Mentira a serviço do amor e da caridade não dói? Os erros que o "espiritismo" brasileiro faz são apenas inocentes mentirinhas que não fazem mal e não prejudicam os projetos de fraternidade e solidariedade humanas?
Nota-se que o "espiritismo", no Brasil, se serve de muitas mentiras. A mediunidade não passa de um simulacro, feito para fazer propaganda religiosa das casas "espíritas", além de oferecer publicidade dos supostos médiuns à base do sensacionalismo.
Isso se vê em várias atividades. Psicografias, psicofonias, psicopictografias. Observa-se até um amontoado de clichês, como a mesma narrativa "Nosso Lar" das mensagens "espirituais" ou da mania de usar uma suposta falange de pintores nos trabalhos de pintura "mediúnica", como se vários pintores, de diferentes lugares e épocas, estivessem sempre a dispor para qualquer "parada".
Um rol de leviandades é feito dentro de um clima de pieguice que se torna aceito não porque ele expressa alguma superioridade moral, mas porque as pessoas são receptivas a um modelo de "caridade" e "bondade" que está de acordo com seus valores conservadores e provincianos.
São valores originários de antigas ideologias familiares, professorais e até profissionais. Estigmas de caridade que não passam de projetos paliativos. Sistemas de castração da vontade humana, como se a vontade fosse um mal, campanhas educativas para transformar as pessoas em "carneirinhos", como se ser bondoso fosse aceitar tudo e nunca agir para romper as estruturas vigentes, mesmo injustas.
A "injustiça social" que o "espiritismo" promete combater com sopinhas, doações e programas educativos que nunca fazem mais do que criar cidadãos "carneirinhos" que cumpram todas as obrigações da vida, é exaltada mais por uma questão de publicidade do que de idealismo.
Falam que isso transforma, mas até hoje não se viu efeitos concretos nessas atividades. E, por trás disso, o que há é um monte de mentiras e tolices que só serve para transformar o "espiritismo" num engodo sensacionalista, místico e moralista da pior espécie.
Em vez de assumirem sua ignorância diante da Ciência Espírita, criam métodos mediúnicos que se limitam a simulacros de mediunidade, ou, no caso das supostas cirurgias espirituais - sempre feitas de forma rudimentar e à margem da Medicina, como se suas conquistas e avanços fossem um "mal" - , a evocação de espíritos traiçoeiros tidos como curandeiristas.
A influência do Catolicismo do Segundo Império brasileiro, que por sua vez é herdado do português que, de sua parte, guardou heranças medievais, o "espiritismo" brasileiro, pela sua própria natureza ideológica, combinando moralismo católico com práticas hereges clandestinas (como bruxaria e esoterismo), atrai os espíritos que suas vibrações permitem atrair.
São espíritos que variam de padres jesuítas, freiras e madres, a centuriões romanos, passando por bruxas, advinhos, médicos nazistas, mascates a vender mel de abelha como se fosse remédio milagroso, astrólogos e até praticantes de vodu. Toda essa multidão se sente atraída pelo "movimento espírita" se se instala na doutrina querendo mandar e obter vantagens.
Eles "orientam" toda essa bagunça que se vê, a partir da figura contraditória e confusa de Francisco Cândido Xavier, que só era sinônimo de "coerência" nas mentes confusas de pessoas que só se emocionam, mas não raciocinam de maneira correta.
Daí essa ideologia confusa. Daí os "centros espíritas" que falam de família, de criancinhas brincando de ciranda, de vovô brincando com o netinho, de passarinhos na janela, de flores no parapeito, de tantas coisas, exceto a Doutrina Espírita, tema quase nunca estudado nesses lugares.
Aliás, podemos dizer, NUNCA estudado. Isso porque o pobre do Allan Kardec, que suou, investiu seu próprio dinheiro e, até nos piores momentos de sua doença final, tentou explicar o máximo possível sobre a novidade do Espiritismo, viu sua doutrina arduamente sistematizada sendo empastelada e deturpada por supostos seguidores que se promovem às custas do seu nome.
E isso é a maior mentira. Os "espíritas" se julgam os "seguidores fiéis" de Allan Kardec. Se dizem rigorosamente vinculados ao seu pensamento e dizem não cometerem o menor deslize. Tentam até mesmo condenar os deslizes e mistificações dos outros.
Transformam o "espiritismo" num arremedo de quinta categoria do Catolicismo, mas criticam o desvio do cientificismo kardeciano para o dogmatismo religioso. Vejam só. O "espiritismo" mente, porque quer professar a mais absoluta e rigorosa fidelidade a Allan Kardec, quando em verdade é o que mais comete traições ao seu legado.
Quando se denuncia essa doutrina confusa e deturpada, os "espíritas" ainda se armam, à sua maneira. Reagem, como lobos em pele de cordeiro, escrevendo poeminhas, artigos floridos, ilustrados com fotos de crianças, jardins cheios de flores, passarinhos voando sobre rosas, céus azulados com sol brilhando e águas do mar serenas.
Se não conseguem esconder que deturpam a Doutrina Espírita e seus trabalhos mediúnicos são questionados de forma rigorosa por seus questionadores, os "espíritas" reagem com pretenso bom-mocismo. Como se as falsas psicografias pudessem ser questionadas pelo pão e abrigo dados aos pobres carentes.
Isso é outra mentira. Usa-se a caridade para acobertar a fraude. Usa-se a solidariedade para permitir que um Chico Xavier seja "dono" do legado de Auta de Souza, Humberto de Campos e outros, e, se deixarmos, toda a literatura brasileira e seus autores mortos passarão a ter copyright póstumo nas "mãos espirituais" do "velho Chico".
Sim, porque Chico Xavier é o maior beneficiário dessa mentira, e o maior beneficiário da impunidade que arruina o nosso país. Ele se apropriou de mortos, de maneira leviana e oportunista, e saiu ileso e imune diante de tudo isso. Ele propagou a mentira "espírita" e virou santo por isso. Vergonhoso.
Chico Xavier foi o maior traidor de Allan Kardec, o que mais deturpou e profanou seu legado, e há ainda quem ache que ele era reencarnação do pedagogo francês. Isso é um descaramento dos piores, um acinte deplorável. Mas, como "mentira de amor" não dói, tudo fica nisso mesmo e os mortos terão que viver sem sossego, porque, mesmo já falecido, Chico Xavier acaba sendo dono de todos eles.
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