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Sociedade conservadora trata empregadores como "santos". Grande erro!


É aquele papo nas famílias conservadoras que têm filhos crescidos desempregados. O pai, profundamente irritado, cobra do filho arrumar qualquer emprego, fala para ele "meter a cara na vida", diz que "a vida não é fácil" e que "tem que dar duro, mesmo", sendo aqueles apelos moralistas de quem parece exigir ao peixe que dê um salto enorme para o topo da árvore mais alta.

Da mesma forma, pessoas moralistas em geral, quando veem pedintes nas ruas, cobram, furiosos, para tais pessoas arrumarem um emprego, vendo, de maneira enganosa, tais pessoas como "vagabundas" e "preguiçosas".

A sociedade moralista tem suas incompreensões. E os "espíritas" não são exceção à regra. Eles mesmos acham que as pessoas praticam suicídio por diversão e reclamam da vida por esporte. Quanta insensibilidade com o sofrimento alheio. Como diz o ditado, "pimenta nos olhos dos outros é refresco".

Os "vagabundos" e "preguiçosos" que não vão procurar emprego são os que mais sabem da dificuldade de obter um trabalho. Aliás, eles é que desistiram de procurar, porque os empregadores ficam cheios de dedos dizendo que não têm trabalho para oferecer e coisa e tal. É muito fácil criminalizar o empregado, mas os empregadores são vistos, pela sociedade moralista em geral, como "santos".

Por que os pais de família não gritam, furiosos, para os empregadores que "não podem" empregar os filhos daqueles? Além disso, só para um morador de rua ou um miserável em geral arrumar emprego, ele precisa de toda uma indumentária e de todo um teatro para convencer o entrevistador do posto de trabalho a contratá-lo.

Não é fácil. Os empregadores não querem, necessariamente, gente talentosa. Quer dizer, querem mais gente que, ainda que tenha algum talento profissional, tenha mais desenvoltura extrema, a níveis de um animador de TV ou um humorista. Algo entre Luciano Huck, Danilo Gentili, Galvão Bueno.

Os empregadores exigem coisas tão absurdas para contratar novos empregados que eles combinam critérios surreais como ter menos idade e mais experiência. Daqui a pouco vão exigir que o empregado deva ter 15 anos de idade e 20 anos de experiência profissional.

É lamentável que a sociedade conservadora não move um lábio de indignação contra os empregadores, todos "santos", até quando se admitem suas imperfeições. O pai que cobra do filho a "meter a cara" no emprego não faz uma única queixa ao empregador que "não tem dinheiro para novos contratos", sem saber que, muitas vezes, este retém uma boa grana para fazer uma turnê completa com a família nos EUA, no próximo feriadão.

Leia-se "turnê completa" a nova moda das elites que retomaram o poder social e político em 2016 e que colocaram o medíocre Jair Bolsonaro na Presidência da República. É uma excursão que envolve Orlando e Miami, na Flórida, para ver a Disney World, depois segue-se para Nova York para compras diversas e turismo, em seguida tem-se Las Vegas, alguma cidade no Texas, San Francisco na Califórnia e, no final, Los Angeles, com direito a um passeio por toda Hollywood.

Fala-se dos EUA, não se inclui a Europa. Se incluir, pior ainda. Mas o pai irritado que fala que o filho "nunca arruma um emprego" nem liga para isso, e até considera que o empregador tem o "sagrado direito" de viajar com sua família para onde quiser. E "lava as mãos" para qualquer abuso.

É muito fácil tais famílias falarem em "mundo cão", exigirem dos filhos que "metam a cara", que "deem murro em ponta de faca" ou coisa parecida. É muito fácil cobrar demais de quem não tem, sem perceber o quanto de tentativas foram feitas dos supostos vagabundos obterem emprego.

Quantos currículos enviados, quantas entrevistas de emprego, quantos concursos públicos estudados com afinco, para os "robôs" que leem as folhas de respostas e, em erro de reconhecimento ótico, dão como erradas questões de respostas acertadas, dando muita dor de cabeça nos recursos dos candidatos, que correm o risco de serem reprovados mesmo acertando quase toda a prova.

Isso ninguém, da sociedade moralista, conservadora e que estufa o peito cobrando dos outros o impossível, consegue perceber. Enquanto isso, nossos empregadores, felizes com as brechas que a reforma trabalhista deu a eles, vão poder torrar seus milhões na turnê completa pelos EUA, sonhando talvez em dar uma volta ao mundo do luxo, da extravagância e do consumismo.

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