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As pessoas andam fugindo de textos que apontam aspectos sombrios de Francisco Cândido Xavier, o único brasileiro cuja biografia tem que prevalecer a fantasia sobre a realidade, criando nele um único terreno em que o "conto de fadas" é a "verdadeira realidade".
Aliás, Chico Xavier não foi o único, mas o maior deles. O médico Adolfo Bezerra de Menezes é outro que mantém uma biografia repousando no reino da fantasia, e isso é aberrante, porque existem dados negativos em contemporâneos como Machado de Assis, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, que são personalidades admiráveis, mas da parte do "espírita" nenhum aspecto negativo é sequer lembrado.
Ainda assim, nem o "doutor Bezerra" consegue ter uma biografia tão fantasiosa quanto a de Chico Xavier, por mais que o médico seja vendido, à posteridade, como o "Papai Noel brasileiro". Chico Xavier é alvo de tanta fantasia, moldado como se fosse uma "fada-madrinha da vida real", que seus seguidores fogem de medo quando há uma revelação desagradável sobre ele.
E tais provas revelam o quanto os seguidores de Chico Xavier são emocionalmente frágeis, possuindo um pavio bem curto. Eles são os que mais se irritam e mais se enfurecem quando são contrariados, embora alguns tenham a habilidade de fingir calma e serenidade, mas deixando no semblante e no teor de suas mensagens "pacientes" um sutil tom de agressividade e irritação.
As pessoas se acostumam com essa imagem dócil de Chico Xavier, trabalhada pelo método importado do inglês Malcolm Muggeridge, o "inventor de santos". uma abordagem vigente há cerca de 40 anos. É tanta fantasia, sensações confortavelmente infantis marcadas por apelos visuais como céus azulados, crianças sorridentes e paisagens floridas, que fica difícil se desvencilhar delas.
Isso se equipara a uma combinação de entretenimento analgésico com a diversão das orgias. São sensações próprias de diversões profanas que foram importadas para o "espiritismo" brasileiro, criando nele uma espécie de "Catolicismo mais à vontade" cujo discurso pretensamene ecumênico seduziu até ateus e esquerdistas, apesar do reacionarismo de Chico Xavier ter níveis quase totalmente bolsonaristas (excetuando, apenas, no caso da apologia à violência e ao ódio).
MUITO MEDO
As pessoas correm de medo. Se veem um texto sobre um dado negativo de Chico Xavier, como "Chico Xavier deturpou o Espiritismo", "Ideias de Chico Xavier são medievais", "Psicografia de Chico Xavier, na verdade, é fake", "Chico Xavier apoiou a ditadura militar e, se vivo fosse, apoiaria Jair Bolsonaro", as pessoas, assustadas, fogem desses textos como o diabo foge da cruz. Correm para o quarto, enfiam os travesseiros sobre a cabeça e rezam mil Pais Nossos e Aves Marias para afastar as sensações desagradáveis que lhes provocam pânico e mal-estar.
É o medo da verdade que ameaça a tranquila estabilidade dos mitos, que precisam repousar no terreno da fantasia. Mesmo aqueles que admitem "certos erros e problemas" em Chico Xavier, como a "patrulha canina" que finge apreciar o "médium" pelo verniz da imparcialidade, temem pelo esfacelamento da imagem adocicada que blinda seu ídolo.
As pessoas mais idosas, então, sentem muito medo. São pessoas que, educadas pela ilusão de que idades elevadas garantiriam sempre uma postura "amadurecida", com valores e crenças consolidados e irreversíveis, se sentem ainda mais apavoradas quando se revela um dado negativo sobre Chico Xavier. Contrariando sua aparente maturidade e serenidade, explodem em raiva e tristeza de maneira mais grave do que crianças quando são informadas que contos de fadas são mera ficção.
Há uma grande analogia à adoração de Chico Xavier com a crença em "princesas da Disney" tão criticadas no que se diz a ilusão que as mães transmitem para as filhas. E as chamadas "palestras espíritas", cinicamente definidas como "nosso estudo de hoje", são muitas vezes meros entretenimentos vazios, nos quais se transmitem estórias "realistas" de verdadeiras "gatas-borralheiras" que perdem tudo, mas em nome da fé conquistam a "superação".
É um medo colossal que as pessoas têm. Um medo de esclarecer o que está por trás do mito, o medo muito grande de enfrentar uma desilusão. Nosso país está tão atrasado que muitos homens resolvem suas desilusões amorosas praticando feminicídio, mas também não conseguem lidar com suas próprias tragédias que lhes causam infartos e câncer, no momento em que eles também têm um medo desesperado de morrer.
Vivemos, no Brasil, a sociedade do medo. A sociedade com medo das elites perderem seus privilégios. A sociedade com medo de verem morrer assassinos ricos, de verem ruinar instituições e totens religiosos, de verem ídolos popularescos caírem no ostracismo, de verem mulheres-objetos se aposentarem de sua "sensualidade".
É a mesma sociedade medrosa que não quer que Chico Xavier seja desqualificado como ídolo religioso, apesar de um farto número de provas de irregularidades gravíssimas em sua trajetória. Informações de bastidores que descrevem "revisões" de livros "psicográficos" de Chico Xavier - o que causa estranheza no caráter supostamente superior de tais obras - aparecem aos montes, entre tantas outras irregularidades, e as pessoas evitam ter até ideia do que se trata.
Chico Xavier confirmadamente deturpou gravemente o Espiritismo, e sua "catolicização" não se deu por acidente nem por "entusiasmo demais com as origens católicas". Se deu com o propósito de desfigurar e arruinar (isso mesmo) o legado original da Doutrina Espírita, criando conceitos e dogmas estranhos aos ensinamentos espíritas. A "previsão", por exemplo, de que extraterrestres irão invadir a Terra para salvar a humanidade é dotada de fantasias levianas que Allan Kardec reprovaria energicamente.
E o reacionarismo de Chico Xavier? Ele foi muito explícito no seu anti-comunismo ferrenho, fazendo comentários violentos contra camponeses, operários e sem-teto, e esquerdistas ainda ficam complacentes com a sua figura? Não há espaço para pensamento desejoso, pois Chico Xavier assumiu o risco de expor tudo isso a uma grande audiência, e seu direitismo ele defendeu em toda a vida, e vinha das raízes sociais medievais de Pedro Leopoldo.
Não, meus amigos. Chico Xavier foi um católico medieval e reacionário convicto. Teria sido anti-petista em toda sua vida, e ele, se vivesse em 2018, teria apoiado Jair Bolsonaro, "apesar de seu discurso de ódio", porque o "médium" não suportaria votar no PT, ainda mais num momento em que esse partido estava sendo desmoralizado pela opinião pública dominante.
Não cabe pensamento desejoso para moldar Chico Xavier conforme o desejo de qualquer um. Liberdade de fé não pode ser uma farra ficcional. A realidade não autoriza isso e quem insistir em ilusões é atingido num momento ou em outro pela decepção. Ainda que fugisse de medo da leitura de textos reveladores. Só que eles aparecerão em outras fontes, para desespero daqueles que fogem da realidade para permanecerem recluso nos contos de fadas do "médium bondoso".
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