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Marcelo Yuka defendeu o oposto de Chico Xavier



A morte de Marcelo Yuka comoveu todo o país. Ele não foi apenas o autor do verso "Também morre quem atira", que arrepia os matadores de todo o país e, sobretudo feminicidas - a letra original de "Hey Joe", de Billy Roberts, fala sobre feminicídio - , mas também um grande ativista social e cultural e que chegou a ser vice da chapa de seu xará Marcelo Freixo para a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Yuka, cujo nome era Marcelo Fontes do Nascimento, foi um dos fundadores da banda fluminense O Rappa, e saiu do grupo devido a diferenças artísticas. Ele era paraplégico depois que, em 2000, tentou evitar que uma mulher fosse assaltada e foi baleado por um dos ladrões. Foi também integrante da banda F. U. R. T. O. (Frente Urbana de Trabalhos Organizados) e, nos últimos tempos, sofreu dois acidentes vasculares cerebrais. Ele tinha apenas 53 anos.

O que pouca gente imagina é que ele é autor de "A Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)", que segue o sentido contrário das máximas do pretenso espiritualista Francisco Cândido Xavier. Sabe-se que Chico Xavier - que sem motivo algum ganhou a pecha de "progressista", assim de graça - defendia que as pessoas aguentassem as desgraças em silêncio, sem reclamar.

Chico Xavier condenava o questionamento aprofundado, as reclamações e indignações na vida. Seu "pacifismo" sempre se baseava na pessoa calada, que não podia sequer gemer de dor nem orar em voz alta. Tudo tinha que ser feito em silêncio e a pessoa teria que fingir que está tudo bem, como se isso trouxesse energias para afastar a desgraça que motiva o sofrimento, o que raramente acontece.

Isso significa que Chico Xavier defendia a "paz sem voz", pois, como católico medieval, o "médium" defendia a ideia de que as pessoas tivessem que ser tementes a Deus, e viver a vida na submissão e na servidão.

Marcelo Yuka, não. Ele, como verdadeiro ativista social - não se faz ativismo dando sopinhas, vale lembrar - , não apoiava a conformação com o sofrimento. No bairro de origem do grupo O Rappa, Vigário Geral, Zona Norte do Rio de Janeiro, houve uma chacina em 1993, com vários inocentes assassinados por policiais (alguns desses assassinos também já morreram, anos depois). Foi pouco após essa chacina que o grupo foi formado.


A PAZ DE CHICO XAVIER É O MEDO DA LETRA DE MARCELO YUKA.

Vamos encerrar o texto por aqui, deixando a letra de "A Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)" que mostra que a verdadeira paz não está no silêncio que os "espíritas" brasileiros, medievais, tanto querem defender sob o pretenso rótulo do progressismo. Vamos lá.

A MINHA ALMA (A PAZ QUE EU NÃO QUERO)

A minha alma tá armada
E apontada para a cara
Do sossego
Pois paz sem voz 
Paz sem voz
Não é paz é medo
As vezes eu falo com a vida
As vezes é ela quem diz 
Qual a paz que eu não quero
Conservar para tentar ser feliz
As vezes eu falo com a vida
As vezes é ela quem diz 
Qual a paz que eu não quero
Conservar para tentar ser feliz
As vezes eu falo com a vida
As vezes é ela quem diz 
Qual a paz que eu não quero
Conservar para tentar ser feliz
As vezes eu falo com a vida
As vezes é ela quem diz 
Qual a paz que eu não quero
Conservar para tentar ser feliz
As grades do condomínio
São para trazer proteção 
Mas também trazem a dúvida
Se é você que está nessa prisão 
Me abrace e me dê um beijo
Faça um filho comigo
Mas não me deixe sentar 
Na poltrona no dia de domingo, domingo
Procurando novas drogas
De aluguel nesse vídeo 
Coagido é pela paz
Que eu não quero 
Seguir admitindo 
É pela paz que eu não quero, seguir
É pela paz que eu não quero, seguir
É pela paz que eu não quero, seguir

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