CHICO XAVIER EM 1955, ANO DE NASCIMENTO DO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO.
Temos animadores de TV reacionários. Temos belas atrizes de novelas reacionárias. Temos musas do vôlei reacionárias, autores infantis reacionários, craques de futebol reacionários, roqueiros reacionários, galãs reacionários. É doloroso, mas há uma galeria de gente reacionária capaz de fazer muita gente cair da cama depois de tanto sonhar com cada um desses famosos.
Mas quando se trata de reconhecer em Francisco Cândido Xavier um reacionário, as pessoas tremem de medo. É como dizer a uma criança que Papai Noel nunca existiu. Chico Xavier, a única pessoa à qual se permite colocar a fantasia acima da realidade, moldado conforme o pensamento desejoso de cada um mediante ideias que só podem ser agradáveis, mesmo que estejam a anos-luz longe do mais simples realismo, não pode ser reconhecido como um reacionário, devido a essa temeridade.
Chico Xavier foi uma das pessoas mais reacionárias de toda a História do Brasil. Se as pessoas prestarem atenção em suas ideias, expressas em livros e depoimentos, o projeto que hoje se identifica com o retrógrado governo de Jair Bolsonaro está todo na obra de Chico Xavier, e provas consistentes desafiam o mais esforçado pensamento desejoso, que tenta relativizar a todo custo os aspectos negativos do "médium" mineiro.
A reforma trabalhista, por exemplo, já foi antecipada com apelos do tipo "para que reclamar de muitas horas trabalhadas, quando outras pessoas reclamam de não poderem trabalhar?" e "por que se queixa da queda do salário, se você continua ganhando o necessário para a casa e o pão?", ideias que sintetizam tantos apelos que Chico Xavier deu em diversas ocasiões.
Chico Xavier também era do tipo que aceitaria o fim do Ministério do Trabalho. Com base em suas ideias e relatos, podemos seguramente garantir que ele diria algo como: "Reclamam os irmãos do fim do Ministério do Trabalho, mas, ora, todo ministério é do Trabalho, porque sempre está dedicado a algum tipo de ocupação".
E a Escola Sem Partido? Ele acharia de bom tamanho uma escola que se limitasse a ensinar a escrever, ler, trabalhar e aprender uma religião cristã. Chico Xavier não aprovava o debate aprofundado, pois em vários momentos ele dizia para as pessoas não questionarem, mas "orarem por Jesus". Além disso, ele definiu o debate afiado como "tóxico do intelectualismo", para ele o debate só traz conflitos e, em sua ótica conservadora, o senso crítico lhe traz pavor e insegurança.
E a "cura gay"? Chico Xavier dizia que se deveria dar todo respeito e consideração para os homossexuais (hoje comunidade LGBTT). Mas ele definiu o homossexualismo como uma "doença da alma", uma "confusão mental" trazida pela reencarnação. O "profundo respeito e consideração" que ele pregava pelos homossexuais é comparável ao de um médico em relação a um paciente portador de uma doença grave.
Em outras palavras, Chico Xavier defendeu a "cura gay", através do que ele entende como "ensinamentos do Cristo" que "estimulariam" o encarnado a aceitar a condição sexual assumida no berço. Tal abordagem é corroborada pelo "Correio Espírita" e por figuras como Divaldo Franco, que defendem que o encarnado não pode desafiar a natureza nem as condições de sua encarnação se desviando da natureza sexual biológica trazida pelo nascimento.
Chico Xavier também defendia a aceitação do sofrimento em silêncio e sem reclamações. Ele alegava que "tudo passaria" e via na desgraça humana um fenômeno comparável ao de um temporal. Seu ponto de vista conservador acreditava que o sofredor extremo, ainda que fosse vítima de uma tragédia, estaria, ao alcançar a agonia e o infortúnio mais intensos, encurtando seu caminho para as "bênçãos infinitas de Deus". É aquela ideia: "quanto pior, melhor".
E o que dizer das declarações que Chico Xavier, tão querido por esquerdistas ingênuos, feitas para um enorme público e registradas para a posteridade, no programa Pinga Fogo da TV Tupi em 1971? Esculhambando movimentos sociais, defendendo a ditadura militar que, ao seu ver, estava fazendo do Brasil um "reino de amor", e que o AI-5 e as torturas autorizadas por este ato institucional eram "necessárias" para combater o "radicalismo das esquerdas".
E imaginar que muitos simpatizantes de Chico Xavier acreditam que ele era "comunista" só porque viu uma foto dele acariciando a cabeça de um menininho pobre que estava tomando sopa. Quanta ingenuidade. E olha que não há como definir Chico como uma pessoa progressista, porque provas consistentes apontam sempre para seu reacionarismo, enquanto teses de suposto progressismo são confusas, sem qualquer fundamento lógico e sustentadas por ideias soltas, embora aparentemente verossímeis.
Ninguém relativiza o reacionarismo de Sílvio Santos por ele ter sido camelô. Ninguém relativiza o reacionarismo de Regina Duarte porque ela fez personagens empoderadas em Malu Mulher e Vale Tudo. Ninguém relativiza o reacionarismo de Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, porque ele é amigo de punks paulistas. Ninguém relativiza o reacionarismo de Pelé por ele ser negro. E os rapazes também não relativizam o reacionarismo de Ana Paula do Vôlei porque ela foi símbolo sexual da adolescência.
Mas as pessoas relativizam, sem o menor motivo, o reacionarismo convicto e evidente de Chico Xavier, sobretudo a turma do "não é bem assim" que tenta relativizar seus aspectos negativos nos fóruns das redes sociais. A "patrulha canina" de Chico Xavier, que posa de "esclarecida", sempre faz plantão para blindar seu ídolo, se esforçando para manter, se não por completo, mas ao menos em parte, a imagem adocicada e glamourizada do "médium".
O que essa turma não sabe, assim como os medrosos que não querem ver dissolverem a imagem dócil e sonhadora do "médium" que voava sob o céu azul e sobre jardins floridos, é que Chico Xavier foi reacionário até o fim da vida, apenas tomando cuidado com a forma de se manifestar em quase todas as ocasiões (uma das exceções foi o programa Pinga Fogo, em que ele não mediu palavras). Até entre 1989 e 2002, ele votou em Fernando Collor e sinalizou simpatia pelo PSDB.
O reacionarismo dele não foi um arroubo de juventude nem de meia-idade. E ele está todo explícito nas ideias de Chico Xavier, expresso em suas próprias palavras, mesmo quando eram creditadas pelos nomes de autores mortos para tornar as opiniões pessoais do "médium" bem "menos pessoais". E isso está comprovado, as evidências saltam aos olhos, e não há motivo algum para desmentir isso e pintar em Chico um sujeito progressista que ele nunca foi. Paciência, ele era conservador até a medula!
Comentários
Postar um comentário