Pular para o conteúdo principal

"Correio Espírita", Diário Oficial do "movimento espírita", quer descartar João de Deus


A edição de janeiro de 2019 do "Correio Espírita", periódico fluminense que soa como uma espécie de Diário Oficial do "movimento espírita", anunciou em suas matérias de capa que João de Deus "não faz parte" desse movimento.

Segundo o periódico, João de Deus estaria fazendo parte de um tipo de "médium" que não integra o "movimento espírita", atuando de forma "independente" da religião brasileira, embora adotasse práticas similares.

A justificativa é que o "médium" goiano, cujo nome de batismo é João Teixeira de Faria, adota o atendimento individual para tratamentos "mediúnicos", prática que o "movimento espírita" diz reprovar e não realizar.

A postura do "movimento espírita", muito bem construída, no entanto é hipócrita. Afinal, o "movimento espírita", antes da divulgação das denúncias de crimes diversos envolvendo João de Deus, o via como um potencial "novo pregador espírita", possível sucessor de Divaldo Franco, que está com idade bastante avançada, com mais de 90 anos de idade.

Embora João de Deus seja visto como um "independente", assim como Robson Pinheiro, outro cotado para "novo pregador", o "movimento espírita" o via como uma futura aposta de divulgação da doutrina igrejeira que só evoca Allan Kardec por questões de bajulação e formalidade.

O grande problema é que outro "médium" envolvido em escândalos, ninguém menos que Francisco Cândido Xavier, nunca foi descartado pelo "movimento espírita", apesar de ter sido sempre um católico ortodoxo e que se envolveu em incidentes graves como produzir literatura "mediúnica" fake - que nunca foi reconhecida como tal, mas tida como "autêntica" devido a mensagens agradáveis - , antenticar fraudes de materialização e defender ideias retrógradas em prol do sofrimento humano.

Chico Xavier é devoto da Teologia do Sofrimento, que é o que há de mais medieval do Catolicismo da Idade Média. Essa corrente maligna, que apela para a aceitação resignada da desgraça humana sob o pretexto de alcançar as "bênçãos divinas", aborda o sofrimento de Jesus Cristo sob o ponto de vista de seus condenadores. Por isso é que a Teologia do Sofrimento é pejorativamente apelidada de "O Evangelho segundo Pôncio Pilatos".

No entanto, Chico Xavier foi reaproveitado, assim como Divaldo Franco, no acordo tendencioso entre "místicos" e "científicos" no Espiritismo praticado no Brasil, diante da crise que a cúpula da FEB vivenciou após a morte do ex-presidente Antônio Wantuil de Freitas.

Com várias irregularidades denunciadas por gente séria como José Herculano Pires, o "movimento espírita" apelou para a "confraternização" das raposas com as galinhas, permitindo que os "científicos" tenham voz e vez e, em tese, se empenhe em recuperar os postulados espíritas originais - aquela falácia exagerada de "temos que não só aprender Kardec, mas vivê-lo no dia-a-dia" - , mas mantenha os "médiuns" roustanguistas como seus pretensos aliados.

Com isso, Chico Xavier e Divaldo Franco foram poupados e se inaugurou a "fase dúbia" do "movimento espírita", com o jogo duplo de misturar os ensinamentos kardecianos originais - transmitidos "corretamente" pela letra morta (ou "desencarnada") ou da boca pra fora - com devaneios igrejeiros que foram até intensificados.

Afinal, dos anos 1970 para cá, nunca os apetites catolicizados dos "médiuns" foram tão intensos, e a gula "católica" no "movimento espírita", apesar das confusas e pedantes abordagens "científicas" que mencionam até nomes sérios como Isaac Newton, Platão, Sócrates, Martin Luther King e Mahatma Gandhi, superficialmente estudados em apressados artigos de supostos estudiosos "espíritas".

Outra questão é que tantos "Joões de Deus" se escondem entre os "kardecistas autênticos" (termo pejorativamente alertado por Carlos Imbassahy, o pai), evocando da boca pra fora os ensinamentos originais do Espiritismo francês, mas depois masturbando "catolicamente" com devaneios igrejeiros dos mais deslavados.

Quantos "Joões de Deus" se escondem no "movimento espírita", não assediando sexualmente as mulheres, mas assediando esquerdistas e ateus para aceitar ideias reacionárias, que falam das "maravilhas" de aguentar desgraças em silêncio e sem queixumes?

Quantos "Joões de Deus" se escondem no "movimento espírita", cometendo o charlatanismo mediúnico, dizendo evocar os mortos mas escrevendo mensagens de sua própria mente, se aproveitando do prestígio religioso para enganar as pessoas com mensagens "espirituais" que não são à altura do que os supostos autores falecidos teriam sido ou feito em vida?

E quantos "Joões de Deus", com suas fraudes mediúnicas, com seu moralismo retrógrado, com seu igrejismo gosmento, assediam juízes e advogados para lhes comprar a impunidade? Quantos "Joões de Deus" assediam a imprensa que os promove inventando "estórias lindas" para promover esses assediadores da fé humana como pretensos símbolos de amor e fraternidade?

E, ainda mais, quantos "Joões de Deus" usam a caridade como fachada para sua ganância? Eles investem em filantropia fajuta na qual não só as ações são meramente paliativas e de baixo impacto social como não são os "médiuns" que as fazem, pois todo centavo, todo suor e todo bem que é dado aos mais necessitados, não bastasse o caráter superficial e de fracos resultados dessa "generosidade", vem da iniciativa de terceiros.

O "movimento espírita" quer expurgar João de Deus pelo argueiro de seus olhos, para que não seja corresponsabilizado por esse farsante da mediunidade. Mas se esquecem que Chico Xavier, hoje adorado como uma princesa da Disney, fez também coisas horripilantes das quais não se arrependeu.

E, o que é pior, Chico Xavier ensinou mal os "médiuns" a não só fazer fraudes sob o verniz da "boa nova", mas também a mascarar sua ganância sob a ilusão de querer as fortunas que acreditam existir no além-túmulo, fingindo falsa humildade e não tocando em dinheiro como a realeza britânica que usufrui do bom e do melhor cujas contas são pagadas por outras pessoas.

É muito bom o "espiritismo" brasileiro prestar atenção nos seus "Joões de Deus", antes que tenha que descartá-los tarde demais, após os escândalos serem revelados pela opinião pública.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Padre Quevedo: A farsa de Chico Xavier

Esse instigante texto é leitura obrigatória para quem quer saber das artimanhas de um grande deturpador do Espiritismo francês, e que se promoveu através de farsas "mediúnicas" que demonstram uma série de irregularidades. Publicamos aqui em memória ao parapsicólogo Padre Oscar Quevedo, que morreu hoje, aos 89 anos. Para quem é amigo da lógica e do bom senso, lerá este texto até o fim, nem que seja preciso imprimi-lo para lê-lo aos poucos. Mas quem está movido por paixões religiosas e ainda sente fascinação obsessiva por Chico Xavier, vai evitar este texto chorando copiosamente ou mordendo os beiços de raiva. A farsa de Chico Xavier Por Padre Quevedo Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, começou a exercer sistematicamente como “médium” espiritista psicógrafo à idade de 17 anos no Centro Espírita de Pedro Leopoldo, sua cidade natal. # Durante as últimas sete décadas foi sem dúvidas e cada vez mais uma figura muitíssimo famosa. E a

Falsas psicografias de roqueiros: Cazuza

Hoje faz 25 anos que Cazuza faleceu. O ex-vocalista do Barão Vermelho, ícone do Rock Brasil e da MPB verdadeira em geral (não aquela "verdadeira MPB" que lota plateias com facilidade, aparece no Domingão do Faustão e toca nas horrendas FMs "populares" da vida), deixou uma trajetória marcada pela personalidade boêmia e pela poesia simples e fortemente expressiva. E, é claro, como o "espiritismo" é marcado por supostos médiuns que nada têm de intermediários, porque se tornam os centros das atenções e os mais famosos deles, como Chico Xavier e Divaldo Franco, tentaram compensar a mediunidade irregular tentando se passar por pretensos pensadores, eventualmente tentando tirar uma casquinha com os finados do além. E aí, volta e meia os "médiuns" que se acham "donos dos mortos" vêm com mensagens atribuídas a este ou aquele famoso que, por suas irregularidades em relação à natureza pessoal de cada falecido, eles tentam dar uma de bonzinh

Chico Xavier apoiou a ditadura e fez fraudes literárias. E daí?

Vamos parar com o medo e a negação da comparação de Chico Xavier com Jair Bolsonaro. Ambos são produtos de um mesmo inconsciente psicológico conservador, de um mesmo pano de fundo ao mesmo tempo moralista e imoral, e os dois nunca passaram de dois lados de uma mesma moeda. Podem "jair" se acostumando com a comparação entre o "médium cândido" e o "capitão messias". O livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde) , de Robert Louis Stevenson, explica muito esse aparente contraste, que muitas vezes escapa ao maniqueísmo fácil. É simples dizer que Francisco Cândido Xavier era o símbolo de "amor" e Jair Bolsonaro é o símbolo do "ódio". Mas há episódios de Chico Xavier que são tipicamente Jair Bolsonaro e vice-versa. E Chico Xavier acusando pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, sem a menor fundamentação? E o "bondoso médium" chamando de "bobagem da grossa" a dúvida que amigos de Jair Presente

"Mediunidade" de Chico Xavier não passou de alucinação

  Uma matéria da revista Realidade, de novembro de 1971, dedicada a Francisco Cândido Xavier, mostrava inúmeros pontos duvidosos de sua trajetória "mediúnica", incluindo um trote feito pelo repórter José Hamilton Ribeiro - o mesmo que, ultimamente, faz matérias para o Globo Rural, da Rede Globo - , incluindo uma idosa doente, mas ainda viva, que havia sido dada como "morta" (ela só morreu depois da suposta psicografia e, nem por isso, seu espírito se apressou a mandar mensagem) e um fictício espírito de um paulista. Embora a matéria passasse pano nos projetos assistencialistas de Chico Xavier e alegasse que sua presença era tão agradável que "ninguém queria largar ele", uma menção "positiva" do perigoso processo do "bombardeio de amor" ( love bombing ), a matéria punha em xeque a "mediunidade" dele, e aqui mostramos um texto que enfatiza um exame médico que constatou que esse dom era falso. Os chiquistas alegaram que outros ex

O grande medo de Chico Xavier em ver Lula governando o país

Um bom aviso a ser dado para os esquerdistas que insistem em adorar Francisco Cândido Xavier é que o "médium" teve um enorme pavor em ver Luís Inácio Lula da Silva presidindo o Brasil. É sabido que o "médium" apoiou o rival Fernando Collor de Mello e o recebeu em sua casa. A declaração foi dada por Carlos Baccelli, em citação no artigo do jurista Liberato Póvoas ,  e surpreende a todos ao ver o "médium" adotando uma postura que parecia típica nas declarações da atriz Regina Duarte. Mas quem não se prende à imagem mitificada e fantasiosa do "médium", vigente nos últimos 40 anos com alegações de suposto progressismo e ecumenismo, verá que isso é uma dolorosa verdade. Chico Xavier foi uma das figuras mais conservadoras que existiu no país. Das mais radicais, é bom lembrar muito bem. E isso nenhum pensamento desejoso pode relativizar ou negar tal hipótese, porque tal forma de pensar sempre se sustentará com ideias vagas e devaneios bastante agr

Carlos Baccelli era obsediado? Faz parte do vale-tudo do "espiritismo" brasileiro

Um episódio que fez o "médium" Carlos Bacelli (ou Carlos Baccelli) se tornar quase uma persona non grata  de setores do "movimento espírita" foi uma fase em que ele, parceiro de Francisco Cândido Xavier na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estava sendo tomado de um processo obsessivo no qual o obrigou a cancelar a referida parceria com o beato medieval de Pedro Leopoldo. Vamos reproduzir aqui um trecho sobre esse rompimento, do blog Questão Espírita , de autoria de Jorge Rizzini, que conta com pontos bastante incoerentes - como acusar Baccelli de trazer ideias contrárias a Allan Kardec, como se Chico Xavier não tivesse feito isso - , mas que, de certa forma, explicam um pouco do porquê desse rompimento: Li com a maior atenção os disparates contidos nas mais recentes obras do médium Carlos A. Bacelli. Os textos, da primeira à última página, são mais uma prova de que ele está com os parafusos mentais desatarraxados. Continua vítima de um processo obsessi

URGENTE! Divaldo Franco NÃO psicografou coisa alguma em toda sua vida!

Estamos diante da grande farsa que se tornou o Espiritismo no Brasil, empastelado pelos deturpadores brasileiros que cometeram traições graves ao trabalhoso legado de Allan Kardec, que suou muito para trazer para o mundo novos conhecimentos que, manipulados por espertos usurpadores, se reduziram a uma bagunça, a um engodo que mistura valores místicos, moralismo conservador e muitas e muitas mentiras e safadezas. É doloroso dizer isso, mas os fatos confirmam. Vemos um falso Humberto de Campos, suposto espírito que "voltou" pelos livros de Francisco Cândido Xavier de forma bem diferente do autor original, mais parecendo um sacerdote medieval metido a evangelista do que um membro da Academia Brasileira de Letras. Poucos conseguem admitir que essa usurpação, que custou um processo judicial que a seletividade de nossa Justiça, que sempre absolve os privilegiados da grana, do poder ou da fé, encerrou na impunidade a Chico Xavier e à FEB, se deu porque o "médium" mi

As falsas psicografias

Infelizmente, ninguém conhece o que é mediunidade no Brasil. Para piorar, as pessoas aceitam esse desconhecimento, achando que tudo é verídico porque é misterioso, uma coisa inversa e radicalmente oposta ao que se ocorre na vida cotidiana. Isso é grave, porque, no "espiritismo" feito no Brasil, aceita-se tudo sem verificar. E quando se pede para verificar, há quem finja cumprir os mais rígidos procedimentos para garantir veracidade das supostas mensagens espirituais. Não se exige Inmetro, nem qualquer outro recurso de controle e verificação, e um caso típico da credulidade das pessoas corresponde às chamadas cartas "psicografadas", verdadeiros embustes que só fazem explorar e expor ao público as tristezas que as famílias poderiam viver na privacidade e sob assistência de pessoas com menor interesse oportunista possível. O que se observa é que são pessoas escrevendo, com velocidade "industrial", mensagens apócrifas que têm a mesma caligrafia. São m

Caso João de Deus é apenas a ponta do iceberg de escândalos ainda piores

A FAMIGLIA "ESPÍRITA" UNIDA. Hoje o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, se entregou à polícia de Goiás, a pedido do Ministério Público local e da Polícia Civil. Ele é acusado de assediar sexualmente mais de 300 mulheres e de ocultar um patrimônio financeiro que o faz um dos homens mais ricos do Estado. João nega as acusações de assédio, mas provas indicam que eles ocorreram desde 1983. Embora os adeptos do "espiritismo" brasileiro façam o possível para minimizar o caso, ele é, certamente, a ponta do iceberg de escândalos ainda piores que podem acontecer, que farão, entre outras coisas, descobrir as fraudes em torno de atividades supostamente mediúnicas, que, embora com fortes indícios de irregularidades, são oficialmente legitimadas por parecerem "agradáveis" e "edificantes" para o leitor brasileiro médio. O caso João de Deus é apenas o começo, embora ele não tenha sido o único escândalo. Outro

Chico Xavier causou confusão mental em muitos brasileiros

OS DOIS ARRIVISTAS. Por que muitos brasileiros são estupidamente reacionários? Por que há uma forte resignação para aceitar as mortes de grandes gênios da Ciência e das Artes, mas há um medo extremo de ver um feminicida morrer? Por que vários brasileiros passaram a defender o fim de seus próprios direitos? Por que as convicções pessoais prevalecem sobre a busca pela lógica dos fatos? O Brasil tornou-se um país louco, ensandecido, preso em fantasias e delírios moralistas, vulnerável a paixões religiosas e apegado a padrões hierárquicos que nem sempre são funcionais ou eficientes. O país sul-americano virou chacota do resto do mundo, não necessariamente porque o Primeiro Mundo ou outros países não vivem problemas de extrema gravidade, como o terrorismo e a ascensão da extrema-direita, mas porque os brasileiros permitem que ocorram retrocessos de maneira mais servil. Temos sérios problemas que vão desde saber o que realmente queremos para nossa Política e Economia até nossos apego