A edição do "Correio Espírita", periódico fluminense, de agosto de 2017, anuncia o surgimento da "Pátria do Evangelho", como se já inaugurasse uma fase de suposto progresso humanitário sonhada pelo "médium" Francisco Cândido Xavier.
Todavia, sabemos que foi nessa época que começava a se projetar, aos poucos, a ascensão política de Jair Bolsonaro, lembrando a entrada no auge de Chico Xavier, durante a ditadura militar. Não que Chico ou Jair tivessem surgido nessas épocas respectivas, mas antes delas os dois não passavam de exóticos arrivistas envolvidos em muita confusão e controvérsia.
Assim como foi a partir de meados da década de 1970 que começou-se a trabalhar o mito de pretenso filantropo de Chico Xavier, tomando emprestado o roteiro de Malcolm Muggeridge feito para Madre Teresa de Calcutá, o mito de Jair Bolsonaro se ascendeu dentro do radicalismo do conservadorismo social que já havia colocado Michel Temer no poder, um ano antes.
Chico e Jair se assemelham muito, para desespero de chiquistas que tentam ver no "médium" mineiro um suposto progressista. Chico Xavier sempre teve um conservadorismo convicto e até doentio, que o fazia ser apenas uma espécie de "Olavo de Carvalho de bom humor". Sim, é isso mesmo. Chico era um reacionário contumaz, um baluarte do conservadorismo ideológico, em níveis medievais, mas a propaganda que o endeusou do final dos anos 1970 para cá escondeu esse lado.
De maneira surreal, Chico Xavier foi apreciado por esquerdistas e ateus, como o balanço do rabo de uma raposa provoca interesse e fascínio nas galinhas. Tudo porque a Rede Globo e a ditadura militar, inspirados em Muggeridge, tentaram transformar Chico numa imagem fantasiosa de "líder ecumênico", fabricado e embalado para o consumo da idolatria religiosa de todos.
A Globo tem essa habilidade de manipular seus valores como se fossem naturais como o ar que respiramos, podendo lançar valores reacionários que as esquerdas acolhem ingenuamente, ainda que fossem gírias, modos de vestir e músicas para serem ouvidas. São valores de direita, embora relativamente flexíveis, mas que acabam sendo empurrados, ingenuamente, para a pauta das esquerdas, que têm o erro grosseiro de acolher tudo que parece ter "cheiro de povo".
80 ANOS DEPOIS, O LEMA "BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO" REVELOU SUA TRADUÇÃO "PADRÃO WHAT'S APP" NO LEMA DE JAIR BOLSONARO, EXPOSTO NUM TELÃO NUMA AVENIDA EM BRASÍLIA.
E aí muita gente pensando que Chico Xavier era progressista, a ponto de certos blogueiros de esquerda terem se lembrado dele, mesmo quando ele pregava o silêncio e não o queixume. Sabe-se que a mídia de esquerda, por questionar os abusos da mídia conservadora, não estaria em boa conta com Chico Xavier: por ele, os esquerdistas deveriam é ficar calados, rezando para que William Bonner e Merval Pereira "olhem com carinho" os mais necessitados.
PÁTRIA DO EVANGELHO COM BOLSONARO
Com o anúncio do "Correio Espírita" de que o Brasil entrou na "Pátria do Evangelho", processo que o "movimento espírita" considera irreversível, notemos quem é que vai governar o Brasil no ano de 2019, considerado a "data-limite" sonhada por Chico Xavier. Entre 2018 e 2020, há várias efemérides que envolvem diretamente Chico Xavier, que devem ser levados em conta:
1) Em 2018, completaram-se os 80 anos do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que Chico Xavier e o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, escreveram a quatro mãos por encomenda de Lourival Fontes, do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo, sob a promessa de que o "movimento espírita" não sofreria mais repressão policial, e escrito com a ajuda de consultores literários e consultas em livros didáticos.
Note-se que o crédito do espírito de Humberto de Campos é falso, feito tendenciosamente por iniciativa de Chico Xavier para se vingar de uma resenha que o autor maranhense escreveu sobre Parnaso de Além-Túmulo, que terminou desaconselhando Chico a "parar com a brincadeira". Chico não gostou disso e, aproveitando-se da morte prematura do escritor (maldição do "médium"?), o esperto mineiro se apropriou do escritor morto para uma pretensa "parceria mediúnica".
2) Em 2019, ocorre a lembrança dos 75 anos de impunidade que beneficiou o arrivista Chico Xavier no caso do processo dos herdeiros de Humberto. Como um precursor da seletividade da Justiça que revelou Sérgio Moro, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Dias Toffoli e Carmen Lúcia, entre outros, o juiz suplente da 8ª Vara Criminal do então Distrito Federal, então o Rio de Janeiro, João Frederico Mourão Russell, em 1944, considerou a ação judicial dos familiares do escritor "improcedente".
A gente até imagina Sérgio Moro pronunciando "improcedente" feito um caipira de Maringá. Em todo caso, o parecer de João Frederico, que ainda cobrou da pobre viúva do escritor, Catarina Vergolina de Campos, o pagamento dos custos advocatícios, desconheceu que a obra "mediúnica" que levava o nome do autor maranhense era risivelmente fake (o termo não era usado no Brasil, na época), pelas disparidades estilísticas muito grandes. O estilo que Humberto deixou em vida é um, o estilo atribuído ao seu espírito é outro, completamente diferente.
3) Em 2019, também se celebra os 50 anos da "data-limite" que Chico Xavier disse ter pressentido depois de um sonho que teve após a notícia de uma expedição da NASA na Lua. Chico alegava pressentir o risco de uma Terceira Guerra Mundial (temor que não é exclusivo dele), e seu sonho narrava uma reunião entre os governantes dos planetas do Sistema Solar (?!), ao lado de Jesus Cristo, Emmanuel e Chico Xavier, o único "encarnado" no insólito evento.
Nele se decidiu que haveria, naquele ano de 1969, um prazo de cinquenta anos para as autoridades promoverem a paz na Terra, caso contrário sofreriam represálias de caráter humano e natural. De maneira risível e binária, o Hemisfério Norte sofreria catástrofes, enquanto o Hemisfério Sul permaneceria intato, abrindo o caminho para a liderança do Brasil na comunidade das nações. Apesar de integrar o Círculo de Fogo do Pacífico, o Chile seria poupado de catástrofes que destruiriam até o Japão, a Indonésia, o Havaí e a Califórnia, nos EUA, o que é um grande erro geológico.
4) Em 2020, seriam os 110 anos de nascimento de Chico Xavier, o maior arrivista do Brasil, o único que teve o "privilégio", nesta doideira de país que é o Brasil, de virar semi-deus com uma trajetória de muita confusão (ele apoiou as fraudes de materialização e explorou as tragédias familiares com a farsa das "cartas mediúnicas"), algo único no nosso país, diante do tamanho fura-fila moral que foi o malandro "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.
Esse período de 2018 a 2020 engloba o período de ascensão eleitoral de Jair Bolsonaro e o período em que se assegura, ao menos, que seu governo possa chegar. Sabe-se que sua pauta é retrógrada - não muito diferente de Chico Xavier, que, se vivo fosse, apoiaria incondicionalmente a reforma trabalhista e a Escola Sem Partido, além de brincar com a reforma previdenciária festejando que o aposentado irá receber os proventos no além-túmulo - e será implantada no próprio ano da "data-limite".
Mas não é só isso. O que podemos considerar, se levarmos em conta o que o "Correio Espírita" anunciou em agosto de 2017, é que Jair Bolsonaro irá inaugurar, na prática, a "Pátria do Evangelho" como o primeiro presidente eleito após o período creditado. Isso condiz com o conservadorismo do "espiritismo" brasileiro que muitas pessoas ignoram, porque, no esforço de misturar alhos com bugalhos, misturou-se o Espiritismo francês com seu pastiche brasileiro.
Foi essa manobra, feita com o patrocínio da Rede Globo, o respaldo da ditadura militar e o roteiro do inglês Malcolm Muggeridge, que o "espiritismo" brasileiro criou uma imagem feita para confundir as pessoas, a ponto delas acreditarem em mentiras como "Allan Kardec previu as crianças-índigo" e "Chico Xavier previu que Lula iria comandar a Pátria do Evangelho". Ideias fake que os esquerdistas que tanto dizem combater as notícias falsas acreditam e defendem com unhas e dentes como "verdades indiscutíveis".
Paixões religiosas à parte, o que se vê é a realidade prática que as energias ultraconservadoras do "espiritismo" brasileiro, mais próximo do antigo Catolicismo medieval português (que vigorou no Brasil-colônia) do que do Espiritismo iluminista francês, propiciaram.
Dessa forma, o projeto da "Pátria do Evangelho", para desespero de internautas confusos que se dizem "espíritas" (tendência Chico Xavier) mas se autoproclamam "de esquerda", é justamente o começo de um ciclo conservador, no qual os "espíritas" brasileiros, no seu conjunto, se sentem muito à vontade, sobretudo Chico Xavier, que, em afinidade de sintonia, continua sendo cultuado pelos mesmos ambientes digitais que revelaram os bolsonaristas convictos.
BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO = BRASIL, ACIMA DE TUDO, DEUS, ACIMA DE TODOS.
Comentários
Postar um comentário