Muitos estão acostumados com a imagem de Francisco Cândido Xavier associado a jardim floridos, céu azul e uma série de apelos piegas que o fizeram um pretenso filantropo e um suposto símbolo de pacifismo, fraternidade e progresso humano.
Essa imagem, porém, não é verdadeira e Chico Xavier, por trás de apelos tão agradáveis e confortáveis que fazem qualquer idoso dormir tranquilo, teve aspectos bastante negativos em sua trajetória e se envolveu em confusões criadas por ele mesmo e seus afins. É bastante desagradável citar esses episódios, mas eles são verídicos, embora a memória curta tente ocultar ou, se não for o caso, minimizar tais episódios.
Chico Xavier é quase um "padroeiro" ou "patrono" dos arrivistas. Sua primeira obra, Parnaso de Além-Túmulo, é reconhecidamente, ainda que de maneira não-oficial, uma grande fraude editorial, feita pelo "médium", mas não sozinho. Ele contou com a ajuda de editores da FEB, do presidente da instituição e dublê de empresário do "médium", Antônio Wantuil de Freitas, além de consultores literários a serviço da federação.
Isso foi confirmado, até mesmo por acidente, por um "fogo amigo": Suely Caldas Schubert, "médium" solidária a Chico, no seu livro Testemunhos de Chico Xavier, de 1981, divulgou uma carta de 1947 na qual o "médium" agradecia Wantuil e o editor Luís da Costa Porto Carreiro Neto pela revisão detalhada dos originais para a sexta edição de Parnaso de Além-Túmulo. Mesmo sem querer, Suely trouxe a prova do que até mesmo católicos como Alceu Amoroso Lima já desconfiavam.
Não é o primeiro "fogo amigo". No caso da farsante Otília Diogo, que fez espetáculos ilusionistas simulando materialização de três personagens, entre eles a Irmã Josefa, entre 1963 e 1964, o dado oficial é que Chico Xavier foi enganado pela picareta.
Essa tese é derrubada pelo fotógrafo solidário a Chico, Nedyr Mendes da Rocha, que divulgou fotos que, explicitamente, mostram Chico bastante alegre, lúcido e muito comunicativo, durante os bastidores da farsa. Esse comportamento confirma que Chico sabia muito bem de todo processo e sua conduta era de alguém que tinha muita cumplicidade com o episódio.
As fotos provam que Chico Xavier estava acompanhando alegremente o que Otília Diogo estava fazendo. Sabia muito bem do processo, estava feliz, falava com os envolvidos, observava como se fosse um co-produtor do espetáculo, o que desfaz, por definitivo, qualquer tese de que Chico teria sido enganado. E essa prova, vale lembrar, foi trazida por alguém aliado de Chico Xavier!
O caso do filho homônimo do escritor Humberto de Campos, o assédio moral de que falamos é um dado negativo, e não positivo. Oficialmente, o "abraço" que Chico deu em Humberto foi um ato de "perdão", "misericórdia infinita" e "compreensão dos princípios máximos de fraternidade cristã". Mas a atitude é, na verdade, uma demonstração de cinismo de Chico Xavier.
Ele usou o produtor de televisão Humberto de Campos Filho, se aproveitando de que a mãe dele, Dona Catarina Vergolina de Campos, que liderou a ação judicial contra o "médium", havia falecido, para criar uma espécie de "emboscada" por trás de um roteiro que incluiu doutrinária "espírita" e amostras de Assistencialismo na visita ao Grupo "Espírita" da Prece e na excursão da "caravana do amor" por Uberaba.
Essa manobra, que tem todo um aparato de um "evento fraternal" e toda uma simulação de piedade cristã, altruísmo e companheirismo, revela um grave oportunismo. Aí, sim, podemos dizer que Humberto de Campos Filho FOI ENGANADO por Chico Xavier. A manobra foi feita para dar fim aos recursos judiciais no caso das supostas psicografias que usavam o nome de Humberto.
Há escândalos de arrancar os cabelos que mancham a imagem de Chico Xavier. Mas até uma parcela de seus seguidores que conhece todos esses incidentes tentam minimizá-los. Partem para a habilidosa falácia, não raro com tons de exagero: "Chico errou muito, mas superou e se tornou o maior símbolo de bondade humana (sic) que conhecemos no Brasil e, quiçá, o mundo".
Não, não. Além disso, essa campanha de fazer Chico Xavier um sujeito "humanista" é outra grande farsa, porque, se prestarmos atenção, ele não era sequer metade dessa imagem dócil que encanta muitos. E a imagem do "bondoso Chico" foi montada durante a ditadura militar, com o roteiro que Malcolm Muggeridge fez para endeusar a megera Madre Teresa de Calcutá, como cortina de fumaça para a crise vivida no governo dos generais.
Pelo menos isso deveria ser de conhecimento pleno e crítico da mídia esquerdista, que se empenha a desvendar segredos mais intrincados da plutocracia. Só que não. Os nossos esquerdistas, diante de Chico Xavier, ficam com medo e coração mole e acabam defendendo alguém de ideias antagônicas, um reacionário convicto que só parecia "progressista" na embalagem, diante de uma série de falácias de cunho religioso e aparato humanista.
Esquecem as esquerdas que Chico Xavier esbanjou reacionarismo pleno na entrevista do programa Pinga Fogo, da TV Tupi. Esquecem que esse reacionarismo lhe acompanhou em toda a vida, e era expresso nas ideias inspiradas na Teologia do Sofrimento. Conhecendo as ideias de Chico, muitos surpreenderão, dolorosamente, com ideias que, comprovadamente, se encaixam na reforma trabalhista de Temer/Bolsonaro e em propostas como Escola Sem Partido.
O falso esquerdismo de Chico Xavier foi outra falácia construída por apelos emocionais e ideias soltas, sem pé nem cabeça, misturando ideias fantasiosas com desinformação, que montam uma visão idealizadora e nada realista, mas muito agradável. Esquecem as esquerdas que, nem mesmo sob o pano de fundo da religiosidade e o pacifismo, a verdade se possa sustentar sempre por ideias agradáveis, mesmo quando elas põem a lógica e o bom senso na lixeira.
Outros aspectos negativos do "médium" são suas supostas psicografias, às quais se identificam facilmente irregularidades, não raro muito graves, em relação aos estilos e aspectos pessoais dos autores mortos alegados. O próprio Humberto de Campos é uma aberração, pois a "obra espiritual" não bate com o que o autor maranhense fez em vida, e até as semelhanças, superestimadas, são muito poucas.
As "cartas mediúnicas" de Xavier foram uma farsa sensacionalista que, sob o pretexto de "revelar a vida após a morte", mais espetacularizavam a morte do que traziam a esperança da vida futura, embora a outra encarnação não oferece as mesmas garantias e condições para quem perdeu a encarnação presente, ceifada muito cedo. Será preciso brigar para que a próxima encarnação ofereça as mesmas oportunidades que foram interrompidas na encarnação que se encerrou.
Se as "cartas mediúnicas", definidas como "a maior caridade de Chico Xavier", embora na verdade essas atividades tenham sido uma série de perversidades na qual o "médium" se promovia às custas da tragédia alheia, ajudaram alguém, esse alguém foram os jornalistas policialescos, simpatizantes do "médium" e que sempre adoram algum sensacionalismo, ainda mais combinando sobrenatural com fanatismo religioso.
São muitos dados sombrios, que a memória curta tenta esconder, como um pirata esconde um tesouro na areia da praia, para manter sempre a imagem agradável de Chico Xavier como "fada-madrinha para adultos". A fantasia tenta se rebelar às revelações da realidade e busca todo um esforço para que o idealizado prevaleça sobre o realista. Tentam se valer da aparência de "velhinho frágil" de Chico Xavier para justificar tamanha complacência.
Mas as lições recentes de João de Deus mostram que se deve abrir mão de toda ilusão. As paixões religiosas e todo um esforço do pensamento desejoso buscam blindar Chico Xavier, mas é só relembrar de seus escândalos diversos, não menos graves que os do "médium" goiano, para desfazer a ilusão. Mas como tem adulto preso em suas ilusões, pior do que criança...
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