado, deve-se também rebater as acusações de intolerância religiosa, que se tornam julgamentos falsos vindos dos pretensos sábios do "espiritismo". Porque nossas denúncias não são intolerância à liberdade religiosa, mas intolerância à mentira, à contradição, à fraude e a demagogia, vícios que não podem ser acobertados pelas virtudes da bondade, caridade e solidariedade.
Daí que se deve denunciar as fraudes do "movimento espírita" de forma intensa, rebatendo cada episódio em que as mistificações e deturpações são feitas impunemente, enquanto seus praticantes tentam a todo custo jurar que são fiéis a Allan Kardec. Só que esse juramento é, como sabemos, mentiroso.
Comentários
Postar um comentário