As pessoas não sabem, mas Chico Xavier é um perigoso paiol de bombas semióticas, podemos dizer até bombas atômicas semióticas. Pois a perda de tempo do Cinegnose em passar pano no "médium" e acreditar na lorota de que Nosso Lar, ficção plagiada de A Vida Além do Véu (The Life Beyond the Veil), do inglês George Vale Owen, é documento realista de profundo valor científico, ignora o fato de que as piores bombas semióticas não estão lá longe, seja na casa de Donald Trump, nos gabinetes da OTAN, ou nas rotinas sombrias da Polônia e da Coreia do Sul.
Pois as piores bombas semióticas estão aqui perto, em Uberaba - cidade que andam vendendo a falsa imagem de "próspera e barata para viver", pois é aquela coisa: "você não paga caro, mas também não leva o que paga". Você é obsediado pelos espíritos traiçoeiros que dominam a cidade e leva gato por lebre, porque se houve preços baratos era só promoção de temporada. Tem um monte de cidade nordestina que dá um banho de água fria na cidade mineira, em termos de vida de alta qualidade e baixo custo.
A declaração de Mariana Rios, meio sem explicar direito se editou ou não uma foto dela no programa A Grande Conquista, da Record TV, e ainda mais citando o medieval Chico Xavier, só para reforçar o vitimismo tanto do "médium" quanto o da apresentadora, mostra também aspectos semióticos que devem ser devendados.
Para começar, o vitimismo. Comecemos com Mariana Rios, que já deu o seu recado no começo da mensagem: "Vou usar a discussão totalmente superficial e de uma certa forma 'boba' sobre a foto acima, para fazer uma analogia". Ela já investiu no supérfluo, já que definiu a discussão como "boba e superficial", o que mostra um desabafo desnecessário, pois ela deveria ter se prevenido para não editar a foto, pois o público já percebeu a alteração.
Já este trecho abaixo mostra não só o caráter vitimista dessa lição moralista, e que em outras situações é usada com frequência para quem erra de propósito, sem medir escrúpulos e sem se arrepender, mas precisa evitar ser criticado para não sofrer vexame:
"Vivemos uma época onde temos a necessidade de apontar as fraquezas do outro, evitando assim olhar para nossas próprias. Aprendi desde cedo em casa: Se não tenho nada a acrescentar sobre o outro, prefiro me calar. Nesse caso era só dar um zoom na foto. O que me preocupa é a quantidade de vezes em que julgamos, maltratamos e condenamos em casos sérios".
Quem não deve, não teme, e existem formas de passar por cima das críticas alheias sem apelar para o silêncio alheio. Afinal, quando uma pessoa quer abafar críticas, ela prefere reforçar suas virtudes para desmentir ataques alheios, só recomendando a outros para evitar críticas se o contexto pedir. Não vemos que o caso do Photoshop seja um motivo forte para Mariana fazer a postagem que fez.
O que Mariana Rios não percebe é que a doutrina do seu ídolo Chico Xavier é a que mais apontava fraquezas nos outros, com os "espíritas" gracejando dos argueiros dos olhos dos neopentecostais, enquanto o "espiritismo" brasileiro tem as suas traves. O mais irônico é que o "bispo" da Igreja Universal, principal seita neopentecostal, Edir Macedo, é patrão de Mariana Rios.
Chico Xavier zombando da desconfiança dos amigos de Jair Presente quanto às "psicografias", chamando essa desconfiança de "bobagem da grossa", já é apontar fraqueza alheia. E os juízos de valor, com o "bondoso médium" acusando as vítimas do incêndio criminoso de um circo em Niterói, em 1961, de terem sido "romanos sanguinários" em outra vida, também é "julgar, maltratar e condenar", o que piora se levarmos em conta que as vítimas eram quase todas pessoas humildes, sem dinheiro para processar o "médium" por danos morais.
Em seguida, o que vemos, agora, é a bomba semiótica propriamente dita, com a mensagem do próprio Chico Xavier dotada de muito vitimismo e que o "médium" deveria ter dirigido para ele mesmo, um grande foragido da verdade desde que se tornou o maior inimigo interno de todos que se intrometeram inescrupulosamente na Doutrina Espírita. Dúvidas? Leiam a obra O Livro dos Médiuns de Allan Kardec e verão que o livro reprova inúmeros aspectos relacionados a Chico Xavier. Vamos à mensagem:
"É sempre fácil examinar as consciências alheias, identificar os erros do próximo, opinar em questões que não nos dizem respeito, indicar as fraquezas dos semelhantes, educar os filhos dos vizinhos, reprovar as deficiências dos companheiros, corrigir os defeitos dos outros, aconselhar o caminho reto a quem passa, receitar paciência a quem sofre e retificar as más qualidades de quem segue conosco... Mas enquanto nos distraimos, em tais incursões a distância de nós mesmos, não passamos de aprendizes que fogem, levianos, à verdade e à lição".
O relato é a própria descrição do que Chico Xavier fez, de opinar em questões que não lhe diziam respeito até receitar paciência a quem sofre. Só que o traiçoeiro "médium", de fala mole mas de pregações obscurantistas de fazer os neopentecostais ficarem de queixo caído, sempre foi um sujeito que fugiu, leviano, à verdade e à lição.
Uma prova disso são os escândalos de falsa materialização, aqueles espetáculos grosseiros de ilusionismo, divididos em voluntários disfarçando a vontade de vomitar com pontas de gazes curativas enfiadas na boca, simulando ectoplasma, e modelos com "cabeça de papel", ou seja, pessoas cobertas de cobertores e capuzes brancos com fotos mimeografadas de personalidades mortas coladas sobre o rosto.
Em 1954, Chico Xavier estava envolvido com um desses espetáculos. Um radialista, em off, fazia a voz do Emmanuel falsamente materializado, com a parte impressa do famoso desenho do jesuíta montada sobre uma maquete que lembra o Cristo Redentor e, no fim da cerimônia, a elegante voz recomendou para Chico Xavier dar fim a essas práticas, priorizando apenas a produção de livros.
Mas dez anos depois, Chico Xavier já havia bolado, com Otília Diogo, um outro espetáculo de falsa materialização, com a farsante encenando alguns personagens, das quais se destacava a religiosa Irmã Josefa. O escândalo foi denunciado, mas somente Otília Diogo foi punida. Chico Xavier, participando com gosto do triste espetáculo, saiu de fininho e foi beneficiado pela impunidade.
Chico Xavier só vivia fugindo. Fugiu da cadeia, em 1944, beneficiado por um juiz suplente de terceiro escalão, deixando o "caso Humberto de Campos" na impunidade. Fugiu da terra natal, a atrasada e interiorana Pedro Leopoldo, só "com a roupa no corpo", em 1959, depois que as denúncias do sobrinho Amauri Xavier (falecido em ocasiões bastante suspeitas), fizeram o "médium" ser excomungado pela Igreja Católica local.
Mesmo quando Chico Xavier mostrou a que veio, com seu reacionarismo de fazer qualquer bolsonarista urrar de excitação, durante entrevista ao Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971, foi a mídia da época que faltou com a verdade. O jornal Última Hora, já convertido num jornaleco pró-ditadura ao ser arrendado para uma empresa imobiliária, passou pano em Chico Xavier e disse que ele "defendeu a ditadura por estratégia", ou seja, para evitar ser preso.
Tese sem pé nem cabeça: Chico Xavier, se não fosse apoiador, e dos radicais, da ditadura militar, teria se mudado para o exílio, nem que seja por meio de viagem de navio (o "médium" tinha medo de avião) e exilado em Lyon, na França, para puxar o saco de Allan Kardec.
Essas são as principais bombas semióticas do caso: vitimismo, por parte de Mariana Rios, que fez do caso do Photoshop uma tempestade num copo d'água, e por parte de um antigo depoimento de Chico Xavier, que deixou vazar que ele mesmo é um grande fugitivo da verdade. Daí a "queima de arquivo" que, muito provavelmente, representou a morte estranha do sobrinho Amauri.
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