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Há gente estranhando a associação do "espiritismo" simbolizado por Francisco Cândido Xavier com o bolsonarismo. Acham que a semelhança dos lemas "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e "Brasil, Acima de Tudo, Deus, Acima de Todos" nada tem a ver e que Chico Xavier apoiaria Fernando Haddad apenas pelo fato de ser um professor.
Quanta e quanta ingenuidade nesse país!! Há pessoas que se acham de esquerda e gostam de "funk" ou são "espíritas" igrejeiros da linha professada pelo "médium", que no fundo sempre foi um baluarte do conservadorismo mais rígido. O pensamento desejoso dos esquerdistas, que não relativizam num ponto sequer o reacionarismo doentio de Ana Paula do Vôlei, faz inúmeras piruetas para transformar a todo custo o reacionário convicto Chico Xavier em um suposto progressista.
As pessoas que tentam fazer isso precisam parar um pouco para pensar. Essas pessoas pegam valores ideológicos como quem escolhe comida num restaurante a quilo. Tem gente que põe banana caramelizada em cima da feijoada, por exemplo. Mas ideologias não são isso e o que se observa é uma grande esquizofrenia social.
Há roqueiros de direita, combinando a rebeldia do gênero musical com a não-rebeldia do moralismo ideológico. Há pobres de direita, negros nazistas, mulheres machistas e proletários que defendem os interesses do patronato. E isso fica mais complicado num país dissimulado como o Brasil, onde há mais pretensão do que sinceridade e muitos mascaram suas posições sombrias com medo de sofrerem alguma má repercussão na sociedade.
O que se fala dos admiradores e simpatizantes de Chico Xavier é que eles têm que parar para pensar se eles são realmente progressistas. São pessoas de boa-fé? Será que são esquerdistas só para agradar familiares e colegas de trabalho ou estudo? Será que estão iludidos com a aparência das coisas? Ou será que são dissimulados a ponto de se fingirem não-reacionários?
Há muitos pontos que devem ser observados. Afinal, a propaganda de Chico Xavier é cheia de fantasia, sua imagem, associada à meiguice, suavidade, pacifismo, fraternidade e outras ideias agradáveis, nem sempre é real, ou, melhor dizendo, quase nunca tem a veracidade que muitos deslumbrados insistem em manter, fazendo ginástica com o pensamento desejoso.
Além de problemas como o fato desses "espíritas" que se dizem de esquerda serem de classe média, o que os faz não verem diferença entre a imagem realista do povo pobre e a imagem idealizada desse mesmo povo montada pela mídia. Essa imagem domesticada é levada em conta no mito de "caridade" trazido pela religião "espírita", que em muitos momentos demonstra claramente uma postura ultraconservadora que deveria desiludir os progressistas.
Será que os ditos progressistas não escondem preconceitos elitistas e moralistas cruéis? Será que as pessoas que adoram Chico Xavier e se dizem "de esquerda", na verdade, não fazem cobranças demais ao esquerdismo, e só estão lá para isso? Será que os "progressistas" não estão disfarçando sua aversão aos pobres, ou têm vergonha de seu próprio conservadorismo? Convém parar para ter um pouco de autocrítica antes de se confundirem na defesa de convicções pessoais contraditórias umas às outras.
Sem saber, os esquerdistas que seguem Chico Xavier corroboram com pautas nada esquerdistas:
1) Dizem condenar as fake news mas legitimam as "psicografias" de Chico Xavier que se comprovam fake pelas caraterísticas que contradizem aspectos pessoais de autores mortos. Só o caso de Humberto de Campos, que rendeu processo judicial, serve de grande exemplo: o estilo da "obra espiritual" é bem diferente do que a obra original deixada pelo autor maranhense em vida;
2) Dizem condenar a seletividade da Justiça, mas foi essa mesma seletividade que permitiu que Chico Xavier fosse inocentado, apesar das provas contundentes de que a "psicografia" que carregava o nome de Humberto era uma grande farsa. João Frederico Mourão Russell, o juiz suplente que inocentou o "médium", adotou critérios tão duvidosos quanto Sérgio Moro ao condenar o ex-presidente Lula à prisão pelo caso do triplex do Guarujá;
3) A mídia esquerdista publica textos criticando os abusos da mídia hegemônica e reacionária, além de políticos, empresários e celebridades associados. Isso vai contra as ideias de Chico Xavier, porque ele sempre reprovava que as pessoas reclamassem do que quer que fosse. Diante da mídia hegemônica, se fosse pela vontade do "médium", os esquerdistas abririam mão de escrever ou falar 99% do que fizeram e apenas orar para que nomes como William Bonner, Reinaldo Azevedo, Eliane Cantanhede, Merval Pereira e outros "pensarem nos ensinamentos do Cristo";
4) As esquerdas são conhecidas pela luta dos trabalhadores pela redução da carga horária e pela melhoria dos salários. Com certeza, Chico Xavier não seria o aliado ideal para isso, afinal ele sempre defendeu o aumento da carga horária do trabalho, e o esquerdista não sabe, atolado na areia movediça do pensamento desejoso. Uma das "máximas" do "médium" é: "Por que você reclama do aumento de horas trabalhadas se outros não tem um minuto de serviço? Aceite o serviço, trabalhe e confie".
Comprovadamente, o "médium" Chico Xavier é um dos maiores símbolos do ultraconservadorismo religioso do Brasil e, quiçá, do mundo. Deixemos de pensamento desejoso, ninguém tem o direito de fantasiar sobre pessoa alguma, mesmo um "médium". Deixemos da bobagem de "olhar do coração", porque, paciência, nós viemos aqui para raciocinar e não transformar a vida num ritual de louvores idiotas. A adoração a Chico Xavier chega ao nível do patético, do idiota, o que convém abrir mão disso e admitir o conservadorismo rígido que ele defendeu em toda sua vida.
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