SOPA DOS POBRES - No exterior, é apenas um socorro paliativo. No Brasil, porém, é visto erroneamente como "revolução social".
Hoje, dia dos "espíritas" se lembrarem do seu festejado ídolo Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier, a doutrina que vive a fase "dúbia", oscilando entre uma apreciação um tanto oportunista e hipócrita do legado de Allan Kardec e um igrejismo entusiasmado que vai contra esse mesmo legado, tenta prevalecer com suas manobras discursivas.
O mau espiritismo, a incompreensão ou mesmo a ignorância de muitas práticas e ideias estudadas pelo pedagogo de Lyon, tenta compensar esse grave equívoco com a farsa do bom-mocismo. É como se os "espíritas" admitissem que são maus kardecianos, mas são "pessoas boazinhas".
É o que se vê nas palestras "espíritas" e nos textos publicados em vários veículos, principalmente na Internet. Mensagens "positivas", ações "filantrópicas", um desfile de "palavras de amor" ao lado de figuras de corações desenhados ou fotos de crianças sorridentes, ou de meninos negros tomando sopa, todo esse marketing feito para boi dormir.
"Nosso diferencial é a bondade", dizem os "espíritas", como se quisessem convencer alguém com isso. Até convencem, já que muitos de seus seguidores vão dormir tranquilos com isso. Só que tratar a bondade como um diferencial soa como a pior das hipocrisias.
Isso porque, se uma instituição considera a bondade como seu diferencial, está na verdade dizendo que só a instituição é que pode ser boa, o resto não presta ou "não" trabalha a bondade conforme "o desejado".
Além disso, a ideia de usar a bondade como diferencial revela uma série de problemas. Primeiro, bondade não tem religião. Segundo, bondade não é uma qualidade específica para instituição alguma, é uma qualidade geral que deveria fazer parte de todos. Terceiro, porque se uma instituição define como sua maior qualidade a bondade, é porque ela é incompetente.
Imagine um hospital que não atende direito as pessoas. Médicos estão ausentes, corredores e salas estão superlotados. Recintos estão infectados, e até a sala de curativos carece de higiene adequada. Pessoas são deitadas no chão e atendidas ali mesmo por enfermeiros que improvisam tratamentos, sem se especializarem das doenças relacionadas.
Digamos que, com todo esse quadro, o diretor do hospital divulgue mensagens de paz, amor e fraternidade. A propaganda mostra a instituição hospitalar como um ambiente acolhedor, uma convivência entre irmãos, e a mensagem diz que a bondade é a marca desta instituição.
As pessoas vão acreditar nisso? Será que isso faz sentido? Será que o quadro humilhante dos pacientes pode ser compensado com uma "aura" de "fraternidade" trazida pela dócil e benevolente propaganda do hospital, com suas mensagens alegres, seu fundo musical adocicado e tudo o mais?
Mas as pessoas aceitam que uma doutrina que não entende bem o pensamento científico de Allan Kardec, que corrompe o legado do professor francês com igrejismo embolorado, e gosmento, que só pratica mediunidade de faz-de-conta ou curandeirismo mediúnico com espíritos grosseiros e práticas duvidosas, diga que seu diferencial é a "bondade".
Era mais ou menos isso que ocorreu com as "casas dos moribundos" de Madre Teresa de Calcutá, com pessoas alojadas em condições sub-humanas e atendidas com descaso ou incompetência pelas assistentes. Enquanto isso, se propagou todo um discurso de "fraternidade" que garantiu a imagem de "santa" da "filantropa", que será em breve oficializada pelo Vaticano.
E aí vem todo aquele papo de filantropia em que pouco se faz e muito se comemora. Vide a "caridade" de Chico Xavier, em muitos aspectos duvidosa, em muitos outros perigosa (como expor as tragédias familiares daquela maneira ostensiva, sensacionalista e piegas), ou vide a "caridade" de Divaldo Franco, bem menos expressiva (beeeeem menos...) do que se alardeia por aí.
Que transformação essas "caridades" fizeram? Nenhuma! Apenas pessoas transformadas em cidadãos medianos, religiosamente amestrados, que apenas fazem algumas coisas corretamente, sem deixarem marca como figuras humanas e sem ameaçar o sistema de desigualdades e injustiças existente.
Há tantas pessoas, fora desse "espiritismo" igrejeiro, que fazem muito mais pelo próximo, e no entanto são acusadas de "comunistas", "lavadores de cérebros", "manipuladores de pessoas", só porque desafiam o sistema de desigualdades vigente. Vide o educador Paulo Freire, por exemplo.
Quer dizer, uma pessoa que é ensinada a ver o mundo de maneira crítica e nele intervém de forma a desagradar os privilegiados do poder é considerada "manipulada" e sua escola, "fábrica de lunáticos". Da mesma forma, sofrem esta discriminação pessoas que são ensinadas a ler, escrever, pensar e agir para defender, por exemplo, a reforma agrária.
Já quem apenas é ensinado a ler, escrever e aprender uma profissão, mas também a ser um cordeirinho social dotado de crendices religiosas, claramente submisso e resignado, é visto como "atuante" e sua escola é tida como "transformadora" e "revolucionária".
Com o mesmo sentido, dar sopa aos pobres, que é uma medida paliativa necessária em casos extremos, só é vista como "revolucionária" no Brasil, enquanto, por outro lado, a luta por reforma agrária para que pequenos agricultores possam também plantar e produzir seus próprios alimentos é condenada pelos mesmos que preferem a "revolução pela sopinha".
São valores trocados. A educação que faz pessoas se unirem para lutar por melhorias de vida e ensina a ver o mundo de maneira crítica é vista, erroneamente, como "manipuladora". Já a educação que produz beatos religiosos que apenas fazem coisas inócuas, embora corretas e necessárias, é vista, tendenciosamente, como "transformadora".
Como definir como transformadora uma educação que não transforma, mas manipula, e definir como manipuladora uma educação que não manipula, mas transforma, é algo que ocorre só mesmo num país como o Brasil, cheio de contradições e equívocos.
Daí o grande problema do "espiritismo", que com seu igrejismo perde toda sua eficácia, o que mostra que não é o bom-mocismo que irá compensar as deturpações doutrinárias cometidas, muito pelo contrário. O bom-mocismo, mascarando a incompreensão da Doutrina Espírita, só atrapalha mais ainda no desenvolvimento moral das pessoas, domesticado pela fé religiosa.
Hoje, dia dos "espíritas" se lembrarem do seu festejado ídolo Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier, a doutrina que vive a fase "dúbia", oscilando entre uma apreciação um tanto oportunista e hipócrita do legado de Allan Kardec e um igrejismo entusiasmado que vai contra esse mesmo legado, tenta prevalecer com suas manobras discursivas.
O mau espiritismo, a incompreensão ou mesmo a ignorância de muitas práticas e ideias estudadas pelo pedagogo de Lyon, tenta compensar esse grave equívoco com a farsa do bom-mocismo. É como se os "espíritas" admitissem que são maus kardecianos, mas são "pessoas boazinhas".
É o que se vê nas palestras "espíritas" e nos textos publicados em vários veículos, principalmente na Internet. Mensagens "positivas", ações "filantrópicas", um desfile de "palavras de amor" ao lado de figuras de corações desenhados ou fotos de crianças sorridentes, ou de meninos negros tomando sopa, todo esse marketing feito para boi dormir.
"Nosso diferencial é a bondade", dizem os "espíritas", como se quisessem convencer alguém com isso. Até convencem, já que muitos de seus seguidores vão dormir tranquilos com isso. Só que tratar a bondade como um diferencial soa como a pior das hipocrisias.
Isso porque, se uma instituição considera a bondade como seu diferencial, está na verdade dizendo que só a instituição é que pode ser boa, o resto não presta ou "não" trabalha a bondade conforme "o desejado".
Além disso, a ideia de usar a bondade como diferencial revela uma série de problemas. Primeiro, bondade não tem religião. Segundo, bondade não é uma qualidade específica para instituição alguma, é uma qualidade geral que deveria fazer parte de todos. Terceiro, porque se uma instituição define como sua maior qualidade a bondade, é porque ela é incompetente.
Imagine um hospital que não atende direito as pessoas. Médicos estão ausentes, corredores e salas estão superlotados. Recintos estão infectados, e até a sala de curativos carece de higiene adequada. Pessoas são deitadas no chão e atendidas ali mesmo por enfermeiros que improvisam tratamentos, sem se especializarem das doenças relacionadas.
Digamos que, com todo esse quadro, o diretor do hospital divulgue mensagens de paz, amor e fraternidade. A propaganda mostra a instituição hospitalar como um ambiente acolhedor, uma convivência entre irmãos, e a mensagem diz que a bondade é a marca desta instituição.
As pessoas vão acreditar nisso? Será que isso faz sentido? Será que o quadro humilhante dos pacientes pode ser compensado com uma "aura" de "fraternidade" trazida pela dócil e benevolente propaganda do hospital, com suas mensagens alegres, seu fundo musical adocicado e tudo o mais?
Mas as pessoas aceitam que uma doutrina que não entende bem o pensamento científico de Allan Kardec, que corrompe o legado do professor francês com igrejismo embolorado, e gosmento, que só pratica mediunidade de faz-de-conta ou curandeirismo mediúnico com espíritos grosseiros e práticas duvidosas, diga que seu diferencial é a "bondade".
Era mais ou menos isso que ocorreu com as "casas dos moribundos" de Madre Teresa de Calcutá, com pessoas alojadas em condições sub-humanas e atendidas com descaso ou incompetência pelas assistentes. Enquanto isso, se propagou todo um discurso de "fraternidade" que garantiu a imagem de "santa" da "filantropa", que será em breve oficializada pelo Vaticano.
E aí vem todo aquele papo de filantropia em que pouco se faz e muito se comemora. Vide a "caridade" de Chico Xavier, em muitos aspectos duvidosa, em muitos outros perigosa (como expor as tragédias familiares daquela maneira ostensiva, sensacionalista e piegas), ou vide a "caridade" de Divaldo Franco, bem menos expressiva (beeeeem menos...) do que se alardeia por aí.
Que transformação essas "caridades" fizeram? Nenhuma! Apenas pessoas transformadas em cidadãos medianos, religiosamente amestrados, que apenas fazem algumas coisas corretamente, sem deixarem marca como figuras humanas e sem ameaçar o sistema de desigualdades e injustiças existente.
Há tantas pessoas, fora desse "espiritismo" igrejeiro, que fazem muito mais pelo próximo, e no entanto são acusadas de "comunistas", "lavadores de cérebros", "manipuladores de pessoas", só porque desafiam o sistema de desigualdades vigente. Vide o educador Paulo Freire, por exemplo.
Quer dizer, uma pessoa que é ensinada a ver o mundo de maneira crítica e nele intervém de forma a desagradar os privilegiados do poder é considerada "manipulada" e sua escola, "fábrica de lunáticos". Da mesma forma, sofrem esta discriminação pessoas que são ensinadas a ler, escrever, pensar e agir para defender, por exemplo, a reforma agrária.
Já quem apenas é ensinado a ler, escrever e aprender uma profissão, mas também a ser um cordeirinho social dotado de crendices religiosas, claramente submisso e resignado, é visto como "atuante" e sua escola é tida como "transformadora" e "revolucionária".
Com o mesmo sentido, dar sopa aos pobres, que é uma medida paliativa necessária em casos extremos, só é vista como "revolucionária" no Brasil, enquanto, por outro lado, a luta por reforma agrária para que pequenos agricultores possam também plantar e produzir seus próprios alimentos é condenada pelos mesmos que preferem a "revolução pela sopinha".
São valores trocados. A educação que faz pessoas se unirem para lutar por melhorias de vida e ensina a ver o mundo de maneira crítica é vista, erroneamente, como "manipuladora". Já a educação que produz beatos religiosos que apenas fazem coisas inócuas, embora corretas e necessárias, é vista, tendenciosamente, como "transformadora".
Como definir como transformadora uma educação que não transforma, mas manipula, e definir como manipuladora uma educação que não manipula, mas transforma, é algo que ocorre só mesmo num país como o Brasil, cheio de contradições e equívocos.
Daí o grande problema do "espiritismo", que com seu igrejismo perde toda sua eficácia, o que mostra que não é o bom-mocismo que irá compensar as deturpações doutrinárias cometidas, muito pelo contrário. O bom-mocismo, mascarando a incompreensão da Doutrina Espírita, só atrapalha mais ainda no desenvolvimento moral das pessoas, domesticado pela fé religiosa.
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