No Brasil, a impunidade envolve alguns beneficiados. Magistrados têm privilégios vitalícios, podem andar armados e ganhar salários exorbitantes. Banqueiros vivem com fortunas estratosféricas, que lhes protegem de qualquer crise econômica. Empresários rentistas mantém contas bancárias em paraísos fiscais que também protegem megacorporações que ficam trocando de CEO como quem troca de roupa e nem se houver o fim do mundo elas entram em falência.
Feminicidas ricos, não bastasse a impunidade criminal que recebem, não têm mortes divulgadas na imprensa e, se morrerem precocemente, em tempos de NVidia Bios, Adobe Photoshop e fake news, podem "viver longamente" às custas da tecnologia digital e da produção de informações falsas. Enquanto um cadáver de um feminicida apodrece cremado no caixão, vemos uma "nova entrevista" dele, com "foto inédita" produzida pelo NVidia Bios e cenário editado no Photoshop, afirmando que, mesmo com mais de 90 anos de idade, virou youtuber e está postando adoidado no Instagram.
Mas também religiosos podem ter benefícios similares, pela impunidade e imunidade que recebem. Eles são os únicos que podem produzir literatura fake à vontade, que a chance de um processo judicial, se houver, termina em pizza. Ser "médium espírita" garante mais blindagem do que ser político do PSDB. O carro blindado de um tucano, se comparado ao de um "médium", mais parece um carrinho de sorvete.
Mas temos o "médium" João de Deus acusado de vários crimes. Mas ele é como um tucano de baixa plumagem, ele não era tão badalado assim. Até chegou perto, virou queridinho dos ricos e famosos, mas depois vazaram as denúncias de assédio sexual, enriquecimento ilícito, porte ilegal de armas e tráfico de bebês etc.
Os "médiuns" badalados continuam sendo blindados de tal forma que até seus piores erros são atribuídos à responsabilidade de terceiros. Mesmo sob o risco de cair em contradição, quando se pergunta onde está a "firmeza" do "grande médium" quando ele é acusado de ter sido obsediado ao cometer um grave erro, essas lorotas convencem muita gente e há exércitos de defensores radicais dessa falácia toda que inocenta um "médium".
É o que vemos com Francisco Cândido Xavier, que fez as coisas mais horripilantes em termos de deturpação do Espiritismo, fraudes "mediúnicas", juízos de valor cruéis e reacionarismo ideológico. Da usurpação traiçoeira de nomes como o escritor Humberto de Campos - que, em vez de dar uma vaga ao "médium" na Academia Brasileira de Letras, o recomendou não produzir obras atribuídas a autores mortos - ao juízo de valor que acusou tanta gente humilde de ter sido sanguinária em uma encarnação medieval, Chico fez das suas e saiu ileso, malandramente.
ABUSOS EM NOME DO "ESPIRITISMO"
Chico Xavier, em uma única pessoa, sintetizou a esperteza de Aécio Neves, o reacionarismo ufanista de Jair Bolsonaro, o misticismo pedante e moralista de Olavo de Carvalho, a caridade ostensiva mas fajuta de Luciano Huck, a "beleza interior" de Allison Mack e ainda foi o lápis que melhor traduziu o pensamento de Jean-Baptiste Roustaing para a realidade brasileira.
Blindado até o extremo, pelos seus fanáticos seguidores e por uma "patrulha canina" que finge imparcialidade, cobrando "fundamento científico" dos outros, mas aceitando que juízos de valor contra pobres cidadãos e especulações sobre o mundo espiritual, ao serem trazidos por Chico Xavier, são dispensados de qualquer fundamento científico, bastando apenas um arremedo de monografia (mais uma verborragia do que um trabalho científico) para autenticar tamanhas fantasias.
Chico Xavier é a única pessoa cuja biografia precisa ficar no reino da fantasia. Tem que prevalecer a imagem de "fada-madrinha do mundo real" e seus seguidores ou mesmo os simpatizantes "menos atrelados" - a tal "patrulha canina", que até admite "não ir com a cara de Emmanuel" mas jura que o embuste Parnaso de Além-Túmulo é "autêntico" - batem o pé. Nada de realismo: a fantasia é o "realismo".
Infelizmente, deve-se prevalecer apenas pontos agradáveis. De suposto filantropo a pretenso pensador. Nada do terrível deturpador que rasgou e jogou no lixo as lições kardecianas sem um pingo de escrúpulo. Nada do reacionário que esculhambou proletários, camponeses e sem-teto num programa de TV de grande audiência. Nada do criador de pastiches literários que só não fazia sozinho, pois contava com a ajuda de uma equipe de editores da FEB.
Só, talvez, a "patrulha canina", a ala "menos radical" dos chiquistas, admita "certos defeitos" e "alguns exageros", só para dar um verniz "imparcial" à sua idolatria. É mais uma questão de dissimular a adoração para não parecer ridícula, daí o ar de objetividade que esses pretensos "donos da razão" impõem de si aos outros.
Mas essa "patrulha canina" não difere, na essência, aos fanáticos mais deslumbrados pelo "médium". Juntando ambos os tipos, eles sempre têm medo de ver críticas mais severas contra Chico Xavier, baseado sempre na imagem adocicada do "médium". Caem em contradições o tempo todo para defendê-lo, sem decidir se ele é um "homem simples" ou um "poderoso líder religioso".
ENSINAMENTOS KARDECIANOS RECOMENDAM MAIOR RIGOR NA CRÍTICA AOS DETURPADORES
É constrangedor ver que os erros e abusos que envolvem o "espiritismo" brasileiro sejam vistos como "fenômenos à parte", enquanto Chico Xavier, que abriu caminho a essas travessuras através de suas próprias, é livrado de culpa praticamente na marra, por seus seguidores mais ou menos radicais.
Recentemente, temos as denúncias de João Teixeira de Faria, o João de Deus, que arruinaram sua reputação que parecia ascendente. Mais uma vez, os seguidores de Chico Xavier tentam dissociá-lo do goiano, apesar do "médium" mineiro tê-lo abençoado e o acolhido como aprendiz e potencial discípulo. Como um "médium" tido como "sábio" e "intuitivo" como Chico não era capaz de se prevenir contra um picareta? É sinal que Chico era também um picareta.
Mas isso não podemos dizer. A criançada chora muito, aos berros e soluços. Para todo efeito, Chico Xavier "foi enganado" por Jean-Baptiste Roustaing, Amauri Xavier, Otília Diogo, João de Deus e o escambau. O esperto Chico Xavier tem que, ao menos, manter uma eventual imagem de "inocente" e "ingênuo", mesmo que isso sacrifique a imagem adocicada e triunfalista de "grande líder iluminado".
E é isso que faz com que a "patrulha canina" seja mais perigosa entre os chiquistas, embora os fanáticos igrejeiros também sejam violentos, com gente beata que vira uma fera quando se revelam verdades duras sobre Chico Xavier. E isso também contradiz a ilusão de que adorar Chico Xavier traz boas energias. Nas situações adversas, essas "energias de luz" se apagam num estalar de dedos.
Os refrões circulam nas redes sociais: "Estão sendo duros com o Chico!", "Será que ninguém aponta um dado positivo de Chico Xavier?", "Quem é você para julgar o nosso querido Chico?" e tantas outras frases trazidas pelo desespero de beatos religiosos mais ou menos fanáticos mas sempre complacentes com a figura de uma pessoa irregular, mas à qual as pessoas são capazes de comprar o Céu para colocar seu espírito sentado ao lado de Deus.
Isso vai contra os ensinamentos originais do Espiritismo. Chico Xavier é, comprovadamente, um dos piores e mais traiçoeiros deturpadores da Doutrina Espírita. Suas obras são demonstrações de lesa-doutrina, nas quais os ensinamentos kardecianos são traídos como no chamado "beijo do traidor": sob o aparato das belas palavras, das belas imagens e dos arremedos de belas ações.
As lições de Allan Kardec recomendam que se estabeleça um rigor e se combata energicamente a ação de deturpadores da causa espírita. As críticas devem ser enérgicas porque os deturpadores iriam usar de todos os meios para desfigurar o Espiritismo e substitui-lo por ideias mistificadoras e reacionárias. A intolerância tem que ser contra a falsidade e a dissimulação, daí que os maiores inimigos da doutrina não estão fora dela, mas dentro.
Mas como o Brasil é um país marcado pela ignorância e pelo vício de se preferir mentiras agradáveis do que verdades dolorosas, confunde-se intolerância à falsidade com intolerância religiosa. Acham que a crítica rigorosa que se dá contra a figura de Chico Xavier é "injusta", quando ela se baseia em provas e argumentos consistentes.
As pessoas se idiotizam dizendo que "é preciso ouvir o coração antes de fazer tão cruel julgamento", e lutam para proteger o falso Cristo que é Chico, para a zona de conforto de sua fascinação obsessiva e sua viciada beatitude das paixões religiosas. Nem mesmo a lógica e o bom senso servem para justificar a severidade de tais críticas, pois no Brasil vale a cegueira da fé do que a luz da razão.
Se existem "médiuns" assediadores, o caminho foi aberto por Chico Xavier. Se o Espiritismo é desfigurado, foi ele quem iniciou. Se as pessoas estão discutindo que aristocratas elas foram na vida passada, ou se os mortos de uma tragédia eram carrascos da Idade Média, foi Chico que começou com tudo isso. Não podemos livrar ele da responsabilidade, porque provas consistentes apontam para essa conclusão. Ele é o culpado maior de todos os erros que vêm usando o nome do Espiritismo, pelo fato de ter aberto caminho para eles.
As paixões religiosas soam como uma areia movediça que parece fofa, fresca e confortável. As pessoas se afundam na idolatria a Chico Xavier, mesmo sob o aparato da "adoração de um homem simples e humilde". Tentam blindá-lo de todo jeito, de forma a torná-lo aproveitável até na recuperação das bases espíritas originais. Isso é vergonhoso, e, portanto, extremamente deplorável.
Chico Xavier merece, sim, o nosso repúdio maior e ele deveria repousar no desprezo da História. Ele sempre foi uma figura medieval e sua imagem de "fada-madrinha do mundo real" foi montada pela grande mídia para atender a interesses comerciais estratégicos e garantir a sobrevida de cenários políticos reacionários. Não precisamos de Chico Xavier, há muito mais vida e luz fora de seu mundinho de fantasias traiçoeiras como a beleza da cicuta (ou "chicuta").
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