Governo golpista no Brasil, violência rolando solta no Rio de Janeiro, fundamentalismos religiosos, crise econômica mundial, corrupção. Uma realidade dura, que se conforma quando, mesmo a alguns metros adiante, ocorrem tiroteios próximos às residências das pessoas.
Enquanto isso acontece e deixa as pessoas aflitas os "espíritas" se comportam como se estivessem no mundo da lua. Todos muito, muito felizes, dizendo que o Bem está imperando na Terra e que os noticiários não passam de "mimimi" para atrair mais público e abocanhar umas boas verbas publicitárias.
Que triunfalismo é esse? Os "espíritas" são pressionados de todos os lados? Culpa nossa, por recusarmos a reconhecer o "trabalho do bem"? Não, culpa dos próprios "espíritas" que usam a filantropia apenas para camuflar a desonestidade doutrinária que cometem.
O próprio aniversariante (de morte) de hoje, Francisco Cândido Xavier, a mentira personificada - a culpa não é nossa, mas dos atos sombrios que ele fez e os chiquistas, teimosos, se recusam a aceitar, entorpecidos pelo estereótipo de "bondade" do anti-médium - , havia transmitido seu "otimismo" sobretudo em relação ao Brasil.
Chico Xavier - que, pelo jeito, por ter sido um conservador de direita, tem como único "mal" não ter se filiado ao PT, porque assim a sociedade anti-petista tivesse alguma disposição para investigar suas fraudes - acreditava, como caipira católico, na fantasia infantil de ver o Brasil dominando o mundo, na risível condição de "pátria do Evangelho".
Claro, Jesus nasceu no Brasil, natural do antigo Distrito Federal (a hoje decadente cidade do Rio de Janeiro) e passou a vida indo para cidades como Pedro Leopoldo, Uberaba e Salvador (para ir à Mansão do Caminho ou aos bilionários hotéis onde Divaldo Franco faz palestras para os riquinhos, arrecadando fortunas para construir a fortuna "espírita" enquanto os incautos pensam que nesta doutrina só tem gratuidade) para compartilhar a "boa palavra" com os famosos "médiuns".
Simples assim. Afinal, coelhinho da páscoa põe ovos, eles são de chocolate e dentro deles nascerá um carrinho. É uma maravilha, já que é o país da Escola Sem Partido, que deixará de ensinar coisas como a contribuição da negritude na cultura brasileira, os problemas da inflação e explicar por que certas pessoas se apaixonam por gente do mesmo sexo para ensinar que o primeiro homem nasceu do barro e a mulher veio depois, nascida da costela do homem.
Até mesmo as tais "profecias" de Chico Xavier, que a turminha de deslumbrados como Geraldo Lemos Neto, Juliano Pozati, Rebeca Casagrande e Laércio Fonseca acreditam serem "filosofia futurista", com seus erros grotescos de Geologia e Sociologia, viam o Brasil de maneira bastante otimista.
Tudo maravilhoso. O "velho mundo" seria destruído, primeiro por ataques terroristas e depois por cataclismas que, de forma estranha, fariam o Círculo de Fogo do Pacífico se explodir com surreal parcialidade, destruindo a Costa Oeste dos EUA (Califórnia incluída), o Havaí, o Japão, a Nova Zelândia e a Indonésia, mas deixaria o Chile intato.
Em seguida, um Brasil confuso e despreparado, com uma democracia frágil, uma imprensa decadente que surta com facilidade e um Poder Judiciário que parece não ter conhecimento exato das leis ou, se tem, as descumpre "só para sacanear", irá comandar a "comunidade das nações" porque trará "grandes lições de humanismo e fraternidade".
Papai Noel é brasileiro e seu nome não foi Nicolau, mas Adolfo Bezerra de Menezes. Quanta fantasia de um movimento religioso que parece alheio à realidade. De que "bem" eles falam? As ajudas existem como existiram antes, mas os "espíritas" tentam alegar um "momento excepcional" dos dias de hoje, como se o "progresso espiritual" tivesse chegado.
Só falta mesmo dizer que "crianças-índigo" são gente como Kim Kataguiri, Marcello Reis - líder de um grupo que (atenção "espíritas"!) tem o nome de Revoltados On Line - , Flávio Bolsonaro (o filho do "homem", no caso Jair Bolsonaro), ou a neurótica Janaína Pascoal.
Mas se, com base nas "lições sábias" de Chico Xavier, que no auge da ditadura pediu para orarmos em favor dos generais, isso no auge da repressão, tortura e censura, em 1971, somos tentados a acreditar que até o coronel Brilhante Ustra era responsável pelo "reino de amor" do futuro e que suas maldades foram apenas um meio de promover "resgates espirituais" às vítimas, estas sim algozes que voltaram para a Terra para "pagar pelo que fizeram". No "espiritismo" a vítima é a "culpada".
Então, em que planeta os "espíritas" vivem? Nosso Lar, aquele paraíso católico fictício, com hospital, BRT, VLT, cineminha, anfiteatro, capela, cachorrinhos e gatinhos correndo pelas ruas, coelhinho pulando na relva, árvores verdejantes, lanchonete onde se serve até suco de acaí e uma periferia, um subúrbio chamado "umbral" onde pessoas "provocativas" vestidas de zumbis de teatro mambembe dançam o "funk", que pelo jeito será a "batida do Coração do Mundo".
Se a gente ir fundo a essas fantasias tão "sabiamente" trazidas por Chico Xavier e Divaldo Franco, vamos nos enlouquecer. Eles não estão fora da plutocracia em que vivemos. São apoiados pela Rede Globo, que cometeu suas diabruras. A Globo também serve de porta-voz das diversas elites que estão no poder tirando o dinheiro do povo, e poucos têm noção disso e de sua gravidade.
Em vez disso, voltou-se à moda exaltar pessoas com muito status social. De repente, tecnocratas, plutocratas, aristocratas, teocratas, autocratas, burocratas etc. É por causa deles que aberrações como os ônibus com pintura padronizada que ocultam empresas de ônibus para o bem da corrupção ou as siliconadas que se acham feministas bancando as "mercadorias sexuais" sem a intromissão de algum marido ou namorado, são aceitas e até apoiadas sem questionamento.
Se essas coisas são aceitas e o "espiritismo" vive uma impunidade extrema demais para uma doutrina que se valeu de desonestidades conceituais e fraudes na paranormalidade, então aceita-se qualquer coisa. Só que, pelo menos, a crise de valores em que o Brasil vive deveria ao menos ser reconhecida. Não dá para sermos felizes nesse trágico caos da desordem estabelecida.
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