OS DOIS ARRIVISTAS.
Por que muitos brasileiros são estupidamente reacionários? Por que há uma forte resignação para aceitar as mortes de grandes gênios da Ciência e das Artes, mas há um medo extremo de ver um feminicida morrer? Por que vários brasileiros passaram a defender o fim de seus próprios direitos? Por que as convicções pessoais prevalecem sobre a busca pela lógica dos fatos?
O Brasil tornou-se um país louco, ensandecido, preso em fantasias e delírios moralistas, vulnerável a paixões religiosas e apegado a padrões hierárquicos que nem sempre são funcionais ou eficientes. O país sul-americano virou chacota do resto do mundo, não necessariamente porque o Primeiro Mundo ou outros países não vivem problemas de extrema gravidade, como o terrorismo e a ascensão da extrema-direita, mas porque os brasileiros permitem que ocorram retrocessos de maneira mais servil.
Temos sérios problemas que vão desde saber o que realmente queremos para nossa Política e Economia até nossos apegos - de repente nos apegamos a feminicidas de tal forma que suas mortes assustam mais as pessoas do que as mortes de seus próprios entes queridos - , e o Brasil, além de possuir uma "cultura popular" deplorável e viciada vigente nos últimos 45 anos, ainda tem um quadro de religiões que beira ao absurdo, como se elas brincassem com a paciência de Deus.
A adoração obsessiva à figura de Francisco Cândido Xavier, outro objeto de apego psicológico dos mais extremos e preocupantes, é um problema dos mais graves e é motivado pela total ignorância aos aspectos negativos da carreira do anti-médium mineiro, que se tornou o maior exemplo do que o arrivismo pode causar no Brasil.
Imagine um produtor de literatura fake que quer atingir o céu, como na parábola da Torre de Babel? Pois é, Chico Xavier nem precisava construir torres nem escadarias para o Alto, seus incautos seguidores, com sua adoração fanática a ele, construíram verdadeiras escadas rolantes para ver se o suposto médium, na verdade um dos mais graves e traiçoeiros deturpadores da Doutrina Espírita, alcança, ao menos, os pés de Deus.
TRAJETÓRIA DE CONFUSÕES
Chico Xavier está associado a muitas confusões. Ele mesmo dava indícios de sofrer de doença mental, conforme lembrou o Padre Quevedo. E isso não é calúnia, pois seu pai quase o internou num hospício, preocupado com a conduta estranha do filho, que em boa parte de sua vida apresentava semblantes que variavam entre um louco varrido e uma figura maligna.
Em certo momento, ele usava óculos escuros não só para corrigir um problema de visão, mas também para ocultar o semblante maligno que não raramente expressava, vide uma foto publicada em O Globo em 1935, com o "médium" olhando de frente transmitindo uma energia maligna e apavorante. Ela está publicada na Internet.
Sua paranormalidade é bastante duvidosa e apresenta indícios de alucinações e transtornos psicológicos. Na prática, tudo o que ele fazia é conversar com o espírito da mãe e, às vezes, de um padre que ele admirava muito, o jesuíta e medieval português Padre Manuel da Nóbrega, que foi rebatizado como Emmanuel.
Chico Xavier praticamente foi empurrado por Antônio Wantuil de Freitas para produzir livros "psicográficos". Isso não significa que Chico tenha feito papel de vítima das artimanhas do seu descobridor. Muito pelo contrário, Chico foi igualmente esperto e malicioso e a apropriação da memória de Humberto de Campos se deu por decisão própria, para se vingar de uma resenha que o autor maranhense, membro da Academia Brasileira de Letras, fez de Parnaso de Além-Túmulo.
O livro Parnaso de Além-Túmulo causou muita confusão. Era muito estranho um caipira mineiro lançar um livro, supostamente associado aos mais diversos espíritos de escritores, como se escolhesse grandes famosos para juntá-los, depois de mortos, em um evento comum. É como na infância, quando juntamos bonecos de índios Apache com soldados Falcon e outros do Super-Homem, do Capitão América e do Ken, ao sabor de nossa imaginação.
O livro poético é muito, muito estranho. O conteúdo é, comprovadamente, bem inferior às expressões poéticas e literárias originais dos alegados autores. Além disso, o livro trai sua missão de ser uma "obra de benfeitores espirituais", na medida em que sofreu bruscas alterações editoriais, cinco vezes em 23 anos, o que dá um forte indício de que as "psicografias" são uma farsa.
Parnaso de Além-Túmulo causou revolta nos meios literários de seu tempo. Até Humberto de Campos foi irônico em um artigo sobre o livro. Ninguém atestou autenticidade alguma, apenas houve abstenções. Mas quem desconfiou da veracidade "mediúnica" teve razões de sobra para isso, principalmente em relação ao talento refinado tão conhecido de Olavo Bilac, que "desaparece" na "psicografia".
Até a coitada da Auta de Souza, uma bela negra potiguar que viveu apenas 25 anos de idade, foi usurpada pelo "médium", com o estilo peculiar da poetisa dando lugar ao estilo pessoal de Xavier, pondo no crédito dela até as ideias do mineiro sobre a Teologia do Sofrimento.
Depois, com as obras "psicográficas" que usavam o nome de Humberto de Campos, as irregularidades se agravaram. O estilo do "espírito" é diferente do que o escritor deixou em vida, e mesmo as semelhanças existentes eram raras e soavam paródicas.
E, poucos anos depois de Chico Xavier receber impunidade no processo judicial de 1944, nas mãos do juiz suplente João Frederico Mourão Russell (sobrenome lembra o Rossell Mourão do filho do vice-presidente de Bolsonaro que triplicou salario com uma promoção no Banco do Brasil), uma carta do "médium" a Wantuil em 1947, mas revelada décadas depois, comprovou que Parnaso de Além-Túmulo foi uma fraude combinada por uma equipe de editores da FEB.
E para quem acha que essa revelação partiu de "intolerantes" anti-chiquistas, ele foi divulgado num "fogo amigo", através de Suely Caldas Schubert, "médium" e amiga de Chico, que compilou várias cartas dele em Testemunhos de Chico Xavier, lançado em 1981.
Outras confusões de Chico Xavier, como as fraudes de materialização nos anos 1950, a cooptação do ingênuo viúvo da professora Irma de Castro Rocha (Meimei), Arnaldo Rocha, cúmplice de supostas psicografias atribuídas à falecida mulher, a farsa de Otília Diogo e a prova do reacionarismo doentio do "médium", em entrevista ao Pinga Fogo da TV Tupi, mostram o quanto o sujeito não merece essa idolatria toda que recebe, mesmo dissimulada em uma "natural admiração a um homem simples e humilde".
A CEGUEIRA DOS "OLHOS DO CORAÇÃO": METÁFORAS POÉTICAS IMPOSTAS ACIMA DA RAZÃO
Que expressões como "olhar do coração", "o amor pode tudo" e "a razão tem mistérios que só o amor resolve" são idiotices que os seguidores de Chico Xavier acreditam e defendem, driblando a lógica e o bom senso e renegando o rigor da razão, que não pode entrar nos terrenos da fé mistificada da religião "espírita".
Chico Xavier tornou-se um deturpador grave e sua bibliografia sempre foi uma demonstração de lesa doutrina, contrariando, de maneira frontal e ofensiva, as lições originais do Espiritismo, e trazendo aos brasileiros as ideias do aparentemente renegado Jean-Baptiste Roustaing, que não precisa mais ser apreciado no Brasil porque todas as ideias dele já estão nas mãos do "médium" mineiro.
Expressões como "é preciso ouvir o coração" e "o sentimento traz razões melhores que a própria razão" são apenas licenças poéticas, que soam bonitas apenas no âmbito da obra poética. No entanto elas não podem ser levadas muito a sério e invadirem o terreno da razão, ameaçando seriamente a Ciência Espírita com a prevalência da mistificação sobre o rigor da razão.
Isso acaba permitindo uma confusão mental nas pessoas e a permissividade da irracionalidade da fé religiosa permite que o Brasil, que um dia teve Machado de Assis, agora tem Olavo de Carvalho. Um dia ainda vamos explicar por que Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho são "filhos" de Chico Xavier.
A permissividade criou um círculo vicioso nas pessoas, inclusive as mais velhas. Criou-se um caos quanto à percepção da vida, na qual as pessoas distorcem a realidade, mas têm a falsa impressão de que estão fiéis a ela. Aquela coisa de ser mais realista que o rei, como diz o ditado popular. E tanta gente idiotizada cria argumentos engenhosos para tudo, até para condenar a Educação, o raciocínio crítico, ou usar o "raciocínio crítico" para condenar o raciocínio crítico autêntico.
Muitos se assustam quando se associa Olavo de Carvalho a Chico Xavier. Mas isso é fato. Afinal, do "tóxico do intelectualismo" de Chico Xavier, se lançou as sementes para o intelectualismo voraz, para a intolerância ao ato de pensar e para a tirania da idiotização, com a persistência de falsas argumentações e até de xingações gratuitas.
"PROCESSO DE PENSAR" ATRIBUÍDO NÃO À CABEÇA, MAS AO TRONCO
A partir de Chico Xavier, a ideia, hoje defendida por Olavo de Carvalho, que "o homem não precisa ter cérebro", foi introduzida, primeiro, da maneira "suave" do "médium", depois, consagrada de maneira mais agressiva pelo "astrólogo". Com Chico Xavier, passamos a "pensar com o coração", já traindo, apesar da aparente doçura, a função determinada pela Natureza de que nós temos cérebro e com ele é que se expressa a razão e o pensamento.
De repente, com Olavo de Carvalho, passamos a "pensar com o fígado", o que cria uma dicotomia yin-yang na qual o tronco substitui a cabeça no processo de "raciocínio humano", mais próximo da área genital, que realiza masturbações, e anal, que expele excrementos orgânicos (urina e fezes). Nessa dicotomia, passamos a "pensar com o coração" nas horas felizes e, nos momentos adversos, a "pensar com o fígado".
Com isso, os brasileiros ficam presos em zonas de conforto da percepção corrompida das coisas, que cria uma desigualdade de necessidades humanas, que, no âmbito da vida e morte, faz com que as pessoas prefiram perder entes queridos do que serem informadas que um famoso feminicida rico está, por exemplo, sofrendo câncer em estado avançado.
Num período de onda feminicida, é surreal que muitas pessoas tremam de medo ao saber que Doca Street e Pimenta Neves estão a pouquíssimos passos no túmulo, praticamente hoje, com 80 e tantos anos, sujeitos apenas à moradia futura dos caixões, com seus espíritos a serem expelidos, a qualquer momento, dos corpos físicos, encerrando suas existências de suas posições aristocráticas. De repente eles se tornaram os "vovós da pescaria", apesar do crime cruel que fizeram contra suas mulheres.
Os brasileiros passaram a adotar pautas ultraconservadoras, a forçar o retrocesso temporal com a defesa do fim de seus próprios direitos. Muitos acham que, extinguindo direitos trabalhistas, reduzindo salários, aumentando carga horária de trabalho e perdendo as riquezas nacionais para os estrangeiros - o nosso pré-sal está sendo entregue, aos poucos, a corporações estrangeiras de petróleo, em troca de migalhas aos brasileiros - , vamos manter a doce vida de selfies e postagens nas redes sociais.
E isso quando, diante de tantos surrealismos, ídolos musicais, comportamentais e até (pretensamente) intelectuais muito mal escolhidos - ouvimos "funk" e "sertanejo", cultuamos subcelebridades e apreciamos o pitoresco e elegemos o imbecil Olavo de Carvalho como "nosso filósofo maior" - , muitos ainda consideram Chico Xavier "símbolo de humanismo", e ainda se relutam a abrir mão dessa visão ao mesmo tempo tola e sem o menor mérito.
Afinal, Chico Xavier causou confusões em sua trajetória. Intelectuais renomados já sabiam da farsa da "psicografia" do arrivista Chico Xavier, e as pessoas têm, não digamos a ingenuidade, mas a tolice mesmo de atribuir os literatos a uma suposta vilania, porque as paixões religiosas estão acima da lógica e do bom senso.
O irracionalismo prevalece no Brasil e a adoração a Chico Xavier já é um ponto de partida para confusões mentais ainda mais perigosas que a original, pois adorar um ídolo religioso que apoiou fraudes de materialização, mas virou pretenso símbolo de "humildade e dedicação ao próximo", já é uma idolatria extremamente preocupante. O Brasil, infelizmente, constrói seu próprio abismo.
Por que muitos brasileiros são estupidamente reacionários? Por que há uma forte resignação para aceitar as mortes de grandes gênios da Ciência e das Artes, mas há um medo extremo de ver um feminicida morrer? Por que vários brasileiros passaram a defender o fim de seus próprios direitos? Por que as convicções pessoais prevalecem sobre a busca pela lógica dos fatos?
O Brasil tornou-se um país louco, ensandecido, preso em fantasias e delírios moralistas, vulnerável a paixões religiosas e apegado a padrões hierárquicos que nem sempre são funcionais ou eficientes. O país sul-americano virou chacota do resto do mundo, não necessariamente porque o Primeiro Mundo ou outros países não vivem problemas de extrema gravidade, como o terrorismo e a ascensão da extrema-direita, mas porque os brasileiros permitem que ocorram retrocessos de maneira mais servil.
Temos sérios problemas que vão desde saber o que realmente queremos para nossa Política e Economia até nossos apegos - de repente nos apegamos a feminicidas de tal forma que suas mortes assustam mais as pessoas do que as mortes de seus próprios entes queridos - , e o Brasil, além de possuir uma "cultura popular" deplorável e viciada vigente nos últimos 45 anos, ainda tem um quadro de religiões que beira ao absurdo, como se elas brincassem com a paciência de Deus.
A adoração obsessiva à figura de Francisco Cândido Xavier, outro objeto de apego psicológico dos mais extremos e preocupantes, é um problema dos mais graves e é motivado pela total ignorância aos aspectos negativos da carreira do anti-médium mineiro, que se tornou o maior exemplo do que o arrivismo pode causar no Brasil.
Imagine um produtor de literatura fake que quer atingir o céu, como na parábola da Torre de Babel? Pois é, Chico Xavier nem precisava construir torres nem escadarias para o Alto, seus incautos seguidores, com sua adoração fanática a ele, construíram verdadeiras escadas rolantes para ver se o suposto médium, na verdade um dos mais graves e traiçoeiros deturpadores da Doutrina Espírita, alcança, ao menos, os pés de Deus.
TRAJETÓRIA DE CONFUSÕES
Chico Xavier está associado a muitas confusões. Ele mesmo dava indícios de sofrer de doença mental, conforme lembrou o Padre Quevedo. E isso não é calúnia, pois seu pai quase o internou num hospício, preocupado com a conduta estranha do filho, que em boa parte de sua vida apresentava semblantes que variavam entre um louco varrido e uma figura maligna.
Em certo momento, ele usava óculos escuros não só para corrigir um problema de visão, mas também para ocultar o semblante maligno que não raramente expressava, vide uma foto publicada em O Globo em 1935, com o "médium" olhando de frente transmitindo uma energia maligna e apavorante. Ela está publicada na Internet.
Sua paranormalidade é bastante duvidosa e apresenta indícios de alucinações e transtornos psicológicos. Na prática, tudo o que ele fazia é conversar com o espírito da mãe e, às vezes, de um padre que ele admirava muito, o jesuíta e medieval português Padre Manuel da Nóbrega, que foi rebatizado como Emmanuel.
Chico Xavier praticamente foi empurrado por Antônio Wantuil de Freitas para produzir livros "psicográficos". Isso não significa que Chico tenha feito papel de vítima das artimanhas do seu descobridor. Muito pelo contrário, Chico foi igualmente esperto e malicioso e a apropriação da memória de Humberto de Campos se deu por decisão própria, para se vingar de uma resenha que o autor maranhense, membro da Academia Brasileira de Letras, fez de Parnaso de Além-Túmulo.
O livro Parnaso de Além-Túmulo causou muita confusão. Era muito estranho um caipira mineiro lançar um livro, supostamente associado aos mais diversos espíritos de escritores, como se escolhesse grandes famosos para juntá-los, depois de mortos, em um evento comum. É como na infância, quando juntamos bonecos de índios Apache com soldados Falcon e outros do Super-Homem, do Capitão América e do Ken, ao sabor de nossa imaginação.
O livro poético é muito, muito estranho. O conteúdo é, comprovadamente, bem inferior às expressões poéticas e literárias originais dos alegados autores. Além disso, o livro trai sua missão de ser uma "obra de benfeitores espirituais", na medida em que sofreu bruscas alterações editoriais, cinco vezes em 23 anos, o que dá um forte indício de que as "psicografias" são uma farsa.
Parnaso de Além-Túmulo causou revolta nos meios literários de seu tempo. Até Humberto de Campos foi irônico em um artigo sobre o livro. Ninguém atestou autenticidade alguma, apenas houve abstenções. Mas quem desconfiou da veracidade "mediúnica" teve razões de sobra para isso, principalmente em relação ao talento refinado tão conhecido de Olavo Bilac, que "desaparece" na "psicografia".
Até a coitada da Auta de Souza, uma bela negra potiguar que viveu apenas 25 anos de idade, foi usurpada pelo "médium", com o estilo peculiar da poetisa dando lugar ao estilo pessoal de Xavier, pondo no crédito dela até as ideias do mineiro sobre a Teologia do Sofrimento.
Depois, com as obras "psicográficas" que usavam o nome de Humberto de Campos, as irregularidades se agravaram. O estilo do "espírito" é diferente do que o escritor deixou em vida, e mesmo as semelhanças existentes eram raras e soavam paródicas.
E, poucos anos depois de Chico Xavier receber impunidade no processo judicial de 1944, nas mãos do juiz suplente João Frederico Mourão Russell (sobrenome lembra o Rossell Mourão do filho do vice-presidente de Bolsonaro que triplicou salario com uma promoção no Banco do Brasil), uma carta do "médium" a Wantuil em 1947, mas revelada décadas depois, comprovou que Parnaso de Além-Túmulo foi uma fraude combinada por uma equipe de editores da FEB.
E para quem acha que essa revelação partiu de "intolerantes" anti-chiquistas, ele foi divulgado num "fogo amigo", através de Suely Caldas Schubert, "médium" e amiga de Chico, que compilou várias cartas dele em Testemunhos de Chico Xavier, lançado em 1981.
Outras confusões de Chico Xavier, como as fraudes de materialização nos anos 1950, a cooptação do ingênuo viúvo da professora Irma de Castro Rocha (Meimei), Arnaldo Rocha, cúmplice de supostas psicografias atribuídas à falecida mulher, a farsa de Otília Diogo e a prova do reacionarismo doentio do "médium", em entrevista ao Pinga Fogo da TV Tupi, mostram o quanto o sujeito não merece essa idolatria toda que recebe, mesmo dissimulada em uma "natural admiração a um homem simples e humilde".
A CEGUEIRA DOS "OLHOS DO CORAÇÃO": METÁFORAS POÉTICAS IMPOSTAS ACIMA DA RAZÃO
Que expressões como "olhar do coração", "o amor pode tudo" e "a razão tem mistérios que só o amor resolve" são idiotices que os seguidores de Chico Xavier acreditam e defendem, driblando a lógica e o bom senso e renegando o rigor da razão, que não pode entrar nos terrenos da fé mistificada da religião "espírita".
Chico Xavier tornou-se um deturpador grave e sua bibliografia sempre foi uma demonstração de lesa doutrina, contrariando, de maneira frontal e ofensiva, as lições originais do Espiritismo, e trazendo aos brasileiros as ideias do aparentemente renegado Jean-Baptiste Roustaing, que não precisa mais ser apreciado no Brasil porque todas as ideias dele já estão nas mãos do "médium" mineiro.
Expressões como "é preciso ouvir o coração" e "o sentimento traz razões melhores que a própria razão" são apenas licenças poéticas, que soam bonitas apenas no âmbito da obra poética. No entanto elas não podem ser levadas muito a sério e invadirem o terreno da razão, ameaçando seriamente a Ciência Espírita com a prevalência da mistificação sobre o rigor da razão.
Isso acaba permitindo uma confusão mental nas pessoas e a permissividade da irracionalidade da fé religiosa permite que o Brasil, que um dia teve Machado de Assis, agora tem Olavo de Carvalho. Um dia ainda vamos explicar por que Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho são "filhos" de Chico Xavier.
A permissividade criou um círculo vicioso nas pessoas, inclusive as mais velhas. Criou-se um caos quanto à percepção da vida, na qual as pessoas distorcem a realidade, mas têm a falsa impressão de que estão fiéis a ela. Aquela coisa de ser mais realista que o rei, como diz o ditado popular. E tanta gente idiotizada cria argumentos engenhosos para tudo, até para condenar a Educação, o raciocínio crítico, ou usar o "raciocínio crítico" para condenar o raciocínio crítico autêntico.
Muitos se assustam quando se associa Olavo de Carvalho a Chico Xavier. Mas isso é fato. Afinal, do "tóxico do intelectualismo" de Chico Xavier, se lançou as sementes para o intelectualismo voraz, para a intolerância ao ato de pensar e para a tirania da idiotização, com a persistência de falsas argumentações e até de xingações gratuitas.
"PROCESSO DE PENSAR" ATRIBUÍDO NÃO À CABEÇA, MAS AO TRONCO
A partir de Chico Xavier, a ideia, hoje defendida por Olavo de Carvalho, que "o homem não precisa ter cérebro", foi introduzida, primeiro, da maneira "suave" do "médium", depois, consagrada de maneira mais agressiva pelo "astrólogo". Com Chico Xavier, passamos a "pensar com o coração", já traindo, apesar da aparente doçura, a função determinada pela Natureza de que nós temos cérebro e com ele é que se expressa a razão e o pensamento.
De repente, com Olavo de Carvalho, passamos a "pensar com o fígado", o que cria uma dicotomia yin-yang na qual o tronco substitui a cabeça no processo de "raciocínio humano", mais próximo da área genital, que realiza masturbações, e anal, que expele excrementos orgânicos (urina e fezes). Nessa dicotomia, passamos a "pensar com o coração" nas horas felizes e, nos momentos adversos, a "pensar com o fígado".
Com isso, os brasileiros ficam presos em zonas de conforto da percepção corrompida das coisas, que cria uma desigualdade de necessidades humanas, que, no âmbito da vida e morte, faz com que as pessoas prefiram perder entes queridos do que serem informadas que um famoso feminicida rico está, por exemplo, sofrendo câncer em estado avançado.
Num período de onda feminicida, é surreal que muitas pessoas tremam de medo ao saber que Doca Street e Pimenta Neves estão a pouquíssimos passos no túmulo, praticamente hoje, com 80 e tantos anos, sujeitos apenas à moradia futura dos caixões, com seus espíritos a serem expelidos, a qualquer momento, dos corpos físicos, encerrando suas existências de suas posições aristocráticas. De repente eles se tornaram os "vovós da pescaria", apesar do crime cruel que fizeram contra suas mulheres.
Os brasileiros passaram a adotar pautas ultraconservadoras, a forçar o retrocesso temporal com a defesa do fim de seus próprios direitos. Muitos acham que, extinguindo direitos trabalhistas, reduzindo salários, aumentando carga horária de trabalho e perdendo as riquezas nacionais para os estrangeiros - o nosso pré-sal está sendo entregue, aos poucos, a corporações estrangeiras de petróleo, em troca de migalhas aos brasileiros - , vamos manter a doce vida de selfies e postagens nas redes sociais.
E isso quando, diante de tantos surrealismos, ídolos musicais, comportamentais e até (pretensamente) intelectuais muito mal escolhidos - ouvimos "funk" e "sertanejo", cultuamos subcelebridades e apreciamos o pitoresco e elegemos o imbecil Olavo de Carvalho como "nosso filósofo maior" - , muitos ainda consideram Chico Xavier "símbolo de humanismo", e ainda se relutam a abrir mão dessa visão ao mesmo tempo tola e sem o menor mérito.
Afinal, Chico Xavier causou confusões em sua trajetória. Intelectuais renomados já sabiam da farsa da "psicografia" do arrivista Chico Xavier, e as pessoas têm, não digamos a ingenuidade, mas a tolice mesmo de atribuir os literatos a uma suposta vilania, porque as paixões religiosas estão acima da lógica e do bom senso.
O irracionalismo prevalece no Brasil e a adoração a Chico Xavier já é um ponto de partida para confusões mentais ainda mais perigosas que a original, pois adorar um ídolo religioso que apoiou fraudes de materialização, mas virou pretenso símbolo de "humildade e dedicação ao próximo", já é uma idolatria extremamente preocupante. O Brasil, infelizmente, constrói seu próprio abismo.
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