Pular para o conteúdo principal

Rio de Janeiro e a mesmice que não quer acabar (ou quer acabar com o povo)


O Rio de Janeiro deixou de ser um Estado de um povo combativo e insubmisso para ser um local de gente resignada, que aceita qualquer prejuízo e transtorno no seu dia-a-dia, iludida com a suposta reputação superior de políticos, empresários, tecnocratas, celebridades ou religiosos.

A decadência do Rio não é só econômica, política ou policial. Ela atinge vários valores, vários procedimentos, vários fenômenos, e as pessoas acreditam que, segurando uma Bíblia ou um livro de Francisco Cândido Xavier (que todos conhecem como o "adorável" Chico Xavier), estarão protegidas e podem sofrer todo tipo de infortúnio.

Mesmo em âmbitos como o transporte - já que os ônibus são o principal meio de se deslocar aqui e ali - ou o entretenimento midiático - como o rádio que muitos ainda ouvem - , o Rio de Janeiro virou um palco de medidas decadentes e voltadas à mesmice.

Amanhã sairá do ar a desastrada Rádio Cidade, que se lançava como um suposto canal de expressão da rebeldia juvenil. A Cidade usava o rock como trilha sonora mas era um rock limitado aos "sucessos das paradas" e, salvo exceções, predominantemente ruim, ancorado no pior do nu metal e do poser.

A Cidade sai de cena mais ou menos como Eduardo Cunha saiu da Câmara dos Deputados. Em ambos os casos, por causa de condutas retrógradas. A Cidade com sua mentalidade pop, mais preocupada em criar programas de besteirol cujas músicas de rock eram mais um gancho do que o foco principal. Em vários programas, esperava-se até que ex-membros do Big Brother Brasil, que pagam pau para qualquer evento de "sertanejo", fossem entrevistados.

O fim da Cidade, a se consumar no fim deste mês, foi motivo de muito choro de carneirinhos submissos, que nem tinham ideia das bandas que ouviam - não viam diferença entre um Soundgarden e um Rage Against The Machine - desde que fizessem um mesmo som de guitarras distorcidas, vocais agonizantes e baterias nervosas. Se botasse som de britadeira com máquina Bosch em cima, iam imaginar que tudo isso também era "rock'n'roll".

Mas a breve existência dessa rádio, que os ouvintes fanáticos viram como um milagre religioso - sim, gente dizendo que foi Deus que fez a Rádio Cidade voltar ao "roquenrol" - , estava aquém de um Estado que teve emissoras como Fluminense e Eldo Pop, já que a Cidade nunca teve, sempre quando explorava o rock, uma equipe especializada no gênero, sendo quase toda composta por locutores pop, gente com talento para contar piadas, mas sem competência para representar o rock.

Tinha que fracassar, afinal, decadência no Rio tem limites. Até porque, pelo jeito, faltou dinheiro para fortalecer o marketing da Cidade, que seria na prática um veículo oficial das empresas organizadoras de eventos. A programação era tão ruim que a audiência sempre era baixa, por mais que a minoria de ouvintes fosse entusiasmada e ostensiva.

Mas se a Cidade não persistiu, as autoridades tentam manter na marra a horrenda medida da pintura padronizada nos ônibus, que fazem empresas diferentes serem visualmente iguais. Os passageiros ficam resignados, mas é um sacrifício pegar um ônibus nas ruas cariocas e prestar atenção duas vezes para não pegar ônibus errado, porque se ir ao destino errado pode ser garantia de encontro com um bandido depois do desembarque.

Isso para não dizer os acidentes diversos. Dá pena a Prefeitura do Rio de Janeiro, que empurrou essa medida grosseira que nem o Movimento Passe Livre tem coragem de combater, mostrar desfile de ônibus novos todos padronizadinhos, que daqui a quatro meses circularão com lataria amassada, com acidentes com mais de 20 feridos, representando empresas de ônibus que mudarão de nome, trocarão de linhas e o povo carioca sendo sempre o último a saber.

E a imprensa não critica isso? Porque é bonito ônibus mostrar logotipo de prefeitura, empresa A ter a mesma pintura de empresa B, porque é visto como um erro menor uma empresa ter um nome, depois ter outro, depois voltar ao nome antigo, depois ter outro nome, mudar razão social e usar a pintura padronizada para "legitimar" ônibus com documentação vencida etc etc etc.

E por que a imprensa não critica nem sai protestando contra isso? Por que a opinião pública não parte contra os ônibus padronizados, mera propaganda política travestida de mobilidade urbana? As pessoas, com tantas coisas a fazer e com muitas coisas a memorizar, são obrigadas a prestar atenção para não pegar, por engano, um ônibus para a Tijuca achando que pegou para o Leblon.

A sociedade do Grande Rio teve uma trabalheira para fazer extinguir a Transmil (empresa da Baixada Fluminense marcada pelo péssimo serviço), só porque foi possível identificá-la pela pintura própria, pois, se ela tivesse a mesma pintura de uma Caravelle, Reginas ou uma Flores as dificuldades seriam enormes, a empresa estaria circulando livremente, ainda que fosse obrigada a usar um pseudônimo para dar a falsa impressão de outra empresa entrando no lugar.

Ficamos imaginando o que significaram uma "rádio rock" com nome de Rádio Cidade (do Rio de Janeiro) e uma pintura padronizada onde se destaca o nome "Cidade do Rio de Janeiro". A marca "Cidade do Rio de Janeiro", feita para turista ver, para norte-americanos ligarem o rádio e ouvir seus grunges na "Rádio Cidade do Rio de Janeiro" e circularem pela cidade com os ônibus "Cidade do Rio de Janeiro", só revela uma propaganda fajuta de autoridades atrapalhadas.

Por outro lado, havia o medinho da Rádio Cidade voltar como emissora meramente pop, como há o medinho de ver cada empresa de ônibus municipal voltando a ter sua pintura própria. De repente os cariocas adquiriram certas neuroses, e depois não gostam quando falamos que o Rio de Janeiro anda decadente.

Estas duas medidas, na Comunicação e no Transporte, são amostras de um Rio decadente, movido pelo fanatismo esportivo, pelo consumismo frenético, pela obsessão doentia das mídias sociais, pela mercantilização até mesmo das relações de amizade, das mulheres insensíveis, dos supermercados com operadores de caixa lentos e com estoques faltando, do comércio caro, das pessoas fumando, dos políticos mentindo, dos tecnocratas prepotentes, dos religiosos donos da verdade etc.

A saída de Eduardo Cunha do trabalho do Legislativo federal e da Rádio Cidade são apenas males que tiveram que ser extirpados à força das circunstâncias. Mas o Rio de Janeiro de seus ônibus padronizadinhos e refrigeradinhos, sem cobrador e destinados aos próximos acidentes de trânsito que irão ferir mais de 20 passageiros, precisa tomar muito mais juízo, porque sua decadência o fez o pior Estado do Brasil, com uma decadência atingindo dimensões olímpicas. Algo tem que mudar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente

Chico Xavier, que abençoou João de Deus, fez assédio moral a Humberto de Campos Filho

HUMBERTO DE CAMPOS FILHO SOFREU ASSÉDIO MORAL DE CHICO XAVIER PARA TENTAR ABAFAR NOVOS PROCESSOS JUDICIAIS. Dizem que nunca Uberaba ficou tão próxima de Abadiânia, embora fossem situadas em Estados diferentes. Na verdade, as duas cidades são relativamente próximas, diferindo apenas na distância que requer cerca de seis horas e meia de viagem. Mas, com o escândalo de João Teixeira de Faria, o João de Deus, até parece que as duas cidades se tornaram vizinhas. Isso porque o "médium" Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, em que pese a sua reputação oficial de "espírito de luz" e pretenso símbolo de amor e bondade humanas, consentiu, ao abençoar João de Deus, com sua trajetória irregular e seus crimes. Se realmente fosse o sábio e o intuitivo que tanto dizem ser, Chico Xavier teria se prevenido e iniciado uma desconfiança em torno de João de Deus, até pressentindo seu caráter leviano. Mas Chico nada o fez e permitiu que se abrisse o c

Falsas psicografias de roqueiros: Cazuza

Hoje faz 25 anos que Cazuza faleceu. O ex-vocalista do Barão Vermelho, ícone do Rock Brasil e da MPB verdadeira em geral (não aquela "verdadeira MPB" que lota plateias com facilidade, aparece no Domingão do Faustão e toca nas horrendas FMs "populares" da vida), deixou uma trajetória marcada pela personalidade boêmia e pela poesia simples e fortemente expressiva. E, é claro, como o "espiritismo" é marcado por supostos médiuns que nada têm de intermediários, porque se tornam os centros das atenções e os mais famosos deles, como Chico Xavier e Divaldo Franco, tentaram compensar a mediunidade irregular tentando se passar por pretensos pensadores, eventualmente tentando tirar uma casquinha com os finados do além. E aí, volta e meia os "médiuns" que se acham "donos dos mortos" vêm com mensagens atribuídas a este ou aquele famoso que, por suas irregularidades em relação à natureza pessoal de cada falecido, eles tentam dar uma de bonzinh

O grande medo de Chico Xavier em ver Lula governando o país

Um bom aviso a ser dado para os esquerdistas que insistem em adorar Francisco Cândido Xavier é que o "médium" teve um enorme pavor em ver Luís Inácio Lula da Silva presidindo o Brasil. É sabido que o "médium" apoiou o rival Fernando Collor de Mello e o recebeu em sua casa. A declaração foi dada por Carlos Baccelli, em citação no artigo do jurista Liberato Póvoas ,  e surpreende a todos ao ver o "médium" adotando uma postura que parecia típica nas declarações da atriz Regina Duarte. Mas quem não se prende à imagem mitificada e fantasiosa do "médium", vigente nos últimos 40 anos com alegações de suposto progressismo e ecumenismo, verá que isso é uma dolorosa verdade. Chico Xavier foi uma das figuras mais conservadoras que existiu no país. Das mais radicais, é bom lembrar muito bem. E isso nenhum pensamento desejoso pode relativizar ou negar tal hipótese, porque tal forma de pensar sempre se sustentará com ideias vagas e devaneios bastante agr

Se Chico Xavier fosse progressista, não haveria a ascensão de Jair Bolsonaro

É um dever questionarmos, até com certa severidade, o mito de Francisco Cândido Xavier. Questionar sem ódio, mas também sem medo, sem relativismos e sem complacências, com o rigor de quem não mede palavras para identificar erros, quando estes são muito graves. Vale lembrar que esse apelo de questionar rigorosamente Chico Xavier não vem de evangélico alucinado nem de qualquer moleque intolerante da Internet - até porque o dito "espiritismo" brasileiro é uma das religiões não só toleradas no país, mas também blindadas pelas classes dominantes que adoram essa "filantropia de fachada" que traz mais adoração ao "médium" do que resultados sociais concretos - , mas da própria obra espírita original. É só ler Erasto, que recomendava rigor no repúdio e no combate aos deturpadores dos ensinamentos espíritas. E mais: ele lembrava que eventualmente os maus espíritos (ou, no contexto brasileiro, os maus médiuns) trazem "coisas boas" (as ditas "mens

Caso João de Deus é apenas a ponta do iceberg de escândalos ainda piores

A FAMIGLIA "ESPÍRITA" UNIDA. Hoje o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, se entregou à polícia de Goiás, a pedido do Ministério Público local e da Polícia Civil. Ele é acusado de assediar sexualmente mais de 300 mulheres e de ocultar um patrimônio financeiro que o faz um dos homens mais ricos do Estado. João nega as acusações de assédio, mas provas indicam que eles ocorreram desde 1983. Embora os adeptos do "espiritismo" brasileiro façam o possível para minimizar o caso, ele é, certamente, a ponta do iceberg de escândalos ainda piores que podem acontecer, que farão, entre outras coisas, descobrir as fraudes em torno de atividades supostamente mediúnicas, que, embora com fortes indícios de irregularidades, são oficialmente legitimadas por parecerem "agradáveis" e "edificantes" para o leitor brasileiro médio. O caso João de Deus é apenas o começo, embora ele não tenha sido o único escândalo. Outro

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi

Chico Xavier e Divaldo Franco NÃO têm importância alguma para o Espiritismo

O desespero reina nas redes sociais, e o apego aos "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco chega aos níveis de doenças psicológicas graves. Tanto que as pessoas acabam investindo na hipocrisia para manter a crença nos dois deturpadores da causa espírita em níveis que consideram ser "em bons termos". Há várias alegações dos seguidores de Chico Xavier e Divaldo Franco que podemos enumerar, pelo menos as principais delas: 1) Que eles são admirados por "não-espíritas", uma tentativa de evitar algum sectarismo; 2) Que os seguidores admitem que os "médiuns" erram, mas que eles "são importantes" para a divulgação do Espiritismo; 3) Que os seguidores consideram que os "médiuns" são "cheios de imperfeições, mas pelo menos viveram para ajudar o próximo". A emotividade tóxica que representa a adoração a esses supostos médiuns, que em suas práticas simplesmente rasgaram O Livro dos Médiuns  sem um pingo de es

Carlos Baccelli era obsediado? Faz parte do vale-tudo do "espiritismo" brasileiro

Um episódio que fez o "médium" Carlos Bacelli (ou Carlos Baccelli) se tornar quase uma persona non grata  de setores do "movimento espírita" foi uma fase em que ele, parceiro de Francisco Cândido Xavier na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estava sendo tomado de um processo obsessivo no qual o obrigou a cancelar a referida parceria com o beato medieval de Pedro Leopoldo. Vamos reproduzir aqui um trecho sobre esse rompimento, do blog Questão Espírita , de autoria de Jorge Rizzini, que conta com pontos bastante incoerentes - como acusar Baccelli de trazer ideias contrárias a Allan Kardec, como se Chico Xavier não tivesse feito isso - , mas que, de certa forma, explicam um pouco do porquê desse rompimento: Li com a maior atenção os disparates contidos nas mais recentes obras do médium Carlos A. Bacelli. Os textos, da primeira à última página, são mais uma prova de que ele está com os parafusos mentais desatarraxados. Continua vítima de um processo obsessi