Sem querermos aqui ser petistas ou anti-petistas, a pergunta desse título é um convite à reflexão. Aqui não temos propósitos ideológicos, mas para testar até que ponto pessoas podem considerar personalidades "bondosas" ou não.
Hoje o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva foi empossado como Ministro-Chefe da Casa Civil, causando imensa revolta nos seus opositores. A posse se deu um dia depois do juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, ter divulgado uma conversa particular entre Lula e a presidenta Dilma Rousseff.
Vieram protestos dos dois lados. A raivosa revolta contra a posse de Lula e pedindo a renúncia de Dilma Rouseff e os protextos, até dentro do local da cerimônia, o Palácio do Planalto, contra a Rede Globo de Televisão, principal manipuladora do inconsciente coletivo nacional, que faz as pessoas falarem como Faustão e Luciano Huck, pensarem como William Bonner e agirem como se estivessem no elenco da novela das nove.
E aí, vem aquela visão reacionária de Lula como "o maior ladrão da História do Brasil", porque está "envolvido" com a corrupção na Petrobras, faz acordos com empreiteiros, combina esquemas de propina, etc etc etc. Muitas dessas acusações não têm provas, mas Lula é hostilizado pela sociedade de qualquer maneira, como um inimigo do establishment.
E aí, suponhamos que alguém venha dizendo: "Lula fez todo esse esquema, mas pelo menos ele é bondoso e, como presidente, ajudou muita gente". Como é que o cidadão médio, que vê o tendencioso Sérgio Moro como "herói da pátria", veria diante dessa ideia?
Nós dizemos isso porque o "espiritismo" que é feito no Brasil foi uma doutrina marcada por muitas fraudes e muita demagogia. Em outros tempos, até era mais sincero no seu desprezo a Allan Kardec, preferindo a mistificação de Jean-Baptiste Roustaing do que o cientificismo do professor francês.
Nos últimos anos, porém, o que se vê é um cafajestismo doutrinário, de uma turma que passou a adotar a chamada "postura dúbia", jurando de pés juntos que mantém "fidelidade absoluta" a Allan Kardec e "respeito rigoroso" à sua obra e no entanto se mantém a mistificação igrejeira que faz o "espiritismo" ser uma espécie de versão mais informal do Catolicismo.
E, diante de tantas denúncias de escândalos de deturpação doutrinária, envolvendo sobretudo os maiores astros do "movimento espírita", Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco. Eles são associados a escândalos graves no "movimento espírita", mas seus seguidores usam sempre a mesma desculpa: "... mas pelo menos eles eram bondosos e ajudaram muita gente".
Três observações põem em xeque o mito de "bondade" de Chico Xavier e Divaldo Franco. Primeiro, porque suas fraudes "mediúnicas" foram gravíssimas, se utilizando de falsidade ideológica, atribuindo mensagens pessoais a personalidades já falecidas.
Segundo, porque eles cometeram certas crueldades. Chico Xavier defendeu a ditadura, ofendeu as vítimas (gente humilde!) do incêndio em um circo de Niterói acusando-as de terem sido "romanos sanguinários" em outra encarnação e ainda fez comentário maldoso quando os amigos de Jair Presente, que conviveram com ele, duvidaram da suposta psicografia que usava seu nome.
Mesmo aparentemente mais "sóbrio" e "elegante", até posando de "kardecista autêntico", Divaldo Franco também fez das suas: como "medium", começou plagiando os livros de Chico Xavier e, como deturpador da Doutrina Espírita, fez coisa pior ainda: espalhou as mentiras igrejistas, com algumas lorotas esotéricas (como as "crianças-índigo", que ele pegou de um ex-casal de estadunidenses) e inseriu as mistificações brasileiras até na França de Allan Kardec!
O que se deve destacar é que esses episódios são comprovados, possuem evidências, as provas são indiscutíveis, os argumentos consistentes. Para piorar, os "espíritas" reagem a isso preferindo ficar à margem da lógica e preferir apenas o que agrada a seus pontos de vista. Daí o mito de "bondade" que eles julgam estar "acima da lógica e do bom senso".
Terceiro, a "bondade" dos dois anti-médiuns é bastante discutível. A de Chico Xavier é vaga, marcada por donativos relatados de maneira superficial, "caridades" que não têm recibo nem rigorosa comprovação. Além disso, são medidas paliativas e pouco transformadoras.
Outro aspecto é que recusar cachê de venda de livros não é em si uma caridade. E se Chico Xavier aparentemente não cobrava taxa alguma para atender as pessoas, isso também não influi muito neste sentido. Até porque ele sempre teve vida confortável, era cortejado pelos poderosos, fazia o jogo das elites, defendia políticos conservadores (os generais da ditadura e Fernando Collor) e, ao morrer, estava internado em um bom hospital de Uberaba.
Divaldo Franco, no ano passado, comemorou demais por pouca coisa. Sua Mansão do Caminho, se constatou, desde seu surgimento a instituição não ajuda mais do que 0,08% da população de Salvador. O risível é que Divaldo é considerado "o maior filantropo do Brasil" e esse índice, se já é vergonhoso em níveis municipais, em nível nacional é deplorável. Imagine o "maior filantropo do Brasil" com índice ZERO de pessoas beneficiadas.
Embora tenha que se discutir seriamente sobre o caso Lula, sem paixões ideológicas de esquerda ou direita, a verdade é que as acusações foram feitas às pressas, repercutidas pelo efeito da emoção e sem qualquer investigação séria e imparcial. O Sérgio Moro posa de imparcial e sem vínculo ideológico, mas aparece sempre nos eventos patrocinados pelo PSDB e pela mídia associada (Globo, Folha de São Paulo, Veja etc).
E aí, se alguém disser que Lula "é bondoso", o pessoal não gosta. O Bolsa Família pode até ser um projeto paliativo, mas com certeza ajuda muito mais do que a Mansão do Caminho do "maior filantropo do Brasil" que ajuda 0.000% da população nacional.
Em todos os casos, são paixões aqui e ali que movem paixões cegas e exageradas, criando "heróis" e "vilões" sem qualquer motivo consistente, movidos por estereótipos - o "bom velhinho" Chico Xavier e o "elegante mestre" Divaldo Franco contra o "brutamontes" Lula - e por convicções meramente pessoais. Pelo jeito, o pessoal anda vendo demais as novelas da Rede Globo.
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