Francisco Cândido Xavier, o maior espírito obsessor que seduz e domina os brasileiros, entorpecidos pelas paixões religiosas, é considerado o único indivíduo em cuja biografia prevalece a fantasia sobre a realidade e cujos erros cometidos são totalmente absolvidos, mesmo com sua responsabilidade comprovada. Nunca foi tão mole ser Chico Xavier!
Os brasileiros relativizam até mesmo o fato de que ele deturpou o Espiritismo, que desviou de forma irresponsável e gravíssima do caminho traçado pela Codificação, e apenas fingiu espiritualismo nas suas pregações moldadas no Catolicismo medieval.
Chico Xavier é uma síntese da esperteza de Aécio Neves, do reacionarismo de Jair Bolsonaro e do oportunismo pseudo-ativista de Luciano Huck numa só pessoa. Era um direitista convicto e até fanático, mas as esquerdas, que não relativizam o reacionarismo furioso da estonteante Ana Paula do Vôlei, de maneira surreal lutam para interpretar as posturas ideológicas de Chico Xavier de forma que ele parecesse "progressista" à luz (quer dizer, à treva) do pensamento desejoso.
Pois a suposta profecia da "data-limite", que muitos incautos e até muita gente boa leva a sério demais, é, claramente, um acinte aos ensinamentos espíritas originais, que nunca recomendam que se especule datas fixas para acontecimentos futuros, por ser isso uma atitude típica de espíritos grosseiramente inferiores, zombeteiros, levianos e dominadores.
Os seguidores de Chico Xavier fazem papel de ridículos, ao acreditar numa asneira dessas, em que uma risível reunião de Jesus Cristo, dos "espíritos governantes" de outros planetas do Sistema Solar, com a presença de Emmanuel e do próprio Chico, num sonho dormido em 1969, após a chegada de astronautas dos EUA na Lua, alega ter estabelecido uma "data-limite" para a humanidade aderir a "ideais cristãos", com um prazo de 50 anos desde então.
Isso é completamente ridículo. O "movimento espírita" brasileiro já estabeleceu um monte de "datas-limites" ao sabor de seus devaneios e predições: 1952, 1960, 1970, 1980, 1989, 1999, 2000, 2012 e, agora, 2019. Datas "definitivas" de supostas transformações que não ocorreram e os "espíritas" sempre vinham com a mesma desculpa: "é porque espíritos inferiores não deixaram".
A literatura kardeciana não aprova isso, porque os fatos são imprevisíveis e as relações humanas podem trazer desfechos inesperados. A eleição de Jair Bolsonaro era impensável em 2012. Quem imaginaria a Segunda Guerra Mundial como fato provável em 1925? O atentado ao World Trade Center era uma hipótese cogitável em 1978, cinco anos após sua inauguração? Donald Trump presidindo os EUA era considerado uma grande piada, ninguém levaria a sério tempos atrás.
Aí vem Chico Xavier dizendo que virão extra-terrestres na Terra e muita gente, até mesmo intelectualizada e de esquerda, cair na pegadinha, como um acadêmico da UFRJ, como Nelson Job, que acreditou na lorota da "data-limite", mencionando-a sem esboçar um questionamento sequer, pois aqui no Brasil os artigos acadêmicos e as monografias só servem de enfeite, forjando um simulacro de imparcialidade que entedia o público.
Só que isso é reprovado, energicamente, pela obra kardeciana. Isso porque não só há o aspecto leviano de determinar datas fixas para acontecimentos futuros como cria factoides surreais como as especulações ufologistas, que são cientificamente duvidosas. Chico Xavier aposta, assim como nos "mundos espirituais" feitos sob a ótica materialista (de direita, vale lembrar aos esquerdistas), na suposição de extraterrestres, como forma de produzir sensacionalismo e impressionar o público.
E como a literatura espírita original reprova a "profecia da data-limite"? Vamos resumir alguns pontos:
1) Kardec reprovava a atitude de prever datas fixas para o futuro. Definia isso como atitude de espíritos inferiores, grosseiros e zombeteiros;
2) Kardec também reprovaria a atribuição de invasões extraterrestres "para o bem e para o mal", porque tais predições possuem apelo sensacionalista e servem para causar impressão, ansiedade e temor nos mais ingênuos;
3) Da mesma forma, também reprovaria o uso de alegações religiosas - como apelar para a "fraternidade cristã" - porque isso agravaria o caráter leviano de tais predições, piorando as coisas.
Além do mais, se acompanharmos a "profecia da data-limite", no final dessa narrativa é mencionada uma suposta mensagem de Emmanuel, dizendo que essa "profecia" nunca vai acontecer, porque ela foi dada para "alertar as pessoas para buscarem desenvolver a fraternidade" (entenda-se "fraternidade" pela ótica do Catolicismo medieval, que inclui rigores hierárquicos retrógrados, envolvendo subserviência humana).
Isso comprova o quanto a "profecia da data-limite" é, na verdade, um grande trote, uma demonstração da profunda inferioridade (a níveis brutais, diga-se de passagem) de Chico Xavier, que, além disso, dividiu seus próprios seguidores com tais predições, em que pese a pretensa reputação de "unificador" do suposto médium (que, no fundo, acreditava na "fraternidade" da raposa, que era ele, com as galinhas, os espíritas autênticos).
Afinal, uma corrente de chiquistas associada a Ariston Teles, suposto "médium" baiano radicado em Brasília, recusa-se a admitir a "profecia". Suposta psicofonia atribuída a Chico Xavier negou que tenha feito tais "previsões".
Para piorar, a própria interpretação da "profecia" se divide de tal forma que uns preferem vê-la sem o tom catastrofista. Os próprios partidários da "data-limite", Geraldo Lemos Neto e Juliano Pozati, entre outros, mudaram a narrativa e abordaram de forma seletiva as predições do "médium", apenas considerando o sentido "cristão" das supostas previsões.
Com isso, concluímos que a "profecia da data-limite" é um gravíssimo insulto que Chico Xavier deu a Allan Kardec. Um insulto, uma pilhéria, um sarcasmo da pior espécie. E que não trouxe união das pessoas, muito pelo contrário, dividindo até mesmo os próprios chiquistas sobre o crédito ou não de tais predições. A única realização de Chico Xavier com essa palhaçada toda foi gerar um monte de confusão. O que o desqualifica como "espírito de luz" e alvo de tão extremas adorações.
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