JOÃO DE DEUS RECEBENDO BÊNÇÃOS DE CHICO XAVIER
O maior escândalo da semana que passou envolveu um suposto "médium", acusado de assédio sexual contra nada menos que 12 mulheres, número que pode se tornar maior. O "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, considerado o "médium" dos ricos e famosos (até Oprah Winfrey foi conhecê-lo, certa vez), foi denunciado quase que por acaso.
O programa Conversa com Bial, apresentado pelo jornalista Pedro Bial, da Rede Globo, iria convidar o "médium" João de Deus para ser entrevistado no programa. A equipe de produção, tendo à frente a roteirista Camila Appel, viajou para Abadiânia, no interior de Goiás, onde fica o "centro espírita" Casa Dom Inácio de Loyola, onde João atua, para fazer o convite.
De repente, Camila acaba sabendo de denúncias de assédio sexual contra o "médium". Camila resolveu pesquisar sobre o assunto e acabou convidando quatro das dez mulheres entrevistadas que tiveram depoimentos gravados. A produção do programa ainda recebeu uma carta anônima com denúncias semelhantes.
As mulheres teriam sofrido assédio sexual quando cada uma foi atendida individualmente por João de Deus. Uma cliente relatou: "Ele pegava minha mão, pra eu pegar no pênis dele. E eu tirava a mão. E ele falava: 'você é forte, você é corajosa! O que você está fazendo tem um valor enorme'. Eu não estava fazendo nada, estava sendo abusada. Pegava na minha mão para eu pegar no pênis dele. (...) Ele falava: 'Põe a mão, isso é limpeza. Você precisa dessa limpeza, é o único jeito de fazer isso'".
Outra vítima descreveu um tom ameaçador: "Se você não fizer o que eu estou falando, a sua doença vai voltar". Uma das clientes expressou ter sentido nojo dos assédios do "iluminado homem". Outra declaração foi esta: "Ele me pediu para ficar de costas e começou a passar a mão pelo meu corpo. Eu fiquei incomodada e pensei: até que ponto você pode deixar um médium passar a mão pelo seu corpo?".
A única das quatro entrevistadas que apareceram no programa que decidiu mostrar o rosto e a identidade, a coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus, disse também: "Eu tinha medo deles me mandarem espíritos ruins. Eu estava com muito medo. Agora me sinto protegida e sinto que a verdade tem de vir à tona".
O caso estava sendo trabalhado sem alarde, até que Pedro Bial havia anunciado uma denúncia grave contra João de Deus, que depois da revelação tenta desmentir tais atos. Após as revelações, mais mulheres foram denunciar o "médium", causando um forte abalo em sua carreira de 45 anos de atividade. Atualmente, João conta com 76 anos de idade.
Não é a única acusação contra João de Deus. Ele é acusado de charlatanismo e exercício ilegal da medicina (com duas mortes causadas durante sua "mediunidade", altamente irregular). Ele também é acusado de atentado ao pudor, de ser mandante de um assassinato e de ter contrabandeado minério. É também acusado de se enriquecer desviando o dinheiro da caridade.
A imprensa de direita inventou que João de Deus era "amigo" do ex-presidente Lula, a quem apenas fez um atendimento "mediúnico". Posteriormente, João revelou que sonhava em ver o algoz de Lula, Sérgio Moro, presidente do Brasil. Atualmente, Moro chegou quase lá, tendo sido escolhido ministro da Justiça para a equipe do futuro presidente Jair Bolsonaro, anti-petista até debaixo d'água.
João de Deus tem uma propriedade, no Estado de Goiás, uma grande fazenda com área equivalente a dezoito Parques do Ibirapuera, o que é muito grave, para alguém que quer ser reconhecido pela "humildade" e pelo "desapego aos bens materiais", se considerarmos também que Goiás não é um Estado grande e que perdeu metade de seu território para o Estado de Tocantins.
JOÃO DE DEUS FOI ABENÇOADO POR CHICO XAVIER
A população de Abadiânia ficou surpresa com o caso. Muitos não acreditam que João de Deus fosse acusado de tamanho ato. O caso repercutiu negativamente que o "movimento espírita", na tentativa de sair ileso do caso, apressou em mandar um comunicado. A Federação "Espírita" Brasileira declarou, em mensagem, que "não aprova atendimentos individuais feitos por médiuns".
Mas João de Deus havia sido uma das apostas recentes do "movimento espírita" atualmente em crise. Com Francisco Cândido Xavier morto e Divaldo Franco com idade avançada (91 anos), e na falta de alguém considerado novo e forte na religião, João de Deus era considerado possível "novo líder" do "movimento espírita", apesar de já ser idoso (76 anos) e ter saúde frágil, devido a ocorrência de um câncer.
Esse câncer não foi tratado pelo próprio "médium", que saiu desmoralizado. Afinal, a história registra, em 1961, o caso do médico russo Leonid Rogozov, que, sofrendo uma grave apendicite numa estação de pesquisa na Antártida, só precisou de dois assistentes, um para pôr o espelho e outro para pegar os instrumentos cirúrgicos, enquanto ele mesmo fazia a delicada cirurgia, em condições bastante adversas e frágeis.
Quando realizou tratamento contra o câncer, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o "médium" João de Deus, em recuperação, chegou a declarar, sobre o fato dele mesmo não ter feito cirurgia, através de suposta mediunidade: "Barbeiro corta o próprio cabelo?". Levando a metáfora ao pé da letra, João ignora que, em muitos casos, barbeiros também cortam o próprio cabelo.
Sucessores foram tentados para herdar a "missão" de Divaldo Franco (ultimamente desacreditado por ter feito comentários reacionários num evento "espírita" de, vejam só, Goiânia, capital de Goiás). Mas Guilherme Romano, jovem de 25 anos tido como a "reencarnação de Emmanuel", desmentiu a façanha e a suposta missão atribuída ao jesuíta.
O "médium" baiano José Medrado também poderia ser cotado como "novo médium" de projeção nacional, mas ele não consegue ir além de uma morna projeção regional no seu Estado. Além disso, ele também não é muito novo, tendo 57 anos de idade, e está associado a irregularidades como falsidade ideológica nas pinturas "mediúnicas", irregularidades na aquisição de terreno para sua Cidade da Luz e piadas machistas contra louras e manifestações de gordofobia em suas palestras.
Por sua vez, o "médium" Adriano Correia Lima, formado psicanalista no Rio de Janeiro, não é carismático, apesar de ter feito o "milagre" de fazer Hannah Arendt, Alfred Schutz e Erich Fromm enviarem mensagens em português e linguagem de youtuber de 16 anos, com a mesma patriotada de dizer que o Brasil vai "comandar o mundo". Com um governo caótico como o de Jair Bolsonaro? Impossível!
O escândalo de João de Deus já tornou-se maior do que os escândalos de Divaldo Franco. Este homenagou João Dória Jr. e o charlatão Sri Prem Baba numa edição paulista do "Você e a Paz", em 2017. No final de 2016, acusou refugiados do Oriente Médio de terem sido "colonizadores sanguinários" em outra encarnação, alegação feita sem o menor fundamento científico. Mas estes incidentes quase não tiveram repercussão.
A repercussão se deu quando Divaldo Franco, num congresso "espírita" em Goiás, fez comentários negativos ao Partido dos Trabalhadores, à comunidade LGBTT. e ao marxismo. Em contrapartida, também se manifestou, a exemplo de João de Deus, admiração por Sérgio Moro e desejo de vê-lo presidindo o Brasil. Recentemente, Sílvio Santos, em mensagem a Jair Bolsonaro no Teleton, disse que queria ver o ex-capitão governando o país por oito anos, e o juiz paranense, por mais oito.
Mas a repercussão de Divaldo foi muito morna e discreta, comparada à de João de Deus. O caso do "médium" de Abadiânia foi o primeiro grande escândalo do "espiritismo" brasileiro dos úlitmos anos, e pode abalar as estruturas do "movimento espírita", apesar da FEB recusar, agora, o vínculo de João de Deus, apesar deste ter sido apadrinhado por Chico Xavier. O escândalo de João de Deus já gera um clima de medo e apreensão em Abadiânia e deixa o "espiritismo" em situação muito tensa.
Aliás, o que se prenuncia é, na "data-limite" de 2019, quando o "espiritismo" brasileiro será vítima de seu próprio prazo (como religião, ela foi a que se recusou a ajudar de verdade, preferindo fazer propaganda do sofrimento alheio), o próximo escândalo atingirá, ainda que postumamente, o próprio Chico Xavier, marcado por incidentes muito negativos e confusos.
Esses incidentes de Chico Xavier vieram a partir da literatura fake que ele produziu, contrariando as lições espíritas originais ao evocar nomes ilustres, com textos empolados, para provocar sensacionalismo e ludibriar o grande público. Associado a uma imagem adocicada produzida pelo discurso midiático nos últimos 40 anos, Chico Xavier poderá em breve ser desmascarado, para desespero de seus seguidores. Seu pupilo João de Deus foi só um aperitivo para isso.
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